REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DO INTERIOR
DELEGAÇÃO PROVINCIAL DO MININT/BENGO
SERVIÇO
DE PROTECÇÃO CIVIL E BOMBEIROS
PERCEPÇÃO
DAS VIDAS EM RISCO NO SEIO DOS BOMBEIROS DO SPCB
ALICE NANGUEVE JÚNIOR
BENGO
2018
ALICE
NANGUEVE JÚNIOR
PERCEPÇÃO
DAS VIDAS EM RISCO NO SEIO DOS BOMBEIROS DO SPCB
Trabalho de pesquisa bibliográfica apresentado
ao Comando Nacional de Protecção Civil e Bombeiros como requisito parcial para
acesso ao curso de Oficiais Subalternos do SPCB.
NIP: 96160010
Categoria: Agente Bombeira de 3ª Classe
Função: Especialista da Assessoria Jurídica
Local de Trabalho: SPCB/Bengo
Tempo de Serviço: 3 Anos
BENGO
2018
SUMÁRIO
A percepção
deve visar em auscultar os diversos órgãos do MININT para serem discutidos algumas
questões sobre os riscos em relação aos efectivos da Protecção Civil e
Bombeiros. A outra perspectiva é reflectir e prestar contribuições, na
mitigação de factores geradores de riscos e criar um melhor ambiente de
segurança, propício no seio do efectivo sadio, no âmbito da estratégia de
combate pela vida no do efectivo.
A
vulnerabilidade da sociedade em relação aos riscos naturais e tecnológicos é reflectida
no seu grau de preparação para fazer face a estes riscos, ou seja, um fenómeno
idêntico que ocorra com a mesma intensidade em sociedades diferentes, pode ter
efeitos bastante divergentes.
Para além
deste tipo de riscos, convém lembrar aqueles que estão presentes no decurso das
actividades laborais. Indicadores estatísticos nacionais e internacionais
apontam para números dramáticos, resultantes de acidentes, que tiveram por base
a exposição a eventos perigosos, no decurso da realização de tarefas
profissionais.
A forma como
os indivíduos percebem os riscos, em especial no contexto laboral, a que estão
expostos poderá contribuir para uma melhor consciência e gestão dos mesmos, e
assim, contribuir para a melhoria das suas condições de trabalho (Rundmo,
1996). Características socioculturais e mesmo até individuais, de que são
exemplo diferentes tipos de personalidade, podem levar a uma maior ou menor
tendência para aceitar e enfrentar os riscos, ou até, para tentar evitá-los.
É sabido que
as actividades desenvolvidas pelo Efectivo, como a comunicação social têm vindo
a revelar, envolve sérios riscos, muitas vezes com possibilidade de perda da própria
vida.
Com a
realização do presente estudo espera-se contribuir para uma melhor elucidação
de factores relacionados com a Percepção do Risco, enquanto elementos de
influência dos comportamentos de segurança levados a cabo pelos elementos das corporações
de Bombeiros.
O homem com a
finalidade de melhorar as suas condições de vida foi desenvolvendo instrumentos
e materiais essenciais à sua evolução. O desenvolvimento destes materiais veio
trazer novos perigos e riscos, não só para todo o ambiente, em geral, assim
como, para os indivíduos, em particular. Deste modo, o risco esteve sempre e
continuará a estar presente em toda e qualquer actividade humana. Ao longo da
sua evolução, o Homem continuará a ser “agredido pelas suas próprias
descobertas” (Souza, 1995).
A forma como
o homem percebe e assume os riscos com que decide lidar no seu dia-a-dia,
constitui um interessante objecto de estudo, uma vez que, este factor irá
influenciar significativamente a possibilidade de se ver envolvido em
acidentes.
O tema deste
trabalho recai sobre a Percepção das Vidas em Risco no Seio dos Bombeiros do
SPCB. Importa por isso ter presente que as actividades desenvolvidas pelos
Bombeiros envolvem riscos, que não podem ser eliminados, e que é importante
perceber em que medida estes indivíduos percebem estes riscos, de acordo com o
meio em que estão inseridos, assim como, as medidas que tomam perante os
mesmos.
De acordo com
Zêzere et al., (2007), o risco é compreendido como a probabilidade de
ocorrência de um efeito específico causador de danos graves à humanidade e/ou
ao ambiente, num determinado período e em determinadas circunstâncias. Segundo
estes autores o risco revela a possibilidade de ocorrência, e a respectiva
quantificação em termos de custos, de consequências gravosas, económicas ou
mesmo para a segurança das pessoas, em resultado do desencadeamento de um
fenómeno natural ou induzido pela actividade antrópica[1].
O risco pode ser quantitativamente medido pois constitui o produto da
perigosidade pela vulnerabilidade e pelo valor dos elementos em risco.
Risco - combinação
da probabilidade e da (s) consequência (s) da ocorrência de determinado
acontecimento perigoso. O facto da palavra "risco" ter muitos
significados diferentes, causa muitas vezes problemas na comunicação.
Independentemente da sua definição, este assume, as probabilidades e
consequências de eventos adversos.
