terça-feira, 27 de março de 2018

SAÚDE DO ADOLESCENTE - TRABALHO COMPLETO


INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INTERNACIONAL DE LUANDA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SAÚDE









SAÚDE PÚBLICA


SAÚDE DO ADOLESCENTE





Trabalho de pesquisa bibliográfica apresentado ao curso de enfermagem geral na disciplina de Saúde Pública como requisito parcial para obtenção de notas.

O Docente: Prof. Sapalalo


INTEGRANTES DO GRUPO:

1.    ALCINO GASPAR EURICO PEDRO
2.    EDUARDA MARIA JÚLIA
3.    HELENA MATIAS
4.    LANDO ANTÓNIO
5.    MARIA JOCELINA JORGE

Sala: 11
Período: Pós-Laboral
Grupo: 07
Ano Académico:









LUANDA
2018
SUMÁRIO






A adolescência é um período de transição entre a infância e a fase adulta caracterizada por intenso crescimento e desenvolvimento, onde ocorrem intensas transformações anatómicas, fisiológicas, mentais e sociais. Em razão destas mudanças, uma série de consequências podem influenciar o bem-estar nutricional do adolescente. É considerada também um período de grande facilidade de mudança e incorporação de novos hábitos alimentares (GRAZINI, 1996).

Segundo FARTHING (1991), nesta fase o adolescente é amplamente influenciado por factores internos como auto-estima e imagem, valores familiares, preferências alimentares e desenvolvimento psicossocial; e por externos como hábitos familiares, pares, meios de comunicação, modismo, e outros, tendo efeito no comportamento alimentar bem como sofrendo interferências do mesmo. Nessa época, os adolescentes são vulneráveis e facilmente influenciáveis, adoptando assim dietas e comportamentos em função de modismos passageiros, necessitando assim serem bem orientados para que seus hábitos alimentares adquiridos sejam satisfatórios pois estes ajudarão a manter uma boa saúde ao longo da vida (ORTEGA et. al., 1996).

O excesso de peso e a obesidade que se desenvolvem na adolescência podem ter efeitos desfavoráveis sobre a saúde muitas décadas mais tarde, por isso a adolescência se torna um momento privilegiado para se colocar em prática medidas preventivas neste sentido. MOREIRAS & CARBAJAL (1992) afirmam que a infância e a adolescência são as melhores fases para aquisição de bons hábitos alimentares, pois a aprendizagem e a formação de atitudes ocorrem, principalmente nesta fase da vida.







Adolescência e puberdade são termos que expressam conceitos distintos. A adolescência pode ser entendida como o processo de passagem da vida infantil para a vida adulta e tem sua conceituação sustentada mais na Psicologia e na Sociologia. Esse processo tem carácter histórico e significados diferentes em diversas classes sociais, épocas e culturas. Para a Psicanálise, a adolescência seria uma questão psíquica, uma resposta subjectiva à invasão do corpo pela puberdade.

A puberdade, como conceito, tem sua origem na realidade biológica, compreende o conjunto das transformações somáticas que marcam o final da infância, sobretudo o surgimento dos caracteres sexuais secundários.


O conceito contemporâneo de adolescência é relativamente recente e supre, até certo ponto e de forma singular, os ritos de passagem da infância para a vida adulta, ou seja, aqueles mecanismos da cultura que permitem uma resposta colectiva aos desafios provenientes do corpo e da sociedade, com a entrada da puberdade. Esse período da vida equivalente ao que, na actualidade, se entende por adolescência, era bem mais curto em outros momentos e ambientes culturais. No mundo actual, globalizado, há a tendência a se ampliar o intervalo entre a infância e o lugar do adulto na sociedade, alongando-se, assim, a adolescência.

