GOVERNO DA PROVÍNCIA DE LUANDA
GABINETE PROVINCIAL DA EDUCAÇÃO DE
LUANDA
ESCOLA DO IIº CICLO DO ENSINO
SECUNDÁRIO N.º 4083 – JICA
HISTÓRIA
ANGOLA, A ABERTURA AO ATLÂNTICO – O
IMPACTO INICIAL
LUANDA
2016
ESCOLA DO IIº CICLO DO ENSINO
SECUNDÁRIO N.º 4083 – JICA
HISTÓRIA
ANGOLA, A ABERTURA AO ATLÂNTICO – O
IMPACTO INICIAL
- O DESENVOLVIMENTO DO TRÁFICO DE
ESCRA-
VOS NA REGIÃO
- OS PRIMEIROS CONTACTOS COM O NDONGO
INTEGRANTES DO
GRUPO
Luciano
Nelson Ginga nº 44
Manuel
Alberto Canhanga nº 45
Mera
Lemos Nunes nº 47
Osvaldo
Sandulo nº 48
Pedro
Albano Pascoal nº 49
Edgar
Eurico Savissoquele nº60
Manuel
Zacarias Afonso nº 64
Manuela
Francisco Simões nº 46
Classe:
11ª
Curso: Ciências Económicas e
Jurídicas
Grupo
nº:
08
Turma: TX3
Período:
Tarde
Sala: 03
Trabalho
apresentado ao Curso de Ciências Económicas e Jurídicas na disciplina de História
como requisito parcial para obtenção de notas.
Orientadora:
Ernestina Marcolino da Silva
LUANDA
2016
SUMÁRIO
Neste trabalho, no
âmbito da disciplina de História, inclinámo-nos a abordar sobre o tema “Angola,
A Abertura ao Atlântico – O Impacto Inicial”, porém vamos nos concentrar mais especificamente
nos seguintes subtemas que dominaram a nossa pesquisa: O desenvolvimento do tráfico
de escravos na região e os seus primeiros contactos com o Ndongo.
Este trabalho vai
nos ajudar a compreender de forma mais clara, a história do início da
escravidão em nosso território, que é imprescindível para nós qual Angolanos.
Os mercadores
europeus, com o crescer da procura por mão-de-obra escrava, motivada pela
instalação de colónias agrícolas na América, associaram-se militarmente e
financeiramente com sobas e régulos africanos, que viviam nas costas marítimas,
dando-lhes armas, pólvora e cavalos para que afirmassem sua autoridade numa
extensão a maior possível. Os prisioneiros das guerras tribais eram
encarcerados em “barracões”, em armazéns costeiros, onde ficavam a espera da
chegada dos navios tumbeiros ou negreiros que os levariam como carga humana
pelas rotas transatlânticas.
Os principais
pontos de abastecimento de escravos, pelos menos entre os séculos XVII e XVIII
eram o Senegal, Gâmbia a Costa do Ouro e a Costa dos Escravos. O delta do
Níger, o Congo e Angola serão grandes exportadores nos séculos XVIII e XIX.
Quantos escravos foram afinal transportados pelo Atlântico? Há muita
divergência entre os historiadores, alguns chegaram a projectar 50 milhões, mas
os censos de 1969 estimam entre 9 a 10 milhões, a metade deles da África
Ocidental, sendo que o apogeu do tráfico ocorreu entre 1750 a 1820, quando os
traficantes carregaram em média uns 60 mil por ano. O tráfico foi o principal
responsável pelo vazio demográfico que acometeu a África no século XIX.
O comércio de escravos
no Atlântico ou comércio transatlântico de escravos, também chamado de tráfico
negreiro, ocorreu em todo o Oceano Atlântico entre os séculos XVI e XIX. A
grande maioria dos escravizados que eram transportados para o Novo Mundo, a
maior parte pela rota de Comércio Triangular, eram membros de povos da África
Ocidental, nas partes centrais e ocidental do continente, vendidos por outros
africanos ocidentais para os comerciantes de escravos da Europa Ocidental ou
capturados directamente pelos europeus.
