terça-feira, 27 de março de 2018

SAÚDE DO ADOLESCENTE - TRABALHO COMPLETO


INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INTERNACIONAL DE LUANDA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SAÚDE









SAÚDE PÚBLICA


SAÚDE DO ADOLESCENTE





Trabalho de pesquisa bibliográfica apresentado ao curso de enfermagem geral na disciplina de Saúde Pública como requisito parcial para obtenção de notas.

O Docente: Prof. Sapalalo


INTEGRANTES DO GRUPO:

1.    ALCINO GASPAR EURICO PEDRO
2.    EDUARDA MARIA JÚLIA
3.    HELENA MATIAS
4.    LANDO ANTÓNIO
5.    MARIA JOCELINA JORGE

Sala: 11
Período: Pós-Laboral
Grupo: 07
Ano Académico:









LUANDA
2018
SUMÁRIO






A adolescência é um período de transição entre a infância e a fase adulta caracterizada por intenso crescimento e desenvolvimento, onde ocorrem intensas transformações anatómicas, fisiológicas, mentais e sociais. Em razão destas mudanças, uma série de consequências podem influenciar o bem-estar nutricional do adolescente. É considerada também um período de grande facilidade de mudança e incorporação de novos hábitos alimentares (GRAZINI, 1996).

Segundo FARTHING (1991), nesta fase o adolescente é amplamente influenciado por factores internos como auto-estima e imagem, valores familiares, preferências alimentares e desenvolvimento psicossocial; e por externos como hábitos familiares, pares, meios de comunicação, modismo, e outros, tendo efeito no comportamento alimentar bem como sofrendo interferências do mesmo. Nessa época, os adolescentes são vulneráveis e facilmente influenciáveis, adoptando assim dietas e comportamentos em função de modismos passageiros, necessitando assim serem bem orientados para que seus hábitos alimentares adquiridos sejam satisfatórios pois estes ajudarão a manter uma boa saúde ao longo da vida (ORTEGA et. al., 1996).

O excesso de peso e a obesidade que se desenvolvem na adolescência podem ter efeitos desfavoráveis sobre a saúde muitas décadas mais tarde, por isso a adolescência se torna um momento privilegiado para se colocar em prática medidas preventivas neste sentido. MOREIRAS & CARBAJAL (1992) afirmam que a infância e a adolescência são as melhores fases para aquisição de bons hábitos alimentares, pois a aprendizagem e a formação de atitudes ocorrem, principalmente nesta fase da vida.







Adolescência e puberdade são termos que expressam conceitos distintos. A adolescência pode ser entendida como o processo de passagem da vida infantil para a vida adulta e tem sua conceituação sustentada mais na Psicologia e na Sociologia. Esse processo tem carácter histórico e significados diferentes em diversas classes sociais, épocas e culturas. Para a Psicanálise, a adolescência seria uma questão psíquica, uma resposta subjectiva à invasão do corpo pela puberdade.

A puberdade, como conceito, tem sua origem na realidade biológica, compreende o conjunto das transformações somáticas que marcam o final da infância, sobretudo o surgimento dos caracteres sexuais secundários.


O conceito contemporâneo de adolescência é relativamente recente e supre, até certo ponto e de forma singular, os ritos de passagem da infância para a vida adulta, ou seja, aqueles mecanismos da cultura que permitem uma resposta colectiva aos desafios provenientes do corpo e da sociedade, com a entrada da puberdade. Esse período da vida equivalente ao que, na actualidade, se entende por adolescência, era bem mais curto em outros momentos e ambientes culturais. No mundo actual, globalizado, há a tendência a se ampliar o intervalo entre a infância e o lugar do adulto na sociedade, alongando-se, assim, a adolescência.

