quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Vida e Obra de Anaximandro de Mileto - Trabalho Completo de VIEIRA MIGUEL MANUEL

INTRODUÇÃO


O filósofo, astrônomo grego e pré-socrático nasceu em 610 a.C em Mileto, actual Turquia, e faleceu em 547 a.C, na mesma região.

Anaximandro foi discípulo de Tales, segundo filosofo da escola jónica, natural de Mileto. Foi geógrafo, matemático, astrónomo e político. Escreveu um livro, Sobre a natureza, que se perdeu. Autor do primeiro mapa da história e iniciador da astronomia. Afirmou que a origem de todas as coisas seria o Ápeiron, o infinito. O mundo se dissolveria nele também. É apenas um mundo dentre muitos. Ao contrário de Tales não deu à génese um carácter material. O apeíron é eterno e indivisível, infinito e indestrutível. O princípio é o fundamento da geração de todas as coisas, a ordem do mundo evoluiu do caos em virtude deste princípio.

Supôs a geração espontânea dos seres vivos e a transformação dos peixes em homens. Anaximandro imaginava a terra como um disco suspenso no ar. Diz-se também, que preveniu o povo de Esparta de um terramoto.






VIDA

Filho de Praxíades e discípulo de Tales, 14 ou 24 anos mais jovem que o mestre, mas ambos morreram mais ou menos no mesmo ano. Nasceu na Cidade de Mileto em 610 a.e.c.. Segundo Diógenes Laércio, Anaximandro tinha 64 anos por ocasião da 58ª olimpíada (547 a.e.c.) e logo depois morreu, é possível fixar, que efectivamente faleceu cerca de 545 a.e.c. Esta informação coincide com  a de Hipólito sobre o nascimento no terceiro ano da 42ª olimpíada (610 a.e.c.).

Diodoro de Éfeso, ao escrever a respeito de Anaximandro, diz que [Empédocles] o imitava no gesto e no uso de vestes solenes". Como se sabe, Empédocles de Agrigento, da escola jónica nova, fora um filósofo festejado ao mesmo tempo como atleta olímpico. Sendo-lhe uma geração posterior, a comparação deve ser apenas de fundo histórico, por conta de quem a fez. Além disto, Anaximandro foi político, professor, administrador e construtor de relógios solares, há que diga que ele foi o inventor dos Gnômons (Relógios Solares), mas é uma teoria bastante discutível uma vez que os gregos adoptaram essa tecnologia além das doses horas do dia dos babilónicos. Mas de qualquer forma, foi Anaximandro quem introduziu os Gnômons na Grécia.

OBRAS

Anaximandro atribuiu construção de indicadores de horas para assinalar os solstícios e equinócios. Foi o primeiro a traçar os contornos da Terra e do mar, e a construir uma esfera celeste. Foi o autor da primeira obra filosófica grega; Anaximandro foi historicamente o primeiro a expor a teoria da evolução dos animais: o homem e todas as atuais espécies precedem de um ser marinho escamoso comum. Autor de quatro livros: Sobre a natureza, Perímetro da terra, Sobre as estrelas filhas e uma Esfera celeste.

PREVISÃO DE UM TERRAMOTO

Fez a previsão de um terramoto. Anaximandro foi até Lacedemonia e aconselhou o exército espartano a abandonar a cidade, segundo testemunho de Cicero a cidade inteira foi destruída. A previsão do terramoto de Anaximandro deve ter acontecido pela experiência a respeito uma vez que Mileto estava dentro de uma zona sísmica.

Diógenes Laércio afirma que Anaximandro foi o primeiro a definir um perímetro da terra e do mar. Além de construir um mapa da terra habitada, que foi aperfeiçoada posteriormente por Hecateo de Mileto. Seu mapa-múndi foi um desenho circular, em que as regiões conhecidas (Ásia e Europa) formavam segmentos aproximadamente iguais e todo ele rodeado pelo oceano. Os conhecimentos geográficos de Anaximandro se baseavam nas notícias de navegantes que seriam abundantes e variadas em Mileto, centro comercial e de colonização.

