INSTITUTO
MÉDIO PRIVADO DE SAÚDE – DAPAJAK
ÉTICA
O USO RACIONAL E IRRACIONAL DOS
MEDICAMENTOS
INTEGRANTES DO
GRUPO 04:
1.
Mateus Silvano Lucas
2.
Teresa Fernando
3.
Judith Eduardo
4.
Josefa Catala Luís
5.
Lucinda Alberto
6.
Maria Fernando dos Santos
7.
Tamázia Dinis Tchuca
8.
Luísa dos Santos
9.
Elma Sumbo
Curso: Farmácia
Classe: 11ª
Período: Manhã
Sala: 05
Turma: B5FM
O
DOCENTE
____________________
ÁLVARO
VICENTE
LUANDA
2018
SUMÁRIO
Em
1977, com a introdução do conceito de medicamentos essenciais, os países começaram
a se preocupar com a promoção do uso racional de medicamentos, motivados pela
publicação de documentos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (LAING, 2003).
A
promoção do uso racional de medicamentos é um dos grandes destaques desta política,
pois o processo indutor do uso irracional e desnecessário de medicamentos e o
estímulo à automedicação, presentes na sociedade brasileira, são factores que
promovem um aumento na demanda por medicamentos, requerendo, necessariamente, a
promoção do seu uso racional mediante a reorientação destas práticas e o
desenvolvimento de um processo educativo, tanto para a equipe de saúde quanto
para o usuário.
Numa
perspectiva de indução ao consumo para obter lucro, cada vez mais, a relação
entre o farmacêutico e os usuários de medicamentos torna-se apenas uma relação
de negócios. O conhecimento do farmacêutico em relação aos medicamentos é
substituído pelas bulas. E, numa época que exige temporalidades curtas porque
“tempo é dinheiro”, o atendimento tem que ser rápido e ágil para que se venda
mais num menor tempo (SEVALHO, 2003). Além disso, complementa Sevalho, na
medida em que a perspectiva social da compreensão da doença está ausente, ou
depreciada, a antiga relação terapêutica farmacêutico/paciente torna-se
desnecessária (SEVALHO, 2003).
Diante
deste cenário, a presença do farmacêutico no momento da dispensação, torna-se
imprescindível para a promoção do uso racional de medicamentos. Segundo a OMS,
o farmacêutico é o profissional com melhor capacitação para conduzir as acções
destinadas à melhoria do acesso e promoção do uso racional dos medicamentos
(OMS, 1988).
Assim
sendo, este trabalho se propõe a analisar o uso racional de medicamentos, a
importância da prescrição e da dispensação do medicamento, bem como a presença
do farmacêutico neste processo, com isso contribuir para a promoção do uso
racional de medicamentos e na formação dos profissionais farmacêuticos.
O
uso racional de medicamentos é definido como o processo que compreende a prescrição
apropriada; a disponibilidade oportuna e a preços acessíveis; a dispensação em
condições adequadas; e o consumo nas doses indicadas, nos intervalos definidos
e no período de tempo indicado de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade
(BRASIL, 1998). Este conceito abrange desde a prescrição, dispensação até a
farmacoterapia adequada e seguida pelo paciente.
Dispensação
é o ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um
paciente, geralmente como resposta à apresentação de uma receita elaborada por
um profissional autorizado. Nesse ato, o farmacêutico informa e orienta o
paciente sobre o uso adequado do medicamento. São elementos importantes da
orientação, entre outros, a ênfase no cumprimento da dosagem, a influência dos
alimentos, a interacção com outros medicamentos, o reconhecimento de reacções
adversas potenciais e as condições de conservação dos produtos (BRASIL, 1998).
A
partir deste conceito, observa-se que o farmacêutico é indispensável no momento
da dispensação, de forma que com a sua orientação pode-se promover o uso
racional de medicamentos. A dispensação faz parte do processo de atenção à
saúde e deve ser considerada como uma acção integrada do farmacêutico com os
outros profissionais da saúde, em especial, com os prescritores.
