quarta-feira, 27 de abril de 2016

MUSICOTERAPIA - Trabalho elaborado por Vieira Miguel Manuel

INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INOCÊNCIO NANGA (ISPIN)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM


                                            




TERAPÊUTICA





MUSICOTERAPIA























LUANDA
2016
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO INOCÊNCIO NANGA (ISPIN)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM







TERAPÊUTICA I





MUSICOTERAPIA






ELIZABETH MANUEL SEBASTIÃO






Trabalho apresentado ao Curso de Enfermagem na disciplina de Terapêutica I como requisito parcial para obtenção de notas.

Orientador: Evaristo Baptista
 
 















LUANDA
2016
SUMÁRIO




 




O presente trabalho apresenta um estudo bibliográfico reflexivo sobre algumas possibilidades de entendimento da música na Musicoterapia. A partir dos aportes filosóficos descritos pelos autores pesquisados, o entendimento sobre música torna-se um diferencial e um fundamento para o entendimento da Musicoterapia. Dos pensamentos da antiga Grécia aos dias actuais manteve-se a coerência aos aspectos complexos da música e na musicoterapia preserva-se a unicidade homem/música. Discorre-se assim sobre música em musicoterapia como um exercício de filosofia.










De acordo com a definição da World Federation of Music Therapy, Musicoterapia é a utilização da música e/ou dos elementos musicais (som, ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta e pelo cliente ou grupo, em um processo estruturado para facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva), para desenvolver potenciais ou recuperar funções do indivíduo de forma que ele possa alcançar melhor integração intra e interpessoal e consequentemente uma melhor qualidade de vida.

Segundo a Canadian Association for Music Therapy a musicoterapia é “a utilização da música para auxiliar a integração física, psicológica e emocional do indivíduo e para o tratamento de doenças ou deficiências. Ela pode ser aplicada a todos os grupos etários em uma grande variedade de settings. A música possui a qualidade de ser não verbal, mas oferece muitas oportunidades para a expressão oral e verbal. Como membro de uma equipe terapêutica, o musicoterapeuta participa da avaliação das necessidades do cliente, da formulação da abordagem e do programa terapêutico, desenvolvendo então actividades musicais específicas para alcançar os objectivos. A natureza da musicoterapia enfatiza uma abordagem criativa no trabalho terapêutico, possibilitando uma abordagem humanista e viável que reconhece e desenvolve recursos internos geralmente reprimidos do cliente. Os musicoterapeutas desejam ajudar o indivíduo a mover-se em direcção a uma maior autoconsciência e, em um sentido mais amplo, a levar cada ser humano ao seu maior potencial”. (BACKES, 2003, p.39)

É importante enfatizar que a música não é um curativo eficaz em si mesmo, mas que seus efeitos terapêuticos resultam de uma aplicação profissional durante um processo terapêutico.


A palavra música tem por etimologia latina, música e grega mousikè. Com a base grega é possível perceber que existem vários significados. Primeiro ela está relacionada com as Musas: “deusas protectoras da educação e por extensão aos termos poesia e cultura geral”; depois considera-se o contrário “(a-mousos, não musical) refere-se às pessoas incultas e ignorante”; também é associado a um sentido mais convencional, música: “se refere aos ensinos específicos da área”; pode ser associado a um “sinónimo de filosofia”; e também pode ser associado ao verbo “manthanein, ‘aprende’, que por coincidência é também o verbo do qual se origina a palavra +matemática’” (TOMÁS, 2005, p. 13-14).

A compreensão deste termo mousikè na cultura grega dava-se de modo complexo por estar directamente integrada a outras áreas de conhecimento como: “a medicina, a psicologia, a ética, a religião, a filosofia, e a vida social” (Ibid., p. 13). Como conceito compreendia: “um conjunto de actividades bastante diferentes, as quais se integravam em uma única manifestação: estudar música na Grécia consistia também em estudar a poesia, a dança, e a ginástica” (Ibid., p.13). É importante esclarecer que os saberes acima descritos não eram entendidos como áreas separadas, mas sim, eram pensadas “simultaneamente e que seriam, assim, equivalentes. Todos esses aspectos, quando relacionados com a música tinham uma igual importância e, portanto, não existia uma hierarquia entre eles” (Ibid., p. 13).

Entender o conceito de música passa pelo entendimento desta etimologia. Considerando que na sociedade grega a música era muito importante por “suas conexões com outros campos do saber [que] ultrapassavam em muito o sentido comum do que se entende por música, isto é, como um fenómeno audível que pode ser percebido sensorialmente” (Ibid., p.13). Para eles as segmentações de saberes não se faziam necessárias, mas sim, a integração e construção destes saberes com o quotidiano, com o modo de vida por estarem relacionados com a formação integral da pessoa.

