segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA E ÁSIA - TRABALHO COMPLETO

TRABALHO DE HISTÓRIA


A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA E ÁSIA


INTEGRANTES DO GRUPO:

1.      Áuria Níria Gonçalves
2.      Cristina Juliana Sebastião
3.      Engrácia Moisés
4.      Feliciana Nalumingos
5.      Feliciana Pedro Bunga
6.      Laura Paulino Manuel
7.      Manuel Francisco
8.      Manuela Domingos António
9.      Rosalina José Vicente Miguel
10.  Samuel Muenga Calimba
11.  Teresa M. Eduardo

Classe: 09ª
Grupo: 04
Sala: 01
Turma: CN
Período: Noite



Trabalho de pesquisa bibliográfica apresentado na disciplina de história como requisito para obtenção de notas.

Professor: Osmar B. Estêvão
  

LUANDA
2017
SUMÁRIO







No presente trabalho temos como principal objectivo abordarmos cronologicamente o processo de descolonização da Ásia e África. A descolonização da Ásia e África está directamente ligada ao forte sentimento nacionalista surgido no início do século XX, que se tornou mais forte ao fim da Segunda Guerra Mundial, e seus reflexos. Somando-se a isso, o enfraquecimento das principais potências europeias que colonizaram esses dois continentes. Somado aos reflexos do Pós-guerra, temos inserida a Guerra Fria entre os Estados Unidos (EUA) capitalistas e a União Soviética (URSS) socialista, os quais viam no surgimento de novas nações a possibilidade do aumento de suas áreas de influência.




A ocupação colonial pelas nações europeias, foi um acto de conquista como foi visto acima. Mas os métodos de penetração variaram, pois dependeram das possibilidades do colonizador e das próprias condições locais. Em outras palavras, estes métodos reflectiram as condições geográficas, políticas, económicas e culturais das sociedades pré-coloniais, conjugadas com os interesses imperialistas.

Por isso, considera-se importante, para a compreensão do fenómeno da formação das novas sociedades, verificar:

a) O processo de conquista e de ocupação colonial;
b) A forma como se deu o contacto dos europeus com as populações locais;
c) A organização dessas sociedades pré-coloniais;
d) Os recursos de que dispunham estas sociedades.

Na história do capitalismo, esses processos de conquista e ocupação colonial receberam o nome de partilha da África e da Ásia.


Foi no ano de 1886 que Lord Salisbury, um grande senhor, culto, muito elogiado por sua vida parlamentar e por sua actuação na diplomacia britânica, disse com orgulho: "Há lugar na Ásia para todos nós". Dita por tal pessoa, a frase define a extensão do domínio ocidental na Ásia no século XIX e a rapidez das conquistas no início do século XIX, dos antigos impérios mercantilistas da Ásia, somente a Grã-Bretanha permanecia a grande potência marítima, aliás considerada a "dona da índia".

Os portugueses já haviam sido eliminados do Oceano Índico e do Pacifico, só lhes restando estabelecimentos em Goa, Macau e Timor. Os holandeses controlavam o comércio da península malaia e, através das índias neerlandesas (Indonésia) mantinham relações comerciais com a China e Japão. A França possuía entrepostos e pequenas feitorias na índia. Nenhuma dessas nações possuía grande influência política nessas regiões, mesmo porque o objectivo mercantilista era a troca comercial.

A situação se modificou em meados do século XIX, em decorrência da expansão da economia capitalista. Foi quando as potências resolveram usar de violência maior para atingir a completa dominação. O processo foi iniciado pela Inglaterra, que conquistou a Índia entre 1845-1848. Mas só após a primeira crise de superprodução do sistema industrial (década de 70), que tomou corpo o movimento imperialista inglês. Neste período, a Rainha Vitória chegou até a ser coroada Imperatriz da Índia.

Após a conquista da índia, a Inglaterra anexou a Birmânia (1886) e a Malásia, numa tentativa de limitar a influência francesa na região. Isso porque a França havia ocupado a Indochina, hoje Vietnã, Laos e Cambodja. Nesta região, a França instaurou o regime de protectorado, que é urna forma mais atenuada de colonização, ou melhor, o Estado, apesar de dependente, era reconhecido juridicamente. Fortalecidas com estas conquistas, estas nações voltaram-se, com violência, contra a China.