A Tradição considera Anaximandro, antes de tudo, um filósofo, sucessor e discípulo de Tales, cuja filosofia devemos interpretar como um desenvolvimento interno do racionalismo de seu mestre. Anaximandro desenvolveu, como crítica a filosofia de Tales, as idéias filosóficas seguintes:

a) O ápeiron. Segundo as fontes procedentes de Teofrasto, Anaximandro havia afirmado que o principio de todas as coisas existentes não é nenhum de os denominados elementos (água, ar, terra, fogo), se não alguma outra natureza ápeiron [indefinido o infinito]; 

b) O cosmos. Do centro do ápeiron eterno se agrega espécies de elementos, sem determinações, principalmente sem qualidades contrárias. Este cosmos é dinâmico e temporal que tem sua origem e seu fim no ápeiron.

c) A diversidade de mundos. Todas as fontes procedentes de Teofrasto (Simplicio, Hipólito e Ps. Plutarco) atribuem a Anaximandro ideia de mundos infinitos (simultâneos e sucessivos).

Em Anaximandro encontramos um problema semelhante ao de Tales de Mileto, pois em ambos pensadores as actividades científicas e filosóficas recaem na mesma pessoa subjectiva. Anaximandro poderia ser interpretado do ponto de vista científico como uma espécie de cosmólogo, do mesmo modo que Tales poderia ser interpretado como um fisiólogo ou biólogo. Mas a cosmologia de Anaximandro, é igual a physis de Tales e está coberta por idéias filosóficas. As idéias de Anaximandro (o ápeiron, o cosmos, a dinâmica e temporalidade do mundo) só adquirem uma escala adequada ao compará-las como um desenvolvimento interno dos problemas presentes no racionalismo de Tales, de tal modo que se poderia afirmar que muitos de suas idéias científicas estão cumprindo funções ontológicas, só podem ser entendidas por meio de suas idéias filosóficas.

DOUTRINAS

ÁPEIRON - É o infinito na qualidade e na quantidade. O ápeiron não surgiu de nada, mas existe e não tem fim. E justamente por ser infinito em extensão e profundidade pode gerar todas as coisas. Muitos identificam esse infinito com o divino, pois é imortal e não pode ser destruído. Aqui a imortalidade não é somente algo que não tem fim, mas também algo que não tem começo. Neste ponto Anaximandro destrói as bases das crenças nos deuses gregos. Estes não tinham fim, mas tinha começo, eles nascem em um determinado tempo. O ápeiron era a realidade inicial e final de todas as coisas e por consequência continha em si toda a natureza divina.

A idéia de ápeiron pode adquirir diferentes sentidos negativos segundo os diferentes parâmetros que fizermos para o limitado. Assim, se tomamos como parâmetros o limitado dos objectos concretos do mundo das formas (exemplo, uma lâmina metálica, uma cinta), ápeiron será o que não tem bordas ou extremos, porque se uniu a um anel. Aristóteles e Aristófanes apontaram a associação do ápeiron com algo circular ou esférico, circulo pode ser tomado, por sua vez, como referencia do limitado (exemplo: cosmos esférico limitado por uma superfície imersa em um espaço vazio), e, então o ápeiron seria uma esfera de raio infinito, sem limites. O ápeiron seria, pois, o circulo, o infinito em extensão espacial.

Se tomarmos como modelo de limitado a água de Tales em quanta determinação do arché, então o ápeiron de Anaximandro será a negação que, em seu uso filosófico, se exerce sobre a metafísica de Tales. A água de Tales sim é algo determinado não pode ser arché. O ápeiron aparece assim como uma alternativa ao monismo da substância e, por onde, não pode ser nem água nem nenhum dos denominados elementos (ar, terra, fogo).

No racionalismo de Tales o arché aparece sempre determinado nas formas do mundo. A unidade destas formas é a unidade das transformações mutuas unidade por identidade. O racionalismo de Tales unido a redutibilidade de algumas formas a outras (o mesmo que o bem e o mal, os gregos e bárbaros, os amos e os escravos, etc.). Agora o prometo de Tales começaria a perder-se quando as formas do mundo começam a mostrarem-se como irredutíveis: os opostos estão separados por fronteiras intransponíveis, ao menos de um modo directo. Contudo, Anaximandro conservaria o grupo de transformações de Tales, mas não de um modo directo, porém imediato.

