INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DE KANGONJO
ÁREA DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS, JURÍDICAS
SOCIAIS E TECNOLÓGICAS
LICENCIATURA EM GESTÃO
MERCADO DO TRABALHO
TRABALHO
LUANDA
2016
ADÃO GOMES JOÃO
ANTÓNIA MOREIRA BERNARDO
ANTÓNIO PEDRO MANUEL
APOLINÁRIO MARIA JOÃO DE CARVALHO
CASIMIRO MONTEIRO DA SILVA
DIAPANGA SOFIA PASCOAL
EUNICE PATRÍCIA SEBASTIÃO ADÃO
GOUVEIA SEBASTIÃO
GRACIETE CRISTINA SIMÃO DO NASCIMENTO
LEONARDA DA CONCEIÇÃO PANELA
MADALENA VARELA MATIAS
MAMPUILA MBUKA SEBASTIÃO
MARIA ESTRELA MATONDO
PROSÉPIO A.R ADÃO
MERCADO DE TRABALHO
TRABALHO
Trabalho
a apresentado ao curso de Gestão na disciplina de Mercado do Trabalho como
requisito parcial para obtenção de Notas.
Professor: Dr.
Arão Catchivanguissa
LUANDA
2016
SUMÁRIO
Durante
aproximadamente 30 anos, após a Segunda Guerra Mundial, as sociedades
industrializadas conviveram com crescimento económico, progresso material,
avanço da ciência e da tecnologia e melhoria geral das condições de vida,
talvez nunca imaginada. O avanço tecnológico atingiu um patamar sem precedentes
na história da civilização ocidental. Nos últimos 25 anos, no entanto, vive-se
um processo de crise, em decorrência, principalmente, do processo de mundialização
do capital. Os governos estão endividados, e as economias estão cada vez mais
longe de proporcionarem condições de emprego àqueles que já estão ou entram no
mercado de trabalho. Paradoxalmente, esses fatos estão acontecendo em um
período de crescimento e de elevada produtividade. Por outro lado, são poucos
os países que fogem dessa condição crítica, pois quase todos enfrentam a crise
do desemprego e a degradação social por ela causada. O declínio do emprego
retrata, portanto, a possibilidade objectiva de um cenário social caótico nos
países em que ele se torna agudo, a não ser que surjam alternativas que
permitam às pessoas o exercício do trabalho autónomo e outras formas de
ocupação que lhes propiciem meios de vida. Essas foram as alternativas consagradas
ao longo da história, uma vez que o emprego é um fenómeno da modernidade.
VOCÊ PODE LER E BAIXAR ESTE TRABALHO CLICANDO AQUI!
VOCÊ PODE LER E BAIXAR ESTE TRABALHO CLICANDO AQUI!
Este estudo
resgata o entendimento do trabalho e do emprego a partir de um mergulho na
História. Nele se evidencia que estes conceitos pertencem, simultaneamente, à
esfera da reflexão teórica e da realidade empírica. Constata-se, também, a
importância que eles adquirem na vida das pessoas e da sociedade moderna.
Para dar sequência
ao propósito deste estudo faz-se uma visita aos diferentes momentos da História
para que se possa entender os conceitos de trabalho, ocupação e emprego. Em
seguida, analisam-se os principais fenómenos associados a cada um deles. Ao
final, faz-se um comentário sobre os principais assuntos abordados,
correlacionando-os com a empregabilidade.
Na Antiguidade,
o trabalho era entendido como a actividade dos que haviam perdido a liberdade.
O seu significado confundia-se com o de sofrimento ou infortúnio. O homem, no
exercício do trabalho, sofre ao vacilar sob um fardo. O fardo pode ser
invisível, pois, na verdade, é o fardo social da falta de independência e de
liberdade. (KURZ: 1997, p.3).
Na tradição
judaico-cristã, o trabalho associa-se à noção de punição, de maldição, como
está registado no Antigo Testamento (punição do pecado original). Na Bíblia, o
trabalho é apresentado como uma necessidade que leva à fadiga e que resulta de
uma maldição: "Comerás o pão com o suor de teu rosto" (Gn. 3,19).
Decorre desse princípio bíblico o sentido de obrigação, dever e responsabilidade.