Alguns
factores responsáveis pela má prescrição tem sido identificados, tais como deficiência
de formação, a incapacidade de perceber a importância da profissão, a falta de
identificação de erros, e o grande arsenal de opções terapêuticas (WEINGART,
2000; DEAN, 2002; BARBER, 2003).
Relatos
de estudantes de medicina mostram que eles não se sentem preparados para
prescrever (PEARSON, 2002; COMMBES, 2008). Esses dados nos mostram a falha na
de educação na prescrição nos cursos de graduação e de pós-graduação.
Somando-se
a estes factores, temos a propaganda de medicamentos, que tem sido um estímulo
frequente para o uso inadequado dos mesmos, sobretudo, porque tende a ressaltar
os benefícios e omitir ou minimizar os riscos e os possíveis efeitos adversos,
dando a impressão, especialmente ao público leigo, que são produtos inócuos,
influenciando-os a consumir como qualquer outra mercadoria (AQUINO, 2008)
Para
agravar ainda mais esta situação, tem-se a utilização crescente da Internet
para disseminar propaganda para os consumidores, muitas delas assumindo uma
forma menos explícita já que tentam dar a impressão de que são instrumentos
educativos ou de informação, objectivando promover a saúde, desta forma
estimulando o consumo de medicamentos, e muitos destes são vendidos pela
internet, sem prescrição médica e nenhuma orientação (BARROS, 2004).
Os
usuários de múltiplas drogas, os ex-pacientes que se tornam dependentes e
permanecem fazendo uso de medicamentos, mesmo depois de terem concluído o
tratamento, e as pessoas que preferem a comodidade de receber produtos em casa
e a preços baixos são os alvos do “cibertráfico” (BRANDÃO, 2004).
Vale
lembrar que a ausência de serviço de farmácia adequado, que zele pelo uso racional
de medicamentos em parceria com os demais serviços e profissionais do sistema
de saúde, constitui um problema importante de saúde pública (BRANDÃO, 2004).
Para
o farmacêutico moderno, é essencial ter conhecimento, atitude e habilidade que
permitam ao mesmo integrar-se à equipe de saúde e interagir mais com o paciente
e a comunidade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, em especial,
no que se refere à optimização da farmacoterapia e o uso racional de
medicamentos (MARIN , 2002).
A
análise da prescrição é uma das etapas mais importantes na promoção do uso
racional de medicamentos, visto que neste momento, o farmacêutico irá verificar
tudo o que está direccionado ao paciente, e assim poderá orientá-lo da melhor
maneira possível. Deve-se observar a legalidade e a legibilidade da prescrição.
A legibilidade de uma prescrição é obrigatória. Tentar deduzir a escrita de um
profissional é um exercício arriscado que pode ser causa de erros de medicação
podendo gerar danos ao paciente, inclusive, dependendo da medicação e do
paciente, até mesmo o seu óbito (GALATO, 2008).
Para
avaliar uma prescrição é necessário saber a quem ela está direccionada. A forma
de identificar esta informação pode ser através de perguntas, tais como: “Esta
medicação é para você?”, ou “O senhor é o Fulano? (nome escrito na
prescrição)”, quando a resposta for negativa deverá ser investigada a relação
entre o comprador e o paciente, identificando se a pessoa que está adquirindo o
medicamento é o cuidador (indivíduo responsável pelos cuidados à saúde), uma
pessoa próxima ao paciente (familiar), ou apenas alguém que está fazendo um
favor ao mesmo. Esta informação é imprescindível para obter informações que
possibilitem avaliar a aplicabilidade do medicamento (pela indicação) e a
posologia (pelas características do paciente: idade, peso, doenças etc.)
(GALATO, 2008).
