quarta-feira, 17 de junho de 2015

Tripanossomíase Humana - Trabalho Elaborado e Organizado por Vieira Miguel Manuel

ÍNDICE




Introdução………………………………………………………………………
Formas de Tripanossomíase humana africano………………………………….
Análise da situação…………………………………………………………….
Como se espalha………………………………………………………………..
Agente etiológico……………………………………………………………….
Ciclo de vida……………………………………………………………………
Epidemiologia…………………………………………………………………..
Progressão e sintomas………………………………………………………….
Diagnóstico e tratamento………………………………………………………
Prevenção………………………………………………………………………
Papéis e responsabilidades…………………………………………………….
Responsabilidades da OMS……………………………………………………
Monitorização e avaliação……………………………………………………...
Conclusão………………………………………………………………………
Bibliografia………………..…………………………………………………...


                                                                                                                              














 
INTRODUÇÃO



A doença do sono ou tripanossomíase africana (THA) é uma doença frequentemente fatal causada pelo parasita unicelular Trypanosoma brucei. Há duas formas: uma na África Ocidental, incluindo Angola e Guiné-Bissau, causada pela subespécie T. brucei gambiense, que assume forma crónica, e outra na África Oriental, incluindo Moçambique, causada pelo T. brucei rhodesiense. Ambos os parasitas são transmitidos pela picada da mosca tsé-tsé (moscas do género Glossina que são seu vector de transmissão).



FORMAS DE TRIPANOSSOMÍASE HUMANA AFRICANO

Tripanossomíase humana Africano assume duas formas, dependendo do parasita envolvido:

Trypanosoma brucei gambiense (TBG) é encontrada em 24 países da África ocidental e central. Esta forma é actualmente responsável por mais de 98% dos casos notificados de doença do sono e causa uma infecção crónica. Uma pessoa pode ser infectada por meses ou mesmo anos, sem grandes sinais ou sintomas da doença. Quando surgem sintomas, o paciente muitas vezes já está num estágio avançado da doença em que o sistema nervoso central é afectada.

Trypanosoma brucei rhodesiense (ROC) é encontrada em 13 países da África Oriental e Austral. Hoje em dia, essa forma representa menos de 2% dos casos notificados e provoca uma infecção aguda. Os primeiros sinais e sintomas são observados alguns meses ou semanas após a infecção. A doença se desenvolve rapidamente e invade o sistema nervoso central.

ANÁLISE DA SITUAÇÃO

Durante o Século XIX, a tripanossomíase humana africana foi um grave problema de saúde pública. Actualmente, existem mais de 250 focos activos no interior da “cintura da mosca tsé-tsé” na África Subsariana, abrangendo sobretudo países da Região Africana da OMS e o Sudão. Nessa zona, a doença do sono ameaça mais de 60 milhões de pessoas. Das populações em risco, só menos de 10% estão presentemente sob vigilância. Nos anos recentes foram notificados em média cerca de 45.000 casos anuais, mas as estimativas da OMS revelam que existam entre 300.000 e 500.000 indivíduos infectados.
COMO SE ESPALHA

A pessoa pegará a tripanossomíase africana do leste se for picada por uma mosca tsé-tsé infectada com o parasita Trypanosoma brucei rhodesiense. Já a tripanossomíase africana do oeste é transmitida através da picada de mosca tsé-tsé infectada com o Trypanosoma brucei rhodesiense. Ocasionalmente a mulher pode transmitir tripanossomíase africana do oeste para o seu bebé. A proporção de moscas tsé-tsé infectadas com esse parasita da doença do sono é baixa. A mosca tse-tsé é encontrada apenas em zonas rurais da África.

AGENTE ETIOLÓGICO

O T. brucei é um parasita eucariota unicelular cujo género inclui ainda o T. cruzi, que causa a doença de Chagas.

O tripomastígota (comprimento de 20 micrómetros), a forma activa no sangue do Homem, tem núcleo central, uma única grande mitocôndria alongada, que contém o cinetoplasto, zona com o DNA mitocondrial. Tem ainda um flagelo que lhe dá mobilidade. A sua membrana celular ondulante (devido aos movimentos flagelares) é recoberta de glicoproteínas pouco imunogénicas, permitindo-lhe passar despercebido. As formas epimastígota e promastígota (formas na mosca tsé-tsé) são mais condensadas. Contêm ainda glicossoma, grânulos ricos em glicogénio.
O T.brucei rhodesiense que causa a variante oriental. O T. brucei não causa doença em seres humanos, mas causa a doença nagana em alguns animais domésticos.