A China, desde a "guerra do ópio" (1835-1842), já havia sido obrigada, diante do potencial de fogo dos ingleses, a assinar tratados desiguais, isto é, tratados nos quais ela concedia vantagens à Europa sem contrapartida. Para conseguir um desses tratados, o de 1860, tropas francesas e britânicas chegaram até mesmo a destruir o Palácio de Verão de Pekin, um dos tesouros artísticos insubstituíveis da humanidade.

Conta-se que este fato impressionou tanto aos chineses que, logo após a Revolução Chinesa de 1949, o governo da República Popular da China chegou a dizer que mais dia, menos dia ainda acertaria esta "conta" com os europeus. E parece que só não conseguiu "acertar a conta" porque uma indemnização dessas não tem preço. O certo é que após o saque de Pekin, 'um inglês foi indicado para "assistir" a administração de toda a receita da alfândega chinesa.

Vários portos foram abertos, mercadores estrangeiros receberam liberdade de movimento e imunidades diante da lei chinesa. Este método de penetração tão violento adveio do fato de a China, diferindo da índia, possuir uma unidade política, com um imperador fazendo sentir sua autoridade sobre as províncias mais distantes. Basta dizer que, até antes da chegada dos europeus, ela recebia tributos da Coreia, do Vietnã e de outras monarquias da região: Sião, Laos, Birmânia e Nepal. Na verdade, era o império mais elaborado e mais antigo de todos os Estados monárquicos da Ásia Oriental.

Por essas razões, a China sempre se recusara a admitir relações com o resto do mundo em posição de desigualdade. E manteve-se fechada a qualquer tipo de comércio com o Ocidente. Foi a "guerra do ópio" que marcou o início da preponderância ocidental na China.

Mas o desmembramento da China aconteceu mesmo quando o Império, enfraquecido com os tratados desiguais, teve que enfrentar urna guerra com o Japão (1895). Foi "salvo" do desastre pela intervenção das potências europeias. Como reconhecimento do serviço prestado, as nações europeias receberam concessões económicas e territoriais.

A partir daí, a China passou a ser um território dividido em áreas de influência das potências ocidentais. Não só a França e a Inglaterra penetraram no território chinês, como também a Rússia, a Alemanha e até os Estados Unidos.

A penetração económica se precipitou rapidamente com a construção das linhas de estradas de ferro, concessão de minas, estabelecimentos industriais e bancos. E a soberania chinesa transformou-se numa ficção.


As primeiras resistências à colonização foram processadas com dificuldades maiores ou menores, de acordo com o nível de organização política das diversas regiões. Por exemplo, elas foram fracas na África Negra, onde os europeus não encontraram Estados fortes constituídos já na África do Norte, na Indochina, na Índia, na China e na Indonésia, as reacções chegaram a preocupar os europeus, mesmo não estando organizadas em movimentos efectivos e coerentes.

A reacção inicial dessas sociedades com tradição estatal foi a de se refugiar na tradição, convertida em ideologia da resistência. As elites letradas e principalmente o clero, guardião das tradições, exaltaram o passado e pregaram a certeza de tempos melhores. Com a derrota frente à ocupação colonial, a ideologia da resistência consistiu em procurar manter inviolados os valores tradicionais.

Foi essa, por exemplo, a reacção das velhas classes dirigentes da índia para expulsar os ingleses (revolta dos Cipaios); a dos rajhás da Indonésia que se "suicidavam" ao se lançarem diante das belas holandesas; e mesmo a reacção, em 1900, dos "bóxers" na China.


Diferente foi o caso do Japão. Preocupado com a derrota da China, ele resolveu compreender os segredos do poderio do capitalismo ocidental. Um Intelectual japonês, do século XIX, de nome Sakuna, ilustrou bem o acontecido.

Consternado com a decadência chinesa frente aos europeus, ele perguntou: "Como é possível que as nações europeias tenham sido capazes, por seu amor à ciência, de alimentar suas forças a ponto de poderem vencer até mesmo o país de Confúcio?" E ele mesmo respondeu: "É que sua ciência é racional e a ciência chinesa não o é".

