sexta-feira, 18 de maio de 2018

PERCEPÇÃO DAS VIDAS EM RISCO NO SEIO DOS BOMBEIROS DO SPCB - TRABALHO COMPLETO


REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DO INTERIOR
DELEGAÇÃO PROVINCIAL DO MININT/BENGO
SERVIÇO DE PROTECÇÃO CIVIL E BOMBEIROS













PERCEPÇÃO DAS VIDAS EM RISCO NO SEIO DOS BOMBEIROS DO SPCB











ALICE NANGUEVE JÚNIOR














BENGO
2018

ALICE NANGUEVE JÚNIOR














PERCEPÇÃO DAS VIDAS EM RISCO NO SEIO DOS BOMBEIROS DO SPCB







Trabalho de pesquisa bibliográfica apresentado ao Comando Nacional de Protecção Civil e Bombeiros como requisito parcial para acesso ao curso de Oficiais Subalternos do SPCB.






NIP: 96160010
Categoria: Agente Bombeira de 3ª Classe
Função: Especialista da Assessoria Jurídica
Local de Trabalho: SPCB/Bengo
Tempo de Serviço: 3 Anos









BENGO
2018

SUMÁRIO







A percepção deve visar em auscultar os diversos órgãos do MININT para serem discutidos algumas questões sobre os riscos em relação aos efectivos da Protecção Civil e Bombeiros. A outra perspectiva é reflectir e prestar contribuições, na mitigação de factores geradores de riscos e criar um melhor ambiente de segurança, propício no seio do efectivo sadio, no âmbito da estratégia de combate pela vida no do efectivo.

A vulnerabilidade da sociedade em relação aos riscos naturais e tecnológicos é reflectida no seu grau de preparação para fazer face a estes riscos, ou seja, um fenómeno idêntico que ocorra com a mesma intensidade em sociedades diferentes, pode ter efeitos bastante divergentes.

Para além deste tipo de riscos, convém lembrar aqueles que estão presentes no decurso das actividades laborais. Indicadores estatísticos nacionais e internacionais apontam para números dramáticos, resultantes de acidentes, que tiveram por base a exposição a eventos perigosos, no decurso da realização de tarefas profissionais.

A forma como os indivíduos percebem os riscos, em especial no contexto laboral, a que estão expostos poderá contribuir para uma melhor consciência e gestão dos mesmos, e assim, contribuir para a melhoria das suas condições de trabalho (Rundmo, 1996). Características socioculturais e mesmo até individuais, de que são exemplo diferentes tipos de personalidade, podem levar a uma maior ou menor tendência para aceitar e enfrentar os riscos, ou até, para tentar evitá-los.

É sabido que as actividades desenvolvidas pelo Efectivo, como a comunicação social têm vindo a revelar, envolve sérios riscos, muitas vezes com possibilidade de perda da própria vida.

Com a realização do presente estudo espera-se contribuir para uma melhor elucidação de factores relacionados com a Percepção do Risco, enquanto elementos de influência dos comportamentos de segurança levados a cabo pelos elementos das corporações de Bombeiros.



O homem com a finalidade de melhorar as suas condições de vida foi desenvolvendo instrumentos e materiais essenciais à sua evolução. O desenvolvimento destes materiais veio trazer novos perigos e riscos, não só para todo o ambiente, em geral, assim como, para os indivíduos, em particular. Deste modo, o risco esteve sempre e continuará a estar presente em toda e qualquer actividade humana. Ao longo da sua evolução, o Homem continuará a ser “agredido pelas suas próprias descobertas” (Souza, 1995).

A forma como o homem percebe e assume os riscos com que decide lidar no seu dia-a-dia, constitui um interessante objecto de estudo, uma vez que, este factor irá influenciar significativamente a possibilidade de se ver envolvido em acidentes.

O tema deste trabalho recai sobre a Percepção das Vidas em Risco no Seio dos Bombeiros do SPCB. Importa por isso ter presente que as actividades desenvolvidas pelos Bombeiros envolvem riscos, que não podem ser eliminados, e que é importante perceber em que medida estes indivíduos percebem estes riscos, de acordo com o meio em que estão inseridos, assim como, as medidas que tomam perante os mesmos.