A glicoproteína que o parasita exprime na sua membrana é reciclado continuamente com outros tipos de glicoproteína (codificados pela família de mais de mil genes VSSA, dos quais em um momento apenas um está a ser transcrito). A mudança dos antigénios externos permite-lhe escapar largamente ao sistema imunitário, pois quando anticorpos específicos contra um tipo de glicoproteína já estão fabricados, ele já mudou o gene que exprime e a glicoproteína já é outra.

CICLO DE VIDA

O parasita existe na saliva das mosca Aniel e é injectado quando estas se alimentam de sangue humano. Ao contrário do seu primo americano, o tripomastigota T. brucei não invade as células (nem assume forma de amastigota), alimentando-se e multiplicando-se enquanto tripomastigota nos fluidos corporais, incluindo sangue e fluido extra celular nos tecidos. Uma nova mosca Glossina é infectada quando se alimenta de individuo contaminado. Ao longo de cerca de um mês, o parasita assume várias formas (epimastigota principalmente) enquanto se multiplica no corpo da mosca, invadindo finalmente as glândulas salivares do insecto (as moscas vivem cerca de 6 meses).
EPIDEMIOLOGIA

A doença do Sono ocorre apenas na África, nas zonas onde existe o seu vector, a mosca Aniel. Não existe na África do Sul nem a norte do deserto Saara.

A subespécie gambiense existe apenas a oeste do vale do grande rift africano, nas florestas tropicais, sendo um problema grave em países como os Congos (antigo Zaire), Camarões e Norte de Angola. A transmissão é principalmente de humano para humano, com menor importância dos reservatórios animais. As moscas transmissoras são as Glossina palpalis, que se concentram junto aos rios, lagos e poços.

A subespécie rodesiense existe a leste do grande rift, principalmente na região dos grandes lagos, nas savanas: Tanzânia, Quénia, Uganda e Norte de Moçambique. Os antilopes, gazelas e animais domésticos são reservatórios importantes do parasita. Transmitido pelas moscas Glossina morsitans.

PROGRESSÃO E SINTOMAS

Após a picada infecciosa, o parasita multiplica-se localmente durante cerca de 3 dias, desenvolvendo-se por vezes uma induração ou inchaço edematoso, denominado de cancro tripanossómico, que desaparece após três semanas, em média. O inchaço não surge na grande maioria dos casos de infecção pelo T. gambiense e apenas em 50% dos casos de infecção com T. rodesiense.

O parasita dissemina-se durante 1-2 semanas (T. gambiense) ou 2-3 semanas (T. rodesiense) da picada pelo corpo do doente. O T. gambiense produz muito mais alta parasitemia que o T. rodesiense. Os sintomas são todos durante as fases de replicação ou parasitemia. Os parasitas multiplicam-se no sangue, a maioria com uma mesma glicoproteína de membrana. No entanto alguns poucos trocam a glicoproteína por outra de dentro do seu leque de 1000 genes para essas proteínas, num processo aleatório. Quando o sistema imunitário produz anticorpos específicos contra a glicoproteína dominante, a maioria dos parasitas é destruída, mas não os poucos que, por acaso já tinham trocado a glicoproteína que usam. Os sintomas cessam, mas os parasitas com a glicoproteína diferente não são afectados pelos anticorpos produzidos e multiplicam-se, gerando nova onda parasitémica e de sintomas.

Então são produzidos novos anticorpos contra a nova glicoproteína dominante, que mais tarde são eficazes em destruir a maioria dos parasitas excepto aqueles poucos que já trocaram novamente a glicoproteína que usam, e assim por diante. O resultado são ondas de multiplicação e sintomas agudos que vão aumentando até originar sintomas do tipo crónico, após muitos danos. A grande quantidade de anticorpos produzidos leva à formação de complexos dessas proteínas, que activam o complemento e causam também directamente danos nos endotélios dos vasos e nos rins. Os danos nos vasos geram os edemas, e microenfartes no cérebro, enquanto a anemia é devida à destruição acidental pelo complemento das eritrócitos.