E então passou a ser dever patriótico Japonês inspirar-se no Ocidente, com missões de informações técnicas sendo constantemente enviadas á Europa. O singular da experiência japonesa situou-se no fato de que a modernizou do Japão, operada com a chamada Revolução Meiji (1868), isto é, revolução das luzes, não -foi operada com o rompimento com o passado. A imitação do Ocidente impôs-se mesmo foi na área científica e técnica, com a sabedoria de preservar sua civilização.

Ao tomar a iniciativa da reforma, o Japão pode ser considerado o único país da Ásia que conseguiu preservar sua independência: no início do século XX, a independência chinesa era fictícia, a Índia era uma colónia da Coroa da Inglaterra, a Indochina era um protectorado francês e as Índias neerlandesas estavam nas mãos da Holanda, que conservou a herança do velho império mercantilista.


Até o século XIX, o interesse europeu na África estava orientado para a exportação de escravos, fato que transformou este continente, durante três séculos e meio, na fonte mais sacrificada de acumulação primitiva do capitalismo europeu e americano.

Por esta razão, o interior do continente só tinha alguma ligação com as zonas costeiras, através do comércio de escravos: Como disse o próprio Lord Lugard, um dos construtores do Império Britânico, foi a necessidade de matérias-primas que levou as potências à corrida à África no final do século XIX: "A partilha da África deve-se essencialmente, estamos todos de acordo quanto a isso, à necessidade económica de aumentar o fornecimento de matérias-primas e de víveres para saciar as necessidades das nações insatisfeitas da Europa". Para tanto, houve necessidade de conhecê-la melhor.

Na África Negra este desconhecimento tem uma justificativa na geografia: urna região muito pouco favorável ao homem. O acesso é difícil com um litoral pouco hospitaleiro, sobretudo do lado do Atlântico: rios muito rápidos e de penetração complicada, uma floresta densa, dificultando o percurso humano.

O deslocamento do homem na região só era facilitado através das savanas e das estepes. Mas, para atingi-las, o europeu do século XIX precisava conhecer o curso dos rios de penetração. Daí a preocupação dos europeus com o conhecimento do curso do Níger, do Congo e do Nilo, considerados as vias naturais de penetração para o continente. Daí também a atenção com que uma selecta assistência, reunida no Royal Geographical So-ciety de Londres, em 1857, ouviu uma exposição de David Livingstone sobre sua exploração da África Central.


Porém logo este conteúdo ideológico se transformou, com os europeus veiculando, através de uma burguesia ocidentalizada, um novo elemento 7%1 para o mundo colonizado: o nacionalismo.

A esteira do nacionalismo veio a reivindicação, a exemplo da Europa, de forma parlamentares ou republicanas de governo e a constituição de partidos políticos à moda ocidental. Esta fachada democrática, evidentemente, só atingiu as camadas urbanas que conviviam com os colonizadores, comerciavam com as grandes Companhias Ocidentais e foram educadas segundo os padrões do Ocidente.

Esteve distanciada do proletariado urbano e rural que construía a maioria da população. Isto não deve surpreender, pois o ideário dos colonizadores (liberdade, igualdade, fraternidade, parlamentarismo, soberania popular, livre empresa) só podia mesmo se apresentar como elementos da classe dominante local.

Os líderes dos movimentos nacionalistas foram instruídos pelas nações conquistadoras: Jinnah, o chefe da Liga Muçulmana; Nehru, o líder do Partido do Congresso da índia; Dato Onn Bingaafar, na Malásia; Nkhrumah, na Costa do Ouro; Burguiba, na Tunísia, e Forhat Abbas, na Argélia.


A maioria das colónias asiáticas atingiu a independência no período 1945-1954. As lutas pela independência se desenvolveram contra metrópoles que aviam perdido a preeminência do mundo capitalista, ao saírem enfraquecidas económica, militar e politicamente da guerra contra o nazismo e do expansionismo japonês na Ásia e no Pacifico. Com efeito, o Japão, dentro das suas ambições expansionistas, logo após a declaração de guerra aos Estados Unidos (1941), em poucos meses destroçou todos os impérios coloniais do Ocidente: ocupou a Malásia e Singapura, as Filipinas, a Indochina, a Indonésia, a Birmânia, chegando às portas da Índia.