A percepção é
o processo ou resultado de se tornar consciente de objectos, relacionamentos e
eventos por meio dos sentidos, que inclui actividades como reconhecer, observar
e discriminar (Puy, 1995). A percepção é vista como um processo mental com a
finalidade de dar significado à informação recebida, ou seja, o comportamento
das pessoas é baseado na interpretação que fazem da realidade e depende do
conhecimento e experiências anteriores. A Percepção é tida como a realidade.
Figura 1: Processo Perceptivo
Fonte:
Adaptado de Gardener (1989)
A sensação
pode ser traduzida como a capacidade do efectivo de detectar estímulos no
ambiente próximo. A selecção é representada pelo processo de eliminação de
alguns estímulos que foram detectados e pela retenção de outros para posterior
processamento, a organização é o processo de colocação dos estímulos seleccionados
numa estrutura para “armazenamento”; a interpretação é a fase do processo
preceptivo em que os estímulos são traduzidos e que recebem significado, e
finalmente, a resposta que envolve a predisposição para agir e a respectiva acção
(Gardener, 1989).
Este
conceito, de forma geral, pode ser encarado como o julgamento que os efectivos
do SPCB fazem sobre o potencial grau de ameaça de um determinado acontecimento
ou actividade, as suas atitudes serão determinadas pelo risco percebido e não
pelo risco real. A percepção e avaliação do risco de vida percebido presumem a
identificação subjectiva do perigo, das circunstâncias em que o risco poderá
ocorrer, enquanto, a avaliação subjectiva presume, a sua gravidade e a
vulnerabilidade das pessoas.
A percepção
dos comportamentos e reacções dos efectivos e outros indivíduos perante o risco
e a necessidade de os quantificar e prever a forma como as pessoas pensam sobre
o risco têm sido objecto de investigação desde longa data, dando origem ao
aparecimento de modelos que visam a compreensão do mecanismo da percepção do
risco de vida.
Segundo
Sjoberg et al. (2004), existem duas teorias distintas que dominam a área de percepção
do risco. O paradigma psicométrico assente na psicologia, e abordagens baseadas
na teoria cultural desenvolvida por sociólogos e antropólogos. As abordagens
teóricas a seguir apresentadas contribuíram para o estudo e compreensão da Percepção
do Risco.
Parece que a
sociedade aceita os riscos apenas quando os mesmos estão associados a
benefícios. No entanto, segundo Lima (1998) as pessoas têm tendência para
sobrestimar a probabilidade de ocorrência de um acontecimento que
experienciaram recentemente, os quais são fáceis de imaginar e recordar
(heurística[2]
da disponibilidade). A ênfase dada às heurísticas é também partilhada pelos
autores que se enquadram na abordagem psicométrica.
A abordagem
psicométrica nos vários estudos, desenvolvidos nesta área, mostrou um padrão
semelhante de resultados evidenciando a importância de três dimensões
qualitativas com possível impacto na percepção do risco por parte das pessoas.
A primeira confronta os riscos incontroláveis e fatais com riscos controláveis
e com consequências menos graves (Lima, 1998; Sjoberg et al., 2004). A segunda
confronta os riscos vistos como desconhecidos com riscos mais familiares. A
terceira dimensão prende-se com o número de pessoas expostas a estes riscos
(Lima, 1998; Sjoberget al., 2004).
Esta
abordagem da Percepção do Risco assume que o mesmo pode ser subjectivamente
definido pelos efectivos do SPCB ou outros indivíduos podendo estes ser
influenciados por uma variedade de factores psicológicos, sociais,
institucionais e culturais, avoca ainda, que muitos destes factores podem ser
quantificados (Sjoberg et al., 2004). Desta forma, através deste modelo é
possível quantificar e prever a forma como as pessoas pensam sobre o risco
(Lima, 1998; Sjoberg et al., 2004). Um dos contributos importantes da abordagem
psicométrica foi demonstrar que os pontos de vista das pessoas devem ser tidos
em consideração, não como erros, mas como dados importantes. De igual modo, as
técnicas usadas na abordagem psicométrica podem identificar as similaridades e
diferenças entre grupos no que diz respeito à percepção do risco e atitudes
(Slovic e Weber, 2002; Sjoberg et al., 2004).
Segundo esta
abordagem, para responder adequadamente a uma fonte de perigo o efectivo
precisa de ter uma apreciação precisa da natureza e da magnitude do risco
envolvido. No entanto, essa apreciação nem sempre é processada da forma mais correcta
e muitas vezes as pessoas tomam decisões utilizando regras cognitivas ou heurísticas
(Lima, 1998; Sjoberg et al., 2004).
Outros
estudos mais recentes salientam as diferenças interculturais na percepção do
risco. Os autores que lhe estão associados referem a importância da
identificação dos factores de risco como uma forma de preservação das
sociedades e dos grupos e, portanto, como um “fenómeno eminentemente social e
cultural” (Lima, 1998).
