INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO
INOCÊNCIO NANGA (ISPIN)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
TERAPÊUTICA I
HOMEOPATIA
LUANDA
2016
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO
INOCÊNCIO NANGA (ISPIN)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
TERAPÊUTICA I
HOMEOPATIA
MAGDA ADELAIDE DOMINGOS
|
LUANDA
2016
SUMÁRIO
A ideia de curar
assenta em dois princípios diferentes, enquanto um dos princípios defende a
cura provocando uma acção diferente no organismo -“contraria contrariüs contantur”-, outro dos princípios salienta a
cura provocando uma acção semelhante no organismo – “simila similibus curantur”. É a partir destas leis que vieram a
desenvolver-se dois sistemas terapêuticos denominados por alopatia e
homeopatia. A homeopatia, fundada por Samuel Hahnemann no final do século
XVIII, volta a trazer à ordem do dia a ideia de “curar o mal pelo mal” ou a Lei
dos Semelhantes. É Samuel Hahnemann quem descobre o mecanismo de aplicação e a
sua utilização científica na cura dos doentes, após experiências e observações
frequentemente renovadas, fazendo variar as condições da experiência para um
mesmo medicamento: a idade, o sexo, as doses, etc. A homeopatia é controversa
por causa do uso de medicamentos altamente diluídos ou os infinitesimais.
Esta torna-se
popular no século XIX e em parte deve o seu sucesso às epidemias que
aconteceram nessa época, os fracassos da medicina oficial e os êxitos da
homeopatia. O seu sucesso diminui durante grande parte do século XX, mas volta
à ribalta no final dos anos 20 em muitas partes do mundo. Apesar da longa
história da controvérsia científica, a homeopatia tem-se mostrado resiliente e,
nos nossos dias, geograficamente muito difundida.
A homeopatia é uma
ciência terapêutica baseada na lei natural de cura Similia similibus curantus
(sejam os semelhantes curados pelos semelhantes) enunciada por Hipócrates no
século IV a.C. Foi desenvolvida por Samuel Hahnemann no século XVIII.
Conhecer a
homeopatia é conhecer a vida de seu criador e suas experiências na procura de
um sistema médico onde “o mais alto ideal da cura é o restabelecimento rápido,
suave e duradouro da saúde ou a remoção e a destruição integral da doença pelo
caminho mais curto, mais seguro e menos prejudicial...” (Hahnemann, Organon §2).
A homeopatia é uma
palavra inventada por Hahnemann a partir do grego homois «semelhante» e pathos
«sofrimento», doença (Chemouny, 2001).
A homeopatia é
citada por o Petit Robert, como um “método terapêutico que consiste em tratar
os doentes através dos medicamentos (em doses infinitesimais obtidas por diluição)
capazes de produzir num indivíduo são, sintomas semelhantes aos da doença a combater
(Chemouny, 2001)
Esta nova terapia
desenvolvida por Hahnemann cimenta-se em dois princípios tóricos básicos: o
princípio dos similares e a utilização de diluições chamadas de “infinitesimais”.
Outro factor que estabelece diferenças entre a medicina convencional e a
homeopatia é que não importa que várias patologias se apresentem com sintomas idênticos,
uma vez que a homeopatia trata de doentes e não de doenças.
A homeopatia é um
saber, uma ciência e uma arte médico-farmacêutica específica que se propõe
conceder ao ser humano condições físicas e mentais para que de modo livre possa
atingir os seus mais altos desígnios por meio de leis e princípios
estabelecidos.
A homeopatia trata
a pessoa por inteiro e não apenas os sintomas corporais, uma vez que mente e
corpo se encontram em estreita ligação. Os sintomas não podem ser tratados sem
que se compreenda a constituição do indivíduo, bem como o seu carácter
(Lockie, 2001).
A homeopatia
utiliza-se tanto em casos agudos como crónicos, físicos, emocionais ou mentais,
apenas mudam as diluições que se encontram em potenciais diferentes. A homeopatia
auxilia o organismo a curar-se a si mesmo, não anular os sintomas. Os produtos
procuram estimular as autodefesas, reforçando o sistema imunitário, da mesma forma,
usando produtos de maior acção e mais diluídos, com menor toxicidade e sem efeitos
secundários (Silva, 1999).
É à Grécia e à Roma
antigas que remontam as práticas médicas racionais originais da homeopatia
(cura pelo semelhante), bem como os seus princípios (Lockie, 2001). Durante
séculos, os médicos profissionais procuraram práticas do género da homeopatia,
Hipócrates e Paracelso fizeram descobertas que continuam a influir nesta, mas
somente no final do século XVIII se verifica um avanço concertado e aprofundado
desta disciplina.