Se
o comprador for o próprio paciente ou seu cuidador essas informações serão mais
facilmente adquiridas e apresentarão maior confiabilidade, permitindo uma
análise mais adequada dos medicamentos da prescrição e, consequentemente, maior
possibilidade de identificar possíveis problemas (BERGUILLOS MORETÓN, 2003;
COHEN, 1999). Chamar o paciente pelo nome é uma das formas de estabelecer mais
facilmente uma ralação terapêutica de confiança com o paciente (BERGER, 2005).
A
data da prescrição também é uma informação muito importante, pois esta pode
inviabilizar a prescrição, de forma que a data poderá indicar a continuidade de
um tratamento ou a reutilização de uma prescrição, o que a torna neste último
caso, sem sentido quando não expresso pelo prescritor. Um exemplo desta última
situação é uma prescrição de antibiótico realizada há dois meses devido ao
diagnóstico de uma infecção nesse período e que apenas agora esteja sendo
aviada.
Na
etapa de finalização do processo de dispensação reforça-se a importância de
enfatizar as informações adicionais ao tratamento do paciente, o que compreende
além das orientações não-farmacológicas, a educação em saúde. O profissional,
muitas vezes, omite essas informações por esquecimento ou deficiência em seus
conhecimentos sobre a doença, além de que, em alguns casos, estas orientações
são desconhecidas ou mesmo banalizadas pelos pacientes. Por isso, o
profissional farmacêutico deve-se manter sempre actualizado sobre as doenças e
os medicamentos (PETTY, 2003).
Quando
identificadas dificuldades no paciente em compreender as informações repassadas,
as mesmas poderão ser orientadas na forma escrita, sendo algumas vezes, auxiliadas
por pictogramas (GALATO, 2006).
Martins
e Sampaio (2008) consideram que o uso irracional de medicamentos atinge altos
índices em diversos países, podendo acarretar riscos directos e indirectos à
população. O acesso aos medicamentos no Brasil, apesar de ser restrito, atinge
a quinta colocação no mercado mundial, sendo o seu consumo alto em praticamente
todas as faixas etárias.
Cella
e Almeida (2012) afirmaram ser importante que as farmácias, juntamente com os
profissionais farmacêuticos, estimulem o uso racional de medicamentos, processo
este que envolve a utilização de produtos eficazes, seguros, na posologia
adequada e a um preço acessível. Neste contexto e conforme já vimos
anteriormente, o farmacêutico deve ter conhecimento e capacidade para tomar as
decisões mais adequadas em relação à utilização de medicamentos.
Para
Rigo e Nishiyama (2005), a formação e a manutenção de um serviço de qualidade
contribuirá para minimizar os potencias danos dos medicamentos. Ainda, os
autores consideram que há a necessidade que se utilizem medicamentos com maior
racionalidade, bem como que as expectativas e preocupações do paciente sejam
levadas em conta quando decisões terapêuticas são tomadas. Para os autores,
alcançar isso seria servir à saúde pública e alimentar o senso de confiança dos
pacientes nos medicamentos que utilizam, fato que estenderia a confiança no
serviço de saúde em geral, e utilizando-se da farmacovigilância, segundo os
autores, será mais possível cumprir essas expectativas.
Na
visão de Caneca Pereira (2006), actualmente, um dos grandes desafios nesta área
é conseguir sensibilizar os profissionais de saúde no sentido de participar
activamente dos programas de farmacovigilância, para que através de
notificações voluntárias sejam efectuadas a detecção, avaliação compreensão e
prevenção dos riscos de efeitos adversos aos medicamentos.
Conforme
a visão de Cella e Almeida (2012), as informações fornecidas pelos profissionais
de saúde ao paciente são essenciais para o uso racional de medicamentos. Ainda,
consideram que o profissional farmacêutico necessita estar comprometido para
poder sugerir um médico ao paciente quando julgar que a automedicação não é
adequada. Tal acção irá contribuir para diminuir a automedicação e os problemas
relacionados.