Os sintomas iniciais e recorrentes são a febre, tremores, dores musculares e articulares, linfadenopatia (ganglios linfáticos aumentados), mal estar, perda de peso, anemia e trombocitopenia (redução do número de plaquetas no sangue). Na infecção por T. rodesiense pode haver danos cardíacos com insuficiência desse órgão. Há frequentemente hiperactividade na fase aguda.

Mais tarde surgem sintomas neurológicos e meningoencefalite com retardação mental. Na infecção por T. gambiense a invasão do cérebro é geralmente após seis meses de progressão, enquanto o T. rodesiense pode invadi-lo após algumas semanas apenas. Sintomas típicos deste processo são as convulsões epilépticas, sonolência e apatia progredindo para o coma. A morte segue-se entre seis meses a seis anos após a infecção para o T. gambiense, e quase sempre antes de seis meses para o T. rodesiense. O Trypanosoma brucei é um dos parentes do Trypanosoma cruzi (causador da Doença de chagas).
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

O diagnóstico é geralmente pela detecção microscópica dos parasitas no sangue ou líquido cefalo-raquidiano. Também se utiliza a inoculação do sangue em animais de laboratório, se a parasitemia for baixa, ou a detecção do seu DNA pela PCR.

Na fase aguda, o tratamento com pentamidina é eficaz contra T. gambiense, e a suramina contra T. rhodesiense. No entanto a resistência é crescente a estes fármacos. Na fase cerebral, já poderá haver danos irreversíveis. É necessário usar o tóxico melarsoprol, que mata sem ajuda do parasita 1-10% dos doentes, ou no caso do T. gambiense, a eflornitina.

A doença do sono é considerada como "extremamente negligenciada", pela DNDI, basicamente porque afecta principalmente os muito pobres, em áreas igualmente pobres.




PREVENÇÃO

As Glossina, ao contrário de quase todos os outros insectos que picam humanos, são mais activas de dia, logo dormir com redes apesar de aconselhado, não protege tanto como protege contra malária, cujo mosquito é nocturno. É necessário usar roupas que cobrem a maioria da pele e sprays repelentes de insectos. O uso de aparelhos eléctricos luminosos que atraem e matam as moscas é útil. A destruição das populações de moscas é eficaz para a erradicação da doença.

PAPÉIS E RESPONSABILIDADES

Papéis dos países

A nível nacional, os ministérios da saúde deverão desenvolver as políticas da tripanossomíase humana africana, os seus planos e os quadros de implementação. Estes
documentos serão a base de todo o apoio dos parceiros e garantirão actividades de controlo uniformes e parcerias sólidas.

Os distritos serão responsáveis pelo planeamento, implementação, supervisão, monitorização e avaliação das actividades de controlo da tripanossomíase humana africana nos países. As comunidades devem participar, responsabilizando-se desse modo face aos programas de controlo da tripanossomíase humana africana; devem ser envolvidas desde a fase de concepção.

Em cada país, deve ser nomeado um director do programa nacional da tripanossomíase humana africana. Devem ser criados grupos de trabalho multidisciplinares e comissões para a luta contra a tripanossomíase humana africana em todos os níveis, para garantir a coordenação intersectorial.  O diagnóstico e o tratamento serão descentralizados, de tal modo que cada distrito afectado participará no controlo da doença. A luta anti-vectorial será integrada em outras actividades de controlo, sempre que conveniente.

A coordenação assegurará a estandardização e uniformidade das actividades, enquanto que a colaboração procurará criar parcerias sólidas em todos os níveis. A colaboração interministerial garantirá a promoção da luta anti-vectorial da mosca tsé-tsé e do tratamento dos reservatórios animais.

Os ministérios da saúde serão responsáveis pela mobilização de recursos para o programa e pela sua coordenação geral, supervisão, monitorização e avaliação. Darão assistência técnica aos distritos e promoverão parcerias dos sectores público e privado. O sector público colaborará com o privado e os organismos internacionais para garantir
a disponibilidade dos produtos e tecnologias para o controlo da tripanossomíase humana
africana. Segundo as respectivas vantagens comparativas, as organizações não-governamentais apoiarão os programas nacionais e trabalharão em estreita colaborarão com eles. Os parceiros contribuirão com advocacia, mobilização de recursos e reforço de capacidades.



