REPÚBLICA
DE ANGOLA
GOVERNO
DA PROVÍNCIA DE LUANDA
DIRECÇÃO
MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE CACUACO
ESCOLA DO IIº CICLO DO ENSINO
SECUNDÁRIO N.º 4083 - JIKA
FILOSOFIA
ETNOFILOSOFIA
PROFESSOR
___________________
Francisco Manuel
LUANDA,
JUNHO DE 2015
ESCOLA DO II CICLO DO ENSINO
SECUNDÁRIO N.º 4083 - JIKA
ETNOFILOSOFIA
|
LUANDA,
JUNHO DE 2015
SUMÁRIO
A
Filosofia africana é usada de múltiplas formas por diferentes filósofos. Embora
diversos filósofos africanos contribuíram para diversas áreas, com a
metafísica, epistemologia, filosofia moral e filosofia política, uma grande
parte da literatura entra em debate para discutir se a filosofia africana de
fato existe.
Um
dos mais básicos motivos de discussão giram em torno da aplicação do termo
"africano": o conteúdo de sua filosofia ou a identidade dos
filósofos. Na primeira visão, conta como filosofia africana aquela que envolve
temas africanos (tais como percepções distintamente africanas, personalidade
etc.) ou utiliza métodos que são distintamente africanos.
O
termo etnofilosofia tem sido usado para designar as crenças encontradas nas
culturas africanas. Tal abordagem trata a filosofia africana como consistindo
em um conjunto de crenças, valores e pressupostos que estão implícitos na
linguagem, práticas e crenças da cultura africana e como tal, é visto como um
item de propriedade comum. Um dos defensores desta proposta é Placide Tempels,
que argumenta em filosofia bantu que a metafísica do povo Bantu são refletidas
em suas linguagens. Segundo essa visão, a filosofia africana pode ser melhor
compreendido como surgindo a partir dos pressupostos fundamentais sobre a
realidade refletida nas línguas da África.
Um
exemplo deste tipo de abordagem é a palavra de E. J. Algoa, da universidade
nigeriana de Port Harcourt, que defende a existência de uma filosofia da
história decorrentes dos provérbios tradicionais do Delta do Níger, eu seu
artigo "Uma Filosofia da História Africana na Tradição Oral". Algoa
argumenta que, na filosofia africana, a idade é vista como um fator importante
na obtenção de sabedoria e de interpretação do passado. Em apoio desa tese, ele
cita provérbios como "Mais dias, mas sabedoria" e "O que um
velho vê sentado, o jovem não vê em pé". A verdade é vista como eterna e
imutável ("A verdade nunca apodrece"), mas as pessoas estão sujeitas
ao erro ("Mesmo um cavalo de quatro patas tropeça e cai").
Também
é perigoso julgar pelas aparências ("Um olho grande não significa uma
visão aguçada"), mas em primeira mão, ela pode ser confiável ("Aquele
que vê, não erra"). O passado não é visto como fundamentalmente diferente
do atual, mas a história é vista como um todo ("Um contador de histórias
não falam de épocas diferentes"). Segundo eles, o futuro vai além do
conhecimento ("Mesmo um pássaro com um longo pescoço não poderá prever o
futuro"). No entanto também é dito "Deus vai sobreviver a
eternidade". A história é vista como sendo de importância vital ("Um
ignorante em sua origem não é um humano"), e os historiadores, conhecidos
como "filhos da terra" são altamente respeitados ("Os filhos da
terra possuem os olhos aguçados de uma píton”). Esses argumentos representam
apenas um lado da vasta cultura africana, constituída por patriarcados,
matriarcados, monoteístas e animistas.
Outra
aplicação mais controversa dessa abordagem está incorporada no conceito de
negritude. Leopold Senghor, um defensor da negritude, argumentou que a
abordagem nitidamente africana para a realidade é baseada mais na emoção do que
na lógica, se manifestando através das artes e não através da ciência e da
análise. Cheikh Anta Diop e Mubabinge Bilolo, por outro lado, embora concordem
que a cultura africana é única, contesta essa opinião, destacando que o Antigo
Egito estava inserido na cultura africana quando deu grandes contribuições para
as áreas da ciência, matemática, arquitetura e filosofia, fornecendo uma base
para a civilização grega. Essa filosofia também pode ser criticada por ser
excessivamente reducionista, devido ao apoio óbvio nas realizações egípcias.
