segunda-feira, 16 de maio de 2016

DOENÇAS PROFISSIONAIS EM TRABALHADORES DA SAÚDE - by VIEIRA MIGUEL MANUEL


INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INOCÊNCIO NANGA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM


                                            




ADMINISTRAÇÃO DE ENFERMAGEM





DOENÇAS PROFISSIONAIS EM TRABALHADORES DA SAÚDE























LUANDA
2016
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INOCÊNCIO NANGA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM










ADMINISTRAÇÃO DE ENFERMAGEM



DOENÇAS PROFISSIONAIS EM TRABALHADORES DA SAÚDE
- A EQUIPA DE ENFERMAGEM



EDNA CORREIA
HENRIQUES PEDRO SERAFIM
JOÃO JOSÉ CASSULE





Trabalho apresentado ao Curso de Enfermagem na disciplina de Administração de Enfermagem como requisito parcial para obtenção de notas.

Orientador: Dulce Rodriguez
 
 















LUANDA
2016
RESUMO


A equipa de enfermagem é constantemente exposta a agentes químicos, físicos e biológicos no ambiente de trabalho, aumentando riscos para desenvolvimento das doenças ocupacionais. Estabeleceu-se como objectivos para o estudo: identificar através da produção científica as doenças ocupacionais decorrentes do trabalho de enfermagem e caracterizar os factores desencadeantes das doenças ocupacionais na equipa de enfermagem. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, através de uma revisão bibliográfica de artigos científicos. A análise ocorreu a partir de 25 artigos, em que se evidenciou que os profissionais da equipa de enfermagem mais acometidos por Doenças Ocupacionais são mulheres. As doenças acometidas pela equipa de enfermagem decorrentes do trabalho são Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho, Síndrome de Burnout, Depressão, Afecções do Trato Respiratório, Trato Urinário e Dermatoses. Os factores que levam a essas doenças são múltiplos. É necessário que o gestor invista em uma visão ergonómica para melhorar as condições ambientais e a qualidade da saúde do trabalhador.


Palavras-chave: Profissional de Enfermagem. Saúde do Trabalhador. Doenças Ocupacionais. Cuidados, Prevenção.


 


ABSTRACT


The nursing staff is constantly exposed to chemical, physical, and biological agents in the workplace that increase their risks of development of occupational diseases. The objectives of this study were established as: to identify, in the literature, the occupational diseases arising from nursing activities and characterize the triggers of occupational diseases affecting nursing teams. This was an exploratory and descriptive research, through a literature review of scientific articles in the theme. The analysis was based on 25 articles and evidenced that women are the most affected by Occupational Diseases in the professional nursing staff. The illnesses affecting the nursing staff are Musculoskeletal Disorders related to work, Burnout Syndrome, Depression, Disorders of the Respiratory and Urinary Tract, and Dermatomes. There are multiple factors that could cause these diseases. There is an evident need for management to invest in an ergonomic vision to improve the environmental conditions and quality of health of workers.


Keywords: Nursing Professional. Occupational Health. Occupational Diseases. Care. Prevention.

 


SUMÁRIO








É fácil perceber que os profissionais de enfermagem pouco se preocupam com sua saúde, se comparados aos cuidados que prestam ao “outro”. Muitas vezes estes não têm condições adequadas de trabalho, como por exemplo: jornadas duplas de trabalho, baixa remuneração, falta de materiais e de pessoal, exposição à riscos e excessiva quantidade de trabalho. Estas situações predispõem à doenças ocupacionais levando ao adoecimento do trabalho, problemas graves de saúde e ao absenteísmo. Frente ao exposto resolvi abordar através de uma pesquisa bibliográfica a relação do trabalho dos profissionais enfermeiros e o aparecimento de doenças.

Os profissionais de enfermagem compõem um conjunto numeroso de pessoas dentro de uma instituição. São trabalhadores que prestam assistência e gestão vinte e quatro horas por dia, sendo de singular importância a prevenção e promoção de saúde desta equipa (Costa et al, 2009). O trabalho da enfermagem, enquanto constituidor do trabalho colectivo em saúde tem suas próprias especificidades, cabendo à equipa de enfermagem cuidar e educar em saúde, tornando esse factor uma responsabilidade para o profissional muito grande, o que muitas vezes pode gerar doenças ocupacionais.