A equiparação entre trabalho e sofrimento não é o de simples cansaço;
representa, também, uma condição social.
O significado
de sofrimento e de punição perpassou pela história da civilização, directamente
se relacionando ao sentido do termo que deu origem à palavra trabalho. Essa vem
do latim vulgar tripalium, embora seja, às vezes, associada a trabaculum.
Tripalum era um instrumento feito de três paus aguçados, com ponta de ferro, no
qual os antigos agricultores batiam os cereais para processá-los. Associa-se a
palavra trabalho ao verbo tripaliare, igualmente do latim vulgar, que
significava "torturar sobre o trepalium", mencionado como uma armação
de três troncos, ou seja, suplício que substituiu o da cruz, instrumento de
tortura no mundo cristão. Por muito tempo, a palavra trabalho significou
experiência dolorosa, padecimento, cativeiro, castigo. (BUENO: 1988, p.25).
Os gregos
utilizavam duas palavras para designar "trabalho: ponos, que faz
referência a esforço e à penalidade, e ergon, que designa criação, obra de
arte. Isso estabelece a diferença entre trabalhar no sentido de penar, ponein,
e trabalhar no sentido de criar, ergazomai. Parece que a contradição
"trabalho-ponos" e "trabalho-ergon" continua central na
concepção moderna de trabalho. Pode-se observar em diferentes línguas (grego,
latim, francês, alemão, russo, português) que o termo trabalho tem, em sua
raiz, dois significados: esforço, fardo, sofrimento e criação, obra de arte,
recriação.
Na Antiguidade,
distinguia-se trabalho de labor. Essas palavras têm etimologia diferente para
designar o que hoje se considera a mesma actividade. Ambas conservam seu
sentido, a despeito de serem repetidamente usadas como sinónimos. O trabalho,
além do labor e da acção, é um dos elementos da vida activa. "O labor é a actividade
que corresponde ao processo biológico do corpo humano. O trabalho é a actividade
correspondente ao artificialismo da existência humana. A acção corresponde à
condição humana" (ALBORNOZ: 1988, p.23).
O trabalho
não está, necessariamente, contido no ciclo repetitivo vital da espécie. É por
meio do trabalho que o homem cria coisas a partir do que extrai da natureza,
convertendo o mundo num espaço de objectos partilhados. Diferencia-se, então, o
labor do trabalho. O primeiro é um processo de transformação da natureza para a
satisfação das necessidades vitais do homem. O segundo, é um processo de
transformação da natureza para responder àquilo que é um desejo do ser humano,
emprestando-lhe certa permanência e durabilidade histórica.
Na sociedade
grega, berço da civilização ocidental, o trabalho era visto em função do
produto, e este, por sua vez, em função de sua utilidade ou capacidade de
satisfazer à necessidade humana. O que contava era o valor de uso e não o valor
de troca, isto é, o valor de uma mercadoria em relação às outras. O valor do
produto como mercadoria não passava do valor de uso para outra pessoa. É
possível perceber que a concepção de valor e de riqueza tinha alicerces
diferentes dos que norteiam, actualmente, a produção e a distribuição no
Ocidente.
Por isso, até
1690, não se concebia que o homem tivesse direito natural à propriedade em
decorrência do seu trabalho; depois de 1690, a idéia passou a ser axioma da
Ciência Social. Nenhum dos autores clássicos da Antiguidade jamais pensou no
trabalho como possível fonte de riqueza (VÁZQUEZ: 1977, p.31).
A partir do
século XVII, criou-se uma sociedade que não situa em primeiro plano a natureza
ou a produção a serviço da transformação do homem, do cidadão da polis. Nela, o
uso da mente por todos os homens não é considerado como próprio de homens
livres, porquanto o trabalho físico, por seu carácter servil e humilhante,
repousa nos ombros daqueles que, na sociedade antiga, eram os escravos.
Na Antiguidade,
um homem livre podia cansar-se em certas circunstâncias e, ainda assim, obter
satisfação da situação. Era rejeitada não a actividade em si ou o trabalho
manual, mas a submissão do homem a outro homem ou a uma "profissão"
(KURZ: 1997, p.3).