Segundo
destacado por Rigo e Nishiyama (2005) deve-se investir em farmacovigilância,
uma vez que as notificações constituem o principal objecto de trabalho, sendo
responsabilidade compartilhada entre instituições notificadoras, profissionais
de saúde e usuários de medicamentos. É necessário salientar que o êxito de um
sistema de farmacovigilância depende da notificação voluntária de reacções
adversas pelos profissionais de saúde, por isso deve-se manter continuamente
estímulo a esta prática.
Segundo
Cella e Almeida (2012), a escolha da terapêutica pode ser caracterizada como o
ponto de partida para que o tratamento seja eficaz e que o uso de medicamento
seja racional. A seguir, o médico deve prescrever um medicamento que seja
seguro, segundo seus conhecimentos e capacidades. Por outro lado, uma
prescrição inconveniente pode levar a um tratamento não garantido.
Para
Trento et al. (2014), a prescrição de um antimicrobiano sem uma indicação
precisa, pode levar ao desenvolvimento da resistência bacteriana. Salienta-se
que para que ocorra o uso racional do medicamento, além do profissional que
prescreve, é responsável também o farmacêutico que realiza a dispensação e o
usuário do medicamento.
Neste
contexto, é necessário antes de tudo que a pessoa esteja realmente necessitando
do medicamento, para que, então, o médico faça uma boa prescrição de acordo com
as normas de eficácia e segurança da terapêutica.
De
acordo com a OMS, os medicamentos ocupam o primeiro lugar entre os agentes
causadores de intoxicação em seres humanos e o segundo lugar nos registos de
mortes por intoxicação.
Beckhouseret
al. (2010) afirmaram que, conforme a OMS, automedicação consiste na selecção e
utilização de medicamentos isentos de prescrição (sem tarja) no intuito do
tratamento de doenças autolimitadas ou seus sintomas, como acção de autocuidado.
Cella
e Almeida (2012) também citaram que a automedicação é a escolha e o uso de
medicamentos isentos de prescrição para tratar sintomas ou problemas de saúde,
podendo ser praticada de outras formas, como utilizar receituário antigo,
interromper ou prolongar a dosagem e/ou tempo de tratamento e dividir os
medicamentos com os demais membros da família.
Oliveira
e Pereira (2012) apontaram a automedicação como o consumo de medicamentos
industriais ou caseiros, com o objectivo de tratar, aliviar os sintomas ou
doenças percebidas, no intuito de promover a saúde, dispensando a orientação
adequada de um profissional.
Para
Beckhouseret al. (2010), a automedicação é caracterizada como sendo a
iniciativa de um sujeito ou de seu responsável em usar um medicamento que
poderá vir a trazer benefícios no tratamento de doenças ou alívio imediato de
seus sintomas.
Oliveira
e Pereira (2012) citaram que, na maioria das vezes, a automedicação é realizada
sem nenhum aconselhamento adequado, o que pode acarretar em danos para a saúde.
Na
visão de Flores e Mengue (2005), o fácil acesso a medicações e a baixa
frequência do uso de recursos não farmacológicos para o manejo de problemas
médicos contribui para esse consumo elevado de medicamentos.
Segundo
Beckhouseret al. (2010), entre as principais formas pelas quais pode-se praticar
a automedicação, pode-se citar a aquisição de medicamentos sem receita, o compartilhamento
dos medicamentos com outros integrantes da família ou círculo social, a reutilização
de sobras de medicamentos de tratamentos anteriores e a utilização de antigas
prescrições. Ainda, outras formas para a realização da automedicação seria o
descumprimento da prescrição, prolongando ou interrompendo precocemente o
tratamento indicado. Destaca-se, ainda, que esta prática é influenciada por
amigos, familiares e balconistas de farmácia.
Segundo
destacado por Azevedo e Medeiros (2008), o consumo de medicamentos passou a
representar nas últimas décadas um complexo problema de saúde pública, atingindo
uma grande parcela da população.