Estas são moléstias de evolução lenta e progressiva, originárias de causa igualmente gradativa e durável, vinculadas às condições de trabalho. A legislação em vigor subdivide e equipara as doenças ocupacionais em: doença profissional e doença do trabalho, conforme artigo 20, incisos I e II da Lei 8.213/1991. As moléstias laborativas subdividem-se em tecnopatias, ergonopatias ou doenças profissionais típicas, inerentes a alguns trabalhos peculiares ou a determinadas actividades laborativas, com nexo causal presumido, razão pela qual o infortunado fica dispensado de comprovar o mesmo. As mesopatias ou doenças do trabalho, também denominadas moléstias profissionais atípicas, normalmente decorrentes das condições de agressividade existentes no local de trabalho, que agiram decididamente, seja para acelerar, eclodir ou agravar a saúde do trabalhador (Costa, ibid., p.144).


O presente estudo tem por objecto mostrar as doenças ocupacionais decorrentes do trabalho da enfermagem tendo como questões norteadoras:

·         Quais as doenças ocupacionais desenvolvidas pela equipa de enfermagem, segundo a literatura?
·         Quais os factores de riscos que justificam o aparecimento de doenças ocupacionais na equipa de enfermagem?


Traçamos como objectivo identificar através da produção científica as doenças ocupacionais decorrentes do trabalho de enfermagem.


Caracterizar os factores que vão desencadear as doenças na equipa de enfermagem, segundo literatura.


O trabalho da enfermagem é característico no qual existe uma valorização do único, do particular, do específico, do subjectivo, do senso comum, das crenças, dos mitos, dos rituais, do místico, do conhecimento popular e do benefício social. (Spindola, 2005, p.157).

O trabalho da enfermagem, enquanto constituidor do trabalho colectivo em saúde, tem suas próprias especificidades. Estas especificidades dizem respeito às acções de prestar um cuidado, de mediá-lo para a equipa de enfermagem e de saúde e também de educar em saúde (Kirchhof, 2003).

Sanna (2007, p.221) define processo de trabalho, [...] como a transformação de um objecto determinado em um produto determinado, por meio da intervenção do ser humano que, para fazê-lo, emprega instrumentos.

A qualidade de vida no trabalho (QVT) tem sido objecto de preocupação entre profissionais de diferentes áreas e muitas vezes é avaliada como sendo a satisfação e o bem-estar do trabalhador durante a execução de sua tarefa. Nos últimos anos a QVT tem sido entendida como a gestão dinâmica e contingencial de factores físicos, tecnológicos e sócio-psicológicos que afectam a cultura e renovam o clima organizacional, reflectindo-se no bem-estar do trabalhador e na produtividade da empresa, ora associando-se às características intrínsecas das tecnologias introduzidas nas empresas e ao seu impacto; ora aos elementos económicos, como salário, incentivos, abonos, ou ainda aos factores ligados à saúde física, mental e à segurança e, em geral, ao bem-estar dos trabalhadores (Schmidt et al, 2007).

O profissional de enfermagem vive, muitas vezes, em seu ambiente laboral em torno de um terço de sua vida, um ambiente que se transforma constantemente, com novas tecnologias, novas posturas frente às necessidades de mercado, interferindo nas relações de trabalho. Em muitas situações, as causas do adoecimento originam-se das relações de trabalho que causam desconforto, conflitos, estresse e em situações extremas, diminuição da capacidade vital, o que pode vir desencadear a morte do profissional (Teixeira, 2007).

A Organização Internacional do Trabalho (2005) estima que ocorram, anualmente, no mundo, cerca de cento e sessenta milhões de doenças profissionais, dados esses baseados somente em doenças não transmissíveis. Deste total, morrem aproximadamente dois milhões de trabalhadores a cada ano, acometidos de doenças ocupacionais ou acidentes ocorridos no ambiente de trabalho. Assim, pode-se perceber que, na actualidade, a doenças ocupacionais constituem um importante problema de saúde pública em todo o mundo.

Em um estudo realizado por Barboza e Soler (2003), percebeu-se que dos 662 episódios de afastamentos no local de trabalho em um hospital geral de ensino, a maior predominância de afastamentos ocorreu por doenças do aparelho geniturinário e doenças mal definidas. O local de trabalho no qual houve maior número de afastamentos foram os sectores especializados e unidade de terapia intensiva (UTI).

