INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO
INOCÊNCIO NANGA (ISPIN)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
TERAPÊUTICA
ACUPUNTURA
LUANDA
2016
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO
INOCÊNCIO NANGA (ISPIN)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
TERAPÊUTICA I
ACUPUNTURA
MARIANA JÚLIA M. ZUNZA
|
LUANDA
2016
SUMÁRIO
A acupuntura é um método terapêutico com origem na
Medicina Tradicional Chinesa, que consiste na estimulação de pontos cutâneos
específicos através de agulhas. De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa,
esta estimulação tem a capacidade de regular o fluxo energético que é
responsável pela fisiologia do corpo humano. E a sua prática é exercida há mais
de 5.000 anos na China - idealizada dentro do contexto global da filosofia chinesa.
O diagnóstico
energético e o tratamento baseiam-se nos conceitos do Yin e do Yang; dos Cinco
Elementos; do Qi (Energia); do Xue (Sangue) e da Teoria dos Zang Fu
(Órgãos/Vísceras).
O ser humano é
considerado como um complexo de energia vital (Qi) e vários sistemas no
organismo regulam o fluxo dessa energia através de muitos pontos de controlo.
Os pontos de Acupuntura, estimulados correctamente, provocam a restauração do
equilíbrio alterado no decorrer da enfermidade ou do desequilíbrio energético, fazendo
com que o próprio corpo recupere seu equilíbrio orgânico funcional e promova a
sua autocura.
A Acupuntura reúne
conhecimentos técnicos, teóricos e empíricos e consiste, tradicionalmente, na
estimulação de pontos de energia específicos no corpo mediante a inserção de
agulhas.
A Organização
Mundial de Saúde (OMS) considera que a Acupuntura pode ser praticada por
diferentes profissionais habilitados, formando uma equipa multidisciplinar, que
a saúde é um direito humano fundamental e que os cuidados primários de saúde seriam
compostos também por práticas não convencionais e métodos terapêuticos.
O objectivo central da Medicina Tradicional Chinesa (MTC)
e, portanto, da acupuntura, é a idéia de equilíbrio, tanto no que se refere às
funções orgânicas quanto à relação do corpo com o meio externo. Em outras
palavras, a acupuntura preconiza que a saúde é dependente das funções
psico-neuro-endócrinas, sob influência do código genético e de factores
extrínsecos como nutrição, hábitos de vida, clima, qualidade do ambiente, entre
outros (SCOGNAMILLO-SZABO & BECHARA, 2001; SCHOEN, 2006; MACIOCIA, 2007;
XIE & PREAST, 2007).
Contrastando com o paradigma mecanicista de Descartes, a acupuntura
possui uma concepção filosófica holística baseada no Taoísmo e considera que os
sistemas orgânicos estão integrados de tal forma que suas propriedades não
podem ser reduzidas às suas partes. O todo (do grego hólos) depende da harmonia
funcional existente entre seus elementos, numa relação dialéctica entre
particular e universal, morfologia e função, estímulo e controle, onde uma
parte não pode ser compreendida a não ser quando relacionada com o todo.
Pode-se fazer uma analogia, por exemplo, com a interdependência existente entre
simpático e parassimpático no sistema nervoso autónomo, com as respostas no
sistema imune ou citocinas pró e anti-inflamatórias na resposta a estímulos
lesivos (SCOGNAMILLO-SZABO & BECHARA, 2001; SCHOEN, 2006; XIE & PREAST,
2007).
Enquanto a identificação precisa do agente e a
compreensão dos mecanismos das enfermidades são essenciais para a prática
médica científica, o exercício da acupuntura prioriza o enfoque nas respostas
orgânicas individuais, produzindo uma abordagem particular para cada paciente.
Em termos práticos, pode-se dizer que a medicina científica usa intervenções
que minimizam ou bloqueiam a acção da bioquímica orgânica. A acupuntura, por
sua vez, visa afectar os níveis de actividade funcional nos órgãos e sistemas. (KARST et al., 2002;
KARST et al., 2003; SCOGNAMILLO-SZABÓ et al., 2004).
A filosofia da acupuntura e a lógica científica são
derivadas de observações da natureza e dos organismos. Porém, a acupuntura se
detém principalmente nas inter-relações dos factos observados, gerando um
raciocínio dialéctico dinâmico e sintético. Por outro lado, o raciocínio
científico é, via de regra, compartimentalizado, de forma que, para a ciência,
as diversas áreas do conhecimento pouco têm em comum. Entretanto, para o
Taoísmo biologia, política, física e religião são baseadas no mesmo princípio:
Tao ou "O Grande Princípio", segundo o qual o universo é regido por
uma única lei central que orienta todos os fenómenos.
