INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO
INOCÊNCIO NANGA (ISPIN)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
TERAPÊUTICA I
PSICOTERAPIA
LUANDA
2016
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO
INOCÊNCIO NANGA (ISPIN)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
TERAPÊUTICA I
PSICOTERAPIA
WILSON SAMUEL TCHIMBUANGULO
|
LUANDA
2016
SUMÁRIO
A psicoterapia é um tipo de
terapia, cuja finalidade é tratar os problemas psicológicos, tais como
depressão, ansiedade, dificuldades de relacionamento, entre outros problemas de
saúde mental. É um processo dialéctico efectuado
entre um profissional, o psicoterapeuta - que pode ser psicólogo ou psiquiatra
-, e o cliente ou paciente.
Por ser uma área
da saúde mental, a psicoterapia é a principal linha de tratamento para
qualquer assunto referente ao psiquismo. Para isso, propõem intervenções
psicológicas, cujos objectivos centrais são:
─
Restabelecer
o funcionamento psíquico óptimo do paciente;
─
Permitir
que o paciente compreenda as causas do que lhe acomete, para que possa
encontrar recursos psíquicos para lidar com suas dificuldades, problemas, etc;
─
Desenvolver
meios de agir no mundo, redefinindo seus traços de personalidade.
─
Solucionar
problemas pontuais, que o afligem, bem como, observar questões de cunho mais
existencial.
Os vários tipos de
psicoterapia, em todas as suas diferentes formas e métodos, possuem uma série
de características em comum. Somente tendo em mente tais características, se
pode compreender o funcionamento da psicoterapia em geral e as qualidades que
definem cada uma das diferentes escolas.
Primeiramente as
condições da terapia são organizadas por determinadas circunstâncias sociais
que determinam, por um lado, a oferta de terapeutas, as instituições que
oferecem terapia, o acesso (físico e financeiro) da população (estrutura do
sistema de saúde), e, por outro, a formação dos psicoterapeutas e a aceitação
de terapia por parte da população (factores socioculturais).
Sobre esse pano de
fundo, filtrado pela presença de outras partes interessadas (pais, família,
supervisores etc.), se desenrola então o processo terapêutico: entre o terapeuta
e o paciente (em determinadas escolas chamado cliente), cada um dos quais possuindo
determinadas características profissionais e de personalidade, se fecha um contrato
terapêutico, que define as regras do trabalho terapêutico para ambas as partes.
Dois elementos, a
técnica terapêutica e o relacionamento terapêutico, representam a base de
trabalho e são ambas influenciadas por atributos tanto do terapeuta como do
paciente. O trabalho técnico do terapeuta, por outro lado, só poderá dar frutos
se o paciente mostrar abertura a esse trabalho. Os efeitos da terapia se
apresentam em diferentes níveis, tanto em relação aos padrões de funcionamento
do indivíduo quanto em relação a seus relacionamentos interpessoais.
A disciplina que se
dedica ao estudo - desenvolvimento, avaliação, melhoramento, explicação teórica
– da psicoterapia é a pesquisa psicoterapêutica.
A pesquisa
empírica, ou seja, usando métodos científicos, sobre a psicoterapia começou nos
anos 1950, depois de o psicólogo britânico Hans Eysenk (1952) ter afirmado que
psicoterapia não tinha efeito nenhum, ou seja, que era melhor ficar em casa do
que buscar um terapeuta. Essa afirmação de Eysenk, de que ele próprio mais
tarde (1993) se distanciou, foi o impulso necessário, para que a busca de uma
compreensão mais aprofundada do processo terapêutico começasse.