A transformação de coisas em outras está mediada pelo ápeiron. O ápeiron nos apresenta assim como a fonte inesgotável de energia que garante a transformação da unidade do cosmos. São duas as características do ápeiron de Anaximandro: Infinito e Indeterminado. Em quanto infinito o ápeiron é fonte de energia e movimento para que no mundo não cesse a geração e declínio. Mas, além disso, o ápeiron não é nenhum dos denominados elementos (água, ar, fogo, terra), porém algo indeterminado. Esta indeterminação é relativa ao mundo gerado em seu ventre como um embrião na placenta. Anaxímenes, o discípulo de Anaximandro, conservará de seu mestre a concepção do arché, mas já não será indeterminado como em Anaximandro e sim algo determinado: o ar.

É de suma importância determinar as razões que levaram Anaximandro a opor-se ao projecto racionalista de Tales, em termos de discussão interna, própria da Escola. Quais são as razões que levaram Anaximandro a estabelecer a tese de que o arché infinito não pode ser algo determinado, não pode ser nenhum dos denominados elementos? Segundo Gomperz, o grupo de transformações não pode servir para explicar a transformação de algumas coisas em outras. Assim, por exemplo, o ar para converter-se em fogo por rarefacção (aumento de volume), necessita esquentar-se; As nuvens ao condensar-se se convertem em água, mas para elas necessitam esfriar-se, etc.

Mas o argumento decisivo é que a condensação e rarefacção implicam na limitação do mundo. E se o mundo é finito então nenhuma de suas partes, nenhuma determinação, pode ser elevada a categoria de arché infinito. Mas porque a condensação e rarefacção implicam no limite do mundo? Se partirmos da hipótese de que o mundo é infinito, e dizer, que o mundo é composto de infinitas partes [A, B, C,], então cabem duas possibilidades:

Cada parte é algo determinado e finito; mas neste caso a parte se desintegraria na infinidade de transformações;

A interpretação do arché como infinito e indeterminado, do ápeiron como aquele em que todas as formas do mundo, e em particular os opostos, se reabsorvem, como fonte inesgotável de energia que garante a transformação e unidade do cosmos, indica o caminho feito pela ontologia geral.

E, sem embargo, também é possível a interpretação do ápeiron nos limites da ontologia especial. As fontes de Simplício, Ps. Plutarco, Hipólito, Aécio, etc. Nos informam que o ápeiron não é nenhum dos denominados elementos, mas ao mesmo tempo nos dizem que o ápeiron é o princípio de todas as cosais existentes. Neste caso o ápeiron não é nenhum elemento determinado mas indeterminado, em que as determinações se apagam e desaparecem. Alguns textos de Aristóteles nos apresentam o ápeiron como uma substancia intermediária, entre todos os elementos, Uma mescla indiferenciada de todas as matérias empíricas.
O MAPA
Anaximandro foi o primeiro a definir um perímetro da terra e do mar. Além de construir um mapa da terra habitada, que foi aperfeiçoada posteriormente por Hecateo de Mileto. Seu mapa-múndi foi um desenho circular, em que as regiões conhecidas (Ásia e Europa) formavam segmentos aproximadamente iguais e todo ele rodeado pelo oceano. Os conhecimentos geográficos de Anaximandro se baseavam nas notícias de navegantes que seriam abundantes e variadas em Mileto, centro comercial e de colonização.

O UNIVERSO DE ANAXIMANDRO

Anaximandro considerava que a Terra tinha o formato de um cilindro e que era circundada por várias rodas cósmicas, imensas e cheias de fogo.

O Sol era um furo, numa dessas rodas cósmicas, que deixava o fogo escapar. À medida que essa roda girava, o Sol também girava, explicando-se assim o movimento do Sol em torno da Terra. Eclipses se deviam ao bloqueio total ou parcial desse furo.

A mesma explicação era dada para as fases da Lua, que também era um furo em outra roda cósmica. E finalmente, as estrelas eram pequenos furos em uma terceira roda cósmica, que se situava mais perto da Terra, do que as rodas do Sol e da Lua.

"Anaximandro, representa a passagem da simples designação de uma substância como princípio da natureza para uma idéia desta, mais aguda e profunda, que já aponta para os traços que irão caracterizá-la em toda a filosofia pré-socrática." (Julian Marías, 'História da Filosofia', Martins Fontes, 1ª edição, 2004, pg.17)

COSMOS

Em seu livro - Física, o pensador Simplício nos relata: "Dentre os que afirmam que há um só princípio, móvel e ilimitado, Anaximandro, filho de Praxíades, de Mileto, sucessor e discípulo de Tales, disse que o apeiron (ilimitado) era o princípio e o elemento das coisas existentes. Foi o primeiro a introduzir o termo princípio. Diz que este não é a água nem algum dos chamados elementos, mas alguma natureza diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos. É  manifesto que, observando a transformação recíproca dos quatro elementos, não achou apropriado fixar um destes como substrato, mas algo diferente, fora estes. Não atribui então a geração ao elemento em mudança, mas à separação dos contrários por causa do eterno movimento."