Outro
agravante é o padrão de consumo de medicamentos em Angola que é fortemente
influenciado pela falta de controlo em toda a cadeia de disponibilização, desde
a produção até a comercialização, levando ao consumo abusivo e irracional de
produtos de venda livre e mesmo dos que necessitam de receituário médico.
Sabe-se
que, conforme apontado por Bortolonet al. (2008), o medicamento ocupa papel
central na busca pela recuperação da saúde e elemento essencial das práticas
profissionais. A disponibilidade desses produtos pode satisfazer as
expectativas dos usuários, mas deve ser considerada pelos profissionais de
saúde como uma ferramenta adicional, acessória às medidas de carácter
preventivo e de promoção da saúde da população.
Para
Cella e Almeida (2012), as classes de medicamentos de maior risco, no que concerne
a automedicação, que estão entre os causadores de intoxicações são os
antigripais, os benzodiazepínicos, os antiinflamatórios e os antidepressivos.
Os
antimicrobianos são considerados compostos naturais ou sintéticos capazes de
inibir o crescimento ou causar a morte de fungos ou bactérias. Podem ser
classificados de acordo com a sua potência. Os antibióticos bactericidas causam
a morte da bactéria, e os bacteriostáticos, quando promovem a inibição do
crescimento microbiano (WALSH, 2003).
Haraguchi
(2013) aponta que os antimicrobianos constituem a classe de medicamentos mais
prescritos. São empregados com diversas finalidades nas infecções e profilaxia
de infecções. Porém, devido a factores como, prescrição inadequada de
antimicrobianos; uso abusivo ou indiscriminado destes fármacos; globalização,
facilitando a transmissão de patógenos resistentes; falta de um sistema
efectivo de vigilância epidemiológica de resistência bacteriana, propiciaram o
desenvolvimento de cepas resistentes de diversos microrganismos patogénicos aos
antimicrobianos.
A
prescrição de um antimicrobiano sem uma indicação precisa pode levar ao desenvolvimento
da resistência bacteriana, o que pode contribuir inclusive para o óbito do usuário.
Desta forma, a prescrição racional e responsável dos antimicrobianos ultrapassa
a dimensão individual do profissional que prescreve, sendo uma responsabilidade
também, do farmacêutico que faz a sua dispensação e do usuário do medicamento
(TRENTO et al, 2014). A resistência bacteriana gera diversas consequências,
tais como, o aumento do custo e do tempo de tratamento, a utilização de
medicamentos mais caros e até mais tóxicos; aumento do tempo de hospitalização;
isolamento do paciente; aumento da frequência e da gravidade das infecções
hospitalares e aumento da taxa de mortalidade associada a este tipo de infecção
(GURGEL e CARVALHO, 2008).
Os
antimicrobianos devem ser comercializados apenas com receita médica e uma das
vias deve ficar obrigatoriamente retida no estabelecimento. As prescrições
médicas possuem validade de dez dias e devem estar escritas em letra legível e
sem rasuras e conter nome do remédio ou da substância, dosagem ou concentração,
forma farmacêutica, quantidade, posologia, dados completos do paciente, além de
nome, registo profissional e endereço completo com telefone do médico, que deve
assinar o documento. Todas as receitas devem, ainda, ser escrituradas.
Segundo
dados da Organização Mundial da Saúde, as infecções causam 25 % das mortes em
todo mundo e 45 % em países menos desenvolvidos. O uso de antimicrobianos para
essas situações tem magnitude calculada (HOLLOWAY, 2003).
─
Mais
de 50 % das prescrições se mostram inapropriadas,
─
2/3
dos antibióticos são usados sem prescrição médica em muitos países,
─
50
% dos consumidores compram medicamento para um dia,
─
90
% compram-no para período igual ou inferior a 3 dias,
─
+
de 50 % do orçamento com medicamentos são destinados aos antimicrobianos.