Quando as potências europeias, terminada a guerra, vieram ocupar novamente os territórios que lhes estavam submetidos, encontraram esses países controlados por forças revolucionárias anticolonialistas, fossem japonesas ou europeias: grupos comunistas, sob influência da União Soviética, estavam constituídos na Indochina, na Malásia e na Indonésia. É o que explica a inesperada proclamação, em Hanói, da independência do Vietnã (2/9/45), sob a liderança de Ho Chi Minh.

A atitude da França, diante do fato, foi tão desastrosa que a levou a atolar-se numa guerra colonial só encerrada em 1954, com a sua completa derrota em Dien Bien Phu. Na Malásia, onde viviam grupos raciais diversos (chineses, malaios e indianos), as tropas britânicas conseguiram esmagar uma insurreição comunista, sustentada por uma minoria chinesa, para então conceder a independência às camadas dominantes malaias muçulmanas.

A luta na Malásia durou de 1948 a 1960, dado o fato de as riquezas da região (estanho e borracha) terem um peso fundamental na economia inglesa, além de Singapura ser um ponto estratégico entre o indico e o Pacifico. Em 1960, a Malásia transformou-se em bastião contra a influência chinesa na região. A Índia obteve sua independência em 1947, em meio às tensões insufladas pelos britânicos, entre hindus e muçulmanos, do que resultou a cisão do país (União Indiana e Paquistão).

Em Sri Lanka (ex-Ceilão), em 1947, o governo britânico concedeu ao parlamento e ao governo da ilha o self governrnent completo no âmbito da Comunidade Britânica. Assim, da Índia Britânica, neste período, nasceram quatro Estados: três permaneceram na Comunidade Britânica (a índia, o Paquistão e Sri Lanka); já a Birmânia, ao se recusar a integrar a Comunidade, obteve, em 1949, o reconhecimento do seu Estado soberano — a República da União Birrnanesa.

A Indonésia se libertou em 1949, após uma bem-sucedida guerra de 43 guerrilha contra a dominação holandesa. As independências dessa primeira fase foram alcançadas, portanto, em condições diversas, embora todas tivessem um denominador comum: o nacionalismo. Seguir os cursos desses movimentos iria muito longe.

Considera-se importante, no entanto, relatar dois desses processos de independência — índia e Indochina — como exemplos de caminhos diferentes que influenciaram os movimentos anticolonialistas da segunda fase (1956 até meados dos anos 60), quando a quase totalidade dos povos dominados teve assegurado sua independência formal.



O processo de independência da Índia teve seu início na década de 1920, através do Partido do Congresso, sob a liderança de Mahatma Gandhi e Jawarhalal Nerhu. Gandhi com Nehru em 1929, no período em que este assumiu a presidência do congresso.

A campanha de Gandhi foi caracterizada pela desobediência civil, não-violência e resistência passiva. Um exemplo disso foi a marcha do sal, em que ele e seus seguidores foram presos por protestar contra a proibição de fabricação do sal pelos indianos.

Em 1947, os ingleses reconheceram a independência da Índia. Em face das rivalidades religiosas,  o território foi dividido: a maioria hinduísta, governada por Nerhu, formou a União Indiana; a parte islâmica, governada por Ali Junnah, formou o Paquistão. Em 1971, o Paquistão Oriental proclamou sua independência do Paquistão Ocidental, originando a República de Bangladesh.





No século XVII, a Indonésia e suas principais ilhas, Java e Sumatra, passaram a fazer parte do domínio colonial dos Países Baixos (Holanda), mas os japoneses, com sua política imperialista posta em prática no início do século XX, acabaram ocupando a região e prometeram autonomia para o país, promessa não cumprida.

Em 1945, com a derrota do Japão na 2ª Guerra Mundial, foi declarada a independência da República Indonésia, mas a Holanda não a reconheceu e iniciou-se um período de lutas entre o exército holandês e os guerrilheiros nacionalistas. Apenas em 1949, depois da medição da ONU e dos Estados Unidos - que estavam interessados em estabelecer sua influência na região -, a Holanda reconheceu a independência da Indonésia.


