INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INTERNACIONAL DE LUANDA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SAÚDE
SAÚDE PÚBLICA
SAÚDE DO ADOLESCENTE
Trabalho de
pesquisa bibliográfica apresentado ao curso de enfermagem geral na disciplina
de Saúde Pública como requisito parcial para obtenção de notas.
O Docente:
Prof. Sapalalo
INTEGRANTES DO GRUPO:
1. ALCINO
GASPAR EURICO PEDRO
2. EDUARDA
MARIA JÚLIA
3. HELENA
MATIAS
4. LANDO
ANTÓNIO
5. MARIA
JOCELINA JORGE
Sala: 11
Período: Pós-Laboral
Grupo: 07
Ano Académico: 1º
LUANDA
2018
SUMÁRIO
A adolescência é um período de
transição entre a infância e a fase adulta caracterizada por intenso
crescimento e desenvolvimento, onde ocorrem intensas transformações anatómicas,
fisiológicas, mentais e sociais. Em razão destas mudanças, uma série de consequências
podem influenciar o bem-estar nutricional do adolescente. É considerada também
um período de grande facilidade de mudança e incorporação de novos hábitos
alimentares (GRAZINI, 1996).
Segundo FARTHING (1991), nesta
fase o adolescente é amplamente influenciado por factores internos como
auto-estima e imagem, valores familiares, preferências alimentares e
desenvolvimento psicossocial; e por externos como hábitos familiares, pares,
meios de comunicação, modismo, e outros, tendo efeito no comportamento
alimentar bem como sofrendo interferências do mesmo. Nessa época, os
adolescentes são vulneráveis e facilmente influenciáveis, adoptando assim dietas
e comportamentos em função de modismos passageiros, necessitando assim serem
bem orientados para que seus hábitos alimentares adquiridos sejam satisfatórios
pois estes ajudarão a manter uma boa saúde ao longo da vida (ORTEGA et. al.,
1996).
O excesso de peso e a
obesidade que se desenvolvem na adolescência podem ter efeitos desfavoráveis
sobre a saúde muitas décadas mais tarde, por isso a adolescência se torna um
momento privilegiado para se colocar em prática medidas preventivas neste
sentido. MOREIRAS & CARBAJAL (1992) afirmam que a infância e a adolescência
são as melhores fases para aquisição de bons hábitos alimentares, pois a aprendizagem
e a formação de atitudes ocorrem, principalmente nesta fase da vida.
Adolescência e puberdade são
termos que expressam conceitos distintos. A adolescência pode ser entendida
como o processo de passagem da vida infantil para a vida adulta e tem sua
conceituação sustentada mais na Psicologia e na Sociologia. Esse processo tem carácter
histórico e significados diferentes em diversas classes sociais, épocas e
culturas. Para a Psicanálise, a adolescência seria uma questão psíquica, uma
resposta subjectiva à invasão do corpo pela puberdade.
A puberdade, como conceito,
tem sua origem na realidade biológica, compreende o conjunto das transformações
somáticas que marcam o final da infância, sobretudo o surgimento dos caracteres
sexuais secundários.
O conceito contemporâneo de
adolescência é relativamente recente e supre, até certo ponto e de forma
singular, os ritos de passagem da infância para a vida adulta, ou seja, aqueles
mecanismos da cultura que permitem uma resposta colectiva aos desafios
provenientes do corpo e da sociedade, com a entrada da puberdade. Esse período
da vida equivalente ao que, na actualidade, se entende por adolescência, era
bem mais curto em outros momentos e ambientes culturais. No mundo actual,
globalizado, há a tendência a se ampliar o intervalo entre a infância e o lugar
do adulto na sociedade, alongando-se, assim, a adolescência.
