INTRODUÇÃO
Para entender
a educação na comunidade primitiva, é preciso entender como era a
"sociedade" nesse período.
Em primeiro
lugar, é importante dizer que a comunidade primitiva tinha uma coletividade
pequena, era assentada sobre a propriedade comum da terra, na qual os
indivíduos eram livres e com direitos iguais. Tudo o que era produzido (em
comum) era dividido entre todos e imediatamente consumido. A pequena produção,
ou seja, a produção apenas do que era necessário, se deu devido ao pequeno
desenvolvimento dos instrumentos de trabalho e impediu a acumulação de bens.
A divisão do
trabalho, por sua vez, se dava com as diferenças entre os sexos, porém não
existia a "inferioridade" por parte das mulheres.
Na comunidade
primitiva, a igualdade entre homens e mulheres estava presente. O mesmo
acontecia com as crianças. Até os sete anos de idade, elas acompanhavam os
adultos em todos os seus trabalhos e recebiam como recompensa a sua porção de
alimentos como qualquer outro membro da comunidade. A partir dos sete anos já deviam
começar a viver as suas próprias expensas.
A sua educação
não estava ligada a ninguém em especial, e sim à vigilância difusa do ambiente.
A criança adquiria a sua PRIMEIRA educação sem que ninguém a dirigisse
expressamente. Quando necessário, os adultos explicavam às crianças como elas
deveriam comportar-se diante algumas circunstâncias.
A EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE
PRIMITIVA
Na comunidade
primitiva temos uma pequena colectividade assentada sobre a propriedade comum
da terra e unida por laços de sangue. Seus membros eram indivíduos livres, com
direitos iguais, que ajustaram as suas vidas às resoluções de um conselho
formado democraticamente por todos os adultos, homens e mulheres, da tribo. O
que era produzido em comum era repartido com todos, e imediatamente consumido.
O pequeno desenvolvimento dos instrumentos de trabalho impedia que se
produzissem mais do que o necessário para a vida quotidiana e, portanto, a
acumulação de bens.
Na comunidade
primitiva, as mulheres estavam em pé de igualdade com os homens, e o mesmo
acontecia com as crianças. A sua educação não estava confiada a ninguém em
especial, e sim à vigilância difusa do ambiente. As convivências diárias que
essas crianças mantinham com os adultos as introduziam nas crenças e práticas
que o seu grupo social tinha por melhores. A criança adquiria sua primeira
educação sem que ninguém a dirigisse expressamente.
É importante dizer
que, nessas comunidades, o ensino era para a vida e por meio da vida, ou seja,
para poder aprender, era preciso praticar (exemplo: para aprender a manejar o
arco, era preciso caçar).
"(...) a
educação na comunidade primitiva era uma função espontânea da sociedade em conjunto,
da mesma forma que a linguagem e a moral". (PONCE, A. Educação e luta de
classes, pp. 19).
Para concluir
o período de uma sociedade sem classes, podemos afirmar que os fins educativos
identificam-se com os interesses do grupo e se realizam igualitariamente em
todos os seus membros, de forma espontânea (não existia nenhuma instituição
responsável pelo ensino) e integral (cada membro da comunidade incorporava -
mais ou menos-bem tudo o que era possível receber e elaborar na tribo). Porém,
a sociedade muda, surgindo então as classes. E com elas, uma série de coisas
sofrem mudanças. E com a educação não é diferente.
A EDUCAÇÃO PRIMITIVA E O
SURGIMENTO DE UM MODELO ESCOLAR
A educação
primitiva baseava-se na transmissão oral dos costumes, hábitos e tradições,
através de um método de ensino natural, que acontecia em meio às atividades
cotidianas, com o envolvimento de toda a comunidade. Era uma educação
pragmática, voltada para o aprendizado de atividades, habilidades e comportamentos
necessários à sobrevivência da criança e do jovem, sendo única e igual para
todos. sendo a da criança e do jovem.. A escola era a aldeia, tal quais certas
tribos indígenas brasileiras que ainda hoje, conservam o método de educação
primitiva, muitas ainda, na condição de ágrafas. Para Brandão (2007, p. 18-19),
baseado na citação de Durkheim, o modelo de educação tribal é baseado numa
educação difusa, sendo administrada por todos os elementos do clã, de tal forma
que:
“Todos os
agentes desta educação de aldeia criam de parte a parte as situações que,
direta ou indiretamente, forçam iniciativas de aprendizagem e treinamento. Elas
existem misturadas com a vida em momentos de trabalho, de lazer, de camaradagem
ou de amor.”
