quarta-feira, 17 de junho de 2015

PROSÓDIA E ORTOÉPIA - Trabalho Elaborado e Organizado por Vieira Miguel Manuel

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A Prosódia foi durante muito tempo uma área de estudo dependente da fonologia, na medida em que alterações de entoação, ao nível da frase, ou de acento, ao nível da palavra, representavam oposições distintivas de significado. Recentemente, com o progressivo interesse de outras ciências da linguagem, como o processamento computacional da fala (síntese da fala e reconhecimento de voz) e como a psicologia e a neurolinguística, a prosódia tem-se tornado uma área científica autónoma, ainda que muito interdisciplinar, como é demonstrável pela realização de congressos e reuniões científicas apenas dedicadas à temática da prosódia, bem como pelas publicações de trabalhos científicos sobre este tema.






A Prosódia diz respeito ao estudo da natureza e funcionamento das variações de tom, intensidade e duração na cadeia falada, (Associação Portuguesa de Linguística e Instituto de Linguística Teórica e Computacional), é uma área científica que requer um vasto leque de conhecimentos linguísticos muito específicos.

A prosódia começou a ocupar lugar de destaque desde as primeiras gramáticas sobre o português. Tem como objecto de estudo a sílaba.

A prosódia é a medida do tom ou bem dos acentos, ensinando sobre que sílabas devemos pousar, levantar ou fixar a voz, atentando por ali quais sílabas são longas e quais curtas ou breves. Ela está relacionada com a correcta acentuação e entonação dos fonemas tomando como padrão a língua culta. A língua culta determina a correcta posição da sílaba tónica de uma palavra. A divergência entre a pronúncia do dia-a-dia e a recomendada é muito comum.

Os traços prosódicos são Melodia da fala, tom, acento e quantidade incidindo sobre as sílabas, ou modo como estas devem ser pronunciadas. Tornando-as, longas ou breves. A maior preocupação da prosódia é quanto ao conhecimento da sílaba predominante, a sílaba tónica.

Podemos definir sílaba como um fonema ou grupo de fonemas emitido em apenas um único impulso expiratório.

No nosso idioma, o português, temos a vogal como elemento fundamental da sílaba, que pode ser:

·         Simples: constituída de apenas uma vogal: e, há, ah!
·         Ou composta: encerra mais de um fonema: ir (vogal + consoante), pés (consoante + vogal + consoante). Pode ser aberta (livre) ou fechada (travada). A aberta (ou livre) termina em vogal: vesti. É fechada (ou travada) em caso contrário ou com a finalização por vogais nasaladas: bar, sei, ou, pás, um. Podemos dividir as palavras quanto ao número de sílabas em monossílabos, dissílabos, trissílabos e polissílabos.

A sílaba também pode ser inicial, medial e final, quanto à sua posição no vocábulo. À duração da vogal e da consoante chamamos quantidade. Pode ser breve (se a pronúncia é rápida) ou longa (se a pronúncia é demorada). As diferenças entre longas e breves em vários idiomas podem resultar em significados completamente diferentes das mesmas palavras, diferenciando-se apenas quanto à duração de suas vogais ou consoantes. Em português, essa característica não é muito sentida, não exercendo papel notável nos vocábulos.

Na estilística, o alongamento das vogais é usado como recurso para enfatizar determinada palavra. A acentuação é o modo de proferir um som ou seu grupo com mais relevo do que outros. Nota-se que geralmente todas as tónicas são pronunciadas com muita ênfase. Nas palavras, temos sílabas que são proferidas com mais intensidade que outras. Estas são as tónicas. As demais, proferidas com menos intensidade, são as chamadas átonas. A isto damos o nome de acento de intensidade.

Há também as sílabas subtónicas, que desenvolvem um acento de menor intensidade (secundário), compensando o seu afastamento da sílaba, por questões rítmicas. O acento de intensidade é importantíssimo, falando de forma linguística, para expressar o verdadeiro sentido das palavras. Sua alteração pode mudar drasticamente o significado da palavra, como em anúncio e anúncio. O primeiro é um substantivo comum cujo significado é uma mensagem que comunica ao público as qualidades de um determinado produto ou serviço. O segundo é o verbo anunciar conjugado na primeira pessoa do presente do indicativo.

Em português, utiliza-se o acento de intensidade para obter com o acento de insistência efeitos diferenciados e notáveis. Considera-se também a quantidade da vogal e da consoante, com a prolongação da sílaba tónica. A isto se dá o nome de acento de insistência e emocional. O alongamento tratado é grafado com a repetição da vogal da sílaba tónica.
...cobran::ça caução::
...foi tu::do acatado...

