sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Psicologia do Desenvolvimento para Jovem Adulto - Trabalho Completo

INTRODUÇÃO



A primeira percepção que se pode ter acerca da vida adulta é de que ela corresponde a uma época estável, sem grandes mudanças. Assim, nesta perspectiva, a vida adulta é uma etapa de estabilidade, onde a personalidade do indivíduo não sofre alterações. O adulto é concebido como alguém que sente adversidade pela mudança.

No entanto, a literatura tem desde há bastante tempo acentuado que o fato da idade adulta não ser de forma alguma uma etapa de estabilidade e imutabilidade. Verifica-se que a cognição na vida adulta está muito mais ligada a questões pragmáticas da vida real, e que os adultos geralmente procuram aprender de forma a resolver problemas da sua vida quotidiana.

As mudanças ao longo da vida adulta não se limitam apenas ao nível cognitivo, tornando-se necessário conceber esta etapa como um período evolutivo. A vida adulta é percepcionada como a fase onde o indivíduo atinge a maturidade. No entanto, tal não significa que a maturidade seja algo de estático, sendo ‘adquirida’ mal o indivíduo atinja a idade adulta. Diversas correntes epistemológicas têm bastante influência na análise desta etapa, significando tal fato que não existe uma visão unívoca e singular deste mesmo período. Desta forma, procuramos descrever as diversas perspectivas acerca das transformações que acompanham o indivíduo na fase adulta.



DESENVOLVIMENTO NO JOVEM ADULTO

Levinson (1974, 1978) considera que a vida adulta é marcada por períodos de estabilidade e transição. Aos períodos de transição sucedem-se momentos de integração, a que correspondem mudanças na estrutura do indivíduo, ou seja, na forma de ele se ver a si próprio, o mundo e os outros. Nestes períodos de transição na vida da pessoa, os papéis (casamento, nascimento de filhos, divórcio, viuvez, etc.) que o indivíduo assume têm grande importância. A relevância dos papéis ou tarefas específicas, prende-se não só com a forma como o indivíduo encara esses papéis, mas também pelas expectativas sociais acerca dessas tarefas. Segundo este autor, a vida do indivíduo é constituída por alternância entre estruturas estáveis e momentos de transição, podendo estas estruturas serem representadas por faixas etárias.

Lowenthal (1975) acentua a necessidade de se ter em conta a importância dos papéis definidos socialmente na sequência das estruturas de estabilidade e transição, sendo a idade cronológica menos importante nessa mesma sequência. Weathersby (1978) considera que as diversas fases do ciclo de vida são marcadas por acontecimentos como (casamento, ser pai, entrada dos filhos na escola, etc.), e pelas novas tarefas que o indivíduo tem de assumir (olhar-se como adulto, procura de estabilidade e segurança, confrontar a mortalidade, etc.). A tensão criada pelos papéis e novas tarefas que o indivíduo tem de desempenhar geram uma situação de conflito entre as capacidades do indivíduo e a exigência dos novos papéis. McClusky (1986) afirma que a mudança na vida adulta é marcada por períodos críticos:

Estes períodos são caracteristicamente produto de experiências decisivamente importantes para as pessoas envolvidas durante as quais podem ocorrer mudanças marcantes nos papéis sociais e no sentido das relações interpessoais. Entrada no mundo do trabalho, progressão na carreira, transferência de trabalho, desemprego podem representar uma categoria destes acontecimentos. Casamento, o nascimento de uma criança, a morte de um dos conjugues (…) ilustram uma outra categoria. (p. 161)

Brookfield (1987) afirma que estes acontecimentos podem ser positivos ou negativos. Os acontecimentos positivos são aqueles que levam o indivíduo a novas formas de pensamento, em circunstâncias agradáveis. Os acontecimentos negativos obrigam o indivíduo a confrontar-se consigo próprio, sendo eles motivo de novas aprendizagens.

O JOVEM E A VIDA PROFISSIONAL

Riverin-Simard (1984) interessou-se pelo estudo do curso da vida profissional dos adultos, utilizando a abordagem dos ciclos de vida. Uma das principais conclusões da investigação é a de que, durante a sua vida profissional, o adulto vive estados de permanente questionamento. Assim, são apresentados três grandes períodos durante a vida profissional: o primeiro é o período de entrada e exploração no mundo do trabalho, onde o indivíduo se dá conta da grande distância existente entre as aprendizagens escolares e as que são requeridas para a prática profissional (20-35 anos); o segundo período é caracterizado pelo processo reflexivo do indivíduo acerca do seu percurso profissional ajudando-o a definir o seu próprio caminho pessoal (35-50 anos); no terceiro período o adulto procura criar as condições para uma retirada proveitosa do mundo trabalho. Ao longo destes três períodos, o adulto vai atravessando nove etapas que se alternam segundo um ciclo
de questionamento e estabilização: a vida adulta é caracterizada por um constante dinamismo.

