segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A GRAVURA -TRABALHO COMPLETO




No presente trabalho será abordado inicialmente o contexto histórico da gravura, a litografia como técnica que viabilizou o consumo das imagens. Tratar-se-á ainda das principais técnicas de gravação, a sua função no processo de hibridização das culturas e o seu carácter expansivo para os meios de comunicação. Bem como será enfatizado os aspectos de memória, identidade e representação presentes na gravura.

A informação vem se reproduzindo e disseminando pelo mundo de diferentes formas. Na sociedade contemporânea, os meios digitais apresentam-se como os principais elementos para a transmissão de dados e troca de informações. No entanto, o presente trabalho retoma algumas reflexões sobre um dos mais antigos meios de reprodução e circulação da informação, a gravura. Para começa é definida como gravura a imagem obtida através da impressão de uma matriz artesanal. O material da matriz pode variar, e classifica o tipo da gravura.








A gravura é uma linguagem visual que é obtido a partir da impressão em um papel de uma imagem proveniente de uma matriz que pode ser de madeira, metal ou pedra.

Essa arte é a mídia mais antiga do mundo, apenas quando foi descoberto o processo de gravação a partir de uma matriz que começou a ser feito reproduções em papel, editar livros, folhetos, surge o jornal e etc.

A gravura é dividida basicamente em 3 tipos: a xilogravura, gravura originada da madeira, na qual o artista entalha a madeira e depois faz a impressão em uma folha de papel, temos também a gravura em metal que é feito a partir de uma chapa de metal e a litogravura, que é uma gravura que vem da pedra, o artista desenha na pedra com um giz de litogravura e depois transfere a imagem para o papel através de uma prensa.


A gravura está presente na história dos meios de comunicação e da arte como um artefacto valioso que utilizou cronologicamente da madeira, do metal e da pedra para expandir nas formas de reprodução da escrita e da imagem. Trouxe contribuições significativas para o desenvolvimento dos processos gráficos.

 Inicialmente, observa-se do ponto de vista histórico, que a gravura foi utilizada na China, para a estampagem da seda e em seguida utilizada na impressão tabular, substituindo então, os livros medievais caligrafados. Segundo Dasilva (1976), na China e na Pérsia desde os tempos mais primitivos foi empregado o estêncil para estampar os tecidos. No século II a.C., os chineses já imprimiam no pergaminho, usando como matriz a pedra cavada por sulcos.

A gravura no Ocidente surgiu a partir do século XV com a imagem impressa e a sua própria reprodução. O processo de gravação ocorria inicialmente com a xilogravura, tornando possível copiar a imagem diversas vezes.

Sobre as técnicas de gravação e seus processos de produção, pontuamos alguns aspectos. Inicialmente com a xilogravura, que é a técnica por meio da qual são feitas as matrizes de madeira para a sua impressão. [...] “os europeus utilizaram intensamente a xilogravura para produzir imagens sacras – santinhos – e cartas de baralho, em papel pergaminho” (COSTELLA, 2006: 35).

A gravura em metal surge no século XV, porém ganhou força a partir do século XVI, podendo ser feita por processos distintos como a água-tinta, a água-forte e a maneira negra, ela alcançou um nível maior de precisão das imagens com traços mais delicados, aspectos que não estavam presentes na gravação sobre madeira.

No final do século XVI, com os Carracci e especialmente com Agostino, a gravura assume a dignidade de uma técnica artística autónoma, admite-se que a gravura não transmite apenas a imagem ou o tema, mas também, mesmo operando em um nível distinto e através de uma série de mediações, o valor integral da obra. (ARGAN, 2004: 16)

Nesse período de aprimoramento, a gravura se consolida como uma importante técnica de difusão cultural, principalmente no que se refere aos temas religiosos. Argan (2004) coloca que a Igreja Católica revalorizou as imagens que a Reforma depreciara e proibira; encorajou a formação e a difusão de uma nova iconografia sacra que fornecesse a todos os fiéis os mesmos objectos e os mesmos símbolos para uma devoção de massa; servindo-se da gravura como um meio poderoso de propaganda religiosa.

Ao final do século XVIII surge a litografia, técnica baseada na impressão plana que utiliza matrizes de pedra calcária. Ela representou um grande avanço, sobretudo, para os meios de comunicação da época.