O trabalho,
na Antiguidade, não se desvincula do entendimento da escravatura, que foi um
recurso usado para excluí-lo da condição de vida do homem. Essa exclusão só
podia ser viabilizada pela institucionalização da escravatura, dadas a
capacidade de produção e a concepção de vida e de sociedade vivenciadas no
período.
Na tradição
cristã, a Reforma Protestante fez com que o trabalho passasse a ser visto como
instrumento de salvação e como forma de realizar a vontade divina. Na tradição
oriental, as religiões viam o trabalho como uma actividade que harmoniza os
homens com a natureza e que desenvolve o seu carácter.
No final da
Idade Média, expressava-se o trabalho com o sentido positivo que passou a
incorporar: era encarado como uma acção auto criadora, e o homem, em seu
trabalho, como senhor de si e da natureza. Deu-se valorização positiva ao
trabalho, considerado, então, como um espaço de aplicação das capacidades
humanas. Acompanhava-o a noção de empenho, que é o esforço para atingir
determinado objectivo. Naquele período, surgiram mudanças significativas que
produziriam lastros que sustentariam a Era Moderna. Entre as mudanças
encontram-se a revolução agrícola, o surgimento das cidades e, sobretudo, a
implantação da sociedade patriarcal, com valores e conceitos que vieram dominar
a sociedade ocidental moderna.
O Calvinismo
transformou o trabalho em instrumento para a aquisição de riquezas, meio de
sucesso no mundo terreno, que permitiria ao homem sentir-se escolhido por Deus.
A mentalidade protestante conjugou-se à sede de dinheiro dos Estados
absolutistas pré-modernos e sua militarização da economia (WEBER: 1944, p.52).
Desse modo, todos os homens formalmente livres da Modernidade foram submetidos
àquela forma menor de actividade (KURZ: 1997, p.3), ou seja, ao trabalho
considerado pelos antigos como a essência da servidão e, por isso, como
sofrimento.
Estudiosos
argumentam que o trabalho, como ato concreto, individual ou colectivo, é uma
experiência social por definição e que constitui e explica grande parte da
sociedade capitalista. Considera-se, também, que " [...] as facetas
essenciais do processo de socialização da construção identitária, das formas de
dominação e de resistência, enfim da dinâmica contraditória da economia de
mercado, têm sua origem nas situações laborais e nas relações sociais
estruturadas na actividade produtiva" (CATTANI: 1996, p.39).
No século
XVIII, com a ascensão da burguesia, com o desenvolvimento das fontes
produtivas, com a transformação da natureza e com a evolução da técnica e da
ciência, enfatizou-se a condenação do ócio, sacralizando-se o trabalho e a
produtividade (KURZ: 1997, p.3).
Na Idade
Moderna, passou-se a fazer diferenciação entre o trabalho qualificado e o não
qualificado, entre o produtivo e o não produtivo, aprofundando-se a distinção
entre trabalho manual e intelectual. Essas concepções diferenciadas não deixam
de ser o entendimento subjacente à distinção fundamental entre labor e trabalho
do período helénico. O que ocorreu foi o deslocamento do labor, que possui, tanto
na esfera pública como na esfera privada, uma produtividade própria, por maus
fúteis ou pouco duráveis que sejam os seus produtos e seu consumo.
Nessa era, o
trabalho tornou-se uma actividade compulsiva e incessante; a servidão tornou-se
liberdade, e a liberdade, servidão (KURZ: 1997, p.3). Para o homem dos tempos
modernos, o tempo livre inexiste ou é escasso. "Tempo é dinheiro". A
lógica do trabalho perpassou a cultura, o desporto e, até mesmo, a intimidade.
Todas as actividades humanas passaram a ser foco de negócios ou tornaram-se
oportunidades para alguém ganhar dinheiro, lógica que se apoderou de todas as
esferas da vida e da existência humana. Para grande maioria das pessoas, o
trabalho transformou-se em emprego na sociedade moderna.