Os
críticos dessa abordagem argumentam que o verdadeiro trabalho filosófico está
sendo feito pelos filósofos acadêmicos, e que palavras de uma mesma cultura
podem ser selecionados e organizados de muitas maneiras, a fim de produzir
sistemas de pensamentos muitas vezes contraditórios.
A
sagacidade filosófica é uma espécie de visão individualista da etnofilosofia,
que é o registro das crenças de certos membros de uma comunidade especial. A
premissa aqui é que, embora a maioria das sociedades exigem algum grau de
conformidade de crença e comportamento de seus membros, alguns desses membros
chegam a níveis superiores de conhecimento e entendimento de suas culturas e
visão de mundo. Em alguns casos, o sábio vai além de mero conhecimento e
compreensão para reflexão e questionamento - estes tornam-se alvos de
sagacidade filosófica.
Os
críticos dessa abordagem argumentam que nem todos os questionamentos e
reflexões são filosófica, além disso, se a filosofia africana for definida
apenas em termos de sagacidade filosófica, então os pensamentos dos sábios não
poderiam se enquadrar na filosofia africana, pois não foram obtidos de outros
sábios. Também, por esse ponto de vista, a única diferença entre os
antropologistas não-africanos e filósofos africanos parecem ser apenas a
nacionalidade do pesquisador.
Louw
(1998) sugere que o conceito do Ubuntu define um indivíduo em termos de seus
relacionamentos com os outros, e enfatiza a importância como um conceito
religioso, assentando na máxima Zulu umuntu ngumuntu ngabantu (uma pessoa é uma
pessoa através de outras pessoas) que aparentemente parece não ter conotação
religiosa na sociedade ocidental. No contexto africano, isso sugere que o
indivíduo se caracteriza pela humanidade com seus semelhantes e através da
veneração aos seus ancestrais. Assim, aqueles que compartilham do princípio do
Ubuntu no decorrer de suas vidas continuarão em união com os vivos após a sua
morte.
Ubuntu
é uma ética ou ideologia de África (de toda a África, em particular a palavra é
de origem Bantu. É uma filosofia Africana que existe em vários países de
África) que foca nas alianças e relacionamento das pessoas umas com as outras.
A palavra vem das línguas dos povos Banto; na África do Sul nas línguas Zulu e
Xhosa. Ubuntu é tido como um conceito tradicional africano.
Uma
tentativa de tradução para a Língua Portuguesa poderia ser "humanidade
para com os outros". Uma outra tradução poderia ser "a crença no
compartilhamento que conecta toda a humanidade".
Uma
tentativa de definição mais longa foi feita pelo Arcebispo Desmond Tutu:
Uma
pessoa com ubuntu está aberta e disponível aos outros, não-preocupada em julgar
os outros como bons ou maus, e tem consciência de que faz parte de algo maior e
que é tão diminuída quanto seus semelhantes que são diminuídos ou humilhados,
torturados ou oprimidos.
As
principais correntes da filosofia africana são: Panafricanismo, negritude,
etnofilosofia, filosofia da libertação.
O
pan-africanismo é uma ideologia que propõe a união de todos os povos de África
como forma de potenciar a voz do continente no contexto internacional.
Relativamente
popular entre as elites africanas ao longo das lutas pela independência da
segunda metade do século XX, em parte responsável pelo surgimento da
Organização de Unidade Africana, o pan-africanismo tem sido mais defendido fora
de África, entre os descendentes dos escravos africanos que foram levados para
as Américas até ao século XIX e dos emigrantes mais recentes.
Eles
propunham a unidade política de toda a África e o reagrupamento das diferentes
etnias, divididas pelas imposições dos colonizadores. Valorizavam a realização
de cultos aos ancestrais e defendiam a ampliação do uso das línguas e dialetos
africanos, proibidos ou limitados pelos europeus.
A
teoria pan-africanista foi desenvolvida principalmente pelos africanos na
diáspora americana descendentes de africanos escravizados e pessoas nascidas na
África a partir de meados do século XX como William Edward Burghardt Du Bois e
Marcus Mosiah Garvey, entre outros, e posteriormente levados para a arena
política por africanos como Kwame Nkrumah. No Brasil foi divulgada amplamente
por Abdias Nascimento.