As regiões do Vietnã (representado no mapa na cor salmão), Laos (verde) e Camboja (amarelo) faziam parte da antiga Indonésia. A região do Camboja, em 1863, tornou-se protectorado francês. Em 1940, o Japão dominou toda a Indochina.

Em 1941, como resistência à ocupação japonesa, formou-se um movimento nacionalista, assim como no Vietnã, onde se formou um movimento nacionalista para lutar contra os invasores denominados Vietminh (Liga Revolucionária para a independência do Vietnã), liderados por Ho Chimin, que, em 1931, fundou o partido comunista indochinês.

Com a derrota do Japão na Guerra, Ho Chi Minh proclamou a independência da República Democrática do Vietnã, embora a França não a tenha reconhecido, partindo para tentar reconquistar o território perdido em 1946, dando início à chamada Guerra da Indochina. Em 1954, foi convocada a conferência de Genebra para restabelecimento da paz, que serviu também para dividir o Vietnã em dois estados: Vietnã do sul, com capital Saigon, e o Vietnã do Norte, com capital em Hanói, além de reconhecer a independência de Laos, do Camboja e do Vietnã.

A Frente de Libertação Nacional formada em 1956, apoiada pelos Vietcong, fazia oposição ao governo do Vietnã do Sul, que tinha o apoio dos Estados Unidos. O cancelamento das eleições de 1960 deu início à Guerra do Vietnã, que se estendeu até 1975, com a retirada dos Estados Unidos da Região.

A Frente de Libertação Nacional formada em 1956, apoiada pelos Vietcong, fazia oposição ao governo do Vietnã do Sul, que tinha o apoio dos Estados Unidos. O cancelamento das eleições de 1960 deu início à Guerra do Vietnã, que se estendeu até 1975, com a retirada dos Estados Unidos da Região.


A segunda fase das lutas de libertação das colónias iniciou-se imediatamente após a Conferência de Bandung (1955), prolongando-se até princípios da década de 60, ou melhor, até a intervenção directa das tropas norte-americanas no Vietnã (1966). Neste período, a grande maioria dos países africanos alcançou a independência formal.

Os movimentos de independência desta fase foram muito influenciados por dois factores:

1) Fim do confronto violento no Vietnã e começo da também violenta luta de libertação da Argélia (1954);

2) Prestígio das técnicas de luta política não-violenta, desenvolvidas na índia.

Dos confrontos violentos nasceu um duplo medo da invasão militar pelos países capitalistas e o medo de uma revolução social. Isto explica, em parte, a tentativa de "não-alinhamento" dos países emergentes com os blocos existentes, sobretudo após a conferência de Bandung. Explica também uma descolonização rápida e sem bravura: as metrópoles, sob pressão dos acontecimentos externos (Bandung, guerras da Indochina e da Argélia) e internos (movimentos nacionalistas), outorgaram a independência à grande maioria dos países.

Da luta política indiana, apesar das circunstâncias deploráveis, que rodearam a independência do país, e das chacinas por ocasião da sua divisão, ficou a impressão da personalidade de Gandhi e do seu movimento de não-cooperação. Ficou também a impressão da posição de neutralidade desenvolvida pelos líderes indianos. A índia, entretanto, figurava como aliada da União Soviética. A índia gozava de grande prestígio na década de 50.

A opinião pública internacional idealizara sua independência conquistada sob os auspícios da não-violência, bem como sua democracia parlamentar, que dissimulava um mundo impiedosamente estratificado e violento.

A índia era encarada por muitos países, sobretudo pelos Estados Unidos, como uma tentativa original de busca de uma "terceira via" entre o capitalismo e o socialismo, destinada a servir de modelo de desenvolvimento democrático, em oposição à China "totalitária". As elites africanas, preocupadas antes de tudo com a independência política, confiaram nas concepções institucionais adoptadas pela Índia, isto é, começaram a falar usando a linguagem, os princípios e os métodos políticos das metrópoles.

 Dessa forma, a identidade nacional, colocada como aspiração legítima de rompimento com a instância legítima — o colonialismo — saiu, de forma contraditória, em guerra contra a própria sociedade africana.