RESPONSABILIDADES DA OMS
A OMS apoiará a formulação e implementação dos programas nacionais de controlo, por meio de apoio técnico e reforço de capacidades. As equipas interpaíses sediadas nos blocos epidemiológicos serão reforçadas. A OMS promoverá também a ligação desta estratégia a outras estratégias regionais pertinentes, para a gestão integrada do vector, a promoção da saúde e a vigilância integrada das doenças.

A OMS colaborará igualmente com outras organizações e projectos internacionais, como a União Africana, FAO, PNUD, Agência Internacional da Energia Atómica e Campanha Pan-Africana de Erradicação da mosca tsé-tsé e da Tripanossomíase, para promover o tratamento dos reservatórios animais e a luta anti-vectorial da mosca tsé-tsé.

MONITORIZAÇÃO E AVALIAÇÃO

A monitorização e avaliação dos programas nacionais de controlo inclui uma monitorização interna permanente e um exercício externo de revisão e avaliação periódicas.

Os progressos e o impacto do programa serão avaliados e reorientados, se necessário. O Escritório Regional da OMS elaborará indicadores fulcrais para a monitorização e avaliação. Os países serão encorajados a adaptar esses indicadores aos seus contextos específicos.




CONCLUSÃO



A tripanossomíase humana africana só é endémica em África, onde esta doença assume grande importância para a saúde pública. Actualmente, o continente vê-se confrontado com uma terceira epidemia. As consequências sociais e económicas da doença têm um impacto negativo no desenvolvimento dos países.

O controlo da tripanossomíase humana africana exige uma estreita colaboração entre os sectores público e privado e uma forte participação das comunidades e das ONGs.

A implementação desta estratégia nos países afectados deverá reduzir a morbilidade e mortalidade devidas à tripanossomíase humana africana, eliminando assim a doença, enquanto problema de saúde pública, até 2015.





BIBLIOGRAFIA




Organização Mundial de Saúde. Comité Regional Africano. Controlo da Tripanossomíase Humana Africana: estratégia para a região africana. Maputo, Moçambique, 22-26 de Agosto de 2005.


WHO mortality and health data and statistics, acessado em 10 de fevereiro de 2009.

TRANSTORNO DE HUMOR - Trabalho Elaborado e Organizado por Vieira Miguel Manuel

ÍNDICE







 






Transtornos do humor são aqueles nos quais o sintoma central é a alteração do humor ou do afecto. Afecta diversas áreas da vida do indivíduo (profissional, familiar, social...) e a maioria dos outros sintomas são menos prejudiciais ou consequência do humor alterado. Tendem a ser recorrentes e a ocorrência dos episódios individuais pode frequentemente estar relacionada com situações ou fatos stressantes.

Não se classifica como transtorno do humor quando a alteração de humor seja causada por outra doença ou por medicamentos. Nesse caso, ela será apenas um sintoma.









É uma doença que se caracteriza pela alternância de humor: ora ocorrem episódios de euforia (mania), ora de depressão, com períodos intercalados de normalidade. Com o passar dos anos os episódios repetem-se com intervalos menores, havendo variações e existindo até casos em que a pessoa tem apenas um episódio de mania ou depressão durante a vida. Apesar de o Transtorno Bipolar do Humor nem sempre ser facilmente identificado, existem evidências de que factores genéticos possam influenciar o aparecimento da doença.

Muitas vezes o paciente não percebe que tem esta enfermidade, e é necessário que familiares e amigos estejam bem informados, e saibam reconhecer alguns dos seus sintomas para poderem encaminhá-lo a um tratamento adequado A pessoa com Transtorno Bipolar do Humor pode apresentar grandes oscilações no seu estado de humor, atrapalhando muito o andamento de sua vida no trabalho, nas relações afectivas e familiares.