A pesquisa dos
efeitos da psicoterapia, baseada nos padrões da pesquisa farmacêutica, busca
diferenciar o efeito da terapia em si, o efeito placebo, ou seja, a melhora nos
sintomas devido à expectativa do paciente (e não à terapia em si), e a remissão
espontânea, ou seja, a cura dos sintomas por si sós. Uma resposta à questão do
efeito da psicoterapia não se dá no entanto, com apenas meia dúzia de estudos;
pelo contrário, são necessários muitos deles, que são então reunidos em uma
meta-análise, ou seja, um estudo que reúne e resume um grande número de
estudos. Com base em várias meta análises pode-se afirmar hoje que a
psicoterapia, pelo menos em suas formas tradicionais, é realmente efectiva - ou
seja tem efeitos mais fortes sobre a saúde psíquica do que o efeito placebo e a
remissão espontânea. Cabe no entanto observar com Klaus Grawe (1998) que a
questão do efeito placebo se apresenta de maneira diferente em psicoterapia e
em farmácia, pois enquanto nesta se trata de um efeito indesejável (se quer de
fato que o medicamento funcione por si mesmo), em psicoterapia trata-se de um
forte efeito psicológico, que deve ser compreendido e que pode ser utilizado
como parte da própria terapia.
Uma vez confirmado
o efeito positivo da psicoterapia sobre a saúde mental dos pacientes, a
pesquisa empírica começou a voltar a sua atenção a uma pergunta muito mais
difícil de ser respondida: como, com que mecanismos, é que ela funciona?
O processo
terapêutico começa, para o paciente, antes da terapia em si e termina somente
muito depois de sua conclusão formal. Prochaska, DiClemente e Norcross (1992)
propuseram um modelo em seis fases que descreve esse processo:
1. Fase
"pré-contemplativa" (precontemplation stage): é a fase da
despreocupação. O paciente não tem consciência de seu problema e não tem a
intenção de modificar o seu comportamento - apesar de as pessoas a sua volta
estarem cientes do problema. Nesta fase os pacientes só procuram terapia se
obrigados;
2. Fase
"contemplativa" (contemplation stage): é a fase da tomada de
consciência. O paciente se dá conta dos problemas existentes, mas não sabe
ainda como reagir. Ele ainda não está preparado para uma terapia: está ainda
pesando os prós e os contras;
3. Fase
de preparação (preparation): é a fase da tomada de decisão. O paciente
se decide pela terapia - nesta fase o meio social pode desempenhar um papel muito
importante;
4. Fase
da ação (action): o paciente investe - tempo, dinheiro, esforço - na
mudança. É a fase do trabalho terapêutico propriamente dito;
5. Fase
da manutenção (maintenance): é a fase imediatamente após o fim da terapia.
O paciente investe na manutenção dos resultados obtidos por meio da terapia e
introduz as mudanças no seu dia-a-dia;
6. Fase
da estabilidade (termination): é a fase da cura. Nesta fase o paciente
solucionou o seu problema e o risco de uma recaída não é maior do que o risco
de outras pessoa para esse transtorno específico.
De acordo com o desenvolvimento
do paciente através das diferentes fases se classificam quatro tipos de
progressão: (1) o transcurso estável, em que o paciente se estagna em uma fase;
(2) o transcurso progressivo, em que o paciente se movimenta de uma fase para a
próxima; (3) o transcurso regressivo, em que o paciente se movimenta para uma
fase em que já esteve, e (4) o transcurso circular (recycling), em que o
paciente muda a direção do movimento pelo menos duas vezes.
A terapia em si se
desenvolve em quatro fases consecutivas, cada qual com objectivos próprios:
1.
Definição
do diagnóstico, por médico ou psicólogo (Ambos têm habilitação para isto): decisão que define a
prescrição terapêutica a ser desenvolvida (medicamentosa, psicoterápica, ambos
os profissionais, médico ou psicólogo e psicodiagnóstico);
2.
Estabelecimento
de um contrato de trabalho verbal: Promoção de um relacionamento terapêutico e trabalho de
clarificação do problema: a estruturação dos papéis (terapeuta e paciente),
desenvolvimento de uma expectativa de sucesso, promoção do relacionamento entre
paciente e terapeuta, transmissão de um modelo etiológico do problema;
3.
Desenvolvimento
do trabalho psicoterapêutico: no que se refere às abordagens teóricas: aquisição de
novas competências (terapia cognitivo-comportamental), análise e experiência de padrões de
relacionamento (psicanálise), reestruturação da autoimagem (terapia
centrada na pessoa),
mas é preciso observar que, particularmente, na Psicologia, existem as
especialidades psicológicas, que se sobrepõem às abordagens, como Psicologia do
Organizacional ou do Trabalho, Psicologia do Trânsito (inclui porte de armas),
Psicologia Clínica, Neuropsicologia, Emergência e Urgência psicológicas,
Psicologia Hospitalar, etc;
4.