Segundo Leite; Silva e Merighi (2007) no ambiente ocupacional existem vários factores ergonómicos relacionados a problemas ambientais e organizacionais que aumentam o risco do surgimento das DORT (Distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho), entre eles estão à presença de recursos tecnológicos inadequados, incluindo mobiliário, a falta de equipamentos especiais para movimentar pacientes, além da escassez de recursos humanos e a falta de educação permanente em saúde.

Entre os problemas com menor incidência destacam-se aquelas relacionadas ao sistema nervoso central, manifestado por cefaleias e enxaquecas, relacionadas ao estresse e à Síndrome de Burnout (Silva e Marziale, 2003).

Estudos recentes, têm demonstrado que, acidentes no trabalho continuam a ocorrer de maneira elevada. De fato a aplicação de precauções e intervenções no processo de trabalho não são suficientes para garantir as medidas de prevenção, devendo fazer parte das estratégias as reflexões a respeito das mudanças de comportamento e as causas dos acidentes. A não adesão ou a baixa adesão às recomendações das barreiras de protecção é uma realidade, o que leva a indagar sobre outros factores, que podem estar contribuindo para este tipo de comportamento (Castro et al, 2010).


Artigos científicos analisados evidenciaram que o corpo do profissional da equipa de enfermagem é constantemente exposto a agentes químicos, físicos, biológicos e ergonómicos o que aumenta significativamente os riscos para desenvolver doenças ocupacionais tais como: Doenças Osteomusculares, Síndrome de Burnout, Depressão, Afecções do Trato Respiratório, Afecções do Trato Urinário, Dermatoses, entre outras que põem em risco a qualidade do trabalho e a qualidade de vida do profissional da enfermagem[1].


Segundo Shimizu e Ribeiro (2007), possivelmente o auxiliar de enfermagem é a categoria que mais sofre acidentes, porque assume a parcela dos cuidados direitos a pacientes na enfermagem, seguidos dos enfermeiros, que desenvolvem procedimentos mais complexos e cuidados com pacientes graves.

Depreende-se da prelecção exposta acima que os técnicos de enfermagem desempenham a etapa mais braçal do atendimento, o que acarreta uma exposição maior aos riscos ergonómicos, desencadeando moléstias na coluna vertebral e nos membros superiores. No entanto, os enfermeiros também são expostos aos agentes dessa natureza, mas, obviamente, numa escala menor, o que se deve ao preparo intelectual mais aprimorado pelas lições auferidas na academia.

Monteiro, Benatti e Rodrigues (2009), em relação à categoria profissional, diz que os auxiliares de enfermagem foram os mais acidentados. Os estudos de Alves e Godoy (2001) demonstram que quanto mais baixo o nível hierárquico ocupado pelos trabalhadores da equipa de enfermagem, maior a probabilidade de afastamentos por motivos de adoecimento. Tal fato talvez se explique pela natureza do trabalho desenvolvido pelo auxiliar de enfermagem: tarefas que exigem maior esforço físico, actividades repetitivas e monótonas, e o contacto muito próximo com o sofrimento.

Marziale e Rodrigues (2001) em levantamento realizado a partir de cinquenta e cinco pesquisas já publicadas, constatou que a categoria mais acometida também foi a de auxiliares de enfermagem. Vale ressaltar que a equipa de enfermagem é composta, em sua maioria, pelo sexo feminino, segundo Costa, Vieira e Sena (2009) isso ocorre devido a factores históricos, mantiveram-se, para as mulheres, as características de subordinação e de mão-de-obra barata com carácter servil.

Para as mulheres a dupla jornada de trabalho é um agravante, pois além da rotina hospitalar ainda tem que lidar com os encargos domésticos e o cuidado com os filhos, contribuindo assim para o aumento de acidentes resultando assim no aumento do absenteísmo. (COSTA; VIEIRA e SENA, 2009).

A enfermagem estabelece uma actividade focada nas práticas das técnicas e na prática do conhecimento administrativo, “o que se configura na génese da divisão técnica e social desses trabalhadores, à medida que ocorre uma separação entre a concepção e a execução das actividades do cuidado”. (GOMES, et al, 1997).