Se na perspectiva das fases do ciclo de vida acentua-se uma sequência horizontal, onde as diversas fases não são apresentadas como um crescimento para a maturidade ou sabedoria; a investigação dos estádios de desenvolvimento apresentam uma progressão de níveis numa linha vertical, ou seja, cada estádio é qualitativamente melhor e superior ao anterior. Esta perspectiva considera que o indivíduo está em crescimento contínuo, desde formas simples de vida até formas mais complexas, ou seja, da imaturidade até à maturidade.

O JOVEM E OS RELACIONAMENTOS ÍNTIMOS


Amizade e Amor Romântico

O período da idade adulta é também marcado por profundas musanças nos relacionamentos pessoais.

Segundo Erikson, desenvolver relacionamentos íntimos é a tarefa crucial desse período. Intimidade é uma experiência de proximidade, afetuosa e comunicativa (Rosenbluth e Steil, 1995), que pode incluir ou não contato sexual.

As amizades nessa fase tendem a se centrar nas atividades de trabalho, no compartilhamento de segredos e na criação de filhos. Geralmente se baseiam em valores e interesses mútuos. Jovens solteiros dependem mais das amizades para preencher suas necessidades sociais do que jovens casados. Jovens adultos que estão construindo carreiras e talvez com filhos tem menos tempo para passar com os amigos. Mulheres jovens solteiras ou casadas, com ou sem filhos tendem mais a ter suas necessidades sociais satisfeitas pelas amizades do que homens jovens.

A amizade e o amor romântico parecem ter muitos ingredientes em comum. Em ambos as pessoas valorizam estar na companhia do outro, aceitam o outro como são, confiam no parceiro, ajudam-se e apoiam-se, compartilham experiências e sentem-se livres para serem eles mesmos. O amor romãntico tem o acréscimo de algums ingredientes: o elemento paizão, desejo de intimidade física e sexual. A pesquisa Davis-Todd sustenta a ideia de que o caminho do amor romãntico é mais acidentado. Embora os apaixonados se gostem mais intensamente do que os amigos, eles tendem a criticar um ao outro e a ver o vínculo como menos estável e mais conflituoso, ambíguo e trabalhoso. Não é incomum os amantes “testarem-se” secretamente para descobrir em que pé está o relacionamento. (Baxter & Wilmot, 1984).

Casamento e Divórcio

As atuais normas não ditam que as pessoas devem casar-se, permanecer casadas ou ter filhos, e em que idades fazer isso. O casamento não é mais a instituição organizadora central da sociedade norte-americana, e isso é ainda mais verdadeiro em muitos países industrializados. Algumas pessoas permanecem solteiras porque não encontraram o parceiro certo. Alguns jovens adultos ficam solteiros por opção. Mais mulheres hoje se sustentam, e existe menos pressão social para se casar. Porém, a maioria das pessoas das culturas modernas acaba se casando. Embora as diferenças e dificuldades sejam inevitáveis, 50% dos casais casados permanecem juntos (Kessler, 1984).

Pessoas felizes no casamento frequentemente relatam “ser grandes amigos”. Elas também falam que se sentem comprometidas com o casamento. Elas tem uma expectativa mútua de prazer e sentem-se otimistas ao antecipar as interações.
Também necessárias ao casamento de sucesso são as habilidades de solução de conflitos. Parceiros felizes geralmente consideram os conflitos uma coisa normal. Quando algo dá errado, eles lidam com o problema em termos de torná-lo administrável e trabalham duramente para resolvê-lo. Os conflitos em uniões insatisfatórias tendem a permanecer sem solução, o que leva os parceiros à tensão, à hostilidade e ao afastamento, e a se sentirem críticos e negativos. A similaridade entre os parceiros está também relacionada com o relacionamento estável, embora até mesmo pessoas infelizes no casamento tendam a exibir muita similaridade. Quando as pessoas são similares tendem a ter menos conflitos. A similaridade pode aumentar a capacidade de cada parceiro sentir empatia pelo outro e pode encorajar a vontade de dividir informações pessoais. Quando o casamento fracassa, surge o divórcio. Uma série de condições culturais parece aumentar as chances de divórcio.