Para Anaximandro, o Universo era eterno e infinito. Um número infinito de mundos existiu antes do nosso. Após sua existência, eles se dissolveram na matéria primordial (o a-peiron) e posteriormente outros mundos tornaram a nascer.

Anaximandro, contudo, não acreditava em nenhum deus, para ele todos os ciclos de criação, evolução e destruição eram fenómenos naturais, que ocorriam a partir do ponto em que a matéria abandonava e se separava do apeiron. O apeiron era a realidade primordial e final de todas as coisas e, consequentemente, continha toda a natureza do divino em si próprio.

Tudo o que existe, somente existe em função de uma emancipação do ser eterno e, portanto ao se separar deste, é digno de castigo.

"De onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao fundo. Segundo a necessidade, pois têm de pagar penitência e de ser julgadas por suas injustiças, conforme a ordem do Tempo."

Tudo o que nasce um dia vai morrer. Tudo o que é quente, um dia vai esfriar. Tudo o que é grande, pode ser quebrado em pedaços menores. Fogo pode ser combatido com água, e como resultado, fogo e água deixam de existir.

Assim, Anaximandro conclui que a essência de todas as coisas não pode possuir essas propriedades determinadas que sucumbam ao longo do Tempo. Daí, seu conceito de apeiron, ser algo ilimitado, infinito, indefinido e eterno.

A segunda ideia de Anaximandro, que chega aos nossos dias é a ideia de cosmos. O termo kósmo se traduz geralmente por “mundo” e por ”natureza” (no contexto de “mundo natural”). Na evolução semântica do termo kósmo pode-se distinguir os seguintes estados:

a) Seu significado etimológico é “ordem ou disposição” de certa coisa (por exemplo, uma tropa de cavalos) e no de “ornamento” (por exemplo, o ornamento feminino, de onde provém cosmética). Segundo Heidegger, este segundo significado deve interpretar-se como beleza, noção ligada transcendentalmente a ideia de ser.

b) Ordem do mundo;
c) O Mundo como uma ordem;
d) O Mundo em geral sem especial referencia à estrutura ordenada.

Anaximandro havia efectuado o passo de (a) a (b) ou (c). Este passo só é possível através da experiência ou representação de uma ordem concreta no primeiro sentido de (a). Mas o que é ordenação concreta? Este se refere ao problema dos modelos (sociais, políticos, militares, ou tecnológicos) da ideia de cosmos. Para Paul Vernant, o cosmos de Anaximandro seria o emblema da nova polis democrática em que o príncipe o monarca havia sido substituído pelo equilíbrio de forças democráticas que se contrapesam em torno a um centro: o ágora.

Mas, além dos modelos sócio-políticos de este tipo, existem também os modelos tecnológicos que parecem gozar de una maior potência explicativa. Esta interpretação foi sugerida por Gomperz. A experiência tecnológica da roda seria a corrente de transmissão para construção da ideia de cosmos. Assim, por exemplo, Anaximandro assina trajectórias circulares aos astros, enquanto corpos isolados, mas enquanto fragmentos de rodas de fogo envoltas em uma espécie de câmara-de-ar. A roda nos apresenta assim como esquema inteligível de continuidade ou conservação dos astros. Em todo caso o ágora pode ser considerado como um reforço do conceito de roda.

Na geração deste cosmos, o gérmen do quente e frio foi segregado do eterno. A geração do cosmos a partir do ápeiron se produz não por alteração do elemento, mas ao separar os opostos: quente/frio, seco/húmido. O essencial do ápeiron de Anaximandro não é que se determine nos elementos e sim em uma ordem de elementos, formando um cosmos, mas um cosmos enantiológico, um sistema de oposições. O cosmos de Anaximandro é a unidade metafísica do mundo das formas, mas esta unidade se realiza de um modo diferente como ocorria no mundo de Tales. O monismo da substancia de Tales  unidade do mundo é a unidade própria das formas que desaparecem umas em outras. Em troca, o monismo da ordem de Anaximandro, a unidade do cosmos é a unidade das formas que aparecem: não de outras, mas do ápeiron. O cosmos é, pois, a unidade que as formas devem manter para subsistir como tais formas. Esta unidade é já um conceito M3, que no se absorve em nenhum corpo (M1), nem em nenhuma mente (M2).