A Organização Mundial de Saúde
(OMS, 1985) entende por adolescência a faixa etária entre 10 e 20 anos
(exclusive), um período da vida caracterizado por intenso crescimento e desenvolvimento
e por transformações anatómicas, fisiológicas, psicológicas e sociais divido em
três etapas:
·
Adolescência
inicial: dos 10 aos 14 anos - o indivíduo começa a apresentar modificações
do próprio corpo e terá de conviver com elas; em geral, o adolescente permanece
circunscrito ao ambiente familiar e há, ainda, poucos esforços de sua parte em
estabelecer separação dos pais.
·
Adolescência
média: dos 14 aos 16 anos - época em que existe grande preocupação com a
imagem corporal; há identificação com o grupo de iguais e os conflitos
familiares são frequentes; a sexualidade, em geral, é, ainda, auto erótica, mas
há franco interesse pelo sexo e muitos fazem sua iniciação sexual nesse
momento.
·
Adolescência
final: dos 17 aos 20 anos - momento em que é frequente a preocupação
profissional e económica; os relacionamentos são mais afectuosos, os namoros
são mais frequentes e pode haver mais integração entre afecto e erotismo; nesse
período, os valores e comportamentos estabelecidos podem ser bem próximos dos
da vida adulta.
Nas últimas duas décadas, a
atenção à saúde do adolescente vem se tornando uma prioridade em muitos países,
inclusive para instituições internacionais de fomento à pesquisa. Isto se deve
à constatação de que a formação do estilo de vida do adolescente é crucial, não
somente para ele, como também para as gerações futuras. De forma geral, no que
se refere a organização de serviços para o atendimento a este grupo etário,
observa-se que os esforços realizados no sentido da criação de programas de
qualidade, tiveram até certo ponto, resultados positivos. Implementou-se um
modelo de atendimento baseado na prestação da atenção integral a esta
clientela, partindo-se das experiências adquiridas nos programas pioneiros de
atendimento à mulher e à criança. Contudo, ainda falta muito para que os
programas nacionais dêem cobertura adequada a toda população de adolescentes e
jovens e para que se possa considerar que estes programas estejam integrados ao
sistema de saúde, de tal forma que permitam o acesso universal (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 1995).
Durante a adolescência ocorrem
mudanças de ordem emocional que são de extrema importância para o indivíduo,
tais como o desenvolvimento da auto-estima e da autocrítica; questionamento dos
valores dos pais e dos adultos em geral (FRIEDMAN, 1994). Trata-se de um
período da existência em que o sujeito começa a interagir com o mundo externo
de modo mais autónomo sem, aparentemente, ter de assumir as responsabilidades
da vida adulta. Contudo, esta situação é de extrema ambivalência, visto que, se
por um lado não lhe é exigido assumir os compromissos da vida adulta, por
outro, não lhe é permitido “comportar-se” como uma criança. Na indecisão de
como se conduzir, o adolescente se arrisca, oscilando entre condutas de risco
“calculado” – decorrente de uma acção pensada – e do risco “insensato”, em que,
gratuitamente, se expõe, com grande chance de ocorrerem insucessos, podendo
comprometer sua saúde de forma irreversível (DICLEMENTE, 1996).
A adolescência vai delineando
para o sujeito, uma identidade sexual, familiar e laboral, permitindo que ele
venha a exercer determinados papéis dentro da sociedade. Esta identidade é a
imagem que o sujeito tem de si, e ela permanece constante e reconhecível apesar
das mudanças evolutivas e dos vários papéis sociais que venha a desempenhar. No
entanto, a adolescência não pode ser considerada um período de transição,
caracterizando-se muito mais como parte de um processo de amadurecimento e de
intenso aprendizado de vida (ADAMO, 1985).
A tendência de ver a
adolescência como “um período de transição” tem favorecido o esquecimento das
necessidades desta população, o desrespeito com relação a seus direitos, e uma
exigência, muitas vezes inadequada, quanto ao cumprimento de seus deveres como
cidadão. Para que seja possível outro enfoque sobre o adolescente, é preciso
que a sociedade valorize seu potencial de contribuição e o apoie, permitindo
que seus pensamentos, desejos, idéias e críticas sejam ouvidos. Dito em outras
palavras, esta postura pressupõe a abertura de um espaço para o adolescente
exercer sua liberdade e participar mais activamente de seu processo de
amadurecimento.