Segundo
Feitosa (2006), o uso correcto do medicamento optimiza sua eficácia, segurança
e diminui a necessidade de antibióticos mais potentes, consequentemente,
minimiza os gastos com medicamentos e reduz a resistência bacteriana. No
tratamento de uma infecção com um antimicrobiano, a escolha, a dosagem, a via
de administração e o tempo de tratamento, podem representar a eficiência da
terapêutica. Mas nem sempre é possível definir o agente etiológico e o
consequente antibiograma, portanto a escolha do antibiótico deve considerar o
local de acção, a flora bacteriana normal, os prováveis agentes etiológicos,
perfil de sensibilidade, resistência dos microrganismos aos agentes
antimicrobianos e o custo dos mesmos (BISSON, 2003).
A
resistência aos antibióticos é causada pela mutação espontânea e recombinação
de genes que ocorre durante a reprodução bacteriana, o que gera cepas com
variabilidade genética sobre a qual os fármacos passam a não exercer actividade
sobre os microrganismos. Salienta-se que a resistência se manifesta porque o
genoma bacteriano é extremamente dinâmico (MOTA, et al., 2005). O usuário é o
principal responsável pela disseminação dos genes de resistência, seja por uma
atitude inconsequente ou pela falta de informação, o que faz o uso irracional
de antimicrobianos ter aumentado nos últimos anos (DEL FIOL, et al., 2010).
Uma
vez seleccionado o antimicrobiano e prescrito pelo profissional responsável,
cabe ao farmacêutico a orientação e acompanhamento na administração do mesmo,
proporcionando maior segurança e eficiência na terapêutica (BISSON, 2003).
No
momento que os pacientes receberem suas medicações e o farmacêutico orientar
quanto ao uso correcto das mesmas, sobre a dose de administração e duração que
foi prescrita, haverá consequentemente uma adesão ao tratamento e obviamente
uma redução no uso inadequado dos medicamentos, incluindo os antimicrobianos,
reduzindo assim a resistência aos antibióticos.
Nas
últimas décadas, a sociedade moderna vem se destacando pelo consumo acentuado
de medicamentos, seja em virtude do crescimento populacional, ou dos avanços da
ciência e/ou da expansão da indústria (RODRIGUES, 2009). O aumento do consumo
reflecte na ascensão do desperdício. O desperdício de medicamentos tem várias
causas, dentre as quais se destacam: a dispensação de medicamentos além da
quantidade exacta para o tratamento do paciente, a interrupção ou mudança de
tratamento, a distribuição aleatória de amostras grátis; e o gerenciamento
inadequado de estoques de medicamentos por parte das empresas e dos
estabelecimentos de saúde (ANVISA, 2012).
Grande
parte da população angolana possui medicamentos em sua residência, acumulando-os
de forma a constituir o que se pode denominar de “farmácia caseira” (estoque
domiciliar). Estes resultam das sobras de tratamentos finalizados, dos que são
comprados em quantidades desnecessárias e são guardados para serem utilizados
futuramente.
Segundo
Bueno, Weber e Oliveira (2009), as farmácias caseiras como são conhecidas,
geralmente contém algumas fórmulas reservadas às emergências (analgésicos,
antitérmicos e antigripais), vendidos sem receita médica. Entretanto, também é
muito comum conter sobras de medicamentos que necessitam de prescrição
(antibióticos, corticóides, entre outros) para um possível consumo posterior,
podendo ficar armazenados até a expiração da sua data de validade. Muitos
desses produtos são descartados no lixo doméstico ou na rede de esgotos,
gerando problemas ambientais e de saúde de pública.
As
causas do excedente de medicamentos merecem ser tratadas com a devida atenção,
uma vez que, esses não terão outro destino senão o descarte. A destinação final
dos medicamentos é tema relevante na saúde pública devido às diferentes
propriedades farmacológicas dos medicamentos, que, inevitavelmente, se tornarão
resíduos e não poderão mais ser utilizados (FALQUETO; KLIGERMAN; ASSUMPÇÃO,
2006).