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1985) entende por adolescência a faixa etária entre 10 e 20 anos (exclusive), um período da vida caracterizado por intenso crescimento e desenvolvimento e por transformações anatómicas, fisiológicas, psicológicas e sociais divido em três etapas:

·         Adolescência inicial: dos 10 aos 14 anos - o indivíduo começa a apresentar modificações do próprio corpo e terá de conviver com elas; em geral, o adolescente permanece circunscrito ao ambiente familiar e há, ainda, poucos esforços de sua parte em estabelecer separação dos pais.
·         Adolescência média: dos 14 aos 16 anos - época em que existe grande preocupação com a imagem corporal; há identificação com o grupo de iguais e os conflitos familiares são frequentes; a sexualidade, em geral, é, ainda, auto erótica, mas há franco interesse pelo sexo e muitos fazem sua iniciação sexual nesse momento.
·         Adolescência final: dos 17 aos 20 anos - momento em que é frequente a preocupação profissional e económica; os relacionamentos são mais afectuosos, os namoros são mais frequentes e pode haver mais integração entre afecto e erotismo; nesse período, os valores e comportamentos estabelecidos podem ser bem próximos dos da vida adulta.


Nas últimas duas décadas, a atenção à saúde do adolescente vem se tornando uma prioridade em muitos países, inclusive para instituições internacionais de fomento à pesquisa. Isto se deve à constatação de que a formação do estilo de vida do adolescente é crucial, não somente para ele, como também para as gerações futuras. De forma geral, no que se refere a organização de serviços para o atendimento a este grupo etário, observa-se que os esforços realizados no sentido da criação de programas de qualidade, tiveram até certo ponto, resultados positivos. Implementou-se um modelo de atendimento baseado na prestação da atenção integral a esta clientela, partindo-se das experiências adquiridas nos programas pioneiros de atendimento à mulher e à criança. Contudo, ainda falta muito para que os programas nacionais dêem cobertura adequada a toda população de adolescentes e jovens e para que se possa considerar que estes programas estejam integrados ao sistema de saúde, de tal forma que permitam o acesso universal (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995).


Durante a adolescência ocorrem mudanças de ordem emocional que são de extrema importância para o indivíduo, tais como o desenvolvimento da auto-estima e da autocrítica; questionamento dos valores dos pais e dos adultos em geral (FRIEDMAN, 1994). Trata-se de um período da existência em que o sujeito começa a interagir com o mundo externo de modo mais autónomo sem, aparentemente, ter de assumir as responsabilidades da vida adulta. Contudo, esta situação é de extrema ambivalência, visto que, se por um lado não lhe é exigido assumir os compromissos da vida adulta, por outro, não lhe é permitido “comportar-se” como uma criança. Na indecisão de como se conduzir, o adolescente se arrisca, oscilando entre condutas de risco “calculado” – decorrente de uma acção pensada – e do risco “insensato”, em que, gratuitamente, se expõe, com grande chance de ocorrerem insucessos, podendo comprometer sua saúde de forma irreversível (DICLEMENTE, 1996).

A adolescência vai delineando para o sujeito, uma identidade sexual, familiar e laboral, permitindo que ele venha a exercer determinados papéis dentro da sociedade. Esta identidade é a imagem que o sujeito tem de si, e ela permanece constante e reconhecível apesar das mudanças evolutivas e dos vários papéis sociais que venha a desempenhar. No entanto, a adolescência não pode ser considerada um período de transição, caracterizando-se muito mais como parte de um processo de amadurecimento e de intenso aprendizado de vida (ADAMO, 1985).

A tendência de ver a adolescência como “um período de transição” tem favorecido o esquecimento das necessidades desta população, o desrespeito com relação a seus direitos, e uma exigência, muitas vezes inadequada, quanto ao cumprimento de seus deveres como cidadão. Para que seja possível outro enfoque sobre o adolescente, é preciso que a sociedade valorize seu potencial de contribuição e o apoie, permitindo que seus pensamentos, desejos, idéias e críticas sejam ouvidos. Dito em outras palavras, esta postura pressupõe a abertura de um espaço para o adolescente exercer sua liberdade e participar mais activamente de seu processo de amadurecimento.


A população adolescente apresenta alguns problemas graves de saúde pública, além de questões particulares e pouco comuns à condução clínica. Nessa faixa etária surgem, também, diversas doenças crónicas que terão importância no adulto.