A teoria
cultural da percepção do risco procura explicar a razão pela qual os diferentes
riscos podem obter diferentes importâncias, para diferentes indivíduos e
diferentes comunidades. Sendo assim, e assumindo que a posição de que o risco é
culturalmente construído, a teoria cultural assenta na hipótese de que as
pessoas temem várias coisas e percebem diferentes tipos de perigos dependendo
das suas influências e carga cultural (Jackson et al., 2006). De acordo com a
Psicologia Cognitiva, a abordagem sociocultural apresenta algumas falhas, na
medida em que, subestima a influência dos aspectos individuais na percepção do
risco (Jackson et al., 2006).
O risco real
é definido como aquele que é determinado através do estudo feito por
especialistas, enquanto, o risco percebido é definido como sendo o risco
baseado na experiência ou na intuição de um efectivo ou da sociedade (Lima,
1998; Slovic, 2001). Esta noção de risco, qualitativa, incorpora considerações
como a incerteza, o potencial catastrófico, a controlabilidade, a equidade e o
risco para as gerações futuras em contraste com o conceito dos especialistas,
que não sublinham estas dimensões de risco (Slovic, 2001).
A definição
de uma situação como perigosa, segundo Lima (1999), deverá ser o primeiro passo
para a opção por comportamentos de segurança. Contudo, esta está sujeita a
alguns factores que influenciam de certa forma a identificação dos sinais de
perigo, entre eles a condição física do indivíduo, os perigos no ambiente não detectáveis
(radiações, gases, entre outros), mecanismos de tolerância do indivíduo aos
estímulos e, mesmo que estes sejam detectados, a importância que lhes é dada
depende em grande parte de factores sociais.
O risco
percebido e risco real, são válidos, ou seja, a caracterização da discordância
entre os dois conceitos é essencial para se compreender, da melhor forma, o
mecanismo da percepção do risco e, sobretudo, para saber como influenciar essa percepção,
quer através de estratégias de avaliação do risco, quer para a eficácia da comunicação
sobre riscos (Tanaka, 1998).
As Percepções
de Risco de Vida desempenham um papel importante nas decisões que as pessoas
fazem, no sentido de que diferenças na Percepção de Risco estão no centro de
divergências sobre as decisões a tomar, dignamente, homens vs mulheres, e
pessoas de diferentes culturas, tanto individualmente como em grupo, mostram
diferenças na preferência por alternativas de decisão relativamente à Percepção
do Risco (Slovic, 1987).
Weyman e
Kelly (1999) chegaram a uma conclusão semelhante, de acordo com as suas
opiniões sobre a Percepção de Risco, a fim de entender as reacções das pessoas
ao risco, é necessário ter em conta o contexto social e cultural em que surgem
os riscos, assim com, a maneira pela qual estas variáveis moldam as atitudes
das pessoas, crenças e comportamento.
Figura 2: Relação entre Gestão dos Riscos,
Avaliação do Risco e Política
Fonte:
Adaptado de Weyman e Kelly (1999)
2.6
As pessoas
com maior aversão ao risco tendem a demonstrar mais tendência para a
preocupação e valorizar o risco associado a acontecimentos desconhecidos. As
pessoas que decidem, enfrentar o risco mais facilmente revelam um percepção
mais reduzida desses riscos, pelo contrário, as pessoas que demonstram níveis
mais elevados de aversão ao risco estão mais vulneráveis a apresentar percepções
de riscos superiores. Uma maior tolerância ao risco poderá estar associada a ganhos
secundários derivados deste comportamento (Areosa, 2012).
Com base na
pesquisa feita e pela experiência profissional, cheguei à conclusão de que o
agente de SPCB na sua vida diária, faz o uso de substâncias químicas para extinção
de incêndio e, de uma forma geral, coloca-se vidas em risco.
As chamas, o
fumo e o gás são substâncias que oferecem riscos às nossas vidas, esta função
precisa de uma atenção especial particularmente por que onde encontra os
efectivos a efectuarem trabalhos, tais como os equipamentos de protecção
individual.
Pois sabemos
que os riscos que estaríamos a enfrentar se não fizermos o uso dos mesmos, mas
ainda assim, por amor a profissão, o agente do SPCB oferece-se a dar sua vida
para salvar vidas, estas dificuldades passa-nos de vista por não haver
equipamentos adequados para este fim.
Outrossim, um
dos factores de riscos na vida do agente do SPCB é o uso do alcoolismo
tabagismo e outras drogas que podem prejudicar a vida do efectivo, e chamarmos
a maior atenção aos usuários dessas mesmas substâncias a fim de promoverem
tanto a sua própria segurança e das pessoas que eles servem – O cidadão.
Areosa, J.
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Weyman, A., Kelly, C. (1999) Risk
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Safety Executive Contract Research Report No. 248/1999, United Kingdom.
[1]
Antrópico é um termo usado em Ecologia que se refere à tudo aquilo que resulta
da actuação humana.
[2]
Heurísticas são processos cognitivos empregados em decisões não racionais,
sendo definidas como estratégias que ignoram parte da informação com o
objectivo de tornar a escolha mais fácil e rápida; Heurística é a arte de
descobrir e inventar, uma característica típica dos seres humanos,
principalmente quando estes estão em busca de respostas para questões
complexas.
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