(Ou mania) É um estado de exaltação do humor, com aumento de energia, sem qualquer relação com o momento que o indivíduo está vivendo. Nesse período do transtorno bipolar, o paciente não está deprimido nem alegre por motivo especial, mas apresenta humor eufórico ou irritável. Em geral, a mudança do comportamento na euforia é súbita, mas o indivíduo não percebe sua alteração ou a atribui a algum factor do momento. O senso crítico e a capacidade de avaliação objectiva das situações ficam prejudicados ou ausentes.

Este texto foi produzido pelos pacientes da ABRATA sob supervisão do Conselho Científico.


A depressão apresenta causas multifatoriais, tendo sua origem em factores endógenos (neurobiológicos, genéticos) e factores exógenos (psicossociais). Vale ressaltar que esses factores apresentam uma forte relação de interdependência


Em prontuários hospitalares a frequência de pacientes diagnosticados com algum transtornos do humor está entre 20% a 60% sendo o mais comum depressão moderada ou grave. O número de casos na população de um local depende das características sociodemográficas, do tipo e gravidade das enfermidade associadas, dos critérios e definições usados na investigação. Transtornos do humor frequentemente estão associado com outras doenças. Entre pacientes com dor crônica 30% a 54% possuem os critérios para depressão maior. Entre os com distúrbio na tireoide esse índice chega a 17%. Em pacientes com diabetes entre 11% e 31% desenvolvem depressão. . Após infarto agudo do miocárdio varia entre 17% e 27%. Entre pacientes participantes de programas de diálise em doença renal terminal a prevalência da depressão chega a 25%. E entre os idosos que tiveram Acidente Vascular Cerebral (AVC) chega a 15%. Em doenças neurológicas como Alzheimer e Parkinson os sintomas de depressão maior podem ser identificados em até metade dos casos.


Os transtornos do humor podem ter frequência, gravidade e duração variáveis. Portanto, a depressão pode ser única ou recorrente (repetir-se várias vezes), de intensidade leve, moderada ou grave e durar semanas, meses ou anos. Se os sintomas persistirem por anos são chamadas de crónicas. Se for leve ou moderada, a pessoa ainda consegue realizar suas actividades, com esforço, algo impossível se ela for grave. A maioria das pessoas que sofre de depressão não acha que está doente porque não está gravemente deprimida, ou seja, incapacitada, desesperada ou angustiada. A distimia é um tipo de transtorno do humor com sintomas depressivos mais leves que da depressão, porém duradouros e oscilantes, em que predominam irritabilidade e mau-humor.

Frequentemente é confundida com a personalidade da pessoa e costuma evoluir para depressão. Basta uma única fase de hipomania ou mania, precedida ou não de qualquer tipo de depressão acima mencionado, para diagnosticar transtorno do humor bipolar. Depois da primeira (hipo) mania geralmente alternam-se depressões e euforias de intensidade variável.

Existem 4 tipos de transtorno bipolar. Se houve pelo menos um período de mania ou estado misto é bipolar tipo I; quando só aconteceram hipomanias - crises de euforia mais leves que mania - bipolar tipo II. O estado misto caracteriza-se pela superposição ou alternância num mesmo dia de sintomas depressivos e eufóricos importantes. Na ciclotimia se alternam durante anos sintomas de depressão e de euforia ainda mais leves, que duram apenas alguns dias. Pode ser confundida com um jeito de ser "instável", "cheio de altos e baixos" e frequentemente antecede sintomas depressivos e eufóricos mais graves.

Se a depressão, a mania ou o estado misto estiverem acompanhados de alucinações (sentir, ver ou ouvir algo que não existe) ou delírios (pensar algo irreal, como achar-se culpado de coisas que não fez, que está sendo perseguido, que possui poderes especiais, etc.) trata-se do sub-tipo psicótico.

O transtorno do humor bipolar também pode ser chamado de transtorno afectivo bipolar ou doença maníaco-depressiva.





O aparecimento do transtorno bipolar se deve a uma combinação de factores, em que aspectos biopsicosociais desempenham papel importante no desencadeamento da doença. Assim sendo, tratamentos medicamentosos, orientação sobre a doença e psicológicos estão indicados. O segredo está no encontro da combinação ideal para cada paciente.