Monteiro, Benatti e Rodrigues (2009) apontam para o predomínio do sexo feminino, dentre os trabalhadores acidentados (83,6%). No processo de trabalho nos hospitais, a maioria dos componentes da equipa de enfermagem e pessoal de apoio compõe-se do sexo feminino, o que explica o índice apresentado. Portanto, os mais expostos às situações de risco são as mulheres, as quais muitas vezes assumem riscos não condizentes com seu porte físico, como por exemplo, a realização de procedimentos que demandem o uso da força para o deslocamento do paciente.

Shimizu e Ribeiro (2002) após estudo verificaram que os estudantes e trabalhadores da saúde que realizam cuidados direitos aos pacientes e utilizam materiais perfurantes ou cortantes na execução de procedimentos estão mais expostos a acidentes de trabalho. Identificando ainda que esses acidentes ocorram em praticamente todas as unidades do hospital, sendo mais frequentes, nas unidades onde o ritmo de trabalho é mais intenso, consequentemente o desgaste do trabalhador é maior.

A escassez de enfermeiros aliada a uma demanda excessiva gera a exaustão do profissional, ocasionando uma susceptibilidade maior aos riscos de toda ordem, pois expõe a acidentes com instrumentos de trabalho, ao desgaste psíquico, dentre outros.


Classicamente, os factores de risco para a saúde e segurança dos trabalhadores, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, podem ser classificados em cinco grupos: físicos: ruído, vibração, radiação ionizante e não-ionizante, temperaturas extremas (frio e calor), entre outros; químicos: agentes e substâncias químicas, sob a forma líquida, gasosa ou de partículas e poeiras minerais e vegetais, comuns nos processos de trabalho; biológicos: vírus, bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em hospitais; ergonómicos e psicossociais: que decorrem da organização e gestão do trabalho; de acidentes: ligados à protecção das máquinas, arranjo físico, ordem e limpeza do ambiente de trabalho, sinalização, rotulagem de produtos e outros que podem levar a acidentes de trabalho.

Logo, a inadequação das condições de trabalho nas instituições hospitalares, quando estas funcionam de forma improvisada ou indesejável, irá caracterizar a maior exposição dos trabalhadores aos agentes de riscos ocupacionais, incluindo os fatores de violência aos quais eles ficam expostos durante sua atividade laboral. É mister destacar que o meio ambiente de trabalho relaciona-se às condições físicas, químicas, biológicas e ambientais, que determinam a atividade dos trabalhadores. Como consequência, além do adoecimento propriamente dito, as condições de trabalho e a exposição dos trabalhadores às cargas implicam em diminuição da capacidade para o trabalho, absenteísmo, elevado custo dos afastamentos, morte e qualidade da assistência prestada aos pacientes.


As principais patologias que acometem a saúde do enfermeiro estão associadas a diversos riscos presentes no ambiente de trabalho das unidades hospitalares, dentre os quais se destacam os relativos aos agentes biológicos, psicológicos e à ergonomia.

2.2.2
No que tange aos aspectos relacionados aos agentes biológicos, os materiais perfuro/cortantes oferecem grande risco de contactos com sangue, fluidos e com a pele do paciente. Quando o acidente ocorre com material contaminado pode acarretar doenças como a Hepatite B (transmitida pelo vírus HBV), Hepatite C (transmitida pelo vírus HCV) e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – AIDS (transmitida pelo vírus HIV). O acidente pode ter repercussões psicossociais, levando a mudanças nas relações sociais, familiares e de trabalho. As reacções psicossomáticas pós-profilaxia, utilizada devido à exposição ocupacional e ao impacto emocional, também são aspectos preocupantes. (MARZIALE; NISHIMURA e FERREIRA, 2004).

A maior incidência de risco biológico configura-se nas picadas de agulhas e o ambiente de trabalho hospitalar tem sido considerado insalubre, tendo em vista que agrupa pacientes portadores de muitas patologias infecto-contagiosas, ocasionado riscos de acidentes e doenças para os trabalhadores da saúde. Infelizmente, as medidas preventivas não se apresentam eficazes, tendo em vista que os acidentes com agulhas são ainda em grande número, sendo o principal motivo de ocorrências (MARZIALE; NISHIMURA e FERREIRA, 2004).