A população adolescente
apresenta alguns problemas graves de saúde pública, além de questões
particulares e pouco comuns à condução clínica. Nessa faixa etária surgem,
também, diversas doenças crónicas que terão importância no adulto.
As principais causas de mortes
dos jovens, em Angola, são as externas, ou seja, aquelas possíveis de serem
evitadas – como violência no trânsito, homicídios e suicídios. A violência e os
acidentes constituem os maiores responsáveis pelo aumento da mortalidade nessa
faixa etária, sendo o suicídio, denominado de epidemia oculta, um aspecto
dramático da mortalidade nessa população. Principalmente em jovens de classe
média, esse fenómeno é ocultado. Quase sempre se alega uma causa traumática ou
outro tipo de causalidade, mas raramente se regista o suicídio no atestado o
certificado de óbito.
A sexualidade faz-se presente
desde o nascimento, mas é na adolescência que o indivíduo, em geral, consolida
suas escolhas, define sua conduta na área genital e se estabelecem, então, as
condições para as funções sexuais do adulto. Nesse momento, o sexo irrompe em
todas as dimensões da vida física, social e emocional. Hoje, elevado número de
jovens, cada vez mais cedo, assume vida sexual activa, o que exige postura efectiva
e sem preconceitos de pais, educadores e profissionais de saúde, sendo
indispensável a abordagem franca e aberta dessa questão.
A gravidez na adolescência,
embora tenha sofrido queda nos seus números nos últimos anos, continua ocupando
importante lugar como problema de saúde. A prevenção da gravidez não planejada,
com todas as suas consequências, deve ser estimulada já antes da puberdade.
Alguns dados, apresentados a seguir, mostram a gravidade e a necessidade de
políticas de saúde bem organizadas e voltadas para essa questão:
·
A actividade sexual entre adolescentes está
aumentando e a idade de início diminuindo; mais de 30% das adolescentes
sexualmente activas não utilizam métodos anticoncepcionais;
·
A gravidez na adolescente, na maioria das vezes,
ocorre de forma não planejada;
·
Os abortos inseguros são causa de mortalidade
materna entre adolescentes e jovens, especialmente entre as pobres;
·
Há correlação entre gravidez na adolescência e
evasão escolar;
·
E, por fim, uma questão em que, em geral, as
campanhas ainda não têm tido o resultado desejado: a prevenção da gravidez na
adolescência. Essa termina por ser problema grave de saúde pública, pela
mortalidade materna e até pelo consumo de recursos orçamentários.
Alguns problemas de saúde
relacionados com as questões psicossociais merecem ser destacados – por
exemplo, as doenças sexualmente transmissíveis, em particular a infecção pelo
HIV/AIDS-aids. A aids é uma doença com período de incubação longo, que,
habitualmente se manifesta na terceira década, entre 20 e 30 anos de idade, mas
a contaminação, muitas vezes, ocorre entre os 15 e os 24 anos.
O início do uso de drogas
lícitas e ilícitas também se dá nessa fase da vida – seja a iniciação, ainda
como experimentação, seja a franca dependência.
A grande demanda dos problemas
relacionados a saúde mental, quadros psíquicos com manifestações orgânicas,
queixas de dores, dificuldades escolares e conflitos familiares constitui o quotidiano
da clínica do adolescente. Essas são questões com que o profissional de saúde
se defronta e que o levam a interrogar-se até que ponto pertencem à saúde. Tais
quadros apresentam-se, na realidade, a um profissional que foi pouco preparado para
o seu atendimento e sua condução com segurança. A alta prevalência de problemas
de saúde mental na adolescência aparece como particularidade, mas não como
exclusividade, já que, em todas as faixas etárias e em todos os níveis de
tratamento médico, os aspectos da saúde mental têm importância e, muitas vezes,
são negligenciados. Na adolescência, essa questão ganha força, pois nessa fase
podem surgir as primeiras manifestações da psicose, iniciar-se o uso das
drogas, despontar os comportamentos anti-sociais e de risco, além de diversos
problemas clínicos que podem encobrir conflitos psíquicos.