Segundo Aranha
(2006, p. 34): “De maneira geral as sociedades tribais são predominantemente
míticas e de tradição oral”.
Conforme a
autora as primeiras comunidades que desenvolveram sistemas de educação, se
basearam, inicialmente, na tradição, perpetuando valores e comportamentos
através das gerações, principalmente nas sociedades ágrafas, marcando um
processo de transmissão oral.
Maria Lúcia
Aranha (2006, p. 35), comenta que em tais sociedades primitivas: “Os mitos e os
ritos são transmitidos oralmente, e a tradição se impõe por meio da crença,
permitindo a coesão do grupo e a repetição dos comportamentos considerados
desejáveis”.
Nas sociedades
primitivas, a educação compunha um tradicionalismo pedagógico, através de
diferentes tendências religiosas. A educação primitiva era integrada a vida
cotidiana, através de um ensino prático e informal, praticado por toda a
comunidade.
Tais
características me lembram a educação indígena, nas tribos brasileiras. Há uma
comunidade em Itatiba, onde realizei as orientações do mestrado. Nela há quem
estude formalmente, na universidade, porém muitos permanecem num sistema
primitivo, liderado pelos anciões da tribo.
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO – PERÍODO
PRIMITIVO
·
Não existia educação na forma de
escolas;
·
Objetivo era ajustar a criança ao
seu ambiente físico e social, através da aquisição das experiências;
·
Chefes de família eram os
primeiros professores e em seguida os sacerdotes.
A evolução do hominídeo
para o homem apresenta as seguintes fases:
·
Australopithecus (de 5 milhões a
1 milhão de anos atrás), caçador, que lasca a pedra, constrói abrigos;
·
Pitecanthropus (de 2 milhões a
200 mil anos atrás), com um cérebro pouco desenvolvido, que vive da colheita e
da caça, se alimenta de modo misto, pule a pedra nas duas faces, é um
pronto-artesão e conhece o fogo, mas vive imerso numa condição de fragilidade e
de medo;
·
Homem de Neanderthal (de 200 mil
a 40 mil anos atrás), que aperfeiçoa as armas e desenvolve um culto dos mortos,
criando até um gosto estético (visível nas pinturas), que deve transmitir o seu
ainda simples saber técnico;
·
Homo sapiens, que já tem
características atuais: possui a linguagem, elabora múltiplas técnicas, educa
os seus “filhotes”, vive da caça, é nômade, é “artista” (arte naturalista e
animalista), está impregnado de cultura mágica, dotado de cultos e crenças, e
vive dentro da “mentalidade primitiva” marcada pela participação mística dos
seres e pelo raciocínio concreto, ligado a conceitos-imagens e pré-lógico,
intuitivo e não-argumentativo.
A educação dos jovens, nesta fase, torna-se
o instrumento central para a sobrevivência do grupo e a atividade fundamental
para realizar a transmissão e o desenvolvimento da cultura. No filhote dos
animais superiores já existe uma disposição para acolher esta transmissão,
fixada biologicamente e marcada pelo jogo-imitação. Todos os filhotes brincam
com os adultos e nessa relação se realiza um adestramento, se aprendem técnicas
de defesa e de ataque, de controle do território, de ritualização dos
instintos. Isso ocorre – e num nível enormemente mais complexo – também com o
homem primitivo, que através da imitação, ensina ou aprende o uso das armas, a
caça e a colheita, o uso da linguagem, o culto dos mortos, as técnicas de
transformação e domínio do meio ambiente.