As bases filosóficas da acupuntura estão contidas nas
teorias gerais do Taoísmo como Yin e Yang e Cinco Movimentos ou Wu Xing. As
particularidades do funcionamento orgânico também são analisadas através das
teorias das Substâncias Vitais ou Fundamentais (Qi, Xue, Jing e Jin Ye), e dos
Sistemas Internos (Zang Fu).
Segundo a MTC, a doença é resultado da interacção entre o
agente causal e o indivíduo, resultando em desequilíbrio nos componentes Yin e Yang do
organismo. Essa desarmonia determina o curso da doença e está relacionada à
oposição dos dois factores citados: Energia Correta (Zheng Qi), factor
intrínseco que traduz a resistência à doença, e Energia Perversa (Xie Qi),
o factor patogénico propriamente dito.
Na MTC, como em qualquer sistema médico, a definição do
diagnóstico é pré-requisito para a determinação do tratamento. O diagnóstico,
na MTC, visa a compreensão de como o paciente se insere dentro do seu contexto
de vida e como está interagindo com os factores que o cercam. Esta abordagem é
a acupunturalicação prática da filosofia chinesa que vê o ser humano
(microcosmo) em constante interacção com o mundo (macrocosmo). O padrão de
resposta de cada indivíduo, em dado momento, é categorizado em síndromes. A
partir desse diagnóstico, é definido o plano de tratamento (WEN, 1989;
MACIOCIA, 2007; XIE &PREAST, 2007).
A escolha dos pontos de acupuntura é baseada na
classificação do desequilíbrio acupunturaresentado. A estimulação de um
determinado ponto possui indicações específicas que são expressas em seu nome
chinês original. A estimulação simultânea de dois ou mais pontos de acupuntura
pode ampliar suas indicações específicas. Tradicionalmente, cada ponto de acupuntura
tem uma ou diversas acções, quando estimulado. Quando usado em combinação com
outros pontos de acupuntura, os resultados são modificados. A definição do
tratamento também deve se basear nas categorias nas quais os pontos de acupuntura
são divididos:
i)
Efeitos locais,
ii)
Efeitos à distância e
iii)
Efeitos sistêmicos.
Tão relevante quanto à selecção dos pontos é a técnica de
estímulo, cuja definição vai variar em função da condição a ser tratada.
Existem inúmeras alternativas para o estímulo do ponto e, a cada dia, mais
opções surgem em função da incorporação de novas tecnologias à acupuntura. Os
métodos tradicionais persistem e se destacam como os mais utilizados (ERNST
& WHITE, 1999; HIELM-BJORKMAN et al, 2001; SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA,
2001; JAEGER et al. 2007; SCHOEN, 2006; XIE & PREAST, 2007; COLBERT et al.,
2008):
a) Agulhamento:
Existe uma grande variedade no tamanho das agulhas, bem como no procedimento de
inserção e de manipulação dessas. O material mais utilizado é o aço inoxidável.
Normalmente o agulhamento atravessa a derme atingindo o tecido subcutâneo,
podendo alcançar músculos ou ossos. Agulhas intradérmicas são utilizadas
principalmente em pontos de acupuntura no pavilhão auricular.
b) Eletroacupuntura:
Consiste na passagem de corrente eléctrica através da agulha. A escolha do
formato da onda, frequência e intensidade da descarga vão definir o tipo de
efeito atingido. É, provavelmente, depois do agulhamento simples, a técnica
mais disseminada e melhor estudada de acupuntura.
c) Implante:
Trata-se de um procedimento cirúrgico-ambulatorial que objectiva atingir uma
estimulação prolongada ou mesmo permanente dos pontos. Fragmentos especialmente
preparados e confeccionados de diversos materiais podem ser utilizados como
categute, aço inoxidável, platina e ouro.
d) Injecção:
Segundo a teoria da MTC, é capaz de manter o estímulo por período prolongado,
além de potencializar o efeito da substância utilizada. Aquacupuntura,
ozôniopuntura, fitopuntura, homeopuntura e hemopuntura são as formas mais
comuns. Autores chineses afirmam que, em muitas situações, o uso de subdoses
produz um efeito longo e similar à dose convencional, com a vantagem de causar
menos efeitos colaterais (NIE et al., 2001; WANG et al., 2007).
Cuidados especiais
devem ser tomados nas acupunturalicações das agulhas em pontos próximos aos órgãos
vitais ou áreas muito sensíveis. Em função das características das agulhas
usadas, dos locais particulares para acupunturalicação, da profundidade da
penetração, das técnicas de manipulação utilizadas e das estimulações
oferecidas, alguns acidentes podem ocorrer durante o tratamento.
Em muitas situações
de acidente, danos podem ser evitados se as precauções adequadas forem tomadas.
Se tais acidentes ocorrerem, o acupunturista deve saber lidar com essas
situações eficientemente, evitando dano adicional. Um dano acidental num órgão
importante requer intervenção médica ou mesmo cirúrgica.