A música assim acontecia pela construção do conhecimento específico da área e sua integração ao conhecimento total ao mesmo tempo. Era entendida, deste modo, tanto pelo conceito de ‘metafísica da harmonia’ (pensamento pitagórico) e seu desdobramento para ‘música conceitual’ (pensamento platónico) como de ‘música’, sons audíveis (pensamentos pitagóricos, platónicos e aristotélicos integrados à formação do carácter).

O entendimento sobre harmonia dava-se de forma diferente do que existe hoje. Esta palavra tinha por significado ‘ajustes’ e ‘junções’ e era aplicada a muitos temas quando se queria expressar a “união de coisas contrárias ou de elementos em conflito organizados como um todo”. De modo metafísico música relacionava-se à prática musical, à afinação dos instrumentos e representava “equilíbrio físico e mental” (Ibid., p. 17). O aspecto metafísico da harmonia, ou seja, o entendimento da música de modo não audível vem como um contra ponto ao ambiente dualista manifestado na música entendida sensorialmente (música audível) presente nos aspectos éticos educativos.


“Pitágoras, por exemplo, partindo de uma ideia dos antigos egípcios, desenvolveu uma teoria segundo a qual cada planeta, movendo-se no espaço, emitia um determinado som. Cada som correspondia a uma nota, e todas elas, em conjunto, formariam uma escala, constituindo a música das esferas, que reflectiria a ordem universal” (JEANDOT, 1997, p.13).

A música e o ritmo são espelhos das estruturas cósmicas. O ritmo é o equilíbrio que permite expressar as emoções, é a base de todo o movimento humano no espaço, inclui a música. Estar em equilíbrio é respeitar a dinâmica rítmica do universo.

“Nosso ritmo interage permanentemente com o concerto cósmico de batimentos e pulsações: estamos em sintonia com a música das esferas” (FREGTMAN, 1987, p.27).

Assim, todo o Universo é vibração que segue uma ordem de frequência, se apresentando como escuridão, luz, cor, som e forma.


Após essa caminhada do início do século XIX até a segunda metade do século XX já não se usa o termo ‘terapêutica musical’ e sim ‘musicoterapia’. Os primeiros princípios na construção da teoria da Musicoterapia foram descritos por Gaston (1968) como sendo:

1 – O estabelecimento ou restabelecimento das relações interpessoais: a justificativa para este princípio baseou-se na qualidade da música como instrumento para a inserção social. “A música dia a dia em quase todas as culturas, tem sido uma das actividades grupais que mais satisfação deu, não só por sua atracção sensorial única, mas porque era, e é, comunicação não verbal” (GASTON, 1968, p. 15 grifo do autor). Deste modo o trabalho da musicoterapia enfatiza a característica da música como (re)integradora em actividades sociais.

2 – a obtenção da autoestima mediante a autorealização: este segundo princípio está directamente relacionado com o primeiro. Uma interacção social se faz a partir da autoestima, pois, ela é “a confiança e a satisfação consigo mesmo” (Ibid., p 17). As actividades musicais vêm ao encontro deste exercício de autorealização por ser uma acção compartilhada com o musicoterapeuta e demais integrantes de um grupo. Para tanto faz necessário certo grau de competência.

3 – o emprego do poder singular do ritmo para dotar de energia e organizar: este elemento musical, o ritmo permite colocar a energia em movimento ao mesmo tempo em que organiza. “Constitui o elemento mais potente e dinâmico da música (...) faz mover a engrenagem” (Ibid., p 17). Na musicoterapia é possível induzir e modificar a conduta de modo suave, insistente e dinâmico em uma relação desprovida de temor, com confiança e satisfação em si mesmo.

A importância de se fundamentar o entendimento do fenómeno da experiência musical na prática clínica foi intensificada por Gaston. Ele denominou de ‘fundamentos da musicoterapia’:

(...) se quisermos apreender a música enquanto forma essencial do comportamento humano haveremos de assegurar as bases da musicoterapia. Esta disciplina para formar sua estrutura conceitual teórica necessita em grande medida de uma base tal, que esteja de acordo com os conceitos biológicos e psicológicos. (...) requer um conhecimento multidisciplinar (...) estreitamente vinculada às ciências da conduta e todas as disciplinas científicas (...) há de ser uma [teoria] que seja do comportamento, lógica e psicológica (GASTON, 1968, p.25).