De acordo com Zêzere et al., (2007), o risco é compreendido como a probabilidade de ocorrência de um efeito específico causador de danos graves à humanidade e/ou ao ambiente, num determinado período e em determinadas circunstâncias. Segundo estes autores o risco revela a possibilidade de ocorrência, e a respectiva quantificação em termos de custos, de consequências gravosas, económicas ou mesmo para a segurança das pessoas, em resultado do desencadeamento de um fenómeno natural ou induzido pela actividade antrópica[1]. O risco pode ser quantitativamente medido pois constitui o produto da perigosidade pela vulnerabilidade e pelo valor dos elementos em risco.

Risco - combinação da probabilidade e da (s) consequência (s) da ocorrência de determinado acontecimento perigoso. O facto da palavra "risco" ter muitos significados diferentes, causa muitas vezes problemas na comunicação. Independentemente da sua definição, este assume, as probabilidades e consequências de eventos adversos.



A percepção é o processo ou resultado de se tornar consciente de objectos, relacionamentos e eventos por meio dos sentidos, que inclui actividades como reconhecer, observar e discriminar (Puy, 1995). A percepção é vista como um processo mental com a finalidade de dar significado à informação recebida, ou seja, o comportamento das pessoas é baseado na interpretação que fazem da realidade e depende do conhecimento e experiências anteriores. A Percepção é tida como a realidade.

Figura 1: Processo Perceptivo
Fonte: Adaptado de Gardener (1989)
A sensação pode ser traduzida como a capacidade do efectivo de detectar estímulos no ambiente próximo. A selecção é representada pelo processo de eliminação de alguns estímulos que foram detectados e pela retenção de outros para posterior processamento, a organização é o processo de colocação dos estímulos seleccionados numa estrutura para “armazenamento”; a interpretação é a fase do processo preceptivo em que os estímulos são traduzidos e que recebem significado, e finalmente, a resposta que envolve a predisposição para agir e a respectiva acção (Gardener, 1989).


Este conceito, de forma geral, pode ser encarado como o julgamento que os efectivos do SPCB fazem sobre o potencial grau de ameaça de um determinado acontecimento ou actividade, as suas atitudes serão determinadas pelo risco percebido e não pelo risco real. A percepção e avaliação do risco de vida percebido presumem a identificação subjectiva do perigo, das circunstâncias em que o risco poderá ocorrer, enquanto, a avaliação subjectiva presume, a sua gravidade e a vulnerabilidade das pessoas.

A percepção dos comportamentos e reacções dos efectivos e outros indivíduos perante o risco e a necessidade de os quantificar e prever a forma como as pessoas pensam sobre o risco têm sido objecto de investigação desde longa data, dando origem ao aparecimento de modelos que visam a compreensão do mecanismo da percepção do risco de vida.

Segundo Sjoberg et al. (2004), existem duas teorias distintas que dominam a área de percepção do risco. O paradigma psicométrico assente na psicologia, e abordagens baseadas na teoria cultural desenvolvida por sociólogos e antropólogos. As abordagens teóricas a seguir apresentadas contribuíram para o estudo e compreensão da Percepção do Risco.


Parece que a sociedade aceita os riscos apenas quando os mesmos estão associados a benefícios. No entanto, segundo Lima (1998) as pessoas têm tendência para sobrestimar a probabilidade de ocorrência de um acontecimento que experienciaram recentemente, os quais são fáceis de imaginar e recordar (heurística[2] da disponibilidade). A ênfase dada às heurísticas é também partilhada pelos autores que se enquadram na abordagem psicométrica.


A abordagem psicométrica nos vários estudos, desenvolvidos nesta área, mostrou um padrão semelhante de resultados evidenciando a importância de três dimensões qualitativas com possível impacto na percepção do risco por parte das pessoas. A primeira confronta os riscos incontroláveis e fatais com riscos controláveis e com consequências menos graves (Lima, 1998; Sjoberg et al., 2004). A segunda confronta os riscos vistos como desconhecidos com riscos mais familiares. A terceira dimensão prende-se com o número de pessoas expostas a estes riscos (Lima, 1998; Sjoberget al., 2004).