Normalmente
se consideram Henry Sylvester Williams e o Dr. William Edward Burghardt Du Bois
como os pais da Pan-Africanismo. No entanto, este movimento social, com várias
vertentes, que têm uma história que remonta ao início do século XIX. O
Pan-Africanismo tem influenciado a África a ponto de alterar radicalmente a sua
paisagem política e ser decisiva para a independência dos países africanos.
Ainda assim, o movimento tem conseguido dois dos seus principais objetivos, a
unidade espiritual e política da África, sob o pretexto de um Estado único, e
pela capacidade de criar condições de prosperidade para todos os africanos.
As
questões de natureza filosófica desenvolvidas neste ponto não parecem ter, num primeiro
relance, uma ligação directa com os problemas do desenvolvimento (económico, social)
tratados mais adiante. Mas, na verdade, elas parecem-me participar nos
alicerces escondidos dos problemas económicos das sociedades africanas, razão pela
qual, apesar do aparente hiato entre a filosofia e a economia, julgo que esta tentativa
de articulação se justifica.
A
importante crítica de Paulin Hountondji, natural da Costa do Marfim, à
Philosophie Bantoue de Placide Tempels (que nos vai tomar aqui algum tempo),
classificando-a, no plano científico, não como obra filosófica do ponto de
vista científico mas como uma Etnofilosofia (generalização abstracta de uma
interpretação metafísica da etnologia) parece ter alguma justificação embora
ela não chegue a pôr em causa a importância da obra de Temples, a sua boa fé
pessoal, nem tão pouco a percepção fundamentalmente anti-racista no propósito
desse missionário.
Outro
crítico da obra de Tempels é o filósofo camaronês Fabien Eboussi Boulaga. Passo
sobre a crítica excessiva feita por Serequeberhan13, natural da Eritreia, que
não se me afigura ser de inteira boa fé. Em compensação, o talentoso V.Y
Mudimbe (congolês) é mais moderado e tolerante.
A
reserva principal de Hountondji é que o conceito de Philosophie Bantoue
utilizado por Tempels no título do seu livro é uma abstracção colectiva (para
além de ser uma construção com fundamentos metafísicos) onde não há filósofos
individuais e onde a individualidade (ponto de partida e fundamento do
verdadeiro processo filosófico) é inexistente. Ora a filosofia, como aliás
outras ciências sociais, necessita para existir e progredir, como já se disse,
do debate crítico entre argumentos contraditórios de indivíduos inseridos num
grupo profissional (“massa crítica”), e é esse debate que está ausente da
etnofilosofia.
Este
pressuposto aplica-se tanto à noção de “filosofia bantu” como, por maioria de
razão, a uma hipotética e unanimista “filosofia africana” que ignora o
individuo, tão frequente nos antropólogos clássicos. Nesse sentido a realidade concreta
de Filosofia Africana não existe (como não existe, nesse plano, a de Filosofia Europeia),
embora a expressão tenha caído no uso corrente de senso comum.
Há sim filósofos africanos e filósofos europeus
(americanos, asiáticos, etc) que formam uma constelação, na sua constituição,
que existe, mas não no sentido de ser uma entidade única, indiferenciada e
monolítica, como por vezes se induz.
Por outras palavras, há hoje, evidentemente,
filósofos africanos (ou europeus, etc.) distintos nas suas características
individuais próprias, formando, no limite, uma constelação a que se
convencionou chamar impropriamente Filosofia Africana, o mesmo se podendo dizer
de Filosofia Europeia etc., denominações que não deveriam fazer esquecer a
expressão individual que lhe é intrínseca, constituindo o seu verdadeiro
fundamento. É certo que a expressão prescinde das aspas no seu uso corrente,
mas a precisão não parece inútil.
Quanto à utilização de certos termos na literatura
antropológica mais antiga, Tempels, investigador insuspeito de “racismo” e
cujas intenções não estão em causa, como muitos autores africanos o confirmam,
não pôde evitar a utilização de conceitos polémicos como “primitivo”, ainda que
alguns dos críticos contemporâneos atribuam, por vezes, demasiada importância a
esse facto, esquecendo que o termo correspondia, em 1949, para muitos, mais a
uma semântica conjuntural que era também produto duma época mal informada e
pouco esclarecida na compreensão do continente africano, mas que nem sempre
traduzia uma intenção pejorativa.