Os pontos nesta
região devem ser penetrados na direcção oblíqua ou horizontal, evitando lesões
em órgãos vitais. Deve-se ter atenção na direcção e na profundidade da inserção
das agulhas.
O pneumotórax
traumático pode ocorrer em casos de penetração profunda da agulha em pontos do
tórax, costas ou fossa supraclavicular. Durante a manipulação poderá ocorrer
tosse, dor toráxica e dispnéia, especialmente se houver laceração grave do
pulmão pela agulha. Os sintomas podem acupunturaarecer gradualmente depois de algumas
horas acupunturaós o tratamento.
Sangramento, dor
local, sensibilidade e rigidez dos músculos abdominais podem ocorrer quando há
perfuração do fígado e baço. Quando o dano não for grave, o sangramento cessa
espontaneamente, do contrário poderá ocorrer queda de pressão sanguínea e
choque hipovolêmico.
Dor de cabeça,
náuseas, vómitos, redução súbita da respiração e desorientação seguida por
convulsões, paralisia ou coma podem ocorrer caso haja manipulação inadequada de
pontos entre as vértebras cervicais ou ao lado da primeira vértebra superior,
tais como VG15 e VG16. Acima da primeira vértebra lombar, entre outras vértebras,
deve-se evitar a penetração profunda, pois pode ocorrer perfuração da medula
espinhal, ocasionando paralisias ou fisgadas na extremidade ou no tronco abaixo
do nível da perfuração.
Tomar cuidado com
áreas de pouca circulação ou punção acidental de artérias, o que pode ocasionar
sangramento.
Outros pontos que
são potencialmente perigosos e exigem habilidade e experiência no seu uso:
B1 (Jingming) e E1
(Chengqi) – localizados próximo ao globo ocular;
CV22 (Tiantu) – à
frente da traquéia;
E9 (Renying) –
perto da artéria carótida;
BP11 (Jimen) e BP12
(Chongmen) – perto da artéria femural;
P9 (Taiyan) – na
artéria radial.
As medidas de
precaução têm como objectivo prevenir a disseminação de doenças, seja de um
paciente para outro, seja do paciente para o profissional de saúde. São classificadas
em:
- Medidas de
precaução específica: precaução por área; precaução com perdigotos (protecção
respiratória); precaução por contacto (quarto privativo: hospitais/ambulatórios
pacientes infectados).
- Medidas de
precaução padrão: O principal objectivo das medidas de precaução padrão é
evitar a exposição do profissional de saúde a materiais com potencial de transmissão
de HIV, HVB, HVC, entre outras patologias. Deve ser utilizada pelo profissional
de saúde toda vez que for manipular o paciente, independentemente do diagnóstico
de suspeita ou confirmação de doenças. As medidas de precaução padrão compreendem:
Tem como principal objectivo
prevenir a transmissão cruzada de microrganismos responsáveis pelas infecções
hospitalares, sendo uma prática de grande importância para prevenção de
infecções no ambiente. Sua efectividade depende da realização correcta da
técnica. É importante também manter a integridade da barreira cutânea.
Devem ser
empregados recursos e medidas com o objectivo de incorporar a prática de
higiene das mãos, tais como:
Dispor de torneiras
que dispensem o contacto das mãos através do volante ou registo, quando do
fechamento da água;
Dispensador de
sabão líquido que evite contacto das mãos com o local de saída do produto;
Pacupunturael-toalha
para secagem das mãos, não sendo indicado o uso colectivo de toalha de tecido
única ou de rolo, bem como o secador de mãos.
Em suma, a acupuntura utiliza um raciocínio mágico,
derivado do contexto histórico em que surgiu. Para sua prática clínica, há
necessidade do conhecimento de suas teorias baseadas no Taoísmo. A acupuntura é
indicada para diversas patologias, porém é principalmente utilizada para
distúrbios neurológicos, musculares e cutâneos, onde acupuntura apresenta alto
índice de recuperação.
AMTC de Beijing:
Fundamentos Essenciais da Acupuntura Chinesa. São Paulo: Editora Ícone.
AMTC de Beijing:
Tratado de Medicina Chinesa. São Paulo: Editora Roca, 1993.
ASSOCIAÇÃO PAULISTA
DE ESTUDOS EM CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR. Esterilização de Artigos em
Unidades de Saúde. São Paulo, 1998
Auteroche B E NAVAILH P: O Diagnóstico da Medicina
Chinesa. São Paulo: Organização Andrei Editora, 1986.
Breves R: Acupuntura Tradicional Chinesa. São Paulo: Robe
Editorial, 2001.
YAMAMURA, Ysao.
Acupuntura Tradicional: A Arte de inserir. 2ª ed. São Paulo: Roca, 2001.
Yin HH & Zhang BN: Teoria Básica da Medicina
Tradicional Chinesa. São Paulo: Editora Atheneu, 1999.
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