Depois desta fase, entra-se (cerca de 8 ou
10 mil anos atrás) na época do Neolítico, na qual se assiste a uma verdadeira e
própria revolução cultural. Nascem, as primeiras civilizações agrícolas: os
grupos humanos se tornam sedentários, cultivam os campos e criam animais,
aperfeiçoam e enriquecem as técnicas (para fabricar vasos, para tecer, para
arar), cria-se uma divisão do trabalho cada vez mais nítida entre homem e
mulher e um domínio sobre a mulher por parte do homem, depois de uma fase que
exalta a feminilidade no culto da Grande Mãe (findo com o advento do
treinamento, visto como “conquista masculina”).
"O ensino
era para a vida e por meio da vida."
As crianças se
educavam tomando parte nas funções da coletividade. Elas nunca eram castigadas
durante o seu aprendizado.
“Deixam-nas
crescer com todas as suas qualidades e defeitos.”
Apesar de
entregues ao seu próprio desenvolvimento, nem por isso as crianças deixavam de
se converter em adultos, de acordo com a vontade impessoal do ambiente. BILDUNG
São adultos
tão idênticos uns aos outros que ainda se encontravam ligados à comunidade por
um verdadeiro “cordão umbilical”. MARX
Estamos tão acostumados
a identificar a Escola com a Educação, e esta com a noção individualista de um
educador e um educando, que nos custa um pouco reconhecer que a educação na
comunidade primitiva era uma função espontânea da sociedade em conjunto, da
mesma forma que a linguagem e a moral. PONCE
Não havia
nada,absolutamente nada, superior aos interesses e às necessidades da tribo.
Era esse o ideal pedagógico que o grupo considerava fundamental para a sua
própria existência.Os fins dessa educação primitiva derivam da estrutura
homogênea do ambiente social, identificam-se com os interesses comuns do grupo,
e se realizam igualitariamente em todos os seus membros, de modo espontâneo e
integral: espontâneo na medida em que não existia nenhuma instituição destinada
a inculcá-los, integral no sentido que cada membro da tribo incorporava mais ou
menos bem tudo o que na referida comunidade era possível receber e elaborar.
Era conceito da educação, porém, era adequado para a comunidade primitiva, mas
deixou de sê-lo à medida que esta foi lentamente se transformando numa
sociedade dividida em classes.
A divisão da
sociedade em “administradores” e “executores” não teria levado à formação das
classes, tal como hoje conhecemos, se outro processo paralelo não tivesse
ocorrido ao mesmo tempo. As modificações introduzidas na técnica aumentaram de
tal modo o poder do trabalho humano que a comunidade, a partir desse momento,
começou a produzir mais do que o necessário para o seu próprio sustento.
"Com o
aumento do seu rendimento, o trabalho do homem adquiriu certo valor."
O trabalho
escravo aumentou o excedente de produtos, produtos esses que os
“administradores” comerciavam. As coisas continuaram assim até que as funções
dos “organizadores” passaram a ser hereditárias, e a propriedade comum da tribo
passou a constituir propriedade privada das famílias que a administravam e
defendiam. Donas dos produtos, a partir desse momento as família dirigente
passaram também a ser donas dos homens.
E com o
desaparecimento desses interesses comuns a todos os membros iguais de um grupo
e a sua substituição por interesses distintos, pouco a pouco antagônicos, o
processo educativo, que ate então era único, sofreu uma partição: a
desigualdade entre os “organizadores”- cada vez mais exploradores- e os
“executores” – cada vez mais explorados – trouxe,necessariamente, a
desigualdade das educações respectivas.
Cada
“organizador” educava os seus parentes para o desempenho do seu cargo, e
predispunha o resto da comunidade para que os elegessem. Com o passar do tempo,
essa eleição se fez desnecessária: os “organizadores” passaram a designar
aqueles que deveriam sucedê-los e, desse modo, as funções de direção passaram a
ser patrimônio de um pequeno grupo que defendia ciumentamente os seus segredos.
Para os que nada tinham, cabia o saber do vulgo; para os afortunados, o saber
da iniciação.