Em sua pesquisa Bonini, Zeviani e Canini (2007) observaram que em relação ao tempo de experiência profissional na enfermagem, o risco de acidente decrescia progressivamente para cada ano de prática profissional e que enfermeiros com menos de cinco anos de experiência profissional tiveram 1,48 mais chance de se acidentarem.

Segundo o estudo de Marziale, Nishimura e Ferreira (2004), foram possíveis realizar a observação documental nos prontuários, constatando o registo de episódios de inoculações acidentais ocorridas em período anterior e posterior a 1999. O que nos leva a considerar que as medidas preventivas utilizadas precisam ser revistas, pois os mesmos trabalhadores continuam se acidentando.

No mesmo estudo identificou-se que as agulhas foram os objectos causadores do maior número de acidentes, o risco de transmissão de infecção, através de uma agulha contaminada, é de um em três para Hepatite B, um em trinta para Hepatite C e um em trezentos para HIV, entretanto, merece destaque que não apenas a manipulação das agulhas, ou cateteres intravenosos, constitui risco, mas também a maneira e o local de descarte do material perfuro cortante.

Marziale, Nishimura e Ferreira (2004) no estudo com 30 sujeitos acometidos por inoculações acidentais obtiveram como resultados dos exames laboratoriais positivos para a presença do vírus HIV em 03 pacientes fonte e negativo em 27 pacientes fonte. Quanto aos exames laboratoriais dos trabalhadores, 29 foram negativos para o vírus HIV e 01 trabalhador teve resultado de exame indeterminado, sendo colectado novo material para teste (ELISA - Western Blot), cujo resultado foi negativo. Sendo revelado que nenhum dos trabalhadores foi contaminado pelos vírus HBV, HCV, ou HIV, no entanto foi observado que apenas 23,33% dos trabalhadores compareceram a todos os retornos agendados para verificação de possível soro conversão e que a imunização dos profissionais contra a Hepatite B estava com o esquema em dias, o que é de se esperar, pois algumas instituições usam a caderneta de vacinação com esquema completo como requisito para a contratação.

Portanto, medidas preventivas como adequação das caixas de descarte de materiais perfuro cortantes e o treinamento específico que oriente os trabalhadores da área de saúde sobre os riscos biológicos podem contribuir para diminuição das ocorrências de acidentes por esses trabalhadores.

2.2.3
A equipa de enfermagem por exercer seu trabalho directamente e ininterruptamente com o paciente, esta exposta a riscos de acidentes rotineiramente, isso em razão da exposição de doenças infecto contagiosas, da frequente movimentação de equipamentos e pacientes pesados, do convívio próximo da dor e morte, além da rotina estafante de trabalho. Estando assim predispostos a se tornarem enfermos, a sofrerem acidentes, quando as medidas de segurança não são adoptadas. (SECCO, et al, 2008).

Com base nos dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial de Saúde (OMS), o processo do capitalismo associado à globalização são factores contribuintes para o aumento da incidência de doenças e acidentes laborais, onde a competitividade, a busca por novos mercados, e a necessidade de obter lucros leva a uma reestruturação do processo gerando; desemprego, introdução de agentes nocivos, o aumento da terceirização e do trabalho informal. (ANGOLA, 2001).

Segundo Bulhões (1994), os factores que contribuem para a ocorrência de acidentes trabalhista são; treinamento insuficiente, a gerência irresponsável, a insuficiência de comunicação entre os departamentos, à baixa confiabilidade nos equipamentos e principalmente a falha humana.

Segundo Secco (et al, 2008) como medidas preventivas para eliminação dos riscos de acidentes são sugeridas o uso adequado de EPI (Equipamento de Protecção Individual), a imunização da equipa, a substituição de matérias perfuro cortantes, para os de design mais seguro, o que é quase impraticável pelos altos preços desse material.

Sendo isso um agravante, pois segundo Bonini, Zeviani e Canini (2009) mesmo tendo treinamento e suprimento adequado de EPI a equipa de enfermagem contínua se acidentando e relacionam isso à falta de atenção, seguido da pressa, excesso de tarefas, falta de atenção do colega, urgência, reencapamento de agulha, quadro reduzido de pessoal e estresse o não uso de EPI.

Pinho, Rodrigues e Gomes (2007) acreditam que os baixos salários pagos aos trabalhadores de enfermagem fazem com que alguns destes profissionais tenham dois ou mais vínculos empregatícios, tornando-os menos atentos na execução de suas atribuições.