Este pesquisador sugere um caminho a seguir para o enriquecimento e desenvolvimento da Musicoterapia: entender a Música para além do que os livros já haviam descrito (tratados de harmonia, melodia, história etc.). Assim considerar que: se quisermos apreender a música enquanto forma essencial do comportamento humano haveremos de assegurar as bases da musicoterapia (GASTON, 1968.) era uma hipótese viável ao mesmo tempo em que se aproxima da totalidade inerente ao conceito de Mousikè. Um desdobramento destes fundamentos traçados está presente em construções teóricas subsequentes descritas na musicoterapia criativa.


A vida moderna exige cada vez mais do homem ocidental e não só, devido aos estilos de vida em que a ambição pessoal o torna vulnerável ao stress, tão comum em nossa sociedade. Devido a isso, é necessário buscar o reequilíbrio pessoal. Nessa atitude de reequilíbrio a música tem papel fundamental, através da meditação e do relaxamento com canções melodiosas, músicas clássicas e a música meditativa, por apresentarem ritmos lentos, suaves, relaxantes e em razão dos movimentos dos elementos biológicos da nossa existência: respirar, correr, andar e a pulsação cardíaca.

Para que o organismo humano adquira o reequilíbrio é interessante examinar três áreas, que são tratadas no holismo: o corpo, a mente e o espírito.

“O que chamamos espírito, claro, é algo de difícil definição e significa coisas diferentes, entretanto, dentro do paradigma da saúde, representa o que muitos terapeutas holísticos consideram o alicerce do nosso ser – a verdadeira base de nossa existência. É caracterizado não pela linguagem da análise científica, mas pela metáfora poética e símbolo de transcendência – motivos que apontam o caminho para o sagrado e para o infinito” (DRURY, 1990, p.37).

Diante desses três elementos – corpo, mente e espírito -, onde a música pode actuar é que alcançaremos as respostas necessárias para o nosso equilíbrio e bem-estar pessoal.


Ouvimos através do corpo. Muitas pessoas sentem-se fracas ao ouvir determinada nota tocada isoladamente, mas no conjunto da harmonia, onde diversas notas ecoam ao mesmo tempo, se misturam as outras e quase não a percebemos. Essa mesma postura adquire um solista que ao tocar necessita de uma técnica apurada para que sua interpretação não apresente ruídos desagradáveis, “sujeiras”.

De acordo com o teste do Dr. Diamond, o músculo ficará “forte” se for tocada música “boa” para o paciente – mesmo com seus ouvidos bloqueados com travesseiros ou material “fono-absorvente”. Isso demonstra que o corpo pode discriminar sons benéficos dos prejudiciais, e as vibrações musicais feitas por instrumentos ou por vozes podem ter um efeito positivo ou negativo sobre o corpo.


“A música apresenta um canal directo para as emoções, estimula à intuição, à imaginação, à criatividade o que é objecto de estudo de musicólogos e terapeutas. O objectivo da musicoterapia é cuidar de pessoas com alguns distúrbios mentais, atingir as faculdades cognitivas, os pensamentos, a memória. Assim, a música certa pode orientar o paciente quando mais nada lhe restar. Doenças diferentes requerem abordagem musical diferente” (DRURY, 1990, p.35).

A Dra. Helen Bony, do Institute For Consciousness and Music, nos EUA, utilizou a música de diversos compositores clássicos famosos, inclusive Bach, Haydn, Vivaldi, Debussy e Bizet, programas de redução de stress para pacientes de hospitais nas unidades de terapia intensiva por dois períodos de seis meses, e demonstraram que o “apaziguamento do ânimo” induzido pela música acarretava nos pacientes uma redução mensurável da pulsação, depois de terem ouvido uma selecção musical.


Como já foi dito no primeiro capítulo, o planeta está carregado de energias negativas, sendo elas, às vezes, as responsáveis pelos desequilíbrios emocionais e físicos, em decorrência dos desarranjos ambientais, políticos, religiosos que tanto atingem esse mundo globalizado, energias reprimidas não desaparecem, ficam presas em nosso corpo, reaparecem no tecido muscular, provocando tensão muscular e “doenças psicossomáticas” como: dores de cabeça, stress e outras. É preciso deslocar essas energias com o uso de terapias e mentalização.

“O terapeuta Dr. Steven Halpern – um dos músicos da New Age e um erudito das formas musicais – adoptou um referencial que utiliza o conceito de Chakras. Isto representa um sistema de níveis de energia no Yoga, mas o Dr. Halpern modificou-o para correlacionar com as notas da escala musical e as cores do arco-íris” (WATSON, 1987, p.37).

Várias terapias, como o Reiki e a cromoterapia se utilizam os chakras como base para diagnosticar e cuidar dos males que atingem o corpo físico e o espiritual. Através de gestos que podem ser incorporados do dia-a-dia é possível activar esses pontos de energia, buscando a harmonização do corpo e da alma.