O número de pessoas
trazidas foi tão grande que, antes do final do século XVIII, os africanos que
vieram por meio do comércio de escravos tornaram-se os mais numerosos
imigrantes do Velho Mundo tanto no Norte quanto no Sul da América. Uma quantidade
muito maior de escravos foi levada para a América do Sul em relação ao norte. O
sistema económico do Atlântico Sul era centrado na produção de culturas de
comanditeis e produtos têxteis para vender na Europa. Aumentar o número de
escravos africanos trazidos para o Novo Mundo foi crucial para os países da
Europa Ocidental que, nos séculos XVII e XVIII disputavam entre si a criação de
impérios ultramarinos o comércio de escravos é às vezes chamado de Maafa por
estudiosos afro-americanos, o que significa "grande desastre" em
suaíli. Outros, como Marimba Ani e Maulana Karenga, usam os termos Holocausto
Africano ou Holocausto da Escravidão para se referir ao período.
O Império Português
foi o primeiro a se engajar no comércio de escravos para o Novo Mundo no século
XVI e outros logo o seguiram. Os donos dos navios negreiros consideravam os
escravos como uma carga que deveria transportada para a América da maneira mais
rápida e barata possível, para então serem vendidos para o trabalho escravo em
lavouras de café, tabaco, cacau, açúcar e algodão, nas minas de ouro e prata,
campos de arroz, de indústria de construção, corte de madeira e como empregados
domésticos. Os primeiros africanos importados para as colónias inglesas eram
classificados como "servos contratados" e também como
"aprendizes para toda a vida". Em meados do século XVII, a escravidão
tinha se consolidado como uma casta racial; os escravos negros e seus
descendentes eram oficialmente uma propriedade de seus proprietários e as
crianças nascidas de mães escravas também eram consideradas escravas. Enquanto
uma propriedade, as pessoas eram consideradas um tipo de mercadoria ou unidades
de trabalho e eram vendidas em mercados populares, ao lado de outros produtos e
serviços.
Os principais
comerciantes de escravos do Atlântico, ordenados por volume de comércio, foram:
os impérios Português, Britânico, Francês, Espanhol e Neerlandês, além dos
Estados Unidos (especialmente a região sul). Eles estabeleceram postos avançados
na costa africana onde adquiriram escravos de líderes africanos locais. As
estimativas actuais são de que aproximadamente 12 milhões de africanos foram
enviados através do Atlântico, embora o número de pessoas compradas pelos
comerciantes de escravos seja consideravelmente maior.
O comércio
triangular foi uma rede de comércio muito lucrativa, o qual envolvia os continentes
europeus, americanos e africanos, tendo como factor principal, o tráfico negreiro.
A Europa fornecia produtos como algodão, ferro, armas e rum, em troca de escravos
africanos, que tinham como destino às Américas. Porém, no caminho de travessia
do continente africano ao americano, muitos escravos morriam devido as
condições subhumanas em que viviam.
Os escravos que
chegavam às novas terras eram comercializados com os colonos, e acabavam sendo
vendidos aos donos de jazidas e plantações, e trocados por produtos como
algodão, ouro, tabaco e açúcar. Esses escravos eram utilizados como mão-de-obra
barata, e passariam a trabalhar na produção açucareira e em minas de ouro.
Tendo, portanto, a
América do Norte adquirido certa base económica, visto que essa importava
produtos manufacturados europeus, e também escravos à região das Antilhas, as
Treze Colónias passou a ter sua relação com a Inglaterra acirrada, desencadeando,
mais tarde, na independência dos Estados Unidos, em 1776.