Percebemos que em sua maioria os profissionais acreditam serem inerentes à profissão os acidentes que os acometem, podendo ser justificado pela falta de conhecimento dos riscos que estão presentes no ambiente de trabalho. É de suma importância à adopção de treinamentos e/ou reciclagens, objectivando a organização dos procedimentos realizados, o que minimizaria os acidentes.


Os agentes químicos são as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo, por via inalatória, pela pele ou serem ingeridas. (ANGOLA, 2001). Referem-se ao manuseio de vapores, gases, esterilizantes, anti-sépticos, estando relacionado com tempo de contacto e com o tipo de produto. (MARZIALE; NISCHIMURA e FERREIRA, 2004).

A equipa de enfermagem está vulnerável ao risco químico na realização da rotina hospitalar, quando manipula medicamentos como antibióticos, antineoplásicos, substâncias químicas como detergentes, degermantes, agentes esterilizantes, os gases anestésicos podendo estes levar sérios danos à saúde dos trabalhadores como intoxicações agudas e crónicas uso prolongado de luvas podendo ocasionar dermatites de contacto. (XELEGATI, et al, 2003).

Xelegati (et al, 2003) em sua Investigação sobre danos em linfócitos de enfermeiras envolvidas no preparo e administração da droga revelou que o número de linfócitos com danos no DNA foi maior no grupo de enfermeiras que não faziam o uso de Equipamentos de Protecção Individual (EPI) ou os utilizavam incorrectamente. Isto é previsto, pois o preparo e administração de alguns medicamentos são de responsabilidade do profissional de nível superior.

Robazzi (et al, 2006) em seu estudo detectou que as enfermeiras que manipulam agentes químicos apresentam, com maior frequência, irregularidades menstruais e amenorreia, e dos agentes químicos de risco utilizados com maior frequência foram: antibiótico e benzina (100% cada um), iodo (98,1%), látex/talco (88,7%) e glutaraldeído (71,7%). Sendo estes utilizados para funções rotineiras como; desengorduramento e assepsia de pele, desinfecção e limpeza de materiais entre outros.

Os agentes químicos principalmente os antineoplásicos é um potente teratogênico mutagênico e carcinogênico, passível de gerar abortos espontâneos, defeitos congénitos, esterilidade, alterações do ciclo menstrual. O que ocasiona sérios problemas para a equipa de enfermagem, cujo núcleo é composto em sua maioria por mulheres em idade reprodutiva, as quais se encontram expostas permanentemente a estas substâncias.

É necessário à adopção de medidas quanto ao uso da capela de fluxo laminar vertical, o uso de EPI, aventais de manga descartáveis e de punho com elástico, máscara, óculos de protecção, tanto no preparo quanto na administração. Mas ainda assim, o enfermeiro negligencia o uso de medidas de segurança quando manipulam produtos químicos.


Os agentes ergonómicos referem-se à morfologia, a maneira como as actividades são executadas, as posturas estáticas e prolongadas realizadas de forma inadequada, manipulação e transporte de pacientes, a morfologia dos equipamentos. Todos esses aspectos concorrem para o surgimento de patologias relacionadas a lesões de natureza osteomusculares. (BORGES; BARBOSA, 2007).

Os processos de movimentação e transporte de pacientes solicitam grande esforço físico e estão atrelados a problemas músculo-esqueléticos em trabalhadores da área da saúde. A nomenclatura utilizada para designar essas patologias era LER, mas foi renomeada e actualmente se constitui nos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho condensado na sigla DORT. É imprescindível pontuar que a DORT se caracteriza como um problema de dimensões universais, atingindo trabalhadores das mais diversas áreas, sobretudo aqueles que como o profissional de enfermagem actua realizando tarefas repetitivas. (BORGES; BARBOSA, 2007).

O risco ergonómico depende de mudanças de atitudes do profissional frente às tarefas executadas, bem como da modificação do espaço físico, da disposição e do uso adequado de imobiliários que são factores stressantes externos provenientes do ambiente, condições e situações de trabalho e internos referentes ao próprio indivíduo. É um campo que apresenta grandes desafios, além de problemáticas a vencer, dentro do cenário determinado pelo contexto político e económico do país.