O cosmos enantiológico forma um sistema de relações, uma estrutura, que se realiza em todos os campos, sobre todo o elo astronómico. Neste sentido Anaximandro, antecipando-se aos pitagóricos, é o primeiro em iniciar a análise matemática da natureza, estabelecendo relações numéricas entre os corpos celestes e o raio da Terra tomado como unidade:

Relaciones do raio da Terra com sua altura (a altura é igual a um terço do diâmetro);

Relações da distância entre anéis com o raio terrestre (o anel das estrelas e dos planetas em 9 raios, da lua 18 raios, e o anel do sol em 27 raios).

O cosmos de Anaximandro é um sistema de relação temporal, pois a partir de onde há geração para as coisas, há ali também a produção da destruição, segundo a necessidade de acordo com a disposição do tempo. A dinâmica do cosmos se desenvolve conforme duas fases: a primeira é a formação do cosmos a partir do ápeiron, a segunda fase é a do retorno de todas as coisas ao ápeiron. O cosmos é um sistema de relação temporal, pois seus términos não procedem de si mesmos (da transformação de uns em outros), e sim do ápeiron. Anaximandro explica a formação do cosmos a partir do ápeiron em duas etapas: Na primeira etapa se explica a formação da Terra. Na segunda serão a da formação das Esferas os anéis.

Do ventre do ápeiron eterno se segrega um gerador do calor e do frio. Frio e calor são o primeiro par de opostos. O calor dá lugar ao fogo a massa ígnea que rodeia totalmente o frio como casca e fruta. Esta esfera ígnea tem um movimento circular. O frio por sua vez se determina em outro par de opostos: o sólido e o húmido. O sólido dá lugar a Terra. O húmido se determina em líquido (água) e gasoso (ar). Os quatro elementos (fogo, terra, água e ar) que formam nosso cosmos foram gerados — segundo a disposição do tempo — a partir das qualidades opostas.

Formação da Terra. O movimento circular da esfera ígnea dá lugar a um redemoinho que origina a Terra a partir do frio. A terra tem forma cilíndrica, como uma coluna de pedra 18, e o homem habita uma de suas superfícies planas. A altura da Terra é um terço de seu diâmetro19. No princípio, a Terra está rodeada de água (de humidade) por todas as partes, mas o calor do fogo transforma parte da água em ar, e o resto se converte em mar, caindo livre parte da terra que, sem embargo, propende a secar-se completamente: o mar é um resíduo da humidade primitiva. Depois uma parte da humidade se evaporou por causa do sol e se converteu em ventos; enquanto a parte que cai nos lugares ocos da terra, é mar. Que por ser secado pelo sol, diminui e acaba secando.

A Terra está no centro do universo, suspendida livremente, sem estar sustentada por nada, movimentando-se em um espaço infinito, este movimento acaba neutralizado, pois, por estar no centro, as forças de atracão que actuam desde os distintos lugares da abóbada se compensam entre si. Assim, pois, a Terra tem que permanecer em seu lugar. Anaximandro parte da idéia de movimento e deduz dela o repouso da Terra.

Formação das esferas. A cobertura ígnea rodeia e tudo mais se desgarra para formar anéis separados. Este rompimento se produz por causa do movimento da própria esfera ígnea ou, também, porque a massa gasosa ao aquecer penetra na esfera ígnea. Estes anéis estão envoltos por uma massa atmosférica opaca e obscura; mas apresentam orifícios ou aberturas através dos quais brilha o fogo que aprisiona. O que nós denominamos corpos celestes não são outra coisa que o fogo que nós percebemos através destes orifícios. A obstrução destes orifícios produziria segundo Anaximandro, os eclipses e as fases da lua. Existem três classes de anéis: o do sol, o da lua, e dos planetas e estrelas fixas. O sol é o maior (distante da Terra 27 raios), depois o da lua (18 raios) seguido das estrelas fixas e dos planetas (9 raios).