Segundo MARX
(1983, p.149), " [...] o trabalho revela o modo como o homem lida com a
natureza, o processo de produção pelo qual ele sustenta a sua vida e, assim,
põe a nu o modo de formação de suas relações sociais e das idéias que fluem
destas". Para o autor, o trabalho é o centro das actividades
especificamente humanas. Sob essa óptica, os homens relacionam-se com a
natureza por intermédio do trabalho. Considera, ainda, que, " [...] ao
submetê-la aos seus próprios fins, o homem realiza, neste sentido, uma
humanização da natureza" (p.150). O trabalho é a categoria que funda o
desenvolvimento do mundo dos homens como uma esfera distinta da natureza; não é
apenas a relação dos homens entre si no contexto da reprodução social; o seu
desenvolvimento exige o desenvolvimento concomitante das relações sociais.
O modo antigo
de produção baseia-se no trabalho do escravo; o feudal, no trabalho dos servos
da gleba; o capitalista, no trabalho do empregado assalariado.
A palavra
emprego, da língua inglesa, tem sua origem em 1400 d.C. Até o início do século
XVIII, se referia a alguma tarefa ou determinada empreitada; nunca se referia a
um papel ou a uma posição numa organização. A partir do século XIX, passou a
ser entendida como o trabalho realizado nas fábricas ou nas burocracias das
nações em fase de industrialização.
Resgatando a
origem do significado da palavra emprego, BRIDGES (1995, p.19) comenta que
" [...] tanto job (emprego) como gob (bocado) podem, de fato, ter surgido
originalmente de uma palavra céptica, gob ou gop, significando 'boca'". No
início, tinha o sentido de "pedacinho" de alguma coisa; depois, a
palavra começou a ampliar seu significado, passando a incluir "grandes
montes" de coisas, como montes de ferro ou estrume de curral (a idéia de
que o emprego original possa ter sido um "monte de estrume" parece
bastante moderna para muitos trabalhadores).
A conotação
moderna do termo emprego reflecte a relação entre o indivíduo e a organização
onde uma tarefa produtiva é realizada, pela qual aquele recebe rendimentos, e
cujos bens ou serviços são passíveis de transacções no mercado (SOUZA: 1981,
p.26).
O emprego é
um fenómeno da Modernidade. Em tempo anterior ao advento da sociedade centrada
no mercado, não era " [...] o critério principal para definir a significação
social do indivíduo, e nos contextos pré-industriais as pessoas produziam e
tinham ocupações sem serem, necessariamente, detentoras de empregos"
(RAMOS: 1989, p.101).
No passado
pré-industrial, antes que as fábricas transformassem o trabalho em rotina, as
pessoas trabalhavam arduamente, mas não utilizavam um emprego para estruturar e
conter suas actividades.
Anteriormente
ao século XIX, as pessoas não tinham empregos no sentido fixo e unitário;
faziam serviços na forma de um fluxo constantemente mutante de tarefas.
"Seus empregos não eram supridos por uma organização, mas pelas exigências
de suas condições de vida, pelas exigências de um empregador e pelas coisas que
precisavam ser feitas naquele momento e lugar" (BRIDGES: 1995, p.38).
Na sociedade
centrada no mercado dos nossos dias, como já foi dito antes, o emprego passa a
ser o critério que define a significação social dos indivíduos. Com o
estabelecimento da divisão do trabalho, o homem vive numa base de troca. Isso
lhe garante, por meio do exercício do emprego, os bens e serviços de que
necessita, pois recebe em troca um salário com o qual compra o que é necessário
para sobreviver ou, pelo menos, o que seja possível adquirir para viver. Muitos
deles, actualmente, não conseguem mais viver com dignidade com os salários que
recebem.
Os empregos
tornaram-se tanto comuns quanto importantes; passaram a ser, nada menos, do que
o único caminho amplamente disponível para a segurança, para o sucesso e para a
satisfação das necessidades de sobrevivência. "Agora, porém, estão
desaparecendo da paisagem económica. Igual a muitas espécies pegas no fluxo e
refluxo da evolução, os empregos emergiram sob um conjunto de condições e agora
começaram a desvanecer-se sob outro" (BRIDGES: 1995, p.36-37).
A relação
emprego versus pessoa desocupada é, também, um fenómeno da Era Moderna. No
plano estrutural das sociedades pré-industriais, o desemprego como
característica de desocupação era inconcebível, já que elas asseguravam uma
função produtiva a qualquer pessoa que reconhecessem como um de seus membros.