Esta abordagem da Percepção do Risco assume que o mesmo pode ser subjectivamente definido pelos efectivos do SPCB ou outros indivíduos podendo estes ser influenciados por uma variedade de factores psicológicos, sociais, institucionais e culturais, avoca ainda, que muitos destes factores podem ser quantificados (Sjoberg et al., 2004). Desta forma, através deste modelo é possível quantificar e prever a forma como as pessoas pensam sobre o risco (Lima, 1998; Sjoberg et al., 2004). Um dos contributos importantes da abordagem psicométrica foi demonstrar que os pontos de vista das pessoas devem ser tidos em consideração, não como erros, mas como dados importantes. De igual modo, as técnicas usadas na abordagem psicométrica podem identificar as similaridades e diferenças entre grupos no que diz respeito à percepção do risco e atitudes (Slovic e Weber, 2002; Sjoberg et al., 2004).

Segundo esta abordagem, para responder adequadamente a uma fonte de perigo o efectivo precisa de ter uma apreciação precisa da natureza e da magnitude do risco envolvido. No entanto, essa apreciação nem sempre é processada da forma mais correcta e muitas vezes as pessoas tomam decisões utilizando regras cognitivas ou heurísticas (Lima, 1998; Sjoberg et al., 2004).
Outros estudos mais recentes salientam as diferenças interculturais na percepção do risco. Os autores que lhe estão associados referem a importância da identificação dos factores de risco como uma forma de preservação das sociedades e dos grupos e, portanto, como um “fenómeno eminentemente social e cultural” (Lima, 1998).


A teoria cultural da percepção do risco procura explicar a razão pela qual os diferentes riscos podem obter diferentes importâncias, para diferentes indivíduos e diferentes comunidades. Sendo assim, e assumindo que a posição de que o risco é culturalmente construído, a teoria cultural assenta na hipótese de que as pessoas temem várias coisas e percebem diferentes tipos de perigos dependendo das suas influências e carga cultural (Jackson et al., 2006). De acordo com a Psicologia Cognitiva, a abordagem sociocultural apresenta algumas falhas, na medida em que, subestima a influência dos aspectos individuais na percepção do risco (Jackson et al., 2006).


O risco real é definido como aquele que é determinado através do estudo feito por especialistas, enquanto, o risco percebido é definido como sendo o risco baseado na experiência ou na intuição de um efectivo ou da sociedade (Lima, 1998; Slovic, 2001). Esta noção de risco, qualitativa, incorpora considerações como a incerteza, o potencial catastrófico, a controlabilidade, a equidade e o risco para as gerações futuras em contraste com o conceito dos especialistas, que não sublinham estas dimensões de risco (Slovic, 2001).

A definição de uma situação como perigosa, segundo Lima (1999), deverá ser o primeiro passo para a opção por comportamentos de segurança. Contudo, esta está sujeita a alguns factores que influenciam de certa forma a identificação dos sinais de perigo, entre eles a condição física do indivíduo, os perigos no ambiente não detectáveis (radiações, gases, entre outros), mecanismos de tolerância do indivíduo aos estímulos e, mesmo que estes sejam detectados, a importância que lhes é dada depende em grande parte de factores sociais.

O risco percebido e risco real, são válidos, ou seja, a caracterização da discordância entre os dois conceitos é essencial para se compreender, da melhor forma, o mecanismo da percepção do risco e, sobretudo, para saber como influenciar essa percepção, quer através de estratégias de avaliação do risco, quer para a eficácia da comunicação sobre riscos (Tanaka, 1998).






As Percepções de Risco de Vida desempenham um papel importante nas decisões que as pessoas fazem, no sentido de que diferenças na Percepção de Risco estão no centro de divergências sobre as decisões a tomar, dignamente, homens vs mulheres, e pessoas de diferentes culturas, tanto individualmente como em grupo, mostram diferenças na preferência por alternativas de decisão relativamente à Percepção do Risco (Slovic, 1987).

Weyman e Kelly (1999) chegaram a uma conclusão semelhante, de acordo com as suas opiniões sobre a Percepção de Risco, a fim de entender as reacções das pessoas ao risco, é necessário ter em conta o contexto social e cultural em que surgem os riscos, assim com, a maneira pela qual estas variáveis moldam as atitudes das pessoas, crenças e comportamento.

Figura 2: Relação entre Gestão dos Riscos, Avaliação do Risco e Política
Fonte: Adaptado de Weyman e Kelly (1999)

2.6
As pessoas com maior aversão ao risco tendem a demonstrar mais tendência para a preocupação e valorizar o risco associado a acontecimentos desconhecidos. As pessoas que decidem, enfrentar o risco mais facilmente revelam um percepção mais reduzida desses riscos, pelo contrário, as pessoas que demonstram níveis mais elevados de aversão ao risco estão mais vulneráveis a apresentar percepções de riscos superiores. Uma maior tolerância ao risco poderá estar associada a ganhos secundários derivados deste comportamento (Areosa, 2012).




Com base na pesquisa feita e pela experiência profissional, cheguei à conclusão de que o agente de SPCB na sua vida diária, faz o uso de substâncias químicas para extinção de incêndio e, de uma forma geral, coloca-se vidas em risco.

As chamas, o fumo e o gás são substâncias que oferecem riscos às nossas vidas, esta função precisa de uma atenção especial particularmente por que onde encontra os efectivos a efectuarem trabalhos, tais como os equipamentos de protecção individual.

Pois sabemos que os riscos que estaríamos a enfrentar se não fizermos o uso dos mesmos, mas ainda assim, por amor a profissão, o agente do SPCB oferece-se a dar sua vida para salvar vidas, estas dificuldades passa-nos de vista por não haver equipamentos adequados para este fim.

Outrossim, um dos factores de riscos na vida do agente do SPCB é o uso do alcoolismo tabagismo e outras drogas que podem prejudicar a vida do efectivo, e chamarmos a maior atenção aos usuários dessas mesmas substâncias a fim de promoverem tanto a sua própria segurança e das pessoas que eles servem – O cidadão.
   



Areosa, J. (2012) - A importância das perceções de riscos dos trabalhadores. International Journal on Working Conditions, No. 3, ISSN 2182-4096, p. 55-64.

Gardner, G. T. & Gould, L. C. (1989). Public perceptions of the risk and benefits of technology. Risk Analysis.

Jackson, J.; Allum, N.; Gaskell, G. (2006) – Bridging Levels of Analysis in Risk Perception Research: The Cases of the Fear of Crime. Fórum: Qualitative Social Research, vol.7.

Lima, M. L. (1998) – Fatores sociais na perceção de riscos. Psicologia. Volume XII, nº 1. Revista da Associação Portuguesa de Psicologia, Celta Editora, p. 11-28.

Puy, Ana (1995) – Percepción social de los riesgos. Fundación Mapfre.

Rundmo, T. (1996) - Associations between risk perception and safety, Safety Science, vol. 24, No. 3. p. 197-209.

Sjoberg, L.; Bjorg-Elin M.; Rundmo, T. (2004) – Explaining risk perception. Na evaluation of the psychometric paradigm in risk perception research. Rotunde, nº 84.9

Slovic, P. (2001) – The risk game. Journal of Hazardous Materials 86: p. 17-24.

Souza, E. (1995) - O treinamento industrial e a gerência de riscos – uma proposta de instrução programada, Tese de Mestrado em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil.

Tanaka, Y. (1998) Psychological dimensions of risk assessment: Risk perception and risk communication, Progress in Nuclear Energy, vol. 32, no. 3-4, p. 243-253.

Weyman, A., Kelly, C. (1999) Risk perception and risk communication: a review of the literature, Health and Safety Executive Contract Research Report No. 248/1999, United Kingdom.

Zêzere J, Ramos-Pereira A, Morgado P (2007) Perigos Naturais em Portugal e Ordenamento do Território. E depois do PNPOT? Geographilia – o sentir e os sentidos da Geografia. C.E.G : p. 529- 542.

Weyman, A., Kelly, C. (1999) Risk perception and risk communication: a review of the literature, Health and Safety Executive Contract Research Report No. 248/1999, United Kingdom.


[1] Antrópico é um termo usado em Ecologia que se refere à tudo aquilo que resulta da actuação humana.
[2] Heurísticas são processos cognitivos empregados em decisões não racionais, sendo definidas como estratégias que ignoram parte da informação com o objectivo de tornar a escolha mais fácil e rápida; Heurística é a arte de descobrir e inventar, uma característica típica dos seres humanos, principalmente quando estes estão em busca de respostas para questões complexas.

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