As elites dirigentes dos movimentos nacionalistas possuíam parco conhecimento das realidades locais. Formadas no exterior, isoladas de sua própria sociedade, elas formularam um discurso em termos da unidade nacional, negando a existência do tribalismo, por exemplo. Os textos oficiais dos movimentos nacionais chegavam mesmo a considerar as tribos como verdadeiros demónios: anti-sociais, imaturas e antinacionais. Nestes discursos, as tensões sociais, ligadas à pobreza e à demografia, por exemplo, eram interpretadas como taras de uma sociedade tribal anacrónica a ser destruída através da unidade nacional.

Entretanto, é a realidade tribal que explica o esmigalhamento dos movimentos em organizações rivais que, em numerosos países, facilitou a perpetuação do colonizador. A primeira independência registada na África localizou-se no Ma-ghreb, especificamente na Tunísia, protectorado francês.

Na África Negra, o movimento de independência teve início na África Ocidental Inglesa (Costa do Ouro), logo estendendo-se aos Estados de expressão francesa e depois à África Belga e aos territórios britânicos da África Oriental e Central. Desses movimentos serão relatadas, em grandes linhas, as independências no Maghreb (Tunísia, Marrocos e Argélia), a independência de Gana (antiga Costa do Ouro), da Guiné e do Congo. A tentativa é a de apresentar processos que, no geral, foram comuns a boa parte das colónias africanas, nesta fase.


Politicamente dividido, o Maghreb é um conjunto geográfico muito individualizado, entre a imensidão saariana e o Mediterrâneo. Mas outros elementos, além da geografia, dão uma certa unidade à região. Entre eles, o Islão. A islamização do Maghreb teve início quando os árabes invadiram a região, no século VIII. Primeiro na Tunísia, daí se expandindo para o Marrocos, a islamização foi acompanhada da arabização: língua e dialectos árabes. No início do século XIX, o Maghreb estava povoado por árabes e berberes.

A presença dos berberes na região é muito antiga. Eles já aí se encontravam por ocasião da conquista romana. Não se conhecem bem suas origens, mas possuem um tipo físico bem diferente do conhecido na África: são altos, louros e de olhos azuis. Pobres agricultores, os berberes logo se diferenciaram dos árabes, cujas actividades, historicamente, estiveram mais centradas no pastoreio, no comércio, no artesanato e na burocracia. Com a chegada dos árabes, os berberes se concentraram nas montanhas do interior, pobres e áridas. As férteis planícies ficaram sob o domínio dos pastores árabes.




A situação se Modificou com a conquista francesa. Na Tunísia ocorreu algo semelhante ao caso egípcio: a intervenção francesa deveu-se à uma cobrança de dívidas. Quanto ao Marrocos, cobiçado também por alemães, ingleses e espanhóis, foi oficializado protectorado francês em 1921. Ao contrário do Marrocos e da Tunísia, onde o Estado, apesar de dependente, era reconhecido juridicamente, a Argélia ganhou estatuto de departamento francês.

A colonização ai se fez através da implantação de fortes contingentes de colonos franceses agricultores. Foi o que deu à Argélia características bastante peculiares, transformando a sociedade argelina numa das mais espoliadas do mundo, do ponto de vista política, económico e cultural.

Na Argélia, mais de um milhão de cidadãos, na maior parte franceses (os pied noirs), monopolizaram e exploraram as melhores terras das planícies, transformando-as em cultura de vinhas (a religião islâmica proíbe beber vinho), ocuparam os empregos da cidade, principalmente as funções públicas, que os "muçulmanos" não podiam pretender. A cultura francesa foi introduzida ignorando os diversos grupos berberes e árabes, tratando-os todos como "muçulmanos".

Negados na sua identidade, os argelinos foram também impedidos legalmente de estudar, nas escolas públicas, a língua da maioria deles: o árabe. Mas foi das escolas francesas, de excelente qualidade, que saíram os líderes que deveriam libertar o país da dominação francesa.


As reacções contra a ocupação francesa, naturalmente, partiram da Argélia, já em 1847 foi vencida, mas outras rebeliões se seguiram a esta. Nas demais regiões, a reacção foi também violenta, o que obrigou a França a uma acção militar "pacificadora" contínua. Não é surpreendente, portanto, constatar a formação, já na década de 30, de movimentos nacionalistas, estreitamente ligados à ideologia religiosa, e de partidos políticos muito activos no Maghreb.