Em tais sociedades, o que poderia se assemelhar ao desemprego em massa de
nossos dias seria resultado esporádico de acontecimentos perturbadores, como
secas, guerras, rixas entre famílias ou pragas. Nesse tipo de sociedade, a
menos que houvesse um factor externo a ela, nenhum de seus membros morreria de
fome.
Adam Smith
(1776) (In: RAMOS: 1989, p.101) reconhece que a sociedade de mercado transforma
o homem, necessariamente, em um detentor de emprego. Onde uma vez se estabeleça
a divisão do trabalho, " [...] todo homem vive numa base de troca ou, de
alguma forma, torna-se um comerciante, e a própria sociedade passa a ser aquilo
que constitui, de fato, uma sociedade comercial".
Nesse tipo de
sociedade em que tudo gira em torno do conceito de comércio, o indivíduo,
exercendo o emprego, recebe um salário, um certo montante em dinheiro, com o
qual compra o que lhe é possível adquirir. Com isso, garante o acesso aos bens
e aos serviços de que necessita. O emprego passou a ser categoria dominante -
se não exclusiva - para reconhecimento do valor dos propósitos humanos. Numa
sociedade assim, não ser empregado é sinónimo de ser imprestável ou excluído.
Para a economia, como concebida em suas origens, o emprego formal é pedra
angular para seu funcionamento. Vale afirmar que não é apenas o emprego que
passa por profundas transformações, a economia em si também passa.
Ao escrever A
Riqueza das Nações, Smith lamentava haver na Inglaterra regiões que eram
obstáculos à civilização. Escrevia ele que " [...] quando o mercado é
pequeno, ninguém pode ter estímulo para se dedicar a uma única opção" (In:
RAMOS, 1989, p.17).
Com o passar
do tempo, as pessoas foram aprendendo ofícios que as tornaram detentoras de
empregos, passando, a partir daí, a serem parte do tipo de força de trabalho
que emergia. Dentro da lei da oferta e da procura, proporcionar-se-ia emprego a
todos os indivíduos que estivessem dispostos a trabalhar.
Portanto, não
é de estranhar que, durante toda a Idade Moderna, as pessoas tenham sido
medidas por seu valor no mercado de trabalho, uma vez que esse valor se
expressava, também, no potencial de consumo que elas representavam. "Agora
que a mercadoria valor do trabalho humano está se tornando cada vez mais tangencial
e irrelevante, em um mundo cada vez mais automatizado, novas maneiras de
definir o valor humano e os relacionamentos sociais precisão ser
exploradas" (RIFKIN: 1995, p.41).
Na segunda
metade do século XX, o trabalho "de massa" no mercado, ou o emprego,
decresceu em, praticamente, todas as nações industrializadas do mundo.
"Máquinas inteligentes" estão substituindo seres humanos em incontáveis
tarefas, empurrando milhões de operários e trabalhadores de escritórios para as
filas do desemprego, para as filas do auxílio desemprego ou, ainda, para outras
formas de ocupação que lhes garantam a sobrevivência.
Com a chegada
do século XXI, as análises e previsões feitas durante a década de 90 que, no ano
2001, o avanço tecnológico levaria à substituição dos trabalhadores por
máquinas inteligentes nas actividades que demandavam esforços físicos e que se
trabalharia somente trinta horas por semana, sendo o restante do tempo
destinado ao lazer, soam como algo duvidoso e até paradoxal. (HANDY: 1995,
p.31).
Por outro
lado, os que estão sendo demitidos e voltam a trabalhar passam a receber um
salário, em média, 30% menor do que o salário anterior. Há, no ar, uma grande
indagação: como se poderá garantir a sobrevivência das pessoas em tais
condições? (THUROW: 1997, p.28).
O capitalismo
contemporâneo vem, nas últimas décadas, engendrando profundas mudanças no
mercado de trabalho. Essas mudanças se expressam, principalmente, pela
globalização das finanças, pela crescente precarização das relações de
trabalho, pelas taxas elevadas de desemprego, pelo deslocamento geográfico de
organismos produtivos e absorvedores de mão-de-obra e pela eliminação de postos
de trabalho na indústria e nos serviços.