Se o remédio não for tomado, de nada adianta receitá-lo. Para aumentar o sucesso do tratamento é preciso esclarecer o paciente e familiares sobre os sintomas da doença, suas causas, como ela pode seguir durante a vida da pessoa, quais os riscos, que atitudes tomar durante a depressão e na mania, como se preparar para as recorrências e assim por diante. Alguns aspectos são fundamentais. Em primeiro lugar, estará sendo tratado o diagnóstico de transtorno bipolar, não apenas sintomas depressivos ou eufóricos. Levando em consideração que a doença é para a vida toda, podendo hibernar por meses ou anos, o tratamento deve ser planejado para atender as necessidades a curto, médio e longo prazos.

Na orientação acerca da doença também deve ser abordado o preconceito. Resolver dúvidas ajuda a diminuí-lo, mas só o tempo poderá eliminá-lo de vez. Infelizmente pacientes e famílias sofrem durante anos acumulando ressentimentos, queda do poder aquisitivo, atraso na formação, antes da aceitação do diagnóstico e do tratamento.

Outra questão a ser aprendida é como lidar com uma nova crise. Cuidar da decepção, da frustração, da desesperança e além disso prevenir consequências prejudiciais são fundamentais na recuperação.


Existem vários tipos de substâncias usadas no tratamento do transtorno bipolar, dependendo do estado em que o paciente se encontra: estabilizadores do humor, antidepressivos, antipsicóticos e tranqüilizantes. Para tratar uma crise de depressão pode ser necessário o uso de antidepressivos, se os estabilizadores do humor não forem suficientemente eficazes; numa (hipo)mania apenas estabilizadores do humor podem resolver ou se adiciona antipsicóticos e tranqüilizantes. Estes são os tratamentos de fase aguda.

Quando a pessoa já teve pelo menos 3 crises ou uma muito séria e tem o diagnóstico de transtorno bipolar do humor, é aconselhável não adiar o tratamento de manutenção, para evitar ou reduzir a gravidade de novos períodos de doença. Os estabilizadores do humor podem bastar para controlar uma (hipo)mania ou estado misto, mas são os remédios ideais para o tratamento de manutenção ou preventivo de novos episódios do transtorno bipolar.

É importante lembrar que mesmo a curto prazo, o efeito dos medicamentos na depressão, na (hipo)mania ou no estado misto leva pelo menos duas a quatro semanas para ser significativo. A melhora completa pode levar alguns meses e depois disso é necessário manter as medicações usadas na fase aguda da doença por mais algumas semanas ou meses, dependendo da gravidade. Depois de melhorar por completo, não apenas parcialmente, o paciente segue para a fase de manutenção.

Nesta fase normalmente a pessoa se sente bem e corre o risco de descuidar do rigor no tratamento medicamentoso. Da mesma maneira como acontece na hipertensão arterial ou no diabetes, a pessoa se sente bem por estar tomando remédios. Ela não pode parar sem o consentimento do médico achando que está curada.

Felizmente dispomos hoje em dia de vários remédios que podem controlar o transtorno bipolar do humor, de tal modo que se a pessoa não puder tomar algum deles ou não se beneficiar o suficiente, é possível trocá-los ou fazer combinações entre eles. Serão mencionados somente os disponíveis no Brasil.

Estabilizadores do humor são os remédios mais importantes e devem ser usados a partir do diagnóstico de transtorno bipolar. Controlam o processo de ciclagem de um episódio a outro, reduzindo a quantidade de depressões e (hipo)manias e a gravidade delas. Eles variam entre si no efeito antidepressivo e antimaníaco. Os mais estudados e bem conhecidos são o carbonato de lítio, a carbamazepina e o ácido valpróico. Com excepção do lítio, todos eles são também usados como anticonvulsivantes (remédios para tratar epilepsia).

Antidepressivos são o tratamento indicado para as depressões. No paciente com transtorno do humor bipolar o médico primeiro introduz o estabilizador do humor e se não melhorar associa um antidepressivo. Esta cautela reduz o risco de ciclagem para euforia, que os antidepressivos podem desencadear. Se isso acontecer, demorará mais para controlar a doença a longo prazo.

Antipsicóticos são medicamentos de efeito antimaníaco e antipsicótico. Podem ser usados durante um episódio de depressão, mania ou estado misto se houver sintomas psicóticos.