O ideal é a realização de programas de treinamento periódico sobre a aplicação de princípios de mecânica corporal na movimentação e transporte de pacientes, sensibilização dos administradores do serviço e de treinamento ergonómico amplo. As unidades de ensino têm uma parcela grande de responsabilidade orientando os alunos permitindo assim que os futuros profissionais sejam instruídos para evitar doenças futuras.

Pode-se salientar também a importância da adequação dos espaços físicos com o propósito de diminuir as distâncias a serem percorridas pelos trabalhadores de equipamentos e mobiliários, conforme os padrões antropométricos dos trabalhadores e a orientação da equipa no que concernem à necessidade da utilização de posturas adequadas no trabalho. O deficit de profissionais é outro factor que aumenta a sobrecarga da equipa de enfermagem, comprometendo a divisão adequada de tarefas.


Os agentes físicos são considerados os ruídos, vibrações, temperaturas extremas, radiações, infra-som e ultra-som. (ANGOLA, 2001). Onde estão incluídos; pisos escorregadios, humidade, má iluminação, ventilação inadequada, exposição à electricidade e incêndios. (MARZIALE, 2004).

Segundo Benatti e Nishide (2000) na classificação de risco feita por profissionais da UTI a principal fonte geradora de radiação ionizantes são aquelas advindas de raios x no leito, sendo recomendada pelos mesmos a diminuir o número de solicitações e fazer protecção radiológica nos postos.

A exposição prolongada e diária a raios X e gases anestésicos é um agravante aos processos reprodutivos podendo causar moléstias, tais como: espinha bífida, anencefalia e defeitos no sistema geniturinário. Sendo esse um agravante principalmente nas UTI, onde os exames radiológicos são realizados no leito para avaliação de tórax, localização de cateteres, fracturas e arteriografias e outros.


A equipa de enfermagem é exposta a inúmeros riscos, por isso faz-se imprescindível à mudança de suas atitudes frente ao trabalho, no sentido da formação do conhecimento acerca dos riscos nos estabelecimentos de saúde, pois existe um descaso com a saúde do trabalhador de enfermagem, o que não é congruente com o trabalho realizado pelo enfermeiro: o cuidado com o paciente, deixando de lado o próprio bem-estar físico e psicológico do profissional.

O presente estudo teve por finalidade identificar as doenças ocupacionais que acometem os trabalhadores e caracterizar os factores desencadeantes que levam os profissionais da equipa de enfermagem ao adoecimento, trazendo consequências na qualidade de vida destes. As quais poderão permanecer ao longo de sua vida, podendo causar-lhes a morte. As doenças que o trabalho gera aos profissionais de enfermagem constituem a maior causa de afastamento do trabalho, sendo elas em ordem de ocorrências: Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho, Síndrome de Burnout, Depressão, Afecções do Trato Respiratório, Afecções do Trato Urinário e Dermatoses. A evolução dessas doenças pode acarretar ao trabalhador uma incapacidade parcial, levando o trabalhador ao absenteísmo, e em muitos casos, incapacidade permanente, com aposentadoria.

Os profissionais de enfermagem representam uma parcela da população que sofre com os problemas de saúde gerados pelo trabalho que exercem, pois são varias categorias profissionais que vivenciam este problema. O estudo destaca que as doenças ocupacionais acometem mais as mulheres. Pois elas representam a maioria entre os profissionais de enfermagem, desde enfermeiros, técnicos e auxiliares.

Frente às evidências, torna-se necessário que o gestor invista em uma visão ergonómica para melhorar as condições ambientais e a qualidade da saúde ocupacional do trabalhador, assim contribuindo para encontrar formas adaptativas passíveis de melhorar o ambiente, favorecendo positivamente a saúde do trabalhador e diminuindo o risco do surgimento das doenças do trabalho. É fundamental discutir que a equipa de enfermagem exercendo actividade de extremo valor como o cuidado, necessita de melhores condições de trabalho. Assim torna-se necessário a educação continuada, com o objectivo de prevenção das doenças ocupacionais.









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[1] Oliveira e Murofuse, (2001); Barboza e Soler (2003); Rocha e Felli (2004); Leite; Silva e Merighi (2007); Teixeira (2007); Manetti e Marziale, (2007); Barboza et al, (2008); Sarquis e Felli, (2009); Machado, Oliveira, Ferreira et. al (2011).

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