A
informação quanto ao procedimento correcto de descarte de medicamentos não utilizados
ou vencidos é desconhecida por grande parte da população (VERRORAZZI; VENAZZI,
2008). De acordo com pesquisa realizada por Ueda et al. (2009), percebe-se que
grande parte da população não tem informação quanto aos procedimentos e conduta
adequada para o descarte de tais produtos, e quanto ao impacto que o descarte
inadequado desses pode gerar ao meio ambiente, inclusive ao próprio ser humano.
A
eliminação inadequada é realizada pela maioria das pessoas por falta de
informação, orientação e divulgação por parte dos poderes públicos sobre os
danos causados pelos medicamentos ao meio ambiente e por carência de postos de
colecta (PINTO, 2014).
Práticas
inadequadas de descarte podem originar danos ambientais e à saúde pública,
podendo ocasionar impactos ambientais proeminentes, afectando diversos
ecossistemas (Melo et al., 2005). A resistência bacteriana é outro problema de
saúde pública, ambiental e mundial, que limita o tratamento de infecções em
razão ao surgimento de bactérias resistentes aos antibióticos e interfere no
equilíbrio dos ecossistemas, que poderá ser em decorrência tanto pelo mau uso
dos antimicrobianos quanto pelo descarte das eventuais sobras no ambiente
(ALVARENGA; NICOLETTI, 2010).
Os
medicamentos vencidos e descartados são considerados resíduos, que apresentam
riscos à saúde humana e ao meio ambiente. Entre os diversos riscos associados
ao descarte incorrecto de medicamentos vencidos estão: contaminação do solo, da
água, e dos alimentos; intoxicação de animais e de pessoas, em especial aos
grupos de pessoas carentes e crianças mais expostas, como é o caso dos
frequentadores de aterros sanitários ou dos lixões que reutilizam medicamentos
vencidos e descartados. O descarte incorrecto de medicamentos vencidos também é
considerado uso irracional de medicamentos, segundo Carneiro (2011).
Para
Bueno et al. (2009), o consumidor é de fundamental importância para a solução
do problema, mas para que este papel seja exercido de forma consciente e
absoluta faz-se necessária a implantação de políticas públicas de educação,
juntamente com conscientização ambiental e o acesso à informação correcta de
eliminação desses produtos, para que assim, possa exercer de forma plena a
defesa da sustentabilidade.
Considerando-se
que a incineração é actualmente a maneira indicada para o destino e diminuição
do volume de medicamentos inutilizados, como método de evitar que estes sejam
descartados indevidamente no ambiente, causando danos ambientais, é fundamental
que esteja associada a um sistema avançado de depuração de gases, evitando
assim a emissão de gases tóxicos na atmosfera (ALVARENGA; NICOLETTI, 2010).
O
Ministério da Saúde e o Ministério do Meio Ambiente, órgãos responsáveis pela
normatização do descarte de medicamentos, em Angola, devem fornecer
instrumentos para que os autores envolvidos em atividades que geram resíduos
dessa natureza possam dar-lhes a disposição final adequada. Todavia, até o
presente momento, os processos de tratamento e de disposição final dos resíduos
não são claramente definidos e verifica-se ainda uma ausência de orientação
técnico-científica consolidada na legislação angolana.
A
constatação da falta de orientação e a má aderência por parte dos usuários
enfatizam a importância da formação de programas de recolhimento de
medicamentos em desuso e campanhas de conscientização visando à orientação da
população quanto ao uso e ao descarte correcto dos medicamentos, favorecendo
assim ao uso racional dos mesmos.
O
aconselhamento ao paciente é um dos instrumentos essenciais para a realização
da Atenção Farmacêutica, sendo imprescindível o desenvolvimento das habilidades
de comunicação, para assegurar a boa relação farmacêutica – usuário.