       De primeira geração - por exemplo, Haldol“, Amplictil“, Stelazine“, Neuleptil“, Melleril“, Navane“.

       Novos antipsicóticos - por exemplo, Risperdal“, Leponex“, Zyprexa“, Seroquel“.

Tranquilizantes representam substâncias com acção hipnótica ou tranquilizante, que devem ser usados temporariamente, enquanto os estabilizadores do humor não fizerem efeito.





A ECT é um dos tratamentos antidepressivos e antimaníacos mais eficazes, indicado nos extremos da mania e da depressão, para prevenir exaustão ou suicídio, pelo rápido tempo de acção. Inclui aplicar pequenas correntes de energia durante rápida aplicação de anestesia geral, para obter uma convulsão de alguns segundos de duração. Jamais deve ser considerado tratamento de última escolha, prolongando inutilmente o sofrimento pela falta de melhora com os medicamentos. É o mais seguro em gestantes e idosos e pode salvar a vida do paciente.


O tratamento medicamentoso é básico, mas o transtorno bipolar não é meramente um problema bioquímico, também psicológico e social. Entrar em contato com os sintomas do transtorno bipolar causa sofrimento e pode ser traumatizante para o paciente e a família. O medo de como isso vai afetar sua vida, o preconceito, a aceitação do diagnóstico requerem atenção psicológica. Para aceitar é necessário conhecer a doença a ponto de diferenciar seus pensamentos e sentimentos e fazer decisões baseado em conhecimento e não em emoções, como medo ou raiva da doença. Tratamentos psicológicos procuram fornecer boas informações, orientação e motivação em um ambiente de apoio e confidencial.

Há vários tipos, dependendo da necessidade específica de cada paciente, como psicoterapias individual ou grupal, terapia familiar ou conjugal e orientação psicoeducacional, como mencionado anteriormente.

Durante o curso do tratamento o paciente costuma enfrentar recorrências, pois o manejo medicamentoso pode demorar até ser acertado. Tais experiências trazem desapontamento, dúvidas sobre o tratamento, sentimentos de culpa e de revolta. Na psicoterapia e na orientação sobre a doença é possível encontrar esclarecimento e apoio necessários para superar cada novo obstáculo que a doença impõe.


A magnitude das consequências depende da combinação de uma série de factores: idade de início (quanto mais cedo, mais compromete os estudos e a formação profissional), gravidade dos sintomas, quantidade de episódios, tratamento adequado, aceitação do tratamento, apoio familiar, associação com alcoolismo ou abuso de drogas (praticamente impossibilita o tratamento), associação com outras doenças, características de personalidade (fragilidade, imaturidade, dependência), problemas persistentes considerados sérios pela pessoa.


Antes de mais nada é necessário conhecer a doença e o tratamento do transtorno bipolar do humor. Mesmo assim, cada novo episódio representa um desafio, porque se misturam problemas individuais, questões pendentes, características de cada família.

O apoio ao tratamento é fundamental para ajudar o paciente em momentos difíceis a manter os medicamentos na dose certa e no horário prescrito. Bastam alguns dias sem tomar a medicação ou tomando menos que necessário para que entre em nova crise. Compreender os sintomas não como seu jeito de ser, mas como doença, alivia muito e reduz o sentimento de culpa no deprimido. O doente em euforia requer firmeza e paciência, porque o relacionamento se torna mais desgastante. Ele pode recusar as orientações da família, alegando que agora toda vez que se sentir feliz e de bem com a vida logo pensam que está em mania. A intervenção junto ao médico antes que perca a autocrítica previne consequências piores ou eventual internarão.

       Se os medicamentos estiverem causando efeitos colaterais muito incómodos e o paciente mencionar que quer parar com tudo isso, o médico deve ser informado;

       Detectar com o paciente os primeiros sinais de uma recaída; se ele considerar como intromissão, afirmar que é seu papel auxiliá-lo;

       Falar com o médico em caso de suspeita de idéias de suicídio e desesperança;

       Compartilhar com outros membros da família o cuidado com o paciente;

       Estabelecer algumas regras de protecção durante fases de normalidade do humor, como retenção de cheques e cartões de crédito em fase de mania; auxiliar a manter boa higiene de sono;

       Programar actividades antecipadamente.