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1985) entende por adolescência a faixa etária entre 10 e 20 anos (exclusive), um período da vida caracterizado por intenso crescimento e desenvolvimento e por transformações anatómicas, fisiológicas, psicológicas e sociais divido em três etapas:

·         Adolescência inicial: dos 10 aos 14 anos - o indivíduo começa a apresentar modificações do próprio corpo e terá de conviver com elas; em geral, o adolescente permanece circunscrito ao ambiente familiar e há, ainda, poucos esforços de sua parte em estabelecer separação dos pais.
·         Adolescência média: dos 14 aos 16 anos - época em que existe grande preocupação com a imagem corporal; há identificação com o grupo de iguais e os conflitos familiares são frequentes; a sexualidade, em geral, é, ainda, auto erótica, mas há franco interesse pelo sexo e muitos fazem sua iniciação sexual nesse momento.
·         Adolescência final: dos 17 aos 20 anos - momento em que é frequente a preocupação profissional e económica; os relacionamentos são mais afectuosos, os namoros são mais frequentes e pode haver mais integração entre afecto e erotismo; nesse período, os valores e comportamentos estabelecidos podem ser bem próximos dos da vida adulta.


Nas últimas duas décadas, a atenção à saúde do adolescente vem se tornando uma prioridade em muitos países, inclusive para instituições internacionais de fomento à pesquisa. Isto se deve à constatação de que a formação do estilo de vida do adolescente é crucial, não somente para ele, como também para as gerações futuras. De forma geral, no que se refere a organização de serviços para o atendimento a este grupo etário, observa-se que os esforços realizados no sentido da criação de programas de qualidade, tiveram até certo ponto, resultados positivos. Implementou-se um modelo de atendimento baseado na prestação da atenção integral a esta clientela, partindo-se das experiências adquiridas nos programas pioneiros de atendimento à mulher e à criança. Contudo, ainda falta muito para que os programas nacionais dêem cobertura adequada a toda população de adolescentes e jovens e para que se possa considerar que estes programas estejam integrados ao sistema de saúde, de tal forma que permitam o acesso universal (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995).


Durante a adolescência ocorrem mudanças de ordem emocional que são de extrema importância para o indivíduo, tais como o desenvolvimento da auto-estima e da autocrítica; questionamento dos valores dos pais e dos adultos em geral (FRIEDMAN, 1994). Trata-se de um período da existência em que o sujeito começa a interagir com o mundo externo de modo mais autónomo sem, aparentemente, ter de assumir as responsabilidades da vida adulta. Contudo, esta situação é de extrema ambivalência, visto que, se por um lado não lhe é exigido assumir os compromissos da vida adulta, por outro, não lhe é permitido “comportar-se” como uma criança. Na indecisão de como se conduzir, o adolescente se arrisca, oscilando entre condutas de risco “calculado” – decorrente de uma acção pensada – e do risco “insensato”, em que, gratuitamente, se expõe, com grande chance de ocorrerem insucessos, podendo comprometer sua saúde de forma irreversível (DICLEMENTE, 1996).

A adolescência vai delineando para o sujeito, uma identidade sexual, familiar e laboral, permitindo que ele venha a exercer determinados papéis dentro da sociedade. Esta identidade é a imagem que o sujeito tem de si, e ela permanece constante e reconhecível apesar das mudanças evolutivas e dos vários papéis sociais que venha a desempenhar. No entanto, a adolescência não pode ser considerada um período de transição, caracterizando-se muito mais como parte de um processo de amadurecimento e de intenso aprendizado de vida (ADAMO, 1985).

A tendência de ver a adolescência como “um período de transição” tem favorecido o esquecimento das necessidades desta população, o desrespeito com relação a seus direitos, e uma exigência, muitas vezes inadequada, quanto ao cumprimento de seus deveres como cidadão. Para que seja possível outro enfoque sobre o adolescente, é preciso que a sociedade valorize seu potencial de contribuição e o apoie, permitindo que seus pensamentos, desejos, idéias e críticas sejam ouvidos. Dito em outras palavras, esta postura pressupõe a abertura de um espaço para o adolescente exercer sua liberdade e participar mais activamente de seu processo de amadurecimento.


A população adolescente apresenta alguns problemas graves de saúde pública, além de questões particulares e pouco comuns à condução clínica. Nessa faixa etária surgem, também, diversas doenças crónicas que terão importância no adulto.

As principais causas de mortes dos jovens, em Angola, são as externas, ou seja, aquelas possíveis de serem evitadas – como violência no trânsito, homicídios e suicídios. A violência e os acidentes constituem os maiores responsáveis pelo aumento da mortalidade nessa faixa etária, sendo o suicídio, denominado de epidemia oculta, um aspecto dramático da mortalidade nessa população. Principalmente em jovens de classe média, esse fenómeno é ocultado. Quase sempre se alega uma causa traumática ou outro tipo de causalidade, mas raramente se regista o suicídio no atestado o certificado de óbito.