Com a litografia, as técnicas de reprodução marcaram um progresso decisivo. Esse processo, muito mais fiel – que submete o desenho à pedra calcária, em vez de entalhá-lo na madeira ou de gravá-lo no metal – permite pela primeira vez às artes gráficas não apenas entregar-se ao comércio das reproduções em série, mas produzir diariamente, obras novas. Assim, doravante, pôde o desenho ilustrar a actualidade quotidiana. E nisso ele tornou-se íntimo colaborador da imprensa. (BENJAMIM, 1983: 6)


A partir da litografia, a gravura atinge o seu ponto mais importante enquanto suporte para as imagens de consumo, viabilizando “uma série de demandas e exigências geradas pela revolução industrial” (FABRIS, 2008: 12). No processo litográfico descoberto por Alois Senefelder, em 1797, o desenho original e o desenho impresso são quase que idênticos, surgindo então a informação visual de primeira mão. A facilidade de execução, o menor custo dos equipamentos, a recuperação das pranchas e o arquivamento do desenho no papel fazem da litografia uma técnica revolucionária.

Segundo Fabris (2008), levando-se em conta que no século XIX, uma parcela considerável da população era analfabeta, a necessidade de informação visual era grande e crescente, principalmente para a propaganda política e para a publicidade comercial. Esses são factores que levam muitos estudiosos a considerar que a partir de então a imagem impressa atinge sua maioridade.

Dessa forma, observa-se a técnica litográfica como factor preponderante nas relações de consumo, propagando informação e conhecimento, estando directamente relacionada ao crescimento da indústria no século XIX e consequentemente no século XX.

Dessa forma, reitera-se a relevância da gravura para a formação da imprensa, disseminando conhecimento através do trabalho editorial, contribuindo para o desenvolvimento das ciências e da cultura em geral.


A partir dos relatos dispostos anteriormente sobre a história da gravura, fica evidente que o processo de confluência de diferentes culturas a partir da propagação da informação aconteceu quase que naturalmente. Dessa forma, a gravura pode ser analisada como um suporte importante para o processo de hibridização das culturas.

A circulação da imagem e o diálogo com a arte de diferentes locais enriqueceu e reconfigurou as práticas culturais do ponto de vista estético e intelectual. Essa fusão cultural fica evidente, por exemplo, nos traços da pintura europeia presente nas obras de países orientais, latinos e norte-americanos; da mesma forma ocorre a influência desses países sobre na arte do “velho mundo”.

Encontrar uma mesma imagem em países ou regiões distantes do local de origem; seja em um museu, exposição ou colecção particular, faz da gravura uma arte extensiva, na contramão da escassez. Ela tem esse poder multiplicador ímpar perante as demais expressões artísticas. A gravura não só influencia como também dá novas alternativas de mudança dentro do que já foi feito no meio de uma determinada sociedade.

A idéia de hibridização cultural muitas vezes está ligada à mistura de diferentes etnias dentro de uma sociedade, como se observa nas grandes metrópoles, no entanto é possível perceber também a hibridização ocorrendo em actividades mais específicas como é o caso do artesanato, das artes plásticas, da culinária, dentre outras.

A tradução entre culturas pode parecer um fenómeno do mundo globalizado devido à rapidez com que as pessoas de diferentes lugares estão se comunicando, mas essas trocas de informações vêm ocorrendo a bastante tempo, nesse contexto a gravura está inserida como um objecto tradicional nas relações de interacção cultural.

Assim, enfatiza-se a finalidade que a gravura tem de estabelecer uma nova percepção sobre a pluralidade de linguagens proveniente dessa mescla de manifestações culturais e a sua contribuição na formação das culturas híbridas.

2.5
Originalmente, a coisa gravada era destituída de valor estético, sendo apenas uma presença testemunhal. Ainda não estabelecia relação com nenhum sistema de representação. Porém mais tarde, o objecto gravado se enquadrou no universo dos objectos estéticos representativos. Inicialmente com valor simbólico, não se figurava como um objecto de arte; a gravura era usada apenas para marcar o lugar, mas sem ostentar uma vontade artística. No entanto, ao final do período oitocentista e início do século XX as pesquisas sobre os acervos iconográficos ganham força e desperta a atenção dos estudiosos.