A partir das
expansões marítimo comerciais, no século XV, deu-se início a um novo sistema
socioeconómico: o sistema colonial conjunto de relações entre metrópoles e
colónias. Nesse sistema havia dois modelos de colonização: as colónias de
exploração ocorrida principalmente na África, como na América do Sul, em que a
metrópole portuguesa via nessa terra uma fonte rápida de obtenção de riqueza,
sem a preocupação do desenvolvimento da colónia; e as colónias de povoamento,
caracterizada pela presença dos ingleses na África e na América do Norte.
Esses ingleses viam
na nova terra uma oportunidade de prosperarem e ali se desenvolverem, ou seja,
tinham o ideal de permanecem nesse território, e assim o fizeram, resultando na
construção da América do Norte. Com o desenvolvimento da colónia norte-americana,
possibilitaram aos ingleses refugiados a se relacionarem comercialmente com
outros continentes, surgindo o chamado Comércio Triangular.
O Comércio Triangular
foi o principal instrumento do tráfico negreiro. Ele envolvia uma teia de
interesses e de negociações entre Europa, África e América, com algumas ramificações
englobando os produtos asiáticos. O processo era gerido pelas metrópoles
europeias, principalmente Holanda, Inglaterra, França, Espanha e Portugal.
Embora estas últimas nações estivessem já decadentes, ainda dispunham de poder
em suas respectivas colónias e, portanto, nesta trajectória de produção e
distribuição de mercadorias essenciais para a vida económica global: ouro,
prata, diamantes, açúcar e tabaco.
Esta estrutura
comercial enredava produtores e distribuidores, compradores e vendedores,
dominadores e subjugados, um intrincado jogo conduzido pelas potências europeias,
mas que dependia essencialmente da existência, no continente africano, de
negreiros dispostos a trocar os produtos manufacturados transportados por
mercadores da Europa armas de fogo, rum, tecidos de algodão provindos da Ásia,
ferro, jóias de baixo valor, entre outros. Por seus próprios compatriotas,
negros que seriam escravizados na América, onde eram permutados por açúcar,
tabaco, moedas ou barras de ouro e prata, cedidos por seus futuros senhores,
donos de minas ou proprietários de importantes plantações.
Assim, o continente
africano tinha como função, no comércio triangular, oferecer trabalhadores
escravos para as colónias da América e das Antilhas onde os barcos negreiros
buscavam os portos da Jamaica, Bahamas, Haiti, Saint-Eustatius, Saba,
Saint-Martin, Barbuda e Antigua, Guadalupe, Granada, Trinidad & Tobago,
Bonaire, Curaçao e Aruba. Daí seguiam grupos de escravos para as Carolinas e a
Virgínia nos EUA, enquanto outros tantos eram direccionados para o Norte e o
Nordeste do Brasil, bem como ao Rio de Janeiro. O escravo era o motor que movia
a produção das grandes lavouras de açúcar e tabaco que se estendiam do Rio de
Janeiro até o Sul dos EUA, na Virgínia.
Os nativos
africanos que negociavam com os europeus tinham um papel muito importante na
captura e troca de seus conterrâneos, pois somente eles tinham coragem e
conhecimento suficiente do território local para se enveredarem pelo interior
da África em busca daqueles que se tornariam escravos em terras desconhecidas.
Às vezes, porém, os próprios colonos se deslocavam até o continente africano,
negociando directamente com os negreiros, dispensando o intermédio de
comerciantes europeus. Sem os negros escravizados a economia da Europa não
teria sido tão beneficiada por esta rede comercial triangular. Na verdade,
estas transacções favoreciam, além das metrópoles, tanto os responsáveis por
esta triangulação na África, quanto o mecanismo produtor das colónias
americanas.
Os escravos eram
utilizados pelas potências colonizadoras europeias como moeda de troca, através
da qual elas importavam os produtos produzidos em suas colónias na América e
nas Antilhas, completando assim os vértices do comércio triangular. Assim, não
precisariam recorrer aos metais preciosos que detinham, a base do
Mercantilismo. Resumindo, os produtos manufacturados europeus eram trocados por
escravos na África, embarcados para a América e para as Antilhas nestes
trajectos muitos escravos, submetidos a condições cruéis durante a viagem, não
sobreviviam, onde eram permutados pelos produtos coloniais que interessavam às
metrópoles.