A sexualidade faz-se presente desde o nascimento, mas é na adolescência que o indivíduo, em geral, consolida suas escolhas, define sua conduta na área genital e se estabelecem, então, as condições para as funções sexuais do adulto. Nesse momento, o sexo irrompe em todas as dimensões da vida física, social e emocional. Hoje, elevado número de jovens, cada vez mais cedo, assume vida sexual activa, o que exige postura efectiva e sem preconceitos de pais, educadores e profissionais de saúde, sendo indispensável a abordagem franca e aberta dessa questão.


A gravidez na adolescência, embora tenha sofrido queda nos seus números nos últimos anos, continua ocupando importante lugar como problema de saúde. A prevenção da gravidez não planejada, com todas as suas consequências, deve ser estimulada já antes da puberdade. Alguns dados, apresentados a seguir, mostram a gravidade e a necessidade de políticas de saúde bem organizadas e voltadas para essa questão:

·         A actividade sexual entre adolescentes está aumentando e a idade de início diminuindo; mais de 30% das adolescentes sexualmente activas não utilizam métodos anticoncepcionais;
·         A gravidez na adolescente, na maioria das vezes, ocorre de forma não planejada;
·         Os abortos inseguros são causa de mortalidade materna entre adolescentes e jovens, especialmente entre as pobres;
·         Há correlação entre gravidez na adolescência e evasão escolar;
·         E, por fim, uma questão em que, em geral, as campanhas ainda não têm tido o resultado desejado: a prevenção da gravidez na adolescência. Essa termina por ser problema grave de saúde pública, pela mortalidade materna e até pelo consumo de recursos orçamentários.


Alguns problemas de saúde relacionados com as questões psicossociais merecem ser destacados – por exemplo, as doenças sexualmente transmissíveis, em particular a infecção pelo HIV/AIDS-aids. A aids é uma doença com período de incubação longo, que, habitualmente se manifesta na terceira década, entre 20 e 30 anos de idade, mas a contaminação, muitas vezes, ocorre entre os 15 e os 24 anos.


O início do uso de drogas lícitas e ilícitas também se dá nessa fase da vida – seja a iniciação, ainda como experimentação, seja a franca dependência.


A grande demanda dos problemas relacionados a saúde mental, quadros psíquicos com manifestações orgânicas, queixas de dores, dificuldades escolares e conflitos familiares constitui o quotidiano da clínica do adolescente. Essas são questões com que o profissional de saúde se defronta e que o levam a interrogar-se até que ponto pertencem à saúde. Tais quadros apresentam-se, na realidade, a um profissional que foi pouco preparado para o seu atendimento e sua condução com segurança. A alta prevalência de problemas de saúde mental na adolescência aparece como particularidade, mas não como exclusividade, já que, em todas as faixas etárias e em todos os níveis de tratamento médico, os aspectos da saúde mental têm importância e, muitas vezes, são negligenciados. Na adolescência, essa questão ganha força, pois nessa fase podem surgir as primeiras manifestações da psicose, iniciar-se o uso das drogas, despontar os comportamentos anti-sociais e de risco, além de diversos problemas clínicos que podem encobrir conflitos psíquicos.


Os sintomas alimentares, em especial a anorexia nervosa e a bulimia, demonstram incidência crescente, por influência óbvia do panorama económico, social e cultural, numa sociedade em que o corpo se transformou em mercadoria, em objecto de consumo. Não há como explicar a frequência de certos sintomas só por razões biológicas. A obesidade configura-se como uma epidemia e representa uma condição crónica complexa, que acarreta impasses na condução terapêutica. É frequente a falta de adesão ao tratamento e até o abandono do mesmo. O foco do acompanhamento de saúde deve ser o adolescente e não a obesidade. Devemos nos interrogar sobre o desencadeamento da obesidade, sobre os aspectos emocionais, sobre a história familiar, para delinearmos uma estratégia terapêutica ampla, não centrada na perda de peso. As dietas restritivas habitualmente não são seguidas por muito tempo. É importante que o paciente obeso consiga emagrecer, mas, sobretudo, que ele se sinta mais leve.