Da mesma forma, não deve trazer nenhuma surpresa o facto de o governo francês, por longo tempo, ter se oposto aos movimentos de emancipação.

Os movimentos nacionalistas foram conduzidos, no Marrocos, pelo Partido da Independência (Istiqlal) e, na Tunísia, pelo Partido da Constituição (Destour). O Destour, após a Segunda Guerra Mundial, ressurgiu com o nome de Neo-Destour, com dirigentes intelectuais, formados nas universidades francesas. O mais importante desses líderes foi Habib Bourguiba (ala conservadora). Os partidos políticos, depois da Segunda Guerra, pressionaram a França.

A vontade de resistência dos franceses chegou a ponto de raptar o sultão de Marrocos (1955). A atitude do governo francês, aliada à vontade do povo do Maghreb, em simplesmente reconquistar a sua identidade, o direito de ser marroquino, tunisino ou argelino, ficou expressa na declaração de Bourguiba a uma revista francesa Paris-Match, 4/6/1954: "Meus sentimentos de amizade e mesmo de reconhecimetno em relação à França não mudaram. É a França — ou aqueles que a governam — que, querendo perpetuar pela força um regime colonial ultrapassado, está em vias de comprometer esta amizade."

Os movimentos insurreccionais eclodiram inicialmente na Tunísia (1955), depois no Marrocos e, por fim, na Argélia. O problema do protectorado da África do Norte foi então encaminhado para a ONU.

Com dificuldades para enfrentar uma guerra popular, o governo francês ainda tentou manter fórmulas de compromisso, como a "independência na interdependência". Acabou sendo obrigado a ceder a independência política completa (1956) para conservar seus interesses económicos.

             
A França, na primeira década do século XIX, dominou a Argélia interessada na exploração económica. O movimento nacionalista argelino começou em 1945, liderado por muçulmanos, e inicialmente foi reprimido, o que elevou o nível de tensão com o aumento das manifestações ocorridas no país. Em 1954, forma-se a Frente de Libertação Nacional, influenciada pelo fundamentalismo islâmico; no mesmo ano tem início a guerra pela independência. Em 1958, começam as negociações para independência e, no ano de 1962, ocorre a assinatura do acordo de Evian, reconhecendo a Argélia como país independente.


De colonização belga, ocorrida no início do século XX, o Congo sofreu com uma série de conflitos até a proclamação de sua independência. O líder nacionalista Patrice Lumumba passa a lutar pela descolonização do Congo, o que levou a agressivas manifestações por parte da população. A Bélgica se viu pressionada a conceder a independência do Congo em 28 de Junho de 1960.

Após o processo de independência, o país mergulha numa guerra civil que leva a ONU a uma intervenção que não teria muita eficácia, sendo levada a se retirar em 1964. O Congo continuou mergulhado em um sangrento conflito armado, com muitos mortos e pessoas mutiladas.


Com o término da Segunda Guerra Mundial, o sentimento anticolonialista estava no seu auge e, no ano de 1948, quando da criação do Estado de Israel, ocorreram grandes manifestações contra o novo estado, o que posteriormente se transformou em conflito.

Países árabes liderados pelo Egipto atacaram o recém-criado estado israelense, esse conflito ficou conhecido como a Primeira Guerra Árabe-Israelense. Outros quatro conflitos, posteriores a esse, foram vencidos por Israel, que aumentou o seu território e elevou o nível de tensão na região.

Mas foi depois da Primeira Guerra Árabe-Israelense que ocorreram grandes manifestações populares contra a Monarquia. Em contexto de insatisfação pela corrupção nos meios governamentais, foi criado, dentro do exército egípcio, um grupo nacionalista chamado Movimento dos Oficiais Livres - comandado por Gamal Abdel Nasser e Muhammad Naguib  e que, através de um golpe de estado, fundaram a República do Egito em 1952.

           
A partir da década de 1950, os países africanos sob o domínio português começaram a se organizar em movimentos separatistas. Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e os arquipélagos de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe foram os que mais tardiamente conseguiram sua libertação.