Desde 1576, as
trocas comerciais foram regulares entre Luangu e Luanda. Eram enviados tecidos,
tapetes, espelhos e missangas para trocar tácula de Maiombe, marfim, peles de
elefante e sobretudo panos de ráfia, usados como moeda de troca com os Mbundu.
Então, em 1611, o volume das trocas aumentou porque holandeses pagavam melhor
os escravos e o marfim e os seus agentes afastavam os pombeiros de Angola.
Entretanto, estabelecem novas vias de escoamento de produtos de Kassai, ligando
Mpumbu e Luangu; do Kuango ao Mbanza Congo, Cabinda e o Planalto do Bié até
Benguela.
Os portugueses
tinham perdido o controlo do comércio e não conseguiram competir economicamente
com os seus rivais europeus. No entanto continuaram as fortalezas de S. Pedro
da Barra e Cabinda, isto é, em 1783 e tentaram cortar as rotas que traziam os
escravos de Kuango até ao litoral. Os mercadores estrangeiros vendiam os seus
produtos nos mercados de Luanda.
Na costa do Luangu
os concorrentes europeus satisfaziam as exigências perante a livre
concorrência. Se os africanos exigissem aguardente, pólvora, tabaco, eram estes
os produtos que tinha de ser dado em troca dos escravos ou do marfim.
Assim, no final do
século XVIII, os grandes negreiros de Luanda tiveram fraco rendimento com o
tráfico.
O historiador
Walter Rodney afirma que foi uma queda na rentabilidade das operações
triangulares que tornou possível que certos sentimentos humanos básicos para se
consolidar as críticas contra o tráfico negreiro no Atlântico. Rodney afirma
que as mudanças na produtividade, na tecnologia e nos padrões de intercâmbio na
Europa e na América impulsionou a decisão dos britânicos de acabar com a sua
participação no comércio de escravos em 1807.
O Senhor africano,
após massacrar o comerciante português aliados de Dias de Novaes, que se
encontravam na capital, reuniu suas tropas e atacou os lusitanos de Luanda. Uma
longa e sanguinária guerra. Uma aliança entre Ndongo e Mtamba, um reino mais a
leste permitiu vitórias importantes sobre os portugueses. A Aliança entre
portugueses e os yagas (jagas) permitiu que aqueles fossem impondo sua
soberania aos sobas e apoderando-se das terras do reino do Ndongo.
Os resultados da
guerra foram prejudiciais a todos os tipos de comércio, todo mundo corria
perigo e nos primeiros anos do século XVII, os portugueses foram obrigados a
abrirem uma conversa sobre a paz em Luanda, com os Kimbundos dos Ndongo. Ai
apareceu à figura de Nzinga pela primeira vez na vida dos lusitanos, Nzinga
Mbundi – rainha Ginga dos documentos da época – embaixadora plenipotenciária de
seu tio, o ngola. A Africana mostrou-se esperta na arte da diplomacia e mais
tarde nas artimanhas da guerra. Ela com habilidade conquistou na mesa de
negociação quase tudo que o Ndongo havia perdido na guerra. Morrendo o ngola,
ela quebrou as regras de sucessão e subiu ao poder. Exigiu então dos
portugueses os que haviam sido acordados no tratado.
O reino do Ndongo
(ou reino do Ngola) é o nome de um estado pré-colonial
Africano na actual
Angola, criado por subgrupos dos Ambundu.
Os primeiros
contactos do reino Ndongo foram em 1518 o Ndongo enviou uma embaixada a
Portugal pedindo missionários e indirectamente, pelo reconhecimento da sua
independência face ao Congo.