A primeira é a ênfase cada vez maior do indivíduo dentro da sociedade do que nas unidades familiares. Outra condição social é a aceitação do divórcio. Nos Estados Unidos, as Igrejas tendem a ser tolerantes com o divórcio e as leis liberalizantes do divórcio tornam mais fáceis as separações judiciais. Outro fator influenciador é a personalidade. Características pessoais como auto-indulgência, menor autocontrole, podem tornar mais difícil o convívio com essas pessoais ou as predispor a partir para o divórcio para solucionar as difuculdades conjugais. O divórcio parece ser intensamente doloroso para a maioria das pessoas. Geralmente causa estresse e as pessoas sentem-se extremamente solitárias, deprimidas e isoladas. Os parceiros tendem a ficar remoendo as causas das ruptura. Muitos buscam auxílio profissional. Os divorciado não só são infelizes, mas também pais menos capazes. Depois do divórcio, os filhos experimentam perturbações emocionais e rupturas de cognição e conduta. Independentemente da idade. Os filhos relatam sentimentos de maior vulnerabilidade e estresse, lealdae conflitante, raiva e preocupação com o futuro dos pais com o próprio futuro.

MATERNIDADE E PATERNIDADE

A maioria dos adultos em nossa cultura opta por ser pai/mãe, embora estejam optando por ter menos filhos. Rona e Robert Rapoport e seus colegas (1977) identificaram nove valores comuns que motivam a paternidade/maternidade: Validação do status de adulto e da identidade social - Muitos adultos presumem que a vida sem filhos pe incompleta; Expansão do eu - Ao conceber um filho, os pais ligam-se a novas gerações; Realização de valores morais – a criação do filho contribui para o bem geral da sociedade; Criação de novos laços sociais – aumento das fontes de afeto e de amor do adulto; Estimulação agradável – as crianças se torrnam uma fonte de novidades e alegria; Realização, competência, criatividade – gerar um ser bonito e complexo; Poder e influência – os pais exercem controle quase total sobre o bebê; Comparação e competição social – os pais obtêm satisfação da comparação do respectivo bebê com os outros.; Utilidade econômica – o bebê será um novo par de braços para ajudar nos negócios da família e na velhice.
Embora ter filhos possa inegavelmente satisfazer numerosas necessidades, a pesquisa sugere que poucas pessoas pensam seriamente nos aspectos envolvidos quando decidem tornar-se pais.

DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL

Erikson (1963, 1976) dedicou-se ao estudo do desenvolvimento da personalidade, tendo o seu trabalho tido uma grande influência e impacto nos estudos posteriores do desenvolvimento humano. Para este autor o desenvolvimento da personalidade prolonga-se ao longo da vida, interessando apenas na abordagem deste trabalho os estádios da personalidade na vida adulta. Cada uma das etapas, ou estágios, “relaciona-se sistematicamente com todos os outros e que todos eles dependem do desenvolvimento adequado na sequência própria de cada item”. Cada fase é caracterizada por uma crise psicossocial a qual é baseada no crescimento fisiológico, bem como nas exigências colocadas ao indivíduo pelos outros (pais e/ou sociedade):

“cada um chega ao seu ponto de ascendência, enfrenta a sua crise e encontra a sua solução duradoura pelos métodos aqui descritos, ao atingir a parte final das fases mencionadas.”

Durante a fase de adulto jovem, um novo desafio surge – intimidade versus isolamento. Os jovens adultos estão prontos para formar vínculos sociais duradouros: demonstrar interesse, compartilhar e confiar nos outros. Intimidade significa capacidade de intimidade sexual, pois agora a genitalidade desenvolve-se com vista à maturidade genital (ou seja, íntima mutualidade sexual), mas significa também “a capacidade para desenvolver uma autêntica e mútua intimidade psicossocial com uma outra pessoa, seja na amizade, em encontros eróticos ou em inspiração conjunta.” O perigo desta etapa é o isolamento, que significa a incapacidade de correr riscos para a própria intimidade, muitas vezes devido ao medo das consequências dessa mesma intimidade (filhos, responsabilidades familiares, etc.). A verdadeira intimidade só é possível se o indivíduo já tiver desenvolvido a sua identidade (estádio anterior à intimidade).