É evidente que a Philosophie Bantoue de Placide
Tempels, se foi um trabalho pioneiro, mundialmente célebre e aclamado,
incluindo por Africanos, também suscitou desacordos e polémicas. Para os seus
críticos mais intransigentes essa obra foi sobretudo escrita “ao serviço da
missionarização e da administração colonial”, e destinava-se essencialmente a
conhecer os africanos para melhor servir a missão “civilizadora” do
cristianismo e da colonização. Essa asserção só em parte é exacta neste caso,
pois parece excessivo atribuir intenções veladas a Tempels, ainda que a sua investigação
pudesse ter indirectamente esses efeitos.
Mas, por outro lado, também deve atender-se ao cariz
pioneiro e até “revolucionário” do seu livro, se nos lembrarmos que em 1949, no
auge dos preconceitos colonialistas mais ignorantes, hermeticamente fechados na
época, que negavam aos africanos a própria capacidade de pensar autonomamente,
Tempels intitulou a sua obra Philosophie Bantoue afirmando claramente no
próprio titulo (com mais coragem do que nos nossos dias se imagina) que os
ditos “primitivos”, seres alegadamente “não pensantes”, tinham uma verdadeira filosofia
(a forma mais elevada da expressão intelectual) com a mesma dignidade que a filosofia
aristotélico-tomista do ocidente, o que escandalizou sectores mais conservadores
europeus desse tempo.
Se muitas das críticas podem ser justificadas nos
planos analítico, no que se refere ao livro de Tempels, é igualmente
indispensável ter em conta a sua intenção dignificadora do pensamento africano
e o papel que desempenhou na luta contra o obscurantismo colonial, sem que isso
signifique nos nossos dias uma adesão incondicional ao “sistema bantu” tal como
foi pensado. Acrescente-se, aliás, que Tempels não apresentou o seu sistema
como um “dogma” (certos críticos não parece terem considerado este aspecto) mas
sim como uma “hipótese”, declarada explicitamente no livro.
A
filosofia, enquanto resultado dos trabalhos individual dos filósofos, é um
factor essencial para passar da “reprodução do conhecimento” para a “produção
de pensamento”, tarefas primordiais, em primeiro lugar, das instituições
universitárias, tanto da Europa como da África.
A
juventude do continente africano e a aparição de autênticos filósofos africanos
cujo crescimento é exponencial numa região que será, dentro de algumas décadas,
a mais populosa e jovem do mundo (2 mil milhões de habitantes antes do fim de
século XXI, mais numeroso do que a China ou a India), abrirá caminho a uma nova
modernidade que não poderá deixar de favorecer a própria universalidade dos
valores e a eficácia dos princípios.
Revisitar
o passado não é certamente um exercício inútil. As lições que for possível
tirar da sabedoria (ou da filosofia) das sociedades tradicionais africanas,
mesmo as de conteúdo considerado metafísico ou teológico-filosófico, como no
caso do estudo de Placide Tempels, podem revelar percepções – ou estimular
intuições – que favoreçam novas hermenêuticas, motivando ideias criativas
assentes na realidade concreta reinterpretada que poderão ajudar a encontrar
respostas até aqui inexistentes.
3.
BIBLIOGRAFIA
APPIAH (Kwame
Anthony), Na casa do meu pai – A África
na filosofia da cultura, Rio de Janeiro, 1997.
FERREIRA (Manuel
Ennes), A indústria em tempo de guerra
(Angola, 1975-91), Lisboa, Ed. Cosmos/Instituto de Defesa Nacional, 1999.
HOBSTAWM (Eric),
Escritos sobre a história, Lisboa,
Relógio d´Água, 2010.
HYDEN (Goran), African
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PIMENTA (Fernando
Tavares), Bancos de Angola: Autonomismo
e Nacionalismo (1900-1961), Coimbra, Minerva, 2005.
RODRIGUES
(Eugénia), A geração silenciada – A Liga
Nacional Africana e a representação do branco em Angola na década de 3º,
Porto, Afrontamento, 2003.
muito bom
ResponderExcluiro que eu faço pra coiar o conteudo?
ResponderExcluirGostei de o trabalho
ResponderExcluirGostei do trabalho
ExcluirGostei, mas queria eu copiar.
ResponderExcluirO que devo fazer para copiar este artigo, tema bastante bom para ser arquivado...
ResponderExcluirgostaria de te-lo, passa-me o link para download.
Gostaria de copiar este trabalho
ResponderExcluirGostava de ter este trabalho
ResponderExcluirEm Análise
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