Onde também
encontramos a fundação da Colónia de Angola como colónia da Coroa na África
Ocidental Portuguesa (1575 -1646), Soberania Holandesa na África Ocidental
Holandesa (1641-1648), Soberania Portuguesa (1648-1885), Colónia Portuguesa da
África Ocidental (1885-1914), Colónia de Angola (1914-1951), Província
Ultramarina Portuguesa de Angola (1951-1975) e República Popular de Angola
(1975 ao momento), e que o conflito entre a Angola e Congo que chegou até aos
Estado Unidos para ter um consenso.
Os registos mais
antigos acerca deste reino datam do século XVI. Ndongo foi como Matamba um dos
vários estados vassalos do Reino do Kongo que existiram na área habitada pelos
Ambundu. Ele foi liderado por um rei cujo título era ngola (que deu origem à
palavra "Angola").
Em 1518 o Ndongo
enviou uma embaixada a Portugal pedindo missionários e, indirectamente, pelo
reconhecimento da sua independência face ao Congo. Uma missão portuguesa chegou
ao Ndongo em 1520 mas disputas locais e talvez a pressão do Congo forçou os
missionários a abandonar. Afonso I do Congo' levou os Missionários para o Congo
e deixou o seu próprio padre no Ndongo.
Por volta de 1556,
o Ndongo enviou outra missão a Portugal procurando ajuda militar e
oferecendo-se para serem cristianizados mesmo apesar dos oficiais portugueses
da altura terem duvidado da sua sinceridade religiosa. Em 1901,E. G. Ravenstein
afirmou que esta missão foi o resultado de uma guerra entre o Congo e o Ndongo,
na qual o Ndongo saiu vencedor e afirmou a sua independência. O mesmo disse
JanVansina em 1966 (e a partir daqui vários outros escritores), porém isto
parece ter sido uma incompreensão das fontes originais. O Ndongo poderá ter
realmente visto a missão como uma espécie de declaração de independência, já
que a resposta do Congo à missão de 1518 sugere que ainda mantinha poder
suficiente para prevenir movimentos independentistas.
De qualquer forma,
a segunda missão portuguesa, liderada por Paulo, Dias de Novais, neto do famoso
explorador Bartolomeu Dias, atracou na foz do rio Kwanza em 1560, juntamente
com vários padres jesuítas, incluindo o notável Francisco de Gouveia. A missão
de Dias de Novais falhou igualmente, tendo ele voltado a Portugal em 1564,
deixando o padre jesuíta Francisco Gouveia para trás.
Após a Restauração,
os territórios africanos dominados pelos portugueses oram palco de vários
conflitos envolvendo interesses e motivações diversas. A ameaça holandesa, e a
sua efectiva ocupação, exigiram que os portugueses organizassem estratégias
para minimizar os efeitos gerados pela aliança de alguns reis e de vários sobas
que, nesse contexto, preferiram negociar com os agentes.
A resistência nas
terras de Massangano foi fundamental para a garantia das alianças com Ngola
Ari, rei do Ndongo e fiel vassalo português, e para o contra ataque liderado
por Salvador Correia de Sá, que deu início a um período de governos, que em
suas acções destoaram, e muito, dos discursos da Coroa que pregavam a
cooperação e o estabelecimento de alianças pacíficas com as lideranças
africanas.
A acção de ordens
missionárias religiosas fomentou outro foco de conflitos nos territórios do
Congo e de Angola. Inacianos e capuchinhos reflectiram na colonização do
ultramar português, divergências entre os direitos sobre a evangelização e
sobre os métodos para a condução dessa catequese cativeiro, representando
também um feixe dos conflitos entre o Vaticano e a Coroa portuguesa. O
missionarismo como um dos braços da colonização estabeleceu sua marca na
conversão, e principalmente na legitimação da prática escravista dos lusitanos,
dos lusos africanos e mesmo entre os nativos convertidos, que viam no resgate
das almas um bom negócio avalizado pela consciência dos feitos cristãos.