Avaliação: verificação da concretização dos objectivos
propostos, estabilização dos resultados alcançados, fim formal da terapia e da
relação paciente-terapeuta.
As decisões tomadas
na fase não devem necessariamente permanecer imutáveis até o fim da terapia.
Pelo contrário, o terapeuta deve estar atento a mudanças no paciente, a fim de
adaptar seus métodos e suas decisões de trabalho à situação do paciente, que
nem sempre é clara no começo da terapia. A isso se dá o nome de indicação
adaptável.
Ainda sob um ponto
de vista geral, ou seja, comum a todas as escolas psicoterapêuticas, os efeitos
da psicoterapia podem ser analisados sob dois aspectos:
·
O aspecto
processual, isto é, que se refere ao trabalho terapêutico em si. Aqui podem
se observar os seguintes efeitos: o fortalecimento do relacionamento
terapêutico, a intensificação da expectativa de sucesso do paciente, sensibilização
do paciente a factores que ameaçam sua estabilidade psíquica, um mais profundo
conhecimento de si mesmo (autoexploração) e a possibilidade de novas
experiências pessoais.
·
O aspecto
final, isto, que se refere às consequências da terapia na vida do paciente.
Aqui se diferenciam os microefeitos dos macroefeitos. Os microefeitosreferem-se
aos pequenos progressos que acontecem durante a terapia, entre as sessões: o
paciente experiencia novas situações, emoções, novas facetas de si, novas
formas de comportamento. Já os macroefeitos dizem respeito às
consequências a longo prazo e às mudanças mais profundas, relacionadas às
estruturas mais centrais da personalidade e do funcionamento psíquico: a pessoa
adquire novas posturas em relação a si mesma e aos demais, adquire novas capacidades
e competências. Sobretudo, uma terapia realizada com sucesso conduz a um
aumento da autoeficácia (self-efficacy), ou seja, da convicção do
paciente de ser capaz de lidar com os problemas que o faziam sofrer, que leva a
um aumento da auto-estima. Outros
efeitos são ainda uma compreensão maior dos problemas que afligem o paciente e
da história de vida, que conduziu a eles.
Tanto os micros
como os macros efeitos se podem dar em três níveis: (1) melhora do bem-estar,
(2) modificação dos sintomas e (3) modificação da estrutura da personalidade.
Mudanças na estrutura da personalidade só são possíveis depois de uma melhora
do bem-estar e dos sintomas.
Apesar de terem
tanto em comum, os diferentes tipos de psicoterapia se diferenciam na ênfase
que dão em cada um desses aspectos comuns. Antes de serem concorrentes, os
diferentes tipos de psicoterapia possibilitam uma maior adaptabilidade do tratamento
às características individuais do paciente e podem ser classificados sob diversos
pontos de vista:
·
De acordo
com a duração: terapias curtas (ca.6-15 sessões) e longas (até três ou mais
anos);
·
De
acordo com o setting (contexto): online ou
pessoalmente;
·
De
acordo com a delegação do "poder terapêutico": terapias directivas (power
to the terapist), em que o terapeuta trabalha com apenas um paciente;
terapias de mediação (power to the mediator), em que o auxílio não é direccionado
ao paciente diretamente, mas a pessoas relevantes para ele (pais, parceiro,
etc.); grupos de auto-ajuda (power to the person), em que pessoas os
mesmos problemas procuram juntas se ajudar mutuamente na superação do problema;
·
Alguns
métodos têm por objectivo mudanças intrapessoais (nas funções psíquicas do
indivíduo), outros têm por fim mudanças em sistemas interpessoais disfuncionais
(pares, famílias, grupos de trabalho…);
·
De
acordo com o fim da terapia: alguns tipos de psicoterapia têm por fim a superação
de um problema (problembewältigungsorientiert), outras
objetivam umaclarificação dos motivos e objetivos pessoais do paciente (motivational-klärungsorientiert)
e por fim outras buscam enfatizar as ressources do paciente,
dando atenção mais às partes saudáveis da pessoa.
