quarta-feira, 17 de junho de 2015

MORTE CELULAR, TECIDUAL E ORGANICA - Trabalho elaborado e organizado por Vieira Miguel Manuel

NECROSE


Necrose é a morte da célula ou parte de um tecido que compõe o organismo vivo. É a manifestação final de uma célula que sofreu uma lesão irreversível, em outras palavras é quando param as funções orgânicas e os processos reversíveis do metabolismo. No entanto, é válido lembrar que a morte da célula ocorre de modo natural, pois isso é imprescindível para a manutenção do equilíbrio tecidual. Esse mecanismo recebe o nome de apoptose, ou morte programada.

A causa da necrose pode ter diferentes etiologias, dentre elas:

·         Agentes físicos: como no caos de acção mecânica, temperatura, efeitos magnéticos, radiação, entre outros.
·         Agentes químicos: dentro deste grupo estão inclusas substâncias tóxicas e não-tóxicas (álcool, drogas, detergentes entre outros).
·         Agentes biológicos: em casos de infecções virais, bacterianas ou micóticas, parasitas, entre outros.
·         Insuficiência circulatória (necroses isquêmicas): são compreendidas no grupo as necroses dos enfarto, das úlceras de decúbito e das vasoconstrições.

A necrose culmina com o desaparecimento total do núcleo, sendo esse fato resultante da morte da célula. O fenómeno é precedido de alterações nucleares graves denominadas picnose, cariorrexe, cariólise ou cromatose.

·         Picnose (do grego picnos = espessamento): o núcleo reduz-se, tornando-se mais arredondado do que o normal, e cora-se mais intensamente pela hematoxilina em virtude da maior acidez em sua massa; torna-se homogêneo, pois a cromatina se transforma em massa única; o núcleo geralmente desaparece.
·         Cariorrexe: a cromatina distribui-se irregularmente, podendo acumular-se em grumos na membrana nuclear; há perda dos limites nucleares.
·         Cariólise: este é o final do processo. Desaparecem, respectivamente, o núcleo e a cromatina.

As características macroscópicas da necrose correspondem a:

·         Necrose de coagulação: os tecidos apresentam maior firmeza, são de coloração acinzentada, apresentam-se opacos, turvos e secos, com aspecto da albumina coagulada. Há pouca retracção e, até o contrário, os tecidos se incham. É causada por isquemia local.
·         Necrose de liquefacção: este tipo aparece em tecidos ricos em lipídio e pobres em albuminas coaguláveis, como é o caso do sistema nervoso central, ou surge nos tecidos que, embora possuam níveis elevados de albumina, sofrem fusão por acção de bactérias ou por acção de proteases de leucócitos. Pode ser observada em abscessos e no sistema nervoso central, assim como em algumas neoplasias malignas.
·         Necrose caseosa ou de caseificação (do latim caseum = queijo): o material necrosado adquire um aspecto de queijo, como indica a própria etimologia da palavra. As áreas de caseificação apresentam-se macroscopicamente como massas circunscritas, amarelas, secas e friáveis. Microscopicamente, há total ou quase total desaparecimento dos núcleos. Esse tipo de necrose aparece na tuberculose, em neoplasias malignas e em alguns tipos de enfarto.
·         Necrose fibrinóide: neste tipo, o tecido adquire um aspecto hialino, acidofilico, semelhante a fibrina. É o substrato das denominadas colagenases, onde estão incluídas as doenças de hipersensibilidade e as da auto-agressão. Entre elas encontram-se: a febre reumática, a artrite reumatóide, a periartrite nodosa, o lúpus eritematoso disseminado, a trombocitopenai e a hipertensão maligna.
·         Necrose gangrenosa: é provocada por isquemia ou pela acção de microrganismos. Pode ser húmida ou seca, dependendo da quantidade de água existente. A forma seca ocorre quando há perdas de líquidos por evaporação, insuficiência de afluxo de líquidos nutrientes, ou quando os tecidos sofrem a acção de determinadas substâncias químicas. Os tecidos apresentam-se secos, duros, escuros e apergaminhados (como as múmias). A forma húmida está associada com a proliferação de germes da gangrena, devido à presença de líquidos nutridores nos tecidos. Exalam um odor pútrido; frequentemente há a formação de bolhas gasosas.
·         Necrose enzimática: este tipo ocorre quando há liberação de enzimas nos tecidos. A forma mais observada é a do tipo gordurosa, especialmente no pâncreas, quando há liberação de lipases, responsáveis por desintegrar a gordura neutra dos adipócitos desse órgão.
·         Necrose hemorrágica: ocorre quando há a presença de hemorragia no órgão necrosado.

O processo necrótico pode sofrer total cicatrização, devido à proliferação de conjuntivo-vascular. Os grandes processos necróticos podem ser encapsulados ou sequestrados por tecido conjuntivo, que permanece na periferia do tecido morto, sem penetrar em seu cerne. O material necrótico pode, na pele ou em órgãos ocos, ser eliminado deixando cavidades, são as denominadas úlceras. Além da cicatrização, a necrose pode ainda evoluir para uma calcificação distrófica ou até mesmo regeneração.