A hospitalização, nas diversas faixas etárias, apresenta igualdade ou predominância do sexo masculino até os 15 anos de idade. Entre 15 e 19 anos, no entanto, há importante mudança e a maioria das hospitalizações acomete o sexo feminino, por problemas relacionados à gravidez e ao parto, o que revela a magnitude do problema da gravidez na adolescência.


O principal propósito do acompanhamento da saúde do adolescente pela equipe de Saúde da Família é a construção de um processo de promoção da saúde, prevenção, cuidados e reabilitação, quando necessária, para o que é essencial o vínculo entre o adolescente e o profissional de saúde. É fundamental que o adolescente se aproprie do espaço da saúde e que possa ali encontrar a possibilidade de um endereçamento dos seus conflitos, do seu mal-estar, mais além da queixa orgânica.

As oportunidades de contacto da equipe de saúde e o serviço com o adolescente, geralmente a adolescente, ocorrem, na maioria das vezes, na atenção à demanda espontânea, sendo a consulta a acção mais solicitada. Cabe aos profissionais, integrado ao acolhimento, a abertura para outras possibilidades de atenção, como: Acompanhamento de saúde, Avaliação da adolescência e Condução do caso ou situação apresentada.





A adolescência é uma fase marcada por crises e por inúmeras mudanças biopsicossociais, importantes para a formação da identidade adulta. Ela é também considerada como um período no qual alguns indivíduos se tornam vulneráveis aos factores de risco e agravos de saúde. Nas últimas décadas, as práticas clínicas e os estudos acerca da adolescência permitiram conhecer melhor as particularidades relacionadas ao atendimento a essa faixa etária. No entanto, ainda são poucas as escolas médicas que durante a graduação, preparam o aluno em formação para atender essa área específica. Muitos são os profissionais de saúde que referem dificuldades e pouco embaçamento para atender e acompanhar os indivíduos que se encontram nessa fase do desenvolvimento



ADAMO, F. Juventude: trabalho, saúde e educação. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1985. p. 16 –19

DICLEMENTE, R. J.; PONTON, L. E.; HANSEN W., B. New Directions for Adolescent Risk Prevention Research and Health Promotion Research and Interventions. In: ______. Handbook of Adolescent Health Risk Behavior - Issues in Clinical Child Psychology. New York: Plenum Press, 1996. p. 413-420.

FARTHING, M. C. _ Current eating patterns of adolescents in the United States. Nutrition Today March/April:35-9, 1991.

FRIEDMAN, H. L. Th e promotion of adolescent health: principles of eff ective intervention. Mexico: Latin American and Caribbean Meeting on Adolescent Health, 1994. Mimeo.

GRAZINI, J. T._ Analogia entre comerciais de alimentos e hábito alimentar de adolescentes. São Paulo, 1996. [Tese de mestrado – Universidade Federal de São Paulo].

GRILLO. C. F. C. Saúde do Adolescente. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, 2011.

MOREIRAS, O. & CARBAJAL, A. – Determinantes socioculturales Del comportamiento alimentario de los adolescentes – Anales Españholes de Pediatria, 36, S. 49, p.102-5, 1992.

ORTEGA, R. M.; CARVAJALES, P. A; REQUEJO, A. M; SOBALER, A. M. R; SOBRADO, M. R. R.; GONZÁLEZ-FERNÁNDEZ, M. – Hábitos alimentarios e ingesta en adolescentes com sobrepeso em compación con los de peso normal. Anales Españholes de Pediatria; v.44, n.3, p.203-8, 1996.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). UNFPA. UNICEF. Study Group on Programming for Adolescent Health. Discussion Paper, Saillon, Switzerland, 1995.



A ERA DO TRÁFICO DE ESCRAVOS NEGROS





É chamado de Tráfico negreiro o envio arbitrário de negros africanos na condição de escravos para as Américas e outras colónias de países europeus durante o período caracterizado como colonialista.

Durante a Idade Moderna, primordialmente depois que se descobriu a América, intensificou-se o comércio escravo, sem qualquer limite quanto à crueldade praticada, visava-se somente o lucro que se obteria com a venda de homens, mulheres e crianças vindas directo da África para as Américas.

A escravidão ocorre desde a origem de nossa história, quando os povos que eram derrotados em combates entre exércitos ou armadas eram aprisionados e transformados em escravos por seus dominadores. O povo hebreu é um exemplo disso, foram comercializados como escravos desde os primórdios da História. Os escravos eram usados nos trabalhos mais pesados e toscos que se pode imaginar.