Origem dos animais e do homem. Anaximandro enuncia uma tese evolucionista, mediante generativo a equivoca, sobre a origem dos animais. Os primeiros animais surgem da lama que se vai secando mediante o calor do sol e estavam recobertos de uma pele ouriçada e espinhosa para proteger-se do mundo circundante. Com ele enuncia uma tese lamarquista-darwinista da defesa das espécies frente a seu meio ambiente e da troca da forma das espécies em virtude das mudanças produzidas nesse meio. As mudanças das condições de vida (a mudança fazia o elemento seco) ocasionam o desaparecimento da casca que rodeava estes seres.

Por outra parte, os homens e mulheres primitivos nasceram já adultos. Na lama esquentada pelo sol se originaram uns poucos peixes ou animais semelhantes aos peixes em cujo interior se haviam desenvolvido os homens que permaneceram ali até o amadurecimento. Anaximandro fundamenta esta tese no seguinte: se o homem houvesse chegado ao mundo na forma que chega actualmente, não haveria sobrevivido. A argumentação de Anaximandro deveria ser a seguinte:

1) Todos os seres podem valer-se por si mesmos ao nascerem, excepto o homem que necessita, ao crescimento, de um grande período de cuidados maternos.
2) Os primeiros homens necessitariam de uma protecção especial (biológica) que substituiria os cuidados maternos actuais.
3) Se houvessem tido essa protecção, a espécie humana não teria resistido.
4) Mas a espécie humana resistiu.
5) Logo os homens primitivos não chegaram ao mundo na forma que chegam actualmente.

A dinâmica do cosmos em sua segunda fase consiste no retorno de todas as coisas ao ápeiron. O próprio sistema conduz a sua destruição e absorção no ápeiron.

Os anéis de fogo, e do sol particularmente, enquanto gira vão determinando uma evaporação da água terrestre, que terminará por secar a terra (sufocando a vida que há nela) e assim acabará com o próprio ar que envolve os anéis. Produzir-se-ia assim uma espécie de morte térmica do universo. Em termos mais modernos, se poderia dizer que o cosmos de Anaximandro leva em seu ventre a morte entrópica, seu desaparecimento pela conversão de todo o calor, em fogo.

O cosmos de Anaximandro é um equilíbrio — uma ordem, uma entropia 27 mínima —, mas um equilíbrio instável, porque não há perfeita e constante retribuição (segundo o critério do racionalismo de grupo) de uns términos a outros. Por ele diz Anaximandro que o mundo é injusto e por ele (segundo o texto de Simplicio) as coisas voltam de novo ao ápeiron segundo a ordem do tempo.

A Multiplicidade dos Mundos - A dinâmica do cosmos de Anaximandro nos mostra que este tem um começo e um fim. O ápeiron apresenta dialeticamente no princípio e no fim do cosmos. Mas o princípio é diferente da idéia do Nada e de criação, e no fim significa aniquilação. Por ele o ápeiron nos apresenta como a conjunção de duas impossibilidades:

A impossibilidade de um cosmos eterno;

A impossibilidade da criação e aniquilação.

Se o cosmos não é eterno e a aniquilação desse cosmos não é possível, então o fim do cosmos tem que dar origem a novos mundos. Anaximandro concebe o ápeiron fora do tempo, mas integramente orientado no cosmos. O cosmos em que estamos começa e acaba, e o ápeiron dá lugar a novos mundos que começam e acabam. Mas a multiplicidade dos mundos pode ser entendida como simultânea ou como sucessiva. Defendem a pluralidade simultânea Santo Agostinho, Burnet, W. Capelle, e outros, sobre tudo Kirk e Raven ao manifestar que, em caso de atribuir a multiplicidade de mundos a Anaximandro, observação de nosso mundo sugere mais a pluralidade simultânea (a multiplicidade dos astros) que a sucessiva. Defendem a multiplicidade sucessiva de mundos Zeller e Cornford (Principium Sapientiae) quem demonstraram a falácia 28 de muitos dos argumentos de Burnet e conseguiram que a interpretação de Zeller desfrutasse do favor geral.