O homem contemporâneo percebeu que era preciso fazer algo que o fizesse mais feliz. Que o material e o espiritual precisam caminhar juntos, em sintonia, e descobriu nas terapias uma saída para ajudá-lo espiritualmente. Seus fracassos, dificuldades, conflitos e a relação interpessoal precisam ser restabelecidos para que sua vida tenha realmente um sentido.

A doença ou o mal-estar reflecte um estado de desequilíbrio no organismo; cooperamos, às vezes, para esse desequilíbrio devido ao nosso estilo de vida ou as nossas crenças e, se temos o poder de perturbar o nosso organismo, também, temos para corrigi-lo. O nosso organismo é como uma máquina, um carro, em que todas as peças precisam estar em perfeitas condições de uso; assim como na correlação de notas, cores, chakras e glândulas descrito pelo Dr. Halpern. O ideal seria que todos esses itens funcionassem perfeitamente, o que é muito difícil.

A música pode influenciar o homem a entrar rapidamente em estados de relaxamento, desde o mais leve até o mais profundo. Através da música adquire-se paz e tranquilidade interior, proporciona descanso físico e mental. É o meio de afastar as tensões do quotidiano. Ao permitir alterações no equilíbrio, distúrbios aparecerão e a saúde será afectada, atingindo o sistema nervoso. Assim, o reencontro com o “Eu” interior torna-se necessário, o ponto de equilíbrio.


A Musicoterapia fortifica-se como a integração entre Arte, Saúde e Ciência e embaça-se em reflexões sobre ser essa Disciplina um campo híbrido e/ou transdisciplinar (CHAGAS, 2008; CRAVEIRO DE SÁ e LABOISSIERE ET all, 2003; PIAZZETTA, 2007). Aproximando este pensamento complexo da actualidade com a forma integrada de compreender a música na cultura grega, áreas tidas como opostas dialogam: Ciência e Arte, objectividade e subjectividade, música conceitual (metafísica da harmonia) e música (a escuta e o sensível). Um repensar a música faz-se necessário e a filosofia de Deleuze & Gattari também ocupa um lugar com contribuições significativas.










Com base no exposto acima, podemos dizer que A música é uma necessidade. Ouvir música, aprender uma canção ou “fazer” ritmo não é perda de tempo e ainda, terapêutico.

O Homem deve buscar a Música do futuro dentro de si mesmo, mediante a comunhão com o seu próprio ser profundo ou espiritual e, por intermédio deste, com todo o universo. Encarada deste modo, a Música, baseada na compreensão da vida, da essência dos seres (homens, animais e plantas), mais fácil, definida e ostensivamente terá uma função terapêutica que, pouco a pouco, se irá impondo. Ter-se-á em conta, cada vez mais, o efeito da Música, de cada tipo de musicalidade, de cada obra musical nas pessoas que a ouvem, e maior cuidado será posto na sua produção e na escolha da sua audição para cada um e para cada situação, estado físico ou psíquico.

Que possamos, então, ouvir mais música. Ela nos eleva, nos sintoniza e nos conduz a paisagens sublimes. Ela nos mantém saudáveis, nos permite o equilíbrio, a autocura e consequentemente, o autoconhecimento.





CHAGAS, Marly e PEDRO, Rosa. Musicoterapia: desafios entre as Modernidade e a Contemporaneidade (como sofrem os híbridos e como e divertem).Rio de Janeiro: MauadX: Bapera, 2008.

CRAVEIRO DE SÁ, Leomara. A teia do tempo e o autista: música e musicoterapia. Goiânia:Editora UFG, 2003.

FREGTAMAN, Carlos. O TAO da Música. São Paulo: Pensamento, 1987.

GASTON, Thayer. Tratado de Musicoterapia. Buenos Aires: Paidós, 1968.

JEANDOT, Nicole. Explorando o Universo da Música. São Paulo:Scipione, 1997.

PIAZZETTA, Clara Márcia. Musicalidade Clínica em Musicoterapia: um estudo transdisciplinar sobre o musicoterapeuta como um ser “musical-clínico”. Dissertação de Mestrado, Goiânia: 2006.

TOMÁS, Lia. Música e filosofia: estética musical. São Paulo: Conexões musicais, Irmãos Vitale, 2005.

RUUD, Even. Música e Saúde. São Paulo:Summus,1990.

WATSON, Andrew; DRURY,Nevill. Musicoterapia – Um caminho Holístico para a
Harmonia Interior. São Paulo: Groud, 1990.



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