A explicação encontrada para o uso da mão-de-obra escrava fazia alusão a questões religiosas e morais e à suposta preeminência racial e cultural dos europeus.

Os portugueses já utilizavam o negro como escravo desde o ano de 1432, trazido pelo português Gil Eane, utilizando-os nas ilhas da Madeira, de Açores e Cabo Verde, anteriormente à efectivação da colonização brasileira.






Nas classes anteriores estudamos os principais Estados e as características gerais das sociedades africanas no período que vai do século VII ao século XV, que corresponde à chamada época feudal europeia e, em África, a um período de desenvolvimento económico, político e cultural em nada inferior ao da Europa. Isto aplica-se não só às regiões directamente influenciadas pela civilização islâmica (Norte de África, região sudanesa, costa oriental), mas também às marcadas por uma cultura negro-africana original (África Subsariana, Central e Meridional).

Antes do tráfico europeu, já os Árabes traficavam escravos africanos. Estes eram há muito objecto de comércio regular entre o Sara e o oceano índico, que os colocava em contacto com o exterior. As relações da Arábia com África pelo mar Vermelho e pelo oceano Índico explicam o papel desempenhado pelos Árabes no tráfico negreiro. Este comércio iniciou-se em pequena escala, mas depois conheceu grande evolução na altura da expansão árabe na África do Norte.

Uma das principais vias do tráfico era a que ligava a costa oriental de África com a Arábia. Os escravos eram uma das mercadorias mais procuradas na Arábia, sendo as outras o marfim, o ouro e a madeira. Uma segunda via do tráfico unia a Arábia ao Corno de África, mais precisamente à Abissínia.

A Europa nunca esteve ausente durante as correntes de trocas negreiras anteriores ao tráfico transatlântico. Inicialmente a sua participação foi menor e indirecta, e fez-se por intermédio dos seus vizinhos muçulmanos. Porém, a partir do século XIV, os Europeus, principalmente os da península Ibérica, procuraram a todo o custo abrir vias ou rotas de trocas directas com a África atlântica.

A princípio, estas trocas acabaram por se concentrar nos escravos como mercadoria privilegiada, mas os Europeus tornaram-se rapidamente independentes dos Árabes, pelo que o comércio de escravos praticado pelos Europeus veio a conhecer uma amplitude sem precedentes.

A escravatura era um estatuto social corrente na Europa medieval. No final da Idade Média, os escravos que se encontravam na Europa eram na maior parte originários dos territórios situados nas margens do mar Negro ou do Cáucaso. Os negros de África constituíam uma excepção. Porém, a introdução destes africanos proveio da iniciativa dos Árabes, e os próprios Europeus não tardaram a utilizar um número cada vez mais crescente de escravos negros.


A partir do século XVI, o curso da história africana alterou-se brutalmente, quando a Europa entrou exactamente na mesma época em período de expansão económica e geográfica, passando a interferir na evolução das sociedades africanas de uma forma que se foi acentuando nos séculos seguintes. Com os "grandes descobrimentos" começa uma evolução divergente: civilizações que não sendo semelhantes mas têm um nível de desenvolvimento equivalente vai distanciar-se de tal maneira que os Europeus do século XIX, em plena fase de expansão imperialista, acharão normal e natural apoderar-se gradual e depois totalmente do continente africano.

Do século XVI ao século XVIII, a África foi palco de um dos maiores genocídios da história da humanidade: milhões de africanos foram arrancados violentamente das suas terras e do seu meio social ou pereceram para enriquecer uma burguesia mercantil sedenta de ouro, prata e outros produtos preciosos.

É este período que se designa por "Era do Tráfico", para África, e "Período de Acumulação Primitiva de Capitais", para a Europa. O tráfico de escravos foi o factor essencial da história africana durante este período.


Desde tempos remotos, houve contactos entre África e os países do Mediterrâneo através das rotas de caravanas transarianas.

As mercadorias do Norte de África, do Próximo Oriente e da Europa (espadas de aço, ferragens, sedas, tecidos e escravos, entre outros produtos) chegavam até à África sudanesa para serem trocados por ouro, marfim, sal, pimenta e escravos.