As principais causas de mortes dos jovens, em Angola, são as externas, ou seja, aquelas possíveis de serem evitadas – como violência no trânsito, homicídios e suicídios. A violência e os acidentes constituem os maiores responsáveis pelo aumento da mortalidade nessa faixa etária, sendo o suicídio, denominado de epidemia oculta, um aspecto dramático da mortalidade nessa população. Principalmente em jovens de classe média, esse fenómeno é ocultado. Quase sempre se alega uma causa traumática ou outro tipo de causalidade, mas raramente se regista o suicídio no atestado o certificado de óbito.


A sexualidade faz-se presente desde o nascimento, mas é na adolescência que o indivíduo, em geral, consolida suas escolhas, define sua conduta na área genital e se estabelecem, então, as condições para as funções sexuais do adulto. Nesse momento, o sexo irrompe em todas as dimensões da vida física, social e emocional. Hoje, elevado número de jovens, cada vez mais cedo, assume vida sexual activa, o que exige postura efectiva e sem preconceitos de pais, educadores e profissionais de saúde, sendo indispensável a abordagem franca e aberta dessa questão.


A gravidez na adolescência, embora tenha sofrido queda nos seus números nos últimos anos, continua ocupando importante lugar como problema de saúde. A prevenção da gravidez não planejada, com todas as suas consequências, deve ser estimulada já antes da puberdade. Alguns dados, apresentados a seguir, mostram a gravidade e a necessidade de políticas de saúde bem organizadas e voltadas para essa questão:

·         A actividade sexual entre adolescentes está aumentando e a idade de início diminuindo; mais de 30% das adolescentes sexualmente activas não utilizam métodos anticoncepcionais;
·         A gravidez na adolescente, na maioria das vezes, ocorre de forma não planejada;
·         Os abortos inseguros são causa de mortalidade materna entre adolescentes e jovens, especialmente entre as pobres;
·         Há correlação entre gravidez na adolescência e evasão escolar;
·         E, por fim, uma questão em que, em geral, as campanhas ainda não têm tido o resultado desejado: a prevenção da gravidez na adolescência. Essa termina por ser problema grave de saúde pública, pela mortalidade materna e até pelo consumo de recursos orçamentários.


Alguns problemas de saúde relacionados com as questões psicossociais merecem ser destacados – por exemplo, as doenças sexualmente transmissíveis, em particular a infecção pelo HIV/AIDS-aids. A aids é uma doença com período de incubação longo, que, habitualmente se manifesta na terceira década, entre 20 e 30 anos de idade, mas a contaminação, muitas vezes, ocorre entre os 15 e os 24 anos.


O início do uso de drogas lícitas e ilícitas também se dá nessa fase da vida – seja a iniciação, ainda como experimentação, seja a franca dependência.


A grande demanda dos problemas relacionados a saúde mental, quadros psíquicos com manifestações orgânicas, queixas de dores, dificuldades escolares e conflitos familiares constitui o quotidiano da clínica do adolescente. Essas são questões com que o profissional de saúde se defronta e que o levam a interrogar-se até que ponto pertencem à saúde. Tais quadros apresentam-se, na realidade, a um profissional que foi pouco preparado para o seu atendimento e sua condução com segurança. A alta prevalência de problemas de saúde mental na adolescência aparece como particularidade, mas não como exclusividade, já que, em todas as faixas etárias e em todos os níveis de tratamento médico, os aspectos da saúde mental têm importância e, muitas vezes, são negligenciados. Na adolescência, essa questão ganha força, pois nessa fase podem surgir as primeiras manifestações da psicose, iniciar-se o uso das drogas, despontar os comportamentos anti-sociais e de risco, além de diversos problemas clínicos que podem encobrir conflitos psíquicos.


Os sintomas alimentares, em especial a anorexia nervosa e a bulimia, demonstram incidência crescente, por influência óbvia do panorama económico, social e cultural, numa sociedade em que o corpo se transformou em mercadoria, em objecto de consumo. Não há como explicar a frequência de certos sintomas só por razões biológicas. A obesidade configura-se como uma epidemia e representa uma condição crónica complexa, que acarreta impasses na condução terapêutica. É frequente a falta de adesão ao tratamento e até o abandono do mesmo. O foco do acompanhamento de saúde deve ser o adolescente e não a obesidade. Devemos nos interrogar sobre o desencadeamento da obesidade, sobre os aspectos emocionais, sobre a história familiar, para delinearmos uma estratégia terapêutica ampla, não centrada na perda de peso. As dietas restritivas habitualmente não são seguidas por muito tempo. É importante que o paciente obeso consiga emagrecer, mas, sobretudo, que ele se sinta mais leve.