A partir dos estudos realizados nas últimas décadas sobre as representações, práticas e identidades culturais, foram feitas relações com as colecções de obras de arte e documentos de diferentes acervos públicos e privados. De forma que os historiadores denominaram tais pesquisas como uma cultura de coleccionar. A prática do coleccionismo está relacionada também à necessidade de trazer para o contexto da sociedade contemporânea novas discussões e possibilidades de diálogos desses acervos com os novos suportes de criação e informação.

Resgatar a memória é interesse não só dos historiadores como do público em geral, [...] “esse interesse cada vez maior provavelmente é uma reacção à aceleração das mudanças sociais e culturais que ameaçam as identidades, ao separar o que somos daquilo que fomos”. (BURKE, 2005: 88)

Sem dúvida, há um interesse popular pelo resgate da memória. Assim sendo, é importante intensificar o trabalho de pesquisa sobre a memória presente nos acervos, de forma a reafirmar e fortalecer a necessidade de conhecer o passado, pois [...] “a história da memória é um campo que revela com rara clareza a importância dos esquemas ou estereótipos, e esses esquemas ajudam a perpetuar as memórias”. (BURKE, 2005: 88)

Através das diferentes técnicas de gravação já citadas anteriormente criaram-se obras que nos falam das paisagens, costumes e cenas religiosas que instigam o observador a perceber que diferentes símbolos podem ter a mesma representação e importância embora pertençam a culturas diferentes.


Na gravura, é possível observar a proporcionalidade e o equilíbrio dos traços e linhas. Ela ainda revela realidades ocultas e muitas vezes podem interiorizar as impressões e sons locais de épocas distantes.

A partir dos acervos de gravuras é possível encontrar diferentes temas que possibilitam uma imersão em períodos da história da iconografia brasileira que revelam importantes relatos de época.

Podemos citar como exemplo o álbum Brésil Pittoresque (1859) de autoria do fotógrafo francês Victor Frond. Foi o primeiro livro de litografias, realizado na América Latina, o qual reuniu um total de 78 imagens que foram litografadas na casa de impressão Imprimerie Lemercier, em Paris.

Observa-se assim que as produções artísticas tomaram caminhos ainda mais extensos, disseminando conhecimento e reflexão a partir das formas imagéticas, utilizando o suporte litográfico como meio divulgador de novas propostas.





A gravura reafirma sua importância para o alargamento dos meios de comunicação, de forma que suas técnicas, respeitando as limitações de época, souberam implementar nos suportes todo um imaginário do seu tempo.

Popularizou-se aquilo que fora um privilégio de poucos até então, novas concepções de espaço também geraram a posse simbólica do que até então era completamente desconhecido. Se hoje a informação circula pelo mundo em velocidade quase que instantânea, no passado os povos tinham na imagem gravada sobre madeira, no burilado sobre metal e no desenho sobre a pedra um aparato tecnológico para acessar os acontecimentos no mundo, ditando assim os primeiros caminhos dos meios de reprodução que hoje fazem parte do nosso quotidiano.

Entender o caminho dos meios de comunicação nos últimos séculos é relevante do ponto de vista da perpetuação da própria história cultural da informação e seus desdobramentos.

Portanto, a gravura enquanto objecto artístico-cultural aponta os caminhos para identificar e pontuar essa trajectória, revelando novas formas e perspectivas para o desenvolvimento dos estudos culturais.





ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e persuasão: ensaios sobre o barroco. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

BURKE, Peter. Hibridismo Cultural. São Leopoldo: Unisinos, 2003.

COSTELLA, Antonio F. Introdução à gravura e à sua história. Campos do Jordão, SP: Editora Mantiqueira, 2006.

DASILVA, Orlando. A arte maior da gravura. Ed. Espade, 1976.

FABRIS, Annateresa. Fotografia: Usos e Funções no Século XIX. ed. 1. reimpr. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.

HALL, Stuart. A Identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

MARTINS, Itajahy, 1927 – Gravura: arte e técnica /Itajahy Martins. – São Paulo: Laserprint: Fundação Nestlé de Cultura, 1987.

Textos escolhidos / Walter Benjamin, Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Jürgen Habermas; traduções de José Lino Grünnewald ... [et al.]. São Paulo; Abril Cultural, 1983. (Os pensadores).



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