Entre as várias regiões africanas também havia trocas comerciais que permitiam contactos culturais e relações políticas. Os Estados sudaneses (Gana, Mali, Songhai) mantinham ligações com o Egipto; havia contactos entre o Senegal e a Somália; entre o Chade e as cidades do Nilo; das cidades da costa do oceano Índico com os Estados da bacia do Nilo, e do litoral com o interior.

Até ao século XV, comércio entre a África e a Europa efectuava-se através das rotas transarianas e da costa do oceano Índico por intermédio de mercadores árabes, que encaminhavam os produtos para as grandes cidades italianas e ibéricas.

No século XV, tráfico mudou de orientação. O Sara cedeu progressivamente o lugar ao oceano Atlântico, onde os contactos entre africanos e europeus se multiplicaram devido às descobertas científicas e técnicas que permitiram uma navegação mais segura e à grande necessidade que a Europa tinha de ouro e especiarias. Os primeiros europeus que desembarcaram nas costas africanas foram os Portugueses, movidos por interesses lucrativos e de aventuras.


Na história da África jamais se sucederam tantas e tão rápidas mudanças como durante o período entre 1880 e 1935. Na verdade, as mudanças mais importantes, mais espectaculares – e também mais trágicas –, ocorreram num lapso de tempo bem mais curto, de 1880 a 1910, marcado pela conquista e ocupação de quase todo o continente africano pelas potências imperialistas e, depois, pela instauração do sistema colonial. A fase posterior a 1910 caracterizou -se essencialmente pela consolidação e exploração do sistema.

O desenvolvimento desse drama foi verdadeiramente espantoso, pois até 1880 apenas algumas áreas bastante restritas da África estavam sob a dominação directa de europeus. Em toda a África ocidental, essa dominação limitava -se às zonas costeiras e ilhas do Senegal, à cidade de Freetown e seus arredores (que hoje fazem parte de Serra Leoa), às regiões meridionais da Costa do Ouro (actual Gana), ao litoral de Abidjan, na Costa do Marfim, e de Porto Novo, no Daomé (actual Benin), e à ilha de Lagos (no que consiste actualmente a Nigéria). Na África setentrional, em 1880, os franceses tinham colonizado apenas a Argélia. Da África oriental, nem um só palmo de terra havia tombado em mãos de qualquer potência europeia, enquanto, na África central, o poder exercido pelos portugueses restringia -se a algumas faixas costeiras de Moçambique e Angola. Só na África meridional é que a dominação estrangeira se achava firmemente implantada, estendendo -se largamente pelo interior da região.

Até 1880, em cerca de 80% do seu território, a África era governada por seus próprios reis, rainhas, chefes de clãs e de linhagens, em impérios, reinos, comunidades e unidades políticas de porte e natureza variados. No entanto, nos trinta anos seguintes, assiste -se a uma transmutação extraordinária, para não dizer radical, dessa situação. Em 1914, com a única excepção da Etiópia e da Libéria, a África inteira vê -se submetida à dominação de potências europeias e dividida em colónias de dimensões diversas, mas de modo geral, muito mais extensas do que as formações políticas preexistentes e, muitas vezes, com pouca ou nenhuma relação com elas. Nessa época, aliás, a África não é assaltada apenas na sua soberania e na sua independência, mas também em seus valores culturais.

A colonização constitui apenas uma empreitada militar e económica, posteriormente defendida por um regime administrativo apropriado; para os argelinos, contudo, é uma verdadeira revolução, que vem transtornar todo um antigo mundo de crenças e ideias, um modo secular de existência. Coloca todo um povo diante de súbita mudança. Uma nação inteira, sem estar preparada para isso, vê-se obrigada a se adaptar ou, se não, sucumbir. Tal situação conduz necessariamente a um desequilíbrio moral e material, cuja esterilidade não está longe da desintegração completa.

Essas observações sobre a natureza do colonialismo valem não só para a colonização francesa da Argélia mas para toda a colonização europeia da África, sendo as diferenças de grau e não de género, de forma e não de fundo. Em outras palavras, durante o período entre 1880 e 1935, a África teve de enfrentar um desafio particularmente ameaçador: o desafio do colonialismo.