O principal problema que questiona a pluralidade dos mundos é sua compatibilidade com o monismo, e Santo Agustinho não deixou de contrapor o pluralismo de Anaximandro e o monismo de Tales, pois acreditava (Anaximandro) que o princípio das coisas singulares era infinito e dava origem a mundos inumeráveis 29. Efectivamente, se o ápeiron dá origem a infinitos mundos coexistentes no tempo (simultâneos), então não é possível incluir Anaximandro no monismo milesiano. A unidade do ápeiron implica na unidade do cosmos, mas esta unidade chocar-se-ia com a multiplicidade simultânea de mundos singulares. Para tanto a pluralidade de mundos coexistentes romperia a unidade do ápeiron em quanto esta se funda por referencia al cosmos.

Sem embargo a multiplicidade sucessiva de mundos se parece compatível com o monismo, pois a unidade do ápeiron se mantém por referência a singularidade de cada mundo. A sucessão infinita de mundos pode ser entendida de duas maneiras:

Como continuidade cósmica. A sucessão entre dois mundos é uma continuidade cósmica. Mas se a sucessão entre dois mundos se mantém no plano cósmico então existe uma continuidade de cosmos. Isso conduz à tese de que, em realidade, não existe propriamente uma pluralidade nem sucessiva nem simultânea de mundos (idéia de continuo que havíamos atribuído a Tales de Mileto).




ANAXIMANDRO E A FÍSICA MODERNA

Algumas de suas idéias são muito semelhantes a opiniões e teorias da Física atual:

Sua idéia de um mundo que se sustenta por um equilíbrio de forças é muito semelhante à gravidade e à força centrípeta, forças que mantêm a Terra girando em torno do Sol;

Sua idéia de que a acção do Sol faz surgirem às criaturas de estrutura simples na água, que depois migram para a terra e adquirem estrutura mais complexa se parece com a teoria da evolução das espécies;

Sua idéia dos opostos se parece com a teoria de que o vácuo produz partículas (se supõe que, logo depois do Big-Bang, o vácuo tenha produzido pares de partículas e anti-partículas que se exterminavam ao se encontrarem, pois o espaço ainda era muito pequeno e os pares sempre se encontravam); as únicas diferenças entre as teorias são que, para Anaximandro, os pares eram de coisas com propriedades determinadas como frio e calor, e para a Física, aqueles pares eram algo como energia concentrada;

Para Anaximandro, os contrários revezam-se no tempo, e para os cientistas, os pares se auto-exterminavam - pois eram como +1 (matéria) e -1 (anti-matéria) e, ao se encontrarem, precisavam "saldar" sua dívida de energia.

Se pode sempre supor que Anaximandro tenha chegado, em sua época, às mesmas conclusões a que muitos cientistas chegaram hoje, ainda que por meios diferentes (pois Anaximandro dispunha apenas de sua observação e de sua reflexão); assim como se pode supor que tais teorias físicas tenham sido inspiradas na leitura, por parte dos cientistas, de Anaximandro. Em qualquer das hipóteses, pode-se notar que o filósofo era uma pessoa notável.

PRINCIPAIS FRAGMENTOS

I “... Nosso mundo é um dos muitos mundos que surgem de alguma coisa e se dissolvem no infinito...”.
II “...O que vem antes e depois do finito, tende a ser infinito...”.
III “... As estrelas são porções comprimidas de ar, com a forma de rodas cheias de fogo, e emitem chamas a partir de pequenas aberturas ...''.
IV ”... O Sol é um círculo vinte e oito vezes maior que a Terra; é como uma roda de carruagem, cujo aro é côncavo e cheio de fogo, que brilha em certos pontos de abertura como os bicos dos foles...''.
V “... O ilimitado é eterno...”
VI “... O ilimitado é imortal e indissolúvel...”



CONCLUSÃO



Tales de Mileto, seu antecedente, dizia que a origem de todas as coisas era a água, mas Anaximandro de Mileto deu a sua versão de que não podia a água ser o princípio de todas as coisas, pois era um elemento derivado, ou seja, para que haja água é preciso que se originem os átomos para constituí-la, então quem se originou primeiro não foram à água e sim os átomos. Com isso Anaximandro deduziu que não foi à água o princípio originário de todas as coisas e sim o ar de acordo com o seu pensamento filosófico.



BIBLIOGRAFIA




PINEDO. Christian Quintana, 1954 - Pinedo Karyn Siebert, 1977 Introdução à Epistemologia da Ciência/ Christian José Quintana Pinedo;

KARYN Siebert Pinedo : Universidade Federal do Tocantins. Campus de Palmas, 2008.

Anaximandro. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 014-09-15]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$anaximandro>.



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