 “Se continuarmos o jogo de formulações ‘Eu sou’, no caso ‘para além da identidade’ teremos de mudar de linguagem. Pois agora o incremento de identidade baseia-se na fórmula ‘Nós somos o que amamos’.

A etapa da generatividade é a fase da maturidade da pessoa humana. No entanto, o fato de se ter ou querer ter filhos não significa automaticamente generatividade. O conceito de generatividade inclui a capacidade de produtividade e criatividade da pessoa na relação consigo própria e com os que a rodeiam. Generatividade significa, pois, capacidade de ir para além dos interesses pessoais, de ir para além das certezas pessoais. O perigo desta etapa é exactamente esse, a que Erikson denomina de estagnação. “Sempre que tal enriquecimento falha completamente, ocorre uma regressão e uma necessidade obsessiva de pseudo-intimidade, por vezes, com um difuso sentimento de estagnação, tédio, depauperamento interpessoal.”

Finalmente, a última etapa corresponde ao culminar do progressivo amadurecimento da pessoa humana: a fase da integridade. Este crescimento permite ao indivíduo ser capaz de aceitar o seu ciclo vital e daqueles que se tornaram significantes ao longo desse mesmo ciclo. Na integridade, a pessoa não receia encarar todo o seu ‘caminho percorrido’, levando-o a compreender o percurso das pessoas que acompanharam o seu ciclo de vida, “livre do desejo de que eles fossem diferentes, e uma aceitação do fato de que a vida de cada um é da sua própria responsabilidade.”

O perigo desta etapa reside no desespero: “a sorte não é aceite como estrutura de vida, a morte não como sua fronteira finita.” Assim, o desespero manifesta o fato de o indivíduo sentir que o tempo é demasiado curto para voltar a recomeçar a sua vida com vista a encontrar rumos alternativos para a integridade.





CONCLUSÃO



O desenvolvimento de um jovem adulto é influenciado por muitos acontecimentos vivenciados desde a infância até à adolescência. No começo da fase do jovem adulto importantes decisões são tomadas, principalmente sociais e emocionais. Para Levinson e Erikson aos 22 anos o ser humano adquire maior autonomia em relação aos seus pais e entra numa fase de estabilidade, através de um relacionamento afectivo, perspectivado no seu próprio núcleo familiar. Por volta dos 28 anos de idade o jovem adulto entra na fase de transição onde analisa o seu padrão de vida fazendo escolhas pessoais e profissionais. Aos 33 anos é atingido um novo período de estabilidade, o jovem adulto focaliza a sua atenção no desenvolvimento das suas capacidades profissionais aplicando a sua experiência.

É difícil determinar quando começa ou termina uma fase da vida humana, pois em alguns momentos da vida o indivíduo estando na fase adulta poderá passear por outras fases até mesmo na infância. A transição da juventude para a fase adulta estava condicionada a saída da escola, ingresso no mercado de trabalho, casamento, nascimento dos filhos, compra da casa própria, etc. Actualmente ainda seguimos este modelo tradicional, no entanto a sequência dos fatos não se dá desta forma linear, pois às vezes antes de ingressar no mercado de trabalho ou concluir seus estudos o jovem já assumiu a paternidade ou maternidade.

Assim como nas demais fases da nossa vida, enquanto adultos somos desafiados constantemente a encarar as modificações impostas pelas experiências vivenciadas, nossas escolhas, sucessos e frustrações, acenando com momentos da vida que oportunizarão novas aprendizagens.







REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS




ATKISON, Rita L. Introdução à psicologia de Hilgard. 13ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. 3ª Ed. São Paulo: Makron Books, 2001.

Desenvolvimento da Personalidade, Flavio Fortes D’Andrea, Ed. Bertrand Brasil, 2001A Mente Humana, Margaret Donaldson, Ed. Martins Fontes, 1996. Disponivel em: http://pt.scribd.com/doc/71915424/desenvolvimento-psicologico. Acessado em: 30 de abril de 2012 as 22: 30 hs

MOSQUERA, Juan José Mouriño; STOBÄUS, Claus Dieter. Vida Adulta: Visão Existencial e Subsídios para Teorização. Educação, Porto Alegre, n. 5, p. 94-112, 1982. Disponível em: http://rmoura.tripod.com/vidaadult.htm. Acessado em: 01 de Maio de 2012

PAPALIA, Diane E. Desenvolvimento Humano. 10ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

Vida adulta, processos motivacionais e diversidade. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/viewFile/544/380. Acessado em: 30 de abril de 2012 as 20: 30 hs


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