Era 1483, quando o navegador Diogo Cão, procurando conhecer melhor a costa africana, chegou à foz do rio Zaire, onde estava estabelecido o poderoso reino do Kongo. Rapidamente se espalhou entre os habitantes locais a notícia de que barcos enormes, que mais pareciam pássaros gigantescos, estavam nas proximidades do reino. A novidade vinda do mar trouxe inquietação. Na região do Kongo-Angola pensava-se que os europeus vinham de outro mundo, que eram seres sobrenaturais. Acreditava-se que entre o mundo dos vivos e dos mortos havia uma linha divisória, a Calunga. Daí que quando alguém morria o seu espírito atravessava a fronteira entre a vida e a morte navegando numa zona transitória que seria o oceano. Para eles, os homens brancos que desembarcaram com Diogo Cão podiam ser espíritos de antepassados voltando para casa.

A recepção aos portugueses foi calorosa. O mani-sônio (ou mani Nsoyo), governante da província litorânea do reino, os acolheu festivamente. Os navegantes também se mostraram entusiasmados e curiosos. Queriam conhecer o rei, para quem traziam presentes. Com tal fim foram enviados alguns mensageiros à cidade real, Mbanza Kongo. O rei, o manicongo, deve ter ficado bastante surpreendido com a presença daqueles brancos que diziam ter cruzado o oceano. Talvez por isso, ao invés de mandá-los de volta a seus navios, os manteve em seu palácio. Assim, os mensageiros tiveram a oportunidade de saber que o reino do Kongo era uma estrutura político-administrativa bem complexa e centralizada.

A autoridade máxima era o manicongo, escolhido por um conselho de nobres que ocupavam os cargos de secretários reais, administradores provinciais, colectores de impostos, juízes e oficiais militares. Já a economia estava assentada na actividade agrícola e pastoril, embora houvesse grandes mercados regionais para o comércio de sal e produtos de ferro, nos quais a moeda usada era um tipo de concha da região da ilha de Luanda, cuja colecta era monopólio real.

Ao perceber que os mensageiros enviados ao rei tardavam a voltar, Diogo Cão resolveu tomar quatro reféns e levá-los diante do rei de Portugal, com a promessa de trazê-los de volta depois de algumas luas. Assim foi feito. Quando retornaram para o Kongo os quatro africanos estavam vestidos como europeus e falando português. Se os mensageiros que ficaram na cidade real do Kongo tinham muito para contar a Diogo Cão, não eram poucas as novidades que os raptados relataram ao manicongo. Haviam visto muitos outros barcos enormes, armas e riquezas que podiam assegurar o poderio de quem as possuísse.

Ambicioso, o manicongo Nzinga avaliou que era fundamental firmar acordos com aqueles viajantes e, em 1489, enviou numa das caravelas de Diogo Cão vários presentes e uma embaixada ao rei português, d. João II. O objectivo dos embaixadores era claro: solicitar autorização para que rapazes do reino africano pudessem ser educados na Europa, conseguir que padres católicos fossem enviados ao Kongo, assim como mestres no ofício da carpintaria, pedraria e agricultura. O rei português não tardou a atender aos pedidos. Uma aliança com outro soberano tão poderoso e disposto a se converter ao catolicismo parecia a oportunidade ideal para fincar os pés naquela região da África.

Por sua vez, o rei do Kongo visava apropriar-se dos conhecimentos, técnicas e até hábitos e costumes europeus que pudessem fortalecer ainda mais o seu reino. O manicongo, uma de suas esposas e um filho foram baptizados numa igreja de pedra e cal que mandou erguer em 1491. Daquele dia em diante ao rei do Kongo foi dado o nome de d. João I, a sua mulher, Leonor, e ao seu filho, Afonso. É certo que houve quem se negasse a aderir ao catolicismo, dentre eles, um outro filho do rei, Mpanzu a Kitima, mas este foi vencido por Afonso na disputa pela sucessão do trono. Vitória facilitada pela ajuda militar portuguesa na forma de cavalos e armas.