       Mesmo depois da melhora, há um período de adaptação e desapontamento; é importante não exigir demais e não superproteger; auxiliá-lo a fazer algumas coisas, quando necessário;

       Evitar chamar o paciente de louco ou demonstrar outros sinais de preconceito, que favorecem o abandono do tratamento; tratá-lo normalmente e apontar sintomas com carinho;

       Aproveitar períodos de equilíbrio para diferenciar depressão e euforia de sentimentos normais de tristeza e alegria.


A pessoa mais interessada no próprio bem-estar é quem está doente. O paciente com transtorno bipolar do humor tem uma doença que costuma durar a vida toda, que se mantém sob controlo com tratamento adequado. Cabe a ele o esforço de manter o tratamento: é ele quem toma os medicamentos - ou não. Ninguém pode forçá-lo, a não ser em situações que ponham em risco a sua segurança ou a de outros. Portanto, se você é portador do transtorno bipolar:

       Comprometa-se com o tratamento - discuta dúvidas com seu médico, eficácia dos estabilizadores do humor, intolerância a efeitos colaterais, etc.;

       Mantenha uma rotina de sono; mudanças no sono ou redução do tempo total de sono podem desestabilizar a doença; converse com seu médico, caso precise mudar o hábito de dormir; - evite álcool e drogas; além de interagirem com algumas medicações, também agem no cérebro, aumentando o risco de desestabilização da doença; se tiver insónia ou inquietação, não se automedique - converse com seu médico;

       Evite outras substâncias que possam causar oscilações no seu humor, como café em excesso, drinques, antigripais, antialérgicos ou analgésicos - eles podem ser o estopim de novo episódio da doença;

       Enfrente os sintomas sem preconceito - discuta com seu médico sobre ele;

       Se não estiver podendo trabalhar, "não queime o filme" - é mais sensato tirar uma licença, conversar com a família ou com o patrão, e se permitir convalescer;

       Lembre-se: você está bem por tomar a medicação; se parar de tomá-la, mesmo após 5 ou 10 anos, os sintomas podem voltar sem prévio aviso; é preciso manter-se alerta para o aparecimento dos primeiros sinais, como insónia e irritabilidade;

       Há indícios de que quanto mais crises da doença a pessoa tiver, mais ela continuará tendo, por isso, procure participar activamente do tratamento;

       Descubra seus sintomas iniciais de nova crise depressiva ou maníaca - tome nota e avise imediatamente seu médico;

       Aproveite períodos de bem-estar para redescobrir como você de fato é; como são os sentimentos de tristeza, alegria, disposição e como você lida com seus problemas;

       Quanto mais você conhecer a doença, melhor você poderá controlar os sintomas no período inicial; proteja-se: evite estímulos de risco em potencial, como decisões importantes, relações sexuais sem preservativos, projectos ambiciosos, gastos - ponha seus planos no papel e espere para executá-los quando se reequilibrar; procure canalizar hiperatividade ou idéias negativas para actividade física ou manual; se estiver deprimido, dê-se um empurrão, pois a iniciativa está em baixa;

       Procure e aceite ajuda da família e dos amigos quando perceber que não consegue se cuidar sozinho.

       É comum querer parar o tratamento, ou porque vai tudo bem, ou porque não está dando certo; procure conversar com outras pessoas com o mesmo problema, que já passaram por isso; lembre-se de como era seu sofrimento; discuta com a família se valeria a pena buscar uma segunda opinião sobre o diagnóstico e o tratamento.

Temporariamente o paciente pode ficar inapto a se tratar adequadamente. Nestas fases a intervenção amiga da família é fundamental.








Há quem considere que o transtorno bipolar do humor "é como um animal selvagem em sua mente, pronto para escapar a qualquer momento", e que precisa de grades fortes para ser contido. Às vezes a porteira se abre um pouco e ele volta a ameaçar - o importante é não deixá-lo à solta. A luta a ser travada com esse animal é longa e difícil, mas vale a pena - vale o resgate da própria vida.

Compartilhar essas lutas com outros pacientes e familiares pode servir de exemplo e motivar quem está a ponto de desistir de si mesmo.








AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais - 4º edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. 845 p.

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