Feitosa
(2006) afirma que, com a prática da atenção farmacêutica e a carência da população
de um farmacêutico muito actuante em defesa do uso racional dos medicamentos,
surge uma oportunidade ímpar para o desempenho de seu papel perante a
sociedade. Faz parte de suas atribuições a promoção da saúde, principalmente
através da disposição de um serviço de farmácia com qualidade (e neste aspecto
incluem-se orientação e o acompanhamento farmacêutico) e, da educação em saúde,
de fácil acesso à população.
Oliveira
e Pereira (2012) acreditam que a presença do farmacêutico é de extrema importância,
pois ele tem a noção exacta de suas competências, seus limites como
profissional da saúde e é um conhecedor dos medicamentos. Neste processo,
assumindo a atitude correcta no momento oportuno e avaliando a situação de cada
cliente/paciente, conduzindo-o a uma consulta médica ou em caso de urgência a
um hospital e até mesmo de volta a sua casa com a medicação correcta em mãos.
O
papel do farmacêutico também consiste na informação quanto ao uso correcto da
medicação, acondicionamento das drogas, duração do tratamento e avaliação da
prescrição, visando a não ocorrência de factores que possam prejudicar a saúde
ou o tratamento do paciente, bem como o controle dos riscos, de modo a se
evitarem possíveis morbidades e/ou mortalidades.
O
panorama de utilização irracional de medicamentos, em especial a automedicação
no público infantil, só poderá ser revertido com campanhas educativas voltadas
à população em todos os seus níveis e faixas etárias.
Assim
sendo, para o farmacêutico moderno é essencial ter conhecimentos, atitudes e
habilidades que permitam ao mesmo integrar-se à equipe de saúde e interagir
mais com o paciente e a comunidade, contribuindo para a melhoria da qualidade
de vida, em especial no que se refere à optimização da farmacoterapia e o uso
racional de medicamentos.
De
fato, a atenção farmacêutica precisa ser praticada com mais ênfase para
diminuir os riscos da automedicação e garantir um tratamento com acompanhamento
e supervisão de um profissional da saúde habilitado a lidar com medicamentos.
A
conclusão que chegamos é que o medicamento, para muitas pessoas, é visto como a
solução dos problemas, a partir dele não existirá mais doença, entretanto, a
população desconhece, que o que vai diferenciar o medicamento do veneno, é a
dose. Muitas pessoas fazem uso de medicamentos, sem nenhuma orientação, tomam
quando sentem dor, e param de tomar quando a dor cessa, outros tomam quantas
vezes acham que devem tomar, e muitas vezes, associam a outros medicamentos e
até mesmo a bebidas alcoólicas. Desta forma, podem aparecer os efeitos
indesejáveis, ou até mesmo, uma intoxicação medicamentosa.
O
que vemos na realidade são pessoas altamente influenciáveis, que se deixam
levar pela indicação de um amigo, vizinho, parente, entre outros, bem como
sofrem a influencia das propagandas, que fazem a alusão da cura como num passe
de mágica.
A
sociedade deve ser conscientizada sobre o uso racional de medicamentos, os
males que o uso irracional pode causar, para isso deve-se fazer campanhas
conscientizadoras, palestras educativas, uma maior fiscalização dos conselhos
de farmácia para exigir a presença do farmacêutico no estabelecimento, além
disso, alertar e conscientizar os balconistas que medicamento não é qualquer
mercadoria, que se utilizado de forma incorrecta pode levar a morte, e que a
empurroterapia (que consiste em vendedores oferecerem/indicar medicamentos
similares no lugar dos remédios de marca, ou dos genéricos, para ganhar
comissão dos seus fabricantes) pode trazer graves consequências para o usuário.
Outro
factor importante é a orientação farmacêutica no momento da dispensação, de
forma que, se o farmacêutico estiver presente, pode-se evitar o uso irracional
do medicamento, combater a automedicação, desta forma, promover o uso racional
de medicamentos.
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