Além de propagar o catolicismo, d. Afonso sempre se mostrava interessado em aproximar o Kongo de Portugal também por meio dos costumes, língua, ensino e conhecimento tecnológico. Contudo, ao fim de décadas de negociação, os portugueses não tinham honrado o compromisso de ensinar aos congueses como se construir grandes barcos a vela, tão pouco moinhos e veículos de roda. As novidades ficaram restritas ao cultivo do milho, da mandioca, batata-doce e amendoim vindos da América. Em contrapartida, além do auxílio militar, sempre que necessário d. Afonso contou com os portugueses para incrementar o comércio do cobre, trocado por mercadorias europeias que, por sua vez, eram repartidas entre os chefes de distritos do reino. Esses chefes faziam o mesmo com os líderes das aldeias, que por sua vez também dividiam com os cabeças de grupos familiares. Desse modo estava assegurada uma rede de lealdade capaz de sustentar o poder do rei, que governou entre 1506 e 1543.

Mas, aos poucos, o controle dos negócios foi escapando das mãos reais. Burlando a sua vigilância, administradores provinciais começaram a negociar com os portugueses sem qualquer intermediação. Ironicamente, quanto mais as elites do Kongo desejavam os produtos europeus, como queria d. Afonso, mais risco corria o seu reinado. Nas últimas décadas do século XVI, começava a ruir um dos mais estáveis reinados da África centro-ocidental. Já a demanda por produtos europeus crescia de tal modo que cobre e peles já não eram suficientes para saldar as dívidas com os comerciantes portugueses.

Até então a escravidão no Kongo era do tipo doméstico, embora nas cidades fosse comum que um número significativo de prisioneiros de guerra estivesse a serviço da nobreza. Mas, aos poucos, os cativos passaram a ser usados como meio de conversão da moeda local para a portuguesa, sem o intermédio da nobreza e do rei. No decorrer do século XVII, mais e mais escravos foram envolvidos nas transacções entre chefes políticos e mercadores africanos com os portugueses, que os aceitavam de bom grado. Multiplicaram-se na região as guerras com o único fim de capturar mais pessoas a serem embarcadas nos navios portugueses.

Ao mesmo tempo, os portugueses intensificavam o comércio de escravos com Ndongo (Angola), vizinhos e vassalos do Kongo, sem a intermediação de d. Afonso. Eles imaginavam que encontrariam, naquelas terras, minas de prata. A pretensão colonialista já era evidente em 1575, quando as terras diante da ilha de Luanda foram consideradas uma capitania portuguesa. Logo os moradores do lugar entenderam que, ao construírem casas, igreja e fortificações, os portugueses visavam se fixar na região, e reagiram. A cada investida portuguesa para o interior do continente correspondiam ataques de hábeis chefes políticos, a exemplo da rainha Jinga (ou Nzinga). No mais, ainda existiam outros inimigos bem poderosos: as febres, a escassez de comida, os insectos, a estiagem e a frustração diante da inexistência de prata e ouro nas proximidades.

Os portugueses concluiriam, então, que a empreitada conquistadora não valia a pena e resolveram concentrar suas forças no comércio de escravos, actividade que seguramente lhes rendia muito lucro e menos trabalho, pois eram os próprios moradores de Luanda que se lançavam à caça de cativos. Luanda rapidamente se tornou uma grande feira de comércio de gente. Angola, desde fins do século XVI até a primeira metade do século XVIII, foi o maior fornecedor de escravos para as Américas portuguesas e espanhola. Entre 1575 e 1591 foram embarcados da região de Angola mais de 52 mil africanos para o Brasil.





Concluímos que o tráfico de escravos era uma das formas de comércio, altamente lucrativa, já exercida pelos mercadores fenícios. Nas sociedades mediterrâneas grega e romana, os escravos constituíam um importante “artigo” comercial. Os indivíduos eram capturados em incursões noutros territórios, nas guerras ou vendidos pela aristocracia tribal. Os seres humanos, incluindo crianças, eram negociados nos mercados como animais ou qualquer outra mercadoria. Em alguns centros de comércio havia mercados especiais de escravos.

Os europeus não se envolviam directamente na caça aos escravos e preferiam comprá-los aos africanos que se encarregavam de os capturar. Os mercadores europeus permaneciam junto à costa onde os seus parceiros comerciais acorriam para entregar de escravos capturados em guerras ou em ataques organizados, em troca dos mais variados objectos, em geral de pouco valor. O grande desenvolvimento do tráfico de escravos negros, na segunda metade do século XVI, foi impelido pela necessidade mão-de-obra para as plantações tropicais americanas principalmente de cana-de-açúcar e de algodão.


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