O acento de insistência pode cair em outra sílaba diferente da tónica. Isto pode ocorrer por motivos emocionais, adquirindo valor intelectual e ocorrendo para ressaltar uma distinção, principalmente com palavras derivadas por prefixação ou expressões com preposições de sentidos opostos. As palavras regulam sua sílaba tónica pela sua origem, mas em um contexto frasal, isto pode deixar de acontecer e prevalece o acento de intensidade na frase, pertencente a cada grupo de força. Grupo de força é o nome dado ao conjunto de vocábulos que formam um conjunto fonético subordinado a um acento tónico. As bonecas de Carla / são muito feias. Apresentam-se dois grupos, divididos pela barra. A tónica do primeiro é marcada por Car(la), e um acento secundário na sílaba bo(neca). No segundo grupo, a tónica é marcada por fe(ia) e o acento secundário se manifesta em mu(ito).

A determinação da sílaba tónica nos grupos de força não é uma tarefa difícil. A dificuldade está em saber precisamente o ponto a se dividir a oração. Podemos chamar de ritmo a distribuição dos grupos de força, com sua alternância de sílabas mais rápidas ou mais demoradas, mais fortes ou fracas, dando cadência ao texto. A prosa e o verso possuem ritmo. Esse recurso é muito utilizado pela linguagem publicitária, enriquecendo seus textos e tornando-os mais memorizáveis. Outro fenómeno que ocorre são os clíticos: vocábulos tónicos e átonos. São chamados clíticos, pois se declinam. Nos grupos de forças, certas palavras perdem seu acento próprio para unir-se a outros que o precede ou segue. Quando precedem a palavra tónica do grupo de força, os clíticos recebem o nome de proclíticos: bom dia, deve esperar. São enclíticos quando vêm depois do vocábulo tónico: eis-me, contou-me.


Em geral, temos palavras em português que são átonas e proclíticas:

·         Verbos auxiliares.
·         Determinadas conjunções: nem, se, e, como, mas etc.
·         Determinadas preposições: por, sem, sob, para, a, em etc.
·         Determinados advérbios: não posso, já saí etc.
·         Pronomes relativos.
·         Pronomes pessoais antepostos: ele tem, eu disse.
·         Pronomes adjuntos antepostos (demonstrativos, possessivos, indefinidos, interrogativos): esta escola, minha bolsa, cada dia, que fazer?
·         Certos numerais: um lápis, três copos, cem mulheres.
·         Artigos (definidos ou indefinidos): o menino, um menino.

Quando ocorre um erro de prosódia, acontece a intitulada silabada. Isto ocorre, por exemplo, quando uma palavra oxítona (como cateter) é transformada em paroxítona (catéter). Talvez isto se deva a muitas palavras não terem acento e induzirem a tais dúvidas que, no dia-a-dia, as pessoas não se interessam em pesquisar e falam como lhes vêm à mente. Exemplos:

1)      Oxítonas:

Cateter, Cister, condor, hangar, mister, negus, Nobel, novel, recém, refém, ruim, sutil, ureter.

2)      Paroxítonas:

Avaro, avito, barbárie, caracteres, cartomancia, ciclope, erudito, ibero, gratuito, ónix, poliglota, pudico, rubrica, tulipa.

3)      Proparoxítonas:

Aeródromo, alcoólatra, álibi, âmago, antídoto, eléctrodo, lêvedo, protótipo, quadrúmano, vermífugo, zéfiro.

·          Há algumas palavras cujo acento prosódico é incerto, oscilante, mesmo na língua culta.

Exemplos: Acrobata e acróbata / crisântemo e crisantemo/ Oceânia e Oceania/ réptil e reptil/ xerox e xérox e outras.

·          Outras assumem significados diferentes, de acordo a acentuação:

Exemplo: valido/ válido
Vivido /Vívido

Assim como a prosódia está relacionada com a correcta acentuação e entonação dos fonemas tomando como padrão a língua culta, a ortoépia ou ortoepia cuidará da correcta articulação e pronúncia dos grupos fónicos.





Palavra derivada do grego orthós, que significa recto, direito; mais épos, cujo significado é palavra.

A ortoépia ou ortoepia é a parte da gramática que cuida da correcta articulação e pronúncia dos grupos fónicos. Seus erros caracterizam a linguagem vulgar ao articular uma palavra, obedecendo à lei do menor esforço e modificando a pronúncia dela. Está relacionada à perfeita emissão das vogais, à correcta articulação das consoantes e à ligação dos vocábulos dentro de contextos.