Apesar de toda a complementariedade das diferentes
escolas e linhas da psicoterapia - e apesar de muitos psicoterapeutas fazerem
usos de ideias e técnicas de diferentes linhas - a relação entre elas está
longe de ser amigável. As escolas psicodinâmicas e existencial-humanistas são
muitas vezes atacadas por não serem suficientemente empiricamente
fundamentadas enquanto as cognitivo-comportamentais são acusadas de serem
mecânicas, cansativas e superficiais. A tentativa de proporcionar à prática
psicoterapêutica uma base comum é feita por diferentes autores de diferentes
maneiras:
·
Integração: é a busca de uma unificação da base teórica
das diferentes escolas (Arkowitz, 1992).
·
Ecletismo: é uma posição mais prática. O objetivo é
reunir os elementos efetivos das diferentes escolas, sem levar em conta
possíveis diferenças teóricas.
·
A
busca de variáveis transteóricas, que são os fatores comuns a todas
as escolas, mas que recebem em cada uma delas um papel mais ou menos central.
Ver acima "Mecanismos de mudança em psicoterapia".
·
A
busca de uma psicoterapia geral (allgemeine Psychotherapie,
Grawe et al., 1997 ), que é a formação de uma estrutura teórica básica,
que oferece uma possibilidade de localizar e descrever as diferentes
escolas .
·
No
curso de graduação de medicina, existe uma cadeira que estuda a contribuição da
Psicologia nas doenças, e nos processos de recuperação da saúde, a qual dá-se o
nome de Psicologia
Médica.
Ainda não existe uma teoria geral que abarque todas as
formas de psicoterapia. A moderna psicoterapia é um sistema aberto que tem
ainda muito a se desenvolver por meio da pesquisa científica. Um importante
papel na pesquisa actual desempenham os tratamentos voltados para transtornos
específicos e não terapias genéricas. Exemplos de trabalhos transteóricos
podem ser encontrados em diferentes novas abordagens de terceira geração
da terapia
comportamental bem
como em grupos de pesquisa em diferentes países europeus, entre eles a Suíça .
Com base à
abordagem teórica apresenta neste trabalho podemos concluir que, no ponto de
vista da saúde mental, a psicoterapia é a principal linha de tratamento para
qualquer assunto referente ao psiquismo que tem como principais focos em permitir
que o paciente compreenda as causas do que lhe acomete, para que possa
encontrar recursos psíquicos para lidar com suas dificuldades e problemas, bem
como solucionar
problemas pontuais que afligem o paciente, desenvolver meios de agir no mundo,
redefinindo seus traços de personalidade e, mais importante restabelecer o
funcionamento psíquico óptimo do paciente.
Asendorpf, Jens B.
(2004). Psychologie der Persönlichkeit (3. Aufl.). Berlin:
Springer. ISBN 978-3-540-71684-6
Associazione svizzera degli psicoterapeuti
(2010), Scienze psicoterapeutiche (SPT) - Rapporto sulle possibilità di
sviluppo di un curriculum di studi indipendente in SPT e di un concetto
integrale per la formazione professionale scientifica, Zurigo. Cfr. www.psychotherapie.ch.
Grawe, Klaus; Donati,
Ruth & Bernauer, Friederike (1997). Psychotherapy in Transition:
From Speculation to Science. Göttingen: Hogrefe. ISBN 0-88937-149-0(Original: Grawe et.
al., 1994. Psychotherapie im Wandel. Von der Konfession zu der
Profession. Göttingen: Hogrefe.)
Leahy, Robert L.
(2007). Techniken kognitiver Therapie: ein Handbuch für Praktiker.
Paderborn: Junfermann. ISBN
978-3-87387-661-3 (Original: Leahy, R. L.
(2003). Cognitive therapy techniques - A practioner's guide. New
York: Guilford Publications. ISBN 1-57230-905-9)
Perrez, Meinrad &
Baumann, Urs (2005). Lehrbuch klinische Psychologie - Psychotherapie.
Bern: Huber. ISBN 3-456-84241-4
Nenhum comentário:
Postar um comentário