Os sintomas alimentares, em
especial a anorexia nervosa e a bulimia, demonstram incidência crescente, por
influência óbvia do panorama económico, social e cultural, numa sociedade em
que o corpo se transformou em mercadoria, em objecto de consumo. Não há como
explicar a frequência de certos sintomas só por razões biológicas. A obesidade
configura-se como uma epidemia e representa uma condição crónica complexa, que
acarreta impasses na condução terapêutica. É frequente a falta de adesão ao
tratamento e até o abandono do mesmo. O foco do acompanhamento de saúde deve
ser o adolescente e não a obesidade. Devemos nos interrogar sobre o desencadeamento
da obesidade, sobre os aspectos emocionais, sobre a história familiar, para
delinearmos uma estratégia terapêutica ampla, não centrada na perda de peso. As
dietas restritivas habitualmente não são seguidas por muito tempo. É importante
que o paciente obeso consiga emagrecer, mas, sobretudo, que ele se sinta mais
leve.
A hospitalização, nas diversas
faixas etárias, apresenta igualdade ou predominância do sexo masculino até os
15 anos de idade. Entre 15 e 19 anos, no entanto, há importante mudança e a
maioria das hospitalizações acomete o sexo feminino, por problemas relacionados
à gravidez e ao parto, o que revela a magnitude do problema da gravidez na
adolescência.
O principal propósito do
acompanhamento da saúde do adolescente pela equipe de Saúde da Família é a
construção de um processo de promoção da saúde, prevenção, cuidados e
reabilitação, quando necessária, para o que é essencial o vínculo entre o
adolescente e o profissional de saúde. É fundamental que o adolescente se
aproprie do espaço da saúde e que possa ali encontrar a possibilidade de um
endereçamento dos seus conflitos, do seu mal-estar, mais além da queixa
orgânica.
As oportunidades de contacto
da equipe de saúde e o serviço com o adolescente, geralmente a adolescente,
ocorrem, na maioria das vezes, na atenção à demanda espontânea, sendo a
consulta a acção mais solicitada. Cabe aos profissionais, integrado ao
acolhimento, a abertura para outras possibilidades de atenção, como: Acompanhamento
de saúde, Avaliação da adolescência e Condução do caso ou situação apresentada.
A adolescência é uma fase
marcada por crises e por inúmeras mudanças biopsicossociais, importantes para a
formação da identidade adulta. Ela é também considerada como um período no qual
alguns indivíduos se tornam vulneráveis aos factores de risco e agravos de
saúde. Nas últimas décadas, as práticas clínicas e os estudos acerca da
adolescência permitiram conhecer melhor as particularidades relacionadas ao
atendimento a essa faixa etária. No entanto, ainda são poucas as escolas
médicas que durante a graduação, preparam o aluno em formação para atender essa
área específica. Muitos são os profissionais de saúde que referem dificuldades
e pouco embaçamento para atender e acompanhar os indivíduos que se encontram
nessa fase do desenvolvimento
ADAMO, F. Juventude: trabalho,
saúde e educação. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1985. p. 16 –19
DICLEMENTE, R. J.; PONTON, L. E.; HANSEN W., B.
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GRAZINI, J. T._ Analogia entre
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[Tese de mestrado – Universidade Federal de São Paulo].
GRILLO. C. F. C. Saúde do
Adolescente. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, 2011.
MOREIRAS, O. & CARBAJAL,
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adolescentes – Anales Españholes de Pediatria, 36, S. 49, p.102-5, 1992.
ORTEGA, R. M.; CARVAJALES, P.
A; REQUEJO, A. M; SOBALER, A. M. R; SOBRADO, M. R. R.; GONZÁLEZ-FERNÁNDEZ, M. –
Hábitos alimentarios e ingesta en adolescentes com sobrepeso em compación con
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WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). UNFPA. UNICEF.
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