Entende-se
por precarização das relações de trabalho a substituição das relações
formalizadas de emprego que, no Brasil, expressam-se em registos na carteira de
trabalho por relações informais de compra e venda de serviços, que vêm se
constituindo, principalmente, pelas formas de contratação por tempo limitado,
de assalariamento sem registo, de trabalho a domicílio e outras. (SINGER, 1995,
p.2).
O trabalho
temporário, por tempo determinado e de meio período, está aumentando sua
importância no índice total de crescimento dos empregos. Tais tipos de trabalho
envolvem, tipicamente, salários mais baixos, alguns benefícios a menos e menor
segurança do que o emprego mais tradicional. Isso, por sua vez, está levando a
uma polarização da força de trabalho: trabalhadores de tempo integral
comparativamente produzem mais resultados, enquanto trabalhadores com menos
segurança produzem comparativamente menos (Ibidem: 1995, p.48).
Desse fato
resultam vários problemas sociais. Numa época em que o governo está tentando
reduzir sua responsabilidade quanto aos benefícios sociais, como a seguridade
na terceira idade, um segmento cada vez maior da população perde acesso aos
tipos de pensão privada e aos planos de benefício que poderiam tornar os
cidadãos auto-suficientes na aposentadoria.
MATTOSO
(1996, p.116), em seu livro A Desordem do Trabalho, chama a atenção para a
insegurança do trabalho, que engloba a insegurança no mercado de trabalho, no
emprego, na renda, na contratação, na representação do trabalho, na defesa do
trabalho e na organização sindical.
Desde o
início dos anos 90, o grau de informalidade tem aumentado no mercado de
trabalho brasileiro. Em 24 meses de Plano Real, segundo PASTORE (1997, p.81), a
renda cresceu 33% no sector formal e 38% no sector informal. O salário médio do
sector formal alcançou R$ 530,00 e, no sector informal, R$480,00. Por causa da
carga tributária, a renda líquida mensal nos dois sectores, acabou sendo,
aproximadamente, a mesma. "Mas precisamos considerar que, no sector formal,
o trabalhador recebe FGTS, 13º Salário e abono de férias", observa ainda o
autor.
Segundo
estudos do próprio Ministério do Trabalho e Emprego (2000), o índice de
trabalhadores com carteira assinada está em declínio. Cresce, ao mesmo tempo,
de forma exponencial, um segmento de trabalhadores por conta própria e sem
carteira assinada. O fato é explicado como sendo resultado de diversos factores:
1)
A ampliação do contingente de trabalhadores autónomos,
decorrente das novas formas de produção, das relações de trabalho e do processo
de terceirização.
2)
O aumento relativo do emprego no sector de
serviços, gerador tradicional de empregos e...
3)
O funcionamento dos factores institucionais
associados ao sistema de seguridade social e à legislação trabalhista como um
incentivo para que empresas e trabalhadores optem por estabelecer relações
informais de trabalho.
Segundo dados
do Cadastro Geral de Empregados (CAGED), do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), no sector formal do mercado de trabalho, onde estão os trabalhadores
protegidos por contratos de trabalho e pelos estatutos públicos, foram
eliminados cerca de 2,56 milhões de empregos, entre Janeiro de 1990 e Dezembro
de 2000. A geração de emprego no sector formal tem tido uma tendência
declinante a partir de 1990, explicada, em grande parte, pela queda do emprego
industrial. Entre 1990 e 2000, o emprego formal declinou 8,4%.
Os estudos
sobre a questão do mercado de trabalho evidenciam que, nos últimos anos,
ocorreu um aumento no perfil educacional da mão-de-obra. Entre 1994 e o início
de 2000, a proporção de ocupados com nível de escolaridade entre 0 e 4 anos de
estudo caiu de 37% para 29% (queda de 8 pontos percentuais), enquanto a parcela
de trabalhadores com mais de 9 anos de estudo se elevou de cerca de 36% para
44% (aumento de idênticos 8 pontos percentuais) (MTE: 2000).
Se, por um
lado, a elevação do nível de qualificação da mão-de-obra reflecte a melhoria do
perfil educacional da população na sua totalidade, por outro, isso se deve à
demanda maior por parte das empresas de trabalhadores mais escolarizados. Entre
1992 e 1998, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, houve um corte de 2,44
milhões de vagas, das quais 755 mil no período pós-Real. Entre os meses de Março
e Maio de 1998, ocorreu um aumento expressivo de 406 mil novos empregos. Esse
número não foi suficiente para compensar as perdas de cerca de 560 mil
empregos, ocorridas entre Novembro de 1999 e Fevereiro de 2000.