APOPTOSE

A apoptose é a morte celular geneticamente programada, não seguida de autólise (destruição das células pelas enzimas do próprio indivíduo). A apoptose é um tipo de autodestruição celular ordenada com uma finalidade biológica definida e que demanda certo gasto de energia para a sua execução, ao contrário da necrose, que é uma simples degeneração. A apoptose pode também ser causada por um estímulo patológico não fisiológico, como a lesão ao DNA celular, por exemplo. A apoptose envolve uma série de alterações morfológicas da célula que leva à inactivação e fragmentação dela, ao final de seu ciclo, sem extravasar conteúdo tóxico para o meio extracelular, portanto, sem causar dano tecidual. Os restos celulares são fagocitados (englobados e digeridos) por macrófagos teciduais, sem danos para as demais células do tecido.

Um símile da apoptose celular é a queda das folhas das árvores: uma morte fisiológica programada que permite a renovação delas.

Quais são as causas da apoptose?

A apoptose pode ocorrer em virtude de estímulos fisiológicos normais, quando então é útil para manter o equilíbrio interno do organismo, ou por causas patológicas. Entre as primeiras, contam-se vários processos naturais de involução e desaparecimento de certas estruturas anatómicas durante a vida do organismo. Entre as apoptoses patológicas pode-se citar aquelas causadas por estímulos radioactivos, químicos ou virais e por lesão por isquemia ou hipóxia moderada.

Quais são as funções da apoptose?

O processo de apoptose é biologicamente fundamental em vários sentidos. É ele que determina, entre outros factores, o tamanho dos tecidos e órgãos e remove células envelhecidas ou alteradas, dando lugar a células jovens e sadias. É importante na remoção de células que se tornam supérfluas durante a embriogênese e o crescimento e na involução natural de tecidos hormônio-dependentes, quando esses hormônios escasseiam, como ocorre ao longo da idade com a próstata, a glândula mamária e o útero ou na involução ovariana que ocorre em determinada fase de cada ciclo menstrual. Tem importância ainda na selecção dos linfócitos dos órgãos linfoides e na substituição de células da pele e do intestino, por exemplo.

TANATOLOGIA

Etimologicamente a palavra Tanatologia deriva do grego Thanatos (o deus grego da morte) e Logia que deriva do grego Logos (ciência, estudo), tendo como significados o estudo da morte ou a ciência da morte.

Kastenbaum e Aisenberg (1983 como citado em Escudeiro, 2008, p. 17) conceituam a Tanatologia como a ciência que estuda os processos emocionais e psicológicos que envolvem as reações à perda, o luto e a morte.

A tanatologia não enfoca seu estudo apenas na morte física em si em sua complexidade, mas também os desdobramentos desta no que diz respeito às perdas e como as pessoas lidam com estas. Essas perdas estão relacionadas directamente com o apego, este só é vivenciado com elementos que as pessoas tenham certa proximidade. A dificuldade das pessoas lidarem com as perdas deve-se, segundo Escudeiro (2008), ao fato de ir de encontro ao que os humanos estão acostumados, pois faz parte da condição humana a propensão das pessoas a querer sempre ganhar.

A tanatologia se mostra uma ciência demasiado importante, visto que seus pressupostos servem de pilar para toda a existência humana, pois a morte está presente em toda a vida. “Por trás dos sentimentos de desânimos e depressões, das necessidades de angústia, das diferentes fobias e muitas esquizofrenias, se esconde o medo da morte”. Zillboorg (1943 como citado em Becker, 2007)

No tocante à sua presença nos cursos de saúde, há diversas discussões que afirmam em sua maioria sua relevância, visto que a maioria dos profissionais em suas práxis lida com a morte de forma directa ou indirecta. Apesar dessas considerações, a tanatologia ainda não alcançou as proporções esperadas por seus defensores, apesar de estar emergindo cada dia mais.

Dentre os temas abordados e explorados pela tanatologia, está o luto. “Luto é um processo inerente a uma perda: toda perda significativa pressupõe o luto, um processo que visa retirar a energia fixada no objecto perdido e redirecionada para outro objecto.” Freud (1917 como citado em Escudeiro, 2007). Segundo Melo (2004) o luto é um processo necessário para que o vazio deixado pelo que foi perdido volte a ser preenchido.

Segundo Sanders (1999 como citado em Melo, 2004, p.4) o luto representa o estado experiencial que a pessoa sofre após tomar consciência da perda, sendo um termo global para descrever o vasto leque de emoções, experiências, mudanças e condições que ocorrem como resultado da perda. Esse luto, apesar de ser universal, é vivenciado de forma diferente entre os seres que passam por ele, além de ser encarado de forma diferente pela mesma pessoa em diferentes momentos do desenvolvimento humano.

Baseada na obra de Worden (1991) Sandra Melo elenca sentimentos comuns no processo de luto, a saber: Tristeza, raiva, culpa e autocensura, ansiedade, solidão, fadiga, desamparo, choque, anseio, emancipação, alívio, torpor.


Considerando a riqueza dos trabalhos na área da tanatologia, pode-se perceber a relevância dos estudos relacionados à morte, às questões intrínsecas à esta e às consequências na vida dos seres. A ciência da morte, apesar de nova se mostra emergente enquanto ciência e profissão, podendo-se sua evolução no que diz respeito às suas pesquisas, práticas e teorias.

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