Em Angola, vários movimentos surgiram como o de 1956, Movimento Popular pela Libertação de Angola, liderado por Agostinho Neto. Posteriormente, surgiram a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), que criou, um jornal como meio de divulgar suas ideias, e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), criada por Jonas Savimbi em 1966.

Esses movimentos abriram novas frentes na luta pela independência, que só seria alcançada após a Revolução dos Cravos (queda do Salazarianismo) em Portugal, em 1974, e com a assinatura do acordo de Alvor, que estabeleceu a independência da Angola para o ano seguinte.

Em 1961, começa a rebelião na Guiné-Bissau sob o comando de Amílcar Cabral, pertencente ao Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). À revelia de Portugal, o PAIGC anuncia a independência da Guiné-Bissau em 1973, com o governo de Luís Cabral sendo reconhecido pela ONU.

Em Setembro de 1964, é criada a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), que se revolta após o assassinato de seu líder Eduardo Mondlane em 1969, retardando o seu processo de independência. Surgiu então a figura de Samora Machel, que reivindicou a independência do país e, assim com aconteceu com Angola, o governo português, após a queda do regime fascista, assinou acordos para o aceleramento da descolonização em Argel (1974), com FRELIMO, sendo a independência definitiva da Guiné-Bissau conseguida em 10 de Setembro de 1974 e a de Moçambique em 24 de Junho de 1975.

Diferente do que ocorreu com as áreas dominadas por outras potências, a descolonização da África, sob influência britânica, deu-se de forma pacífica. Gana (antiga Costa do Ouro) é a primeira das colónias britânicas a declarar sua independência já em 1957.

Até 1968, todas as colónias e protectorados de influência inglesa tornaram-se independentes, a Nigéria em 1960, Serra Leoa e Tanganica em 1961, Uganda em 1962, Quénia em 1963, Zâmbia, Malavi e Zanzibar em 1964, Gâmbia em 1965, Botsuana e Lesoto em 1966, Suazilândia e Maurício em 1968. Entretanto, em 1964, Tanganica e Zanzibar unificam-se formando a Tanzânia. A Rodésia tem sua independência declarada por uma minoria branca, em 1965, mas só ganha o reconhecimento internacional em 1980, quando a maioria negra assume o governo e o país passa a se chamar Zimbabué.


A África do Sul foi um país de colonização sobretudo de ingleses, alemães e holandeses de forma mais intensa entre os séculos XVII e XVIII. A forma de dominação estabelecida gerou uma série de conflitos entre os colonos, em sua grande maioria de origem holandesa e inglesa, que ficaram conhecidos como a Primeira e a Segunda Guerra dos Boêres. Depois desses conflitos, a Inglaterra aumentou seu domínio na região. No início do século XX foi criada a União Sul-Africana, que incluía diversas colónias como as Colónias do Cabo, de Natal e Rio Orange. 

O regime colonial estabelecido era essencialmente racista, em que uma minoria branca suprimia violentamente a maioria negra, sendo, a partir dessa época, a consolidação do modelo do APARTHEID, que só chegou ao fim nos anos 90 com a chagada de Nelson Mandela à Presidência da República. 



A principal consequência do processo de descolonização afro-asiática foi a criação de um novo bloco de países que juntamente com a América Latina passaram a compor o Terceiro Mundo.

Essa denominação deve-se ao fato de que os países originados a partir desses processos de independência acabaram por manter vínculos de dependência económica com os países capitalistas desenvolvidos (Primeiro Mundo) ou com países socialistas desenvolvidos (Segundo Mundo).

De acordo com o exposto, podemos seguramente concluir que África e Ásia, desde o século XV, tornaram-se alvos de disputa entre as nações europeias. Com o advento do capitalismo comercial, na Era Moderna, a América tornou-se a área onde a exploração colonial foi mais intensa. Mas nem por isso os europeus abandonaram as relações comerciais e o domínio político sobre a África e a Ásia.



BICALHO, Letícia Canêdo. A descolonização da Ásia e da África: processo de ocupação colonial: transformações sociais nas colónias: os movimentos de libertação. pág. 20-39, São Paulo, Universidade Estadual de Campinas, 1985.






4 comentários: