INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO
INOCÊNCIO NANGA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
ADMINISTRAÇÃO DE ENFERMAGEM
DOENÇAS PROFISSIONAIS EM TRABALHADORES
DA SAÚDE
LUANDA
2016
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO
INOCÊNCIO NANGA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
ADMINISTRAÇÃO DE ENFERMAGEM
DOENÇAS PROFISSIONAIS EM TRABALHADORES
DA SAÚDE
- A EQUIPA DE ENFERMAGEM
EDNA CORREIA
HENRIQUES PEDRO SERAFIM
JOÃO JOSÉ CASSULE
|
LUANDA
2016
RESUMO
A equipa de
enfermagem é constantemente exposta a agentes químicos, físicos e biológicos no
ambiente de trabalho, aumentando riscos para desenvolvimento das doenças
ocupacionais. Estabeleceu-se como objectivos para o estudo: identificar através
da produção científica as doenças ocupacionais decorrentes do trabalho de
enfermagem e caracterizar os factores desencadeantes das doenças ocupacionais
na equipa de enfermagem. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, através
de uma revisão bibliográfica de artigos científicos. A análise ocorreu a partir
de 25 artigos, em que se evidenciou que os profissionais da equipa de enfermagem
mais acometidos por Doenças Ocupacionais são mulheres. As doenças acometidas
pela equipa de enfermagem decorrentes do trabalho são Doenças Osteomusculares
Relacionadas ao Trabalho, Síndrome de Burnout, Depressão, Afecções do Trato
Respiratório, Trato Urinário e Dermatoses. Os factores que levam a essas
doenças são múltiplos. É necessário que o gestor invista em uma visão ergonómica
para melhorar as condições ambientais e a qualidade da saúde do trabalhador.
Palavras-chave: Profissional de
Enfermagem. Saúde do Trabalhador. Doenças Ocupacionais. Cuidados, Prevenção.
ABSTRACT
The nursing staff is constantly exposed to chemical,
physical, and biological agents in the workplace that increase their risks of
development of occupational diseases. The objectives of this study were
established as: to identify, in the literature, the occupational diseases
arising from nursing activities and characterize the triggers of occupational
diseases affecting nursing teams. This was an exploratory and descriptive
research, through a literature review of scientific articles in the theme. The
analysis was based on 25 articles and evidenced that women are the most
affected by Occupational Diseases in the professional nursing staff. The
illnesses affecting the nursing staff are Musculoskeletal Disorders related to
work, Burnout Syndrome, Depression, Disorders of the Respiratory and Urinary Tract,
and Dermatomes. There are multiple factors that could cause these diseases.
There is an evident need for management to invest in an ergonomic vision to
improve the environmental conditions and quality of health of workers.
Keywords: Nursing Professional. Occupational Health.
Occupational Diseases. Care. Prevention.
SUMÁRIO
É fácil perceber
que os profissionais de enfermagem pouco se preocupam com sua saúde, se
comparados aos cuidados que prestam ao “outro”. Muitas vezes estes não têm
condições adequadas de trabalho, como por exemplo: jornadas duplas de trabalho,
baixa remuneração, falta de materiais e de pessoal, exposição à riscos e
excessiva quantidade de trabalho. Estas situações predispõem à doenças ocupacionais
levando ao adoecimento do trabalho, problemas graves de saúde e ao absenteísmo.
Frente ao exposto resolvi abordar através de uma pesquisa bibliográfica a
relação do trabalho dos profissionais enfermeiros e o aparecimento de doenças.
Os profissionais de
enfermagem compõem um conjunto numeroso de pessoas dentro de uma instituição. São
trabalhadores que prestam assistência e gestão vinte e quatro horas por dia,
sendo de singular importância a prevenção e promoção de saúde desta equipa
(Costa et al, 2009). O trabalho da enfermagem, enquanto constituidor do trabalho
colectivo em saúde tem suas próprias especificidades, cabendo à equipa de enfermagem
cuidar e educar em saúde, tornando esse factor uma responsabilidade para o
profissional muito grande, o que muitas vezes pode gerar doenças ocupacionais.
Estas são moléstias
de evolução lenta e progressiva, originárias de causa igualmente gradativa e
durável, vinculadas às condições de trabalho. A legislação em vigor subdivide e
equipara as doenças ocupacionais em: doença profissional e doença do trabalho,
conforme artigo 20, incisos I e II da Lei 8.213/1991. As moléstias laborativas
subdividem-se em tecnopatias, ergonopatias ou doenças profissionais típicas,
inerentes a alguns trabalhos peculiares ou a determinadas actividades
laborativas, com nexo causal presumido, razão pela qual o infortunado fica
dispensado de comprovar o mesmo. As mesopatias ou doenças do trabalho, também
denominadas moléstias profissionais atípicas, normalmente decorrentes das
condições de agressividade existentes no local de trabalho, que agiram decididamente,
seja para acelerar, eclodir ou agravar a saúde do trabalhador (Costa, ibid.,
p.144).
O presente estudo
tem por objecto mostrar as doenças ocupacionais decorrentes do trabalho da
enfermagem tendo como questões norteadoras:
·
Quais as doenças ocupacionais
desenvolvidas pela equipa de enfermagem, segundo a literatura?
·
Quais os factores de riscos que justificam
o aparecimento de doenças ocupacionais na equipa de enfermagem?
Traçamos como objectivo
identificar através da produção científica as doenças ocupacionais decorrentes
do trabalho de enfermagem.
Caracterizar os factores que vão desencadear
as doenças na equipa de enfermagem, segundo literatura.
O trabalho da
enfermagem é característico no qual existe uma valorização do único, do
particular, do específico, do subjectivo, do senso comum, das crenças, dos
mitos, dos rituais, do místico, do conhecimento popular e do benefício social.
(Spindola, 2005, p.157).
O trabalho da
enfermagem, enquanto constituidor do trabalho colectivo em saúde, tem suas
próprias especificidades. Estas especificidades dizem respeito às acções de prestar
um cuidado, de mediá-lo para a equipa de enfermagem e de saúde e também de
educar em saúde (Kirchhof, 2003).
Sanna (2007, p.221)
define processo de trabalho, [...] como a transformação de um objecto
determinado em um produto determinado, por meio da intervenção do ser humano
que, para fazê-lo, emprega instrumentos.
A qualidade de vida
no trabalho (QVT) tem sido objecto de preocupação entre profissionais de
diferentes áreas e muitas vezes é avaliada como sendo a satisfação e o
bem-estar do trabalhador durante a execução de sua tarefa. Nos últimos anos a
QVT tem sido entendida como a gestão dinâmica e contingencial de factores
físicos, tecnológicos e sócio-psicológicos que afectam a cultura e renovam o
clima organizacional, reflectindo-se no bem-estar do trabalhador e na
produtividade da empresa, ora associando-se às características intrínsecas das
tecnologias introduzidas nas empresas e ao seu impacto; ora aos elementos económicos,
como salário, incentivos, abonos, ou ainda aos factores ligados à saúde física,
mental e à segurança e, em geral, ao bem-estar dos trabalhadores (Schmidt et
al, 2007).
O profissional de
enfermagem vive, muitas vezes, em seu ambiente laboral em torno de um terço de
sua vida, um ambiente que se transforma constantemente, com novas tecnologias,
novas posturas frente às necessidades de mercado, interferindo nas relações de
trabalho. Em muitas situações, as causas do adoecimento originam-se das
relações de trabalho que causam desconforto, conflitos, estresse e em situações
extremas, diminuição da capacidade vital, o que pode vir desencadear a morte do
profissional (Teixeira, 2007).
A Organização
Internacional do Trabalho (2005) estima que ocorram, anualmente, no mundo,
cerca de cento e sessenta milhões de doenças profissionais, dados esses
baseados somente em doenças não transmissíveis. Deste total, morrem aproximadamente
dois milhões de trabalhadores a cada ano, acometidos de doenças ocupacionais ou
acidentes ocorridos no ambiente de trabalho. Assim, pode-se perceber que, na actualidade,
a doenças ocupacionais constituem um importante problema de saúde pública em
todo o mundo.
Em um estudo
realizado por Barboza e Soler (2003), percebeu-se que dos 662 episódios de
afastamentos no local de trabalho em um hospital geral de ensino, a maior predominância
de afastamentos ocorreu por doenças do aparelho geniturinário e doenças mal
definidas. O local de trabalho no qual houve maior número de afastamentos foram
os sectores especializados e unidade de terapia intensiva (UTI).
Segundo Leite;
Silva e Merighi (2007) no ambiente ocupacional existem vários factores ergonómicos
relacionados a problemas ambientais e organizacionais que aumentam o risco do
surgimento das DORT (Distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho), entre
eles estão à presença de recursos tecnológicos inadequados, incluindo
mobiliário, a falta de equipamentos especiais para movimentar pacientes, além
da escassez de recursos humanos e a falta de educação permanente em saúde.
Entre os problemas
com menor incidência destacam-se aquelas relacionadas ao sistema nervoso
central, manifestado por cefaleias e enxaquecas, relacionadas ao estresse e à
Síndrome de Burnout (Silva e Marziale, 2003).
Estudos recentes, têm
demonstrado que, acidentes no trabalho continuam a ocorrer de maneira elevada.
De fato a aplicação de precauções e intervenções no processo de trabalho não
são suficientes para garantir as medidas de prevenção, devendo fazer parte das
estratégias as reflexões a respeito das mudanças de comportamento e as causas
dos acidentes. A não adesão ou a baixa adesão às recomendações das barreiras de
protecção é uma realidade, o que leva a indagar sobre outros factores, que
podem estar contribuindo para este tipo de comportamento (Castro et al, 2010).
Artigos científicos
analisados evidenciaram que o corpo do profissional da equipa de enfermagem é
constantemente exposto a agentes químicos, físicos, biológicos e ergonómicos o
que aumenta significativamente os riscos para desenvolver doenças ocupacionais
tais como: Doenças Osteomusculares, Síndrome de Burnout, Depressão, Afecções do
Trato Respiratório, Afecções do Trato Urinário, Dermatoses, entre outras que
põem em risco a qualidade do trabalho e a qualidade de vida do profissional da
enfermagem[1].
Segundo Shimizu e
Ribeiro (2007), possivelmente o auxiliar de enfermagem é a categoria que mais
sofre acidentes, porque assume a parcela dos cuidados direitos a pacientes na
enfermagem, seguidos dos enfermeiros, que desenvolvem procedimentos mais
complexos e cuidados com pacientes graves.
Depreende-se da prelecção
exposta acima que os técnicos de enfermagem desempenham a etapa mais braçal do
atendimento, o que acarreta uma exposição maior aos riscos ergonómicos,
desencadeando moléstias na coluna vertebral e nos membros superiores. No
entanto, os enfermeiros também são expostos aos agentes dessa natureza, mas,
obviamente, numa escala menor, o que se deve ao preparo intelectual mais
aprimorado pelas lições auferidas na academia.
Monteiro, Benatti e
Rodrigues (2009), em relação à categoria profissional, diz que os auxiliares de
enfermagem foram os mais acidentados. Os estudos de Alves e Godoy (2001)
demonstram que quanto mais baixo o nível hierárquico ocupado pelos trabalhadores
da equipa de enfermagem, maior a probabilidade de afastamentos por motivos de
adoecimento. Tal fato talvez se explique pela natureza do trabalho desenvolvido
pelo auxiliar de enfermagem: tarefas que exigem maior esforço físico, actividades
repetitivas e monótonas, e o contacto muito próximo com o sofrimento.
Marziale e
Rodrigues (2001) em levantamento realizado a partir de cinquenta e cinco
pesquisas já publicadas, constatou que a categoria mais acometida também foi a
de auxiliares de enfermagem. Vale ressaltar que a equipa de enfermagem é
composta, em sua maioria, pelo sexo feminino, segundo Costa, Vieira e Sena
(2009) isso ocorre devido a factores históricos, mantiveram-se, para as
mulheres, as características de subordinação e de mão-de-obra barata com carácter
servil.
Para as mulheres a
dupla jornada de trabalho é um agravante, pois além da rotina hospitalar ainda
tem que lidar com os encargos domésticos e o cuidado com os filhos, contribuindo
assim para o aumento de acidentes resultando assim no aumento do absenteísmo.
(COSTA; VIEIRA e SENA, 2009).
A enfermagem
estabelece uma actividade focada nas práticas das técnicas e na prática do
conhecimento administrativo, “o que se configura na génese da divisão técnica e
social desses trabalhadores, à medida que ocorre uma separação entre a
concepção e a execução das actividades do cuidado”. (GOMES, et al, 1997).
Monteiro, Benatti e
Rodrigues (2009) apontam para o predomínio do sexo feminino, dentre os
trabalhadores acidentados (83,6%). No processo de trabalho nos hospitais, a
maioria dos componentes da equipa de enfermagem e pessoal de apoio compõe-se do
sexo feminino, o que explica o índice apresentado. Portanto, os mais expostos
às situações de risco são as mulheres, as quais muitas vezes assumem riscos não
condizentes com seu porte físico, como por exemplo, a realização de
procedimentos que demandem o uso da força para o deslocamento do paciente.
Shimizu e Ribeiro
(2002) após estudo verificaram que os estudantes e trabalhadores da saúde que
realizam cuidados direitos aos pacientes e utilizam materiais perfurantes ou
cortantes na execução de procedimentos estão mais expostos a acidentes de
trabalho. Identificando ainda que esses acidentes ocorram em praticamente todas
as unidades do hospital, sendo mais frequentes, nas unidades onde o ritmo de
trabalho é mais intenso, consequentemente o desgaste do trabalhador é maior.
A escassez de
enfermeiros aliada a uma demanda excessiva gera a exaustão do profissional,
ocasionando uma susceptibilidade maior aos riscos de toda ordem, pois expõe a
acidentes com instrumentos de trabalho, ao desgaste psíquico, dentre outros.
Classicamente, os factores
de risco para a saúde e segurança dos trabalhadores, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde, podem ser classificados em cinco grupos: físicos:
ruído, vibração, radiação ionizante e não-ionizante, temperaturas extremas
(frio e calor), entre outros; químicos: agentes e substâncias químicas, sob a
forma líquida, gasosa ou de partículas e poeiras minerais e vegetais, comuns
nos processos de trabalho; biológicos: vírus, bactérias, parasitas, geralmente
associados ao trabalho em hospitais; ergonómicos e psicossociais: que decorrem
da organização e gestão do trabalho; de acidentes: ligados à protecção das
máquinas, arranjo físico, ordem e limpeza do ambiente de trabalho, sinalização,
rotulagem de produtos e outros que podem levar a acidentes de trabalho.
Logo, a inadequação das condições de trabalho nas
instituições hospitalares, quando estas funcionam de forma improvisada ou
indesejável, irá caracterizar a maior exposição dos trabalhadores aos agentes
de riscos ocupacionais, incluindo os fatores de violência aos quais eles ficam
expostos durante sua atividade laboral. É mister destacar que o meio ambiente
de trabalho relaciona-se às condições físicas, químicas, biológicas e
ambientais, que determinam a atividade dos trabalhadores. Como consequência,
além do adoecimento propriamente dito, as condições de trabalho e a exposição
dos trabalhadores às cargas implicam em diminuição da capacidade para o
trabalho, absenteísmo, elevado custo dos afastamentos, morte e qualidade da
assistência prestada aos pacientes.
As principais
patologias que acometem a saúde do enfermeiro estão associadas a diversos
riscos presentes no ambiente de trabalho das unidades hospitalares, dentre os
quais se destacam os relativos aos agentes biológicos, psicológicos e à
ergonomia.
2.2.2
No que tange aos
aspectos relacionados aos agentes biológicos, os materiais perfuro/cortantes
oferecem grande risco de contactos com sangue, fluidos e com a pele do
paciente. Quando o acidente ocorre com material contaminado pode acarretar doenças
como a Hepatite B (transmitida pelo vírus HBV), Hepatite C (transmitida pelo
vírus HCV) e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – AIDS (transmitida pelo
vírus HIV). O acidente pode ter repercussões psicossociais, levando a mudanças
nas relações sociais, familiares e de trabalho. As reacções psicossomáticas
pós-profilaxia, utilizada devido à exposição ocupacional e ao impacto
emocional, também são aspectos preocupantes. (MARZIALE; NISHIMURA e FERREIRA,
2004).
A maior incidência
de risco biológico configura-se nas picadas de agulhas e o ambiente de trabalho
hospitalar tem sido considerado insalubre, tendo em vista que agrupa pacientes
portadores de muitas patologias infecto-contagiosas, ocasionado riscos de
acidentes e doenças para os trabalhadores da saúde. Infelizmente, as medidas
preventivas não se apresentam eficazes, tendo em vista que os acidentes com
agulhas são ainda em grande número, sendo o principal motivo de ocorrências
(MARZIALE; NISHIMURA e FERREIRA, 2004).
Em sua pesquisa
Bonini, Zeviani e Canini (2007) observaram que em relação ao tempo de
experiência profissional na enfermagem, o risco de acidente decrescia
progressivamente para cada ano de prática profissional e que enfermeiros com
menos de cinco anos de experiência profissional tiveram 1,48 mais chance de se
acidentarem.
Segundo o estudo de
Marziale, Nishimura e Ferreira (2004), foram possíveis realizar a observação
documental nos prontuários, constatando o registo de episódios de inoculações
acidentais ocorridas em período anterior e posterior a 1999. O que nos leva a
considerar que as medidas preventivas utilizadas precisam ser revistas, pois os
mesmos trabalhadores continuam se acidentando.
No mesmo estudo
identificou-se que as agulhas foram os objectos causadores do maior número de
acidentes, o risco de transmissão de infecção, através de uma agulha
contaminada, é de um em três para Hepatite B, um em trinta para Hepatite C e um
em trezentos para HIV, entretanto, merece destaque que não apenas a manipulação
das agulhas, ou cateteres intravenosos, constitui risco, mas também a maneira e
o local de descarte do material perfuro cortante.
Marziale, Nishimura
e Ferreira (2004) no estudo com 30 sujeitos acometidos por inoculações
acidentais obtiveram como resultados dos exames laboratoriais positivos para a
presença do vírus HIV em 03 pacientes fonte e negativo em 27 pacientes fonte.
Quanto aos exames laboratoriais dos trabalhadores, 29 foram negativos para o
vírus HIV e 01 trabalhador teve resultado de exame indeterminado, sendo colectado
novo material para teste (ELISA - Western Blot), cujo resultado foi negativo.
Sendo revelado que nenhum dos trabalhadores foi contaminado pelos vírus HBV,
HCV, ou HIV, no entanto foi observado que apenas 23,33% dos trabalhadores
compareceram a todos os retornos agendados para verificação de possível soro
conversão e que a imunização dos profissionais contra a Hepatite B estava com o
esquema em dias, o que é de se esperar, pois algumas instituições usam a
caderneta de vacinação com esquema completo como requisito para a contratação.
Portanto, medidas
preventivas como adequação das caixas de descarte de materiais perfuro cortantes
e o treinamento específico que oriente os trabalhadores da área de saúde sobre
os riscos biológicos podem contribuir para diminuição das ocorrências de
acidentes por esses trabalhadores.
2.2.3
A equipa de
enfermagem por exercer seu trabalho directamente e ininterruptamente com o
paciente, esta exposta a riscos de acidentes rotineiramente, isso em razão da
exposição de doenças infecto contagiosas, da frequente movimentação de equipamentos
e pacientes pesados, do convívio próximo da dor e morte, além da rotina
estafante de trabalho. Estando assim predispostos a se tornarem enfermos, a
sofrerem acidentes, quando as medidas de segurança não são adoptadas. (SECCO,
et al, 2008).
Com base nos dados
da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial de Saúde
(OMS), o processo do capitalismo associado à globalização são factores
contribuintes para o aumento da incidência de doenças e acidentes laborais,
onde a competitividade, a busca por novos mercados, e a necessidade de obter
lucros leva a uma reestruturação do processo gerando; desemprego, introdução de
agentes nocivos, o aumento da terceirização e do trabalho informal. (ANGOLA,
2001).
Segundo Bulhões
(1994), os factores que contribuem para a ocorrência de acidentes trabalhista
são; treinamento insuficiente, a gerência irresponsável, a insuficiência de
comunicação entre os departamentos, à baixa confiabilidade nos equipamentos e
principalmente a falha humana.
Segundo Secco (et
al, 2008) como medidas preventivas para eliminação dos riscos de acidentes são
sugeridas o uso adequado de EPI (Equipamento de Protecção Individual), a
imunização da equipa, a substituição de matérias perfuro cortantes, para os de
design mais seguro, o que é quase impraticável pelos altos preços desse
material.
Sendo isso um
agravante, pois segundo Bonini, Zeviani e Canini (2009) mesmo tendo treinamento
e suprimento adequado de EPI a equipa de enfermagem contínua se acidentando e
relacionam isso à falta de atenção, seguido da pressa, excesso de tarefas,
falta de atenção do colega, urgência, reencapamento de agulha, quadro reduzido
de pessoal e estresse o não uso de EPI.
Pinho, Rodrigues e
Gomes (2007) acreditam que os baixos salários pagos aos trabalhadores de enfermagem
fazem com que alguns destes profissionais tenham dois ou mais vínculos
empregatícios, tornando-os menos atentos na execução de suas atribuições.
Percebemos que em
sua maioria os profissionais acreditam serem inerentes à profissão os acidentes
que os acometem, podendo ser justificado pela falta de conhecimento dos riscos
que estão presentes no ambiente de trabalho. É de suma importância à adopção de
treinamentos e/ou reciclagens, objectivando a organização dos procedimentos
realizados, o que minimizaria os acidentes.
Os agentes químicos
são as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo, por
via inalatória, pela pele ou serem ingeridas. (ANGOLA, 2001). Referem-se ao
manuseio de vapores, gases, esterilizantes, anti-sépticos, estando relacionado
com tempo de contacto e com o tipo de produto. (MARZIALE; NISCHIMURA e
FERREIRA, 2004).
A equipa de
enfermagem está vulnerável ao risco químico na realização da rotina hospitalar,
quando manipula medicamentos como antibióticos, antineoplásicos, substâncias
químicas como detergentes, degermantes, agentes esterilizantes, os gases anestésicos
podendo estes levar sérios danos à saúde dos trabalhadores como intoxicações
agudas e crónicas uso prolongado de luvas podendo ocasionar dermatites de contacto.
(XELEGATI, et al, 2003).
Xelegati (et al,
2003) em sua Investigação sobre danos em linfócitos de enfermeiras envolvidas
no preparo e administração da droga revelou que o número de linfócitos com
danos no DNA foi maior no grupo de enfermeiras que não faziam o uso de Equipamentos
de Protecção Individual (EPI) ou os utilizavam incorrectamente. Isto é previsto,
pois o preparo e administração de alguns medicamentos são de responsabilidade
do profissional de nível superior.
Robazzi (et al,
2006) em seu estudo detectou que as enfermeiras que manipulam agentes químicos
apresentam, com maior frequência, irregularidades menstruais e amenorreia, e
dos agentes químicos de risco utilizados com maior frequência foram:
antibiótico e benzina (100% cada um), iodo (98,1%), látex/talco (88,7%) e
glutaraldeído (71,7%). Sendo estes utilizados para funções rotineiras como;
desengorduramento e assepsia de pele, desinfecção e limpeza de materiais entre
outros.
Os agentes químicos
principalmente os antineoplásicos é um potente teratogênico mutagênico e carcinogênico,
passível de gerar abortos espontâneos, defeitos congénitos, esterilidade,
alterações do ciclo menstrual. O que ocasiona sérios problemas para a equipa de
enfermagem, cujo núcleo é composto em sua maioria por mulheres em idade
reprodutiva, as quais se encontram expostas permanentemente a estas substâncias.
É necessário à adopção
de medidas quanto ao uso da capela de fluxo laminar vertical, o uso de EPI,
aventais de manga descartáveis e de punho com elástico, máscara, óculos de protecção,
tanto no preparo quanto na administração. Mas ainda assim, o enfermeiro
negligencia o uso de medidas de segurança quando manipulam produtos químicos.
Os agentes ergonómicos
referem-se à morfologia, a maneira como as actividades são executadas, as
posturas estáticas e prolongadas realizadas de forma inadequada, manipulação e
transporte de pacientes, a morfologia dos equipamentos. Todos esses aspectos
concorrem para o surgimento de patologias relacionadas a lesões de natureza
osteomusculares. (BORGES; BARBOSA, 2007).
Os processos de
movimentação e transporte de pacientes solicitam grande esforço físico e estão
atrelados a problemas músculo-esqueléticos em trabalhadores da área da saúde. A
nomenclatura utilizada para designar essas patologias era LER, mas foi
renomeada e actualmente se constitui nos Distúrbios Osteomusculares
Relacionados ao Trabalho condensado na sigla DORT. É imprescindível pontuar que
a DORT se caracteriza como um problema de dimensões universais, atingindo
trabalhadores das mais diversas áreas, sobretudo aqueles que como o
profissional de enfermagem actua realizando tarefas repetitivas. (BORGES;
BARBOSA, 2007).
O risco ergonómico
depende de mudanças de atitudes do profissional frente às tarefas executadas,
bem como da modificação do espaço físico, da disposição e do uso adequado de
imobiliários que são factores stressantes externos provenientes do ambiente,
condições e situações de trabalho e internos referentes ao próprio indivíduo. É
um campo que apresenta grandes desafios, além de problemáticas a vencer, dentro
do cenário determinado pelo contexto político e económico do país.
O ideal é a
realização de programas de treinamento periódico sobre a aplicação de
princípios de mecânica corporal na movimentação e transporte de pacientes,
sensibilização dos administradores do serviço e de treinamento ergonómico
amplo. As unidades de ensino têm uma parcela grande de responsabilidade
orientando os alunos permitindo assim que os futuros profissionais sejam
instruídos para evitar doenças futuras.
Pode-se salientar
também a importância da adequação dos espaços físicos com o propósito de
diminuir as distâncias a serem percorridas pelos trabalhadores de equipamentos
e mobiliários, conforme os padrões antropométricos dos trabalhadores e a
orientação da equipa no que concernem à necessidade da utilização de posturas
adequadas no trabalho. O deficit de profissionais é outro factor que aumenta a
sobrecarga da equipa de enfermagem, comprometendo a divisão adequada de
tarefas.
Os agentes físicos
são considerados os ruídos, vibrações, temperaturas extremas, radiações,
infra-som e ultra-som. (ANGOLA, 2001). Onde estão incluídos; pisos escorregadios,
humidade, má iluminação, ventilação inadequada, exposição à electricidade e
incêndios. (MARZIALE, 2004).
Segundo Benatti e
Nishide (2000) na classificação de risco feita por profissionais da UTI a
principal fonte geradora de radiação ionizantes são aquelas advindas de raios x
no leito, sendo recomendada pelos mesmos a diminuir o número de solicitações e
fazer protecção radiológica nos postos.
A exposição
prolongada e diária a raios X e gases anestésicos é um agravante aos processos
reprodutivos podendo causar moléstias, tais como: espinha bífida, anencefalia e
defeitos no sistema geniturinário. Sendo esse um agravante principalmente nas
UTI, onde os exames radiológicos são realizados no leito para avaliação de
tórax, localização de cateteres, fracturas e arteriografias e outros.
A equipa de
enfermagem é exposta a inúmeros riscos, por isso faz-se imprescindível à
mudança de suas atitudes frente ao trabalho, no sentido da formação do
conhecimento acerca dos riscos nos estabelecimentos de saúde, pois existe um
descaso com a saúde do trabalhador de enfermagem, o que não é congruente com o
trabalho realizado pelo enfermeiro: o cuidado com o paciente, deixando de lado
o próprio bem-estar físico e psicológico do profissional.
O presente estudo
teve por finalidade identificar as doenças ocupacionais que acometem os
trabalhadores e caracterizar os factores desencadeantes que levam os profissionais
da equipa de enfermagem ao adoecimento, trazendo consequências na qualidade de
vida destes. As quais poderão permanecer ao longo de sua vida, podendo
causar-lhes a morte. As doenças que o trabalho gera aos profissionais de
enfermagem constituem a maior causa de afastamento do trabalho, sendo elas em
ordem de ocorrências: Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho, Síndrome
de Burnout, Depressão, Afecções do Trato Respiratório, Afecções do Trato
Urinário e Dermatoses. A evolução dessas doenças pode acarretar ao trabalhador uma
incapacidade parcial, levando o trabalhador ao absenteísmo, e em muitos casos,
incapacidade permanente, com aposentadoria.
Os profissionais de
enfermagem representam uma parcela da população que sofre com os problemas de saúde
gerados pelo trabalho que exercem, pois são varias categorias profissionais que
vivenciam este problema. O estudo destaca que as doenças ocupacionais acometem mais
as mulheres. Pois elas representam a maioria entre os profissionais de
enfermagem, desde enfermeiros, técnicos e auxiliares.
Frente às
evidências, torna-se necessário que o gestor invista em uma visão ergonómica
para melhorar as condições ambientais e a qualidade da saúde ocupacional do trabalhador,
assim contribuindo para encontrar formas adaptativas passíveis de melhorar o
ambiente, favorecendo positivamente a saúde do trabalhador e diminuindo o risco
do surgimento das doenças do trabalho. É fundamental discutir que a equipa de
enfermagem exercendo actividade de extremo valor como o cuidado, necessita de
melhores condições de trabalho. Assim torna-se necessário a educação continuada,
com o objectivo de prevenção das doenças ocupacionais.
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