Sempre que um erro ortoépico passa a fazer parte da linguagem de uma população, oficialmente altera-se a grafia para adaptá-la à pronúncia. Como cada grupo distorce a língua da maneira que bem entende, temos as muitas línguas faladas hoje. O nosso pronome de tratamento você é uma redução de vossa mercê. Actualmente, muitas vezes ouve-se ocê, o que mostra a nossa tendência de eliminar partes das palavras.

Na nossa língua actual, podemos observar mudanças que se vão operando entre nós: bom, em linguagem rústica é bão; futuramente poderá ser palavra oficial, assim como non passou a ser não, tornando-se arcaica a forma antiga. Obligação, do latim obligatio, já não é mais forma correcta, já virou linguagem do Cebolinha, prevalecendo actualmente obrigação.

Os erros de linguagem podem ser divididos em erros ortográficos e erros ortoépicos. Os erros ortográficos acontecem quando se escreve a palavra de forma errada. Já os erros ortoépicos acontecem quando o mesmo se escreve correctamente e pronuncia-se errado.
Cacoépia é o nome que recebem os erros contra a ortoépia. Erros de pronúncia que se tornam populares e forçam as mudanças ortográficas. A escrita ajuda a conter esse fenómeno, contudo não o impede. A linguagem oral predomina e comanda a dita modernidade da língua. Actualmente está muito comum ouvirmos: miupia, cartulina, tiatro, cumpanheiro, cubiça, até culégio e pudêr.

Um dia, dada a intensa repetição dessas pronúncias erradas, elas tomarão o lugar das correctas, consequentemente alterando a grafia. Veja abaixo alguns erros de cacoépia: Pronunciar erradamente vogais quanto ao timbre: ocorre quando a pronúncia correcta é feita ao contrário do que deveria, como uma vogal aberta ser pronunciada fechada e vice-versa: crosta (e não crósta), alcova (e não alcóva). Pronunciar a crase: consiste na pronúncia das duas vogais constituintes da crase. O correcto é: Fui à Espanha no ano passado – e não: Fui aa Espanha no ano passado. Ligar as palavras na frase de forma incorrecta: ocorre quando dentro do período a ligação dos vocábulos não se dá de forma correcta, com pausas cortando ligações do período. O certo é: O trabalho / deve estar pronto / no dia cinco de Julho – e não: O / trabalho deve / estar / pronto / no / dia cinco / de Julho. Há uma quebra inclusive do ritmo quando esse tipo de erro ocorre.

Nasalização de vogais: consiste em tornar vogais não-nasaladas em nasais: mendigando mendingando; bugiganga / bungiganga ou buginganga. Troca de posição de um ou mais fonemas: ocorre quando fonemas são deslocados dentro da própria palavra: muçulmano / mulçumano; cadarço / cardaço; lagartixa / largatixa etc. Substituição de fonemas: coloquialmente, ocorre com a troca indevida de fonemas por outros muito parecidos, como: bueiro / boeiro, cabeçalho / cabeçário etc. Omitir fonemas: o fato de omitirmos alguns fonemas deve-se às molas. Há a eliminação dos segmentos e a garantia do ritmo.

Acréscimo de fonemas: quando algum fonema é inserido no vocábulo. Geralmente ocorre em consoantes mudas, como pneu (peneu), advogado (adevogado) etc. Ocorre em demais situações também, como: cabeleireiro (cabeileireiro), bandeja (bandeija) etc.







A língua portuguesa, com todos os seus segmentos gramaticais, não consegue explicar os vários fenómenos que a compõe. Portanto, nesse trabalho, foram expostas algumas ocorrências fonológicas que acontecem em nossa língua. Isto ocorre devido à constante evolução da língua e aos diversos sotaques existentes nas pessoas que compõem o mundo.

Destaque foi dado à prosódia e à ortoépia, acontecimentos da língua muito parecidos, mas em âmbitos diferentes, pois a prosódia está relacionada com a correcta acentuação e entonação dos fonemas e a ortoépia ou ortoepia cuida da correcta articulação e pronúncia dos grupos fónicos.

Está relacionada à perfeita emissão das vogais, à correcta articulação das consoantes e à ligação dos vocábulos dentro de contextos, tomando como padrão a língua culta.








PRETI, Dino et al. Interacção na Fala e na Escrita. São Paulo, Humanitas/ 2002.

Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015
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HENRIQUES, Claudio. Fonética, fonologia e ortografia. Rio de Janeiro, 2007.

CALLON, Dinah; LEITE, Yonne. Iniciação à Fonética e à Fonologia.5ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1995


FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio Júnior: dicionário escolar da língua portuguesa. 2ª ed. Curitiba: Positivo, 2011.

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