Um fenómeno
recente que se manifesta é a organização de profissionais de diferentes áreas
que trocam, gratuitamente, serviços entre si, e de profissionais da mesma área
que distribuem entre os seus membros os serviços contratados por qualquer um
deles.
O aumento da
renda na economia informal mostra que os trabalhadores sem carteira fortalecem
seu poder de barganha. Se a legislação impõe o pagamento de elevados encargos
trabalhistas às empresas, a informalidade aumenta sua capacidade de competir,
ao contrário do sector formal. O crescimento da renda informal é sinal de actividade
económica em formas produtivas diferentes daquelas oficialmente reconhecidas,
ou seja, actividade económica que se realiza nos sistemas conviviais. (RAMOS:
1989, p.113).
Qualquer
trabalhador pode ler as estatísticas e reportagens publicadas pela imprensa
diariamente e verificar que, nas últimas décadas, em todo o mundo, o nível de
produtividade está crescendo enquanto decrescem os índices de emprego. As
notícias do front industrial revelam, com optimismo, o aumento do índice de
produtividade que, no entanto, não gera empregos nem reverte em benefício da
melhoria ou elevação do padrão salarial dos trabalhadores. Ao contrário, os
níveis salariais dos trabalhadores estão decaindo, assim como aumenta a
exclusão dos trabalhadores do mercado formal de trabalho. Dessa maneira, o que
aparece é que não há evidência, a curto prazo, de indicativos de mudança na trajectória
de recuperação do mercado de trabalho.
Nos dias de
hoje, o emprego constitui, para uma grande maioria da população mundial, a
única fonte de distribuição de renda e, consequentemente, a única forma de
sobrevivência. As saídas para os impasses actuais são mais relacionadas as
concepções e opções políticas civilizatórias do que produzidas por
determinismos históricos. Por isso, a empregabilidade passa pela construção
social: não bastam talentos, se não houver oportunidade. Convém lembrar a
importância de as organizações formais desenvolverem os valores comunitários no
local de trabalho, para desenvolverem, também, a empregabilidade de seus
membros. Sem essa nova relação de valores, as organizações não se transformarão
e não haverá, em seus espaços, oportunidades para que as pessoas possam exercer
a empregabilidade, conforme o termo foi conceituado ao longo deste argumento.
ALBORNOZ,
Suzana. O que é trabalho. 3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1988.
BRIDGES,
William. Mudanças nas relações de trabalho: como ser bem sucedido em um mundo
sem empregos. São Paulo: Makron Books, 1995.
BUENO,
Franciso da S. Grande dicionário etimológico-prosódico da lingua portuguesa.
São Paulo: Lisa, 1988.
CATTANI,
Antônio David. Trabalho e autonomia. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
DICIONÁRIO de
Ciências Sociais. Rio de Janeiro: FGV, 1986.
HANDY,
Charles. A era do paradoxo: dando um sentido para o futuro. São Paulo: Makron
Books, 1995.
KURZ, Robert.
A origem destrutiva do capitalismo: modernidade económica encontra suas origens
no armamentismo militar. Folha de São Paulo. 30.3.1997, p.3 c.5.
MARX, Karl.
Contribuição à crítica da economia política. Trad. Maria Helena Barreiro Alves;
revisão de Carlos Roberto F. Nogueira. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
MATTOSO,
Jorge. A desordem do trabalho. São Paulo: Página Aberta, 1995.
MINISTÉRIO DO
TRABALHO E EMPREGO. Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED. Lei
4923/65. Florianópolis, 2000.
PASTORE,
José. Recursos humanos e relações do trabalho com ênfase no caso dos bancos.
São Paulo: BCB, 1995.
RAMOS,
Alberto Guerreiro. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da
riqueza das nações. 2.ed. Rio de Janeiro: FGV, 1989.
SOUZA, Paulo
Renato. O que são empregos e salários. São Paulo: Brasiliense, 1986.
Nenhum comentário:
Postar um comentário