Começa a haver
uma hierarquia em função da idade, acompanhada de uma submissão autoritária que
exclui o antigo tratamento benévolo demonstrado para com a infância, ao mesmo
tempo em que surgem as reprimendas e os castigos. Já não sendo possível confiar
a educação das crianças à orientação espontânea do seu meio ambiente. A
educação sistemática, organizada e violenta, surge no momento em que a educação
perde o seu primitivo caráter homogêneo e integral.
Uma vez
constituídas as classes sociais, passa a ser um dogma pedagógico a sua
conservação, e quanto mais a educação conserva o status quo, mais ela é julgada
adequada. Já nem tudo o que a educação inculca nos educandos tem por finalidade
o bem comum, a não ser na medida em que “esse bem comum” pode ser uma premissa
necessária para manter e reforçar as classes dominantes. Para estas, a riqueza
e o saber; para as outras, o trabalho e a ignorância.
Acompanhando
as transformações experimentadas pela propriedade, a situação social da mulher
também sofreu modificações de vulto. Ela agora passou a ocupar-se tão somente
com funções domésticas que deixaram de ser sociais. A mulher, da comunidade
primitiva, quando, juntamente com o homem, desempenhava funções uteis à
comunidade, gozava dos mesmos direitos que este; mas perdeu essa igualdade e
passou à servidão no momento em que ficou afastada do trabalho social
produtivo, para cuidar apenas do seu esposo e dos seus filhos. A sua educação,
ao mesmo tempo, passou a ser uma educação pouco superior à de uma criança.
Ela agora
passou a ocupar-se tão somente com funções domésticas que deixaram de ser
sociais. A mulher, da comunidade primitiva, quando, juntamente com o homem,
desempenhava funções uteis à comunidade, gozava dos mesmos direitos que este;
mas perdeu essa igualdade e passou à servidão no momento em que ficou afastada
do trabalho social produtivo, para cuidar apenas do seu esposo e dos seus
filhos. A sua educação, ao mesmo tempo, passou a ser uma educação pouco
superior à de uma criança.
Mas ainda
estava faltando uma instituição que não só defendesse a nova forma privada de
adquirir riquezas, em oposição às tradições comunistas da tribo, como também
que legitimasse e perpetuasse a nascente divisão em classes e o “direito” de a
classe proprietária explorar e dominar os que nada possuíam: o Estado.
CONCLUSÃO
A revolução neolítica é também uma revolução
educativa: fixa uma divisão educativa paralela à divisão do trabalho (entre
homem e mulher, entre especialistas do sagrado e da defesa e grupos de
produtores); fixa o papel - chave da família na reprodução das infra-estruturas
culturais: papel sexual, papéis sociais, competências elementares, introjeção
da autoridade; produz o incremento dos locais de aprendizagem e de adestramento
específicos (nas diversas oficinas artesanais ou algo semelhante; nos campos; no
adestramento; nos rituais; na arte) que, embora ocorram sempre por imitação e
segundo processos de participação ativa no exercício de uma atividade, tendem
depois a especializar-se, dando vida a momentos ou locais cada vez mais
específicos para a aprendizagem. Depois, são a linguagem e as técnicas
(linguagem mágica e técnicas pragmáticas) que regulam – de maneira cada vez
mais separada – os modelos de educação.
Portanto,
vemos que a educação sofreu transformações devido ao surgimento de classes e
que ainda haverá muitas mudanças nos próximos períodos.
BIBLIOGRAFIA
PONCE, A.
Educação e luta de classe. São Paulo: Cortez Editora e Autores Associados,
1981. (Capítulo I)
Quero agradecer por este lindo trabalho de suma importância e muito esclarecedor mais uma vez obrigado . Vieira Miguel Manoel.
ResponderExcluirObrigada.
ResponderExcluirbem falado comsubjectividade para bens e volte mais vezes a trazer nodades
ResponderExcluirMuito obrigado por esse belo trabalho de suma importância e bem esclarecedor.
ResponderExcluirexelente trabalho
ResponderExcluirÓtimo trabalho, bem resumido já, parabéns, volte mais vezes.👏👏👏
ResponderExcluirBonito conteúdo
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