A hospitalização, nas diversas faixas etárias, apresenta igualdade ou predominância do sexo masculino até os 15 anos de idade. Entre 15 e 19 anos, no entanto, há importante mudança e a maioria das hospitalizações acomete o sexo feminino, por problemas relacionados à gravidez e ao parto, o que revela a magnitude do problema da gravidez na adolescência.


O principal propósito do acompanhamento da saúde do adolescente pela equipe de Saúde da Família é a construção de um processo de promoção da saúde, prevenção, cuidados e reabilitação, quando necessária, para o que é essencial o vínculo entre o adolescente e o profissional de saúde. É fundamental que o adolescente se aproprie do espaço da saúde e que possa ali encontrar a possibilidade de um endereçamento dos seus conflitos, do seu mal-estar, mais além da queixa orgânica.

As oportunidades de contacto da equipe de saúde e o serviço com o adolescente, geralmente a adolescente, ocorrem, na maioria das vezes, na atenção à demanda espontânea, sendo a consulta a acção mais solicitada. Cabe aos profissionais, integrado ao acolhimento, a abertura para outras possibilidades de atenção, como: Acompanhamento de saúde, Avaliação da adolescência e Condução do caso ou situação apresentada.





A adolescência é uma fase marcada por crises e por inúmeras mudanças biopsicossociais, importantes para a formação da identidade adulta. Ela é também considerada como um período no qual alguns indivíduos se tornam vulneráveis aos factores de risco e agravos de saúde. Nas últimas décadas, as práticas clínicas e os estudos acerca da adolescência permitiram conhecer melhor as particularidades relacionadas ao atendimento a essa faixa etária. No entanto, ainda são poucas as escolas médicas que durante a graduação, preparam o aluno em formação para atender essa área específica. Muitos são os profissionais de saúde que referem dificuldades e pouco embaçamento para atender e acompanhar os indivíduos que se encontram nessa fase do desenvolvimento



ADAMO, F. Juventude: trabalho, saúde e educação. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1985. p. 16 –19

DICLEMENTE, R. J.; PONTON, L. E.; HANSEN W., B. New Directions for Adolescent Risk Prevention Research and Health Promotion Research and Interventions. In: ______. Handbook of Adolescent Health Risk Behavior - Issues in Clinical Child Psychology. New York: Plenum Press, 1996. p. 413-420.

FARTHING, M. C. _ Current eating patterns of adolescents in the United States. Nutrition Today March/April:35-9, 1991.

FRIEDMAN, H. L. Th e promotion of adolescent health: principles of eff ective intervention. Mexico: Latin American and Caribbean Meeting on Adolescent Health, 1994. Mimeo.

GRAZINI, J. T._ Analogia entre comerciais de alimentos e hábito alimentar de adolescentes. São Paulo, 1996. [Tese de mestrado – Universidade Federal de São Paulo].

GRILLO. C. F. C. Saúde do Adolescente. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, 2011.

MOREIRAS, O. & CARBAJAL, A. – Determinantes socioculturales Del comportamiento alimentario de los adolescentes – Anales Españholes de Pediatria, 36, S. 49, p.102-5, 1992.

ORTEGA, R. M.; CARVAJALES, P. A; REQUEJO, A. M; SOBALER, A. M. R; SOBRADO, M. R. R.; GONZÁLEZ-FERNÁNDEZ, M. – Hábitos alimentarios e ingesta en adolescentes com sobrepeso em compación con los de peso normal. Anales Españholes de Pediatria; v.44, n.3, p.203-8, 1996.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). UNFPA. UNICEF. Study Group on Programming for Adolescent Health. Discussion Paper, Saillon, Switzerland, 1995.



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