Em síntese, a
pluralidade de grupos distintos fez com que o antigo reino do Ndongo fosse
cenário de embates políticos, disputas por promissores negócios, ao mesmo tempo
em que se tornava um lugar de intensas trocas culturais. O recorte cronológico
adoptado engloba um período onde ameaças internas e externas foram simultâneas,
e onde a própria hierarquia dos mbundus se refinava para atender às demandas
das negociações, como, por exemplo, a especialização das funções de chefe de
comércio, embaixadores e de vários componentes do séquito do Ngola.
A crescente
abertura do mercado atlântico, e a busca pela afirmação da soberania portuguesa
nos territórios mbundus alterou de forma significativa a realidade dos grupos
africanos e exigiu das autoridades portuguesas uma versatilidade em seu sistema
defensivo entre várias frentes distintas.
As relações entre a
embaixada portuguesa e o ngola ruíram-se a tal ponto que o único jesuíta que
continuava na região foi reduzido praticamente à escravidão e Paulo Novas foi
colocado sob residência forçada. O jovem português, em melhores condições com
ngola, voltou à corte em l566, com um carregamento de escravos e de marfim. Em
Portugal, Dias de Novas convenceu o rei a conceder-lhe, como donatária, as
terras defronte à ilha de Luanda e os territórios orientais que conquistasse.
Ele voltou em l575 como proprietário exclusivo das terras do manikongo e do
ngola.
O desembarque de
Dias de Novas não encontrou resistência. As terras, próximas ao reino de
Ndongo, onde alguns portugueses já comerciavam com escravos, pertenciam ao
distante reino do Kongo. Era nestas praias que os manikongos mandavam pescar os
nzimbos, que serviam como moeda nacional no reino do Kongo. O ngola não se
sentiu ameaçado. Mandou, no mesmo ano, uma delegação de boas-vindas ao nobre
lusitano. O lusitano começou sua expansão a procura de preta e escravos.
Invadiu terras do Ndongo.
Com base no exposto
acima, podemos concluir que a escravatura foi determinante na conformação das
sociedades africanas. Na África, a exploração da mão-de-obra escrava, primeiro
pelos árabes e depois pelos europeus, provocou uma desestruturação de enormes
proporções. Nesse movimento, muitos dos povos africanos perderam sua cultura,
sua liberdade, suas riquezas. A história mostra que há pontos de inflexão, em
que as transformações se mostram inevitáveis, e ocorrem em processos pacíficos
ou por revoluções. Nos últimos momentos, com o advento da paz, com a
estabilidade e reconstrução nacional, Angola entrou finalmente numa fase que o
seu presidente já teve oportunidade de caracterizar como a da conquista da paz,
consolidação da economia nacional e devolução da dignidade e da esperança a
todos os angolanos.
ALENCASTRO, Luiz
Felipe de. O Trato dos Viventes. Formação do Brasil nos quadros do Atlântico
Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
BARRETO, Luiz
Felipe. Os Descobrimentos e a ordem do saber – uma análise sociocultural.
Lisboa: Ed. Gradiva, 1989.
PEDRO, Bengui.
História 10ª Classe, 2º Ciclo do Ensino Secundário – Reforma Educativa. 1ª Edição,
Textos Editores – Luanda, 2006.
BIRMINGHAM, David.
Alianças e conflitos. Os primórdios da ocupação estrangeira em Angola
(1483-1750). Luanda: Arquivo Histórico de Angola, 2004.
BOUZA ÁLVAREZ,
Fernando. Portugal no tempo dos Filipes. Política, cultura,
Representações.
(1580-1668). Lisboa: Edições Cosmos, 2000.
CHAUNU, Pierre. A
civilização da Europa das Luzes. Lisboa: Ed. Estampa, 1985, vol.I.
HEINTZE, Beatrix.
Angola nos séculos XVI e XVII. Estudos sobre fontes, métodos e História.
Luanda: Ministério da Cultura, 2007.
THORNTON, John. Africa and Africans in the making off
Atlantic World, 400-1680. Cambridge University Press, 1992.
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