Estreitamente
ligada ao progresso da investigação está a evolução da homeopatia. Durante
muitos anos os homeopatas tinham como objectivo demonstrar a actividade das
altas diluições, que com diversos estudos científicos sugerem a eficácia real
das doses infinitesimais, mesmo quando teoricamente não contêm nenhuma molécula
activa. Tentam também descobrir os mecanismos de acção dos medicamentos
homeopáticos, abrindo também o campo a uma farmacologia das altas diluições,
área que nos reservará, podemos supô-lo, surpresas que ultrapassarão o
enquadramento da homeopatia.
Depois de dois
séculos de existência, percebemos que a homeopatia não é uma moda passageira ou
uma invenção da imaginação. Quando uma abordagem médica atravessa os séculos e
resiste ao teste do tempo, mostra que é sólida e real (INHF, 2010).
Foi sem qualquer
dúvida o público que deu à homeopatia a importância de que ainda hoje desfruta.
É o público que lhe admira os méritos e lhe descobre as potencialidades e é
ainda este mesmo público que prosseguirá esta descoberta na procura do seu próprio
bem-estar.
Foi Hipócrates, no
séc. IV a.C., quem teorizou a partir da observação, que a cura pode ser
provocada quer pela lei dos semelhantes quer pela dos contrários.
Hahnemann, na
sequência da experimentação de diversas substâncias[1] e após ter
descoberto que a quina, que destrói a febre, a provoca no indivíduo são, concretizou
o princípio normalmente referido como “Similia Similibus Curantur”, ou seja, os semelhantes são
curados pelos semelhantes.
Os sintomas de uma
determinada doença são curados pela substância altamente diluída[2], que produz num
corpo são, sintomas artificiais semelhantes aos da doença, quando administrada
em dose ponderal[3]. Toda a substância
capaz de provocar determinados sintomas num indivíduo são, faz com que estes
desapareçam num organismo doente.
Não se trata de
combater a doença com a própria doença, mas com algo que se comporta da mesma
forma que ela.
O simillimum
representa sempre a esperança de cura do paciente e é o medicamento onde os
sintomas totais apresentados pelo doente encontram correspondência na respectiva
patogenesia[4].
Por vezes, apenas
uma parte do quadro sintomático é encontrada na lista de sintomas do remédio
mais adequado disponível na Matéria Médica.
A experiência
demonstra que se a lei da similitude não for respeitada, os medicamentos
homeopáticos são praticamente ineficazes. A doutrina Hahnemanniana é, como já
foi aludido, unicista, porquanto é utilizado um único remédio para a obtenção
da cura, contrariamente ao que acontece com o pluralismo e com o complexismo.
Na perspectiva do
unicismo não existem remédios equivalentes e portanto, não existem substitutos.
Por outro lado, o homeopata não deve misturá-los, deixando à sorte a
determinação do efeito a ser produzido no paciente.
O simillimum tem um
poder de cura quase extraordinário e podemos verificar que o doente lhe é extremamente
sensível. Quanto mais perfeita for a similitude, como consequência da escolha
criteriosa do medicamento, mais susceptível será o doente aos seus poderes
curativos.
A Homeopatia encara
o ser humano[5] duma forma global e este é estudado na
sua totalidade.
O homem é
considerado em todas as suas vertentes. Ele é o medo, a tristeza, a ansiedade,
a excitação sexual, a ausência de libido, a astenia e a fadiga, as relações laborais,
familiares, sociais, os distúrbios de memória, cognitivos, o sono reparador ou
não, a insónia, os sonhos, sensações, ilusões e delírios, a sede e o apetite,
as febres, dores de cabeça, estômago, as lesões orgânicas, os transtornos
funcionais, os transtornos e traumas recentes e/ou passados. Estes exemplos
ambientam-nos na globalidade do nosso ser e consciencializam-nos para o facto
de ser esta a totalidade que reage às agressões interiores ou externas.
Encará-la como mera acumulação de partes isoladas é uma fuga à realidade com o
intuito de facilitar a actividade terapêutica[6]. É também em
função dela, que é prescrito o simillimum.
Em homeopatia não
há doenças, só há doentes. Por isso, Hahnemann considerava uma verdadeira
“heresia” afirmar que damos determinado remédio nesta ou naquela patologia[7], como a Ipeca ou a
Drosera para a tosse, a Ignatia para a distonia neurovegetativa e Lachesis para os distúrbios da menopausa. O que se cura
é o paciente com tosse, com distonia neurovegetativa e com distúrbios
menopáusicos e não a designação da doença. Praticar a homeopatia nesta última
formulação é confundi-la por identificação de métodos, com a medicina
alopática.
Considerando o
homem no seu centro, digamos impropriamente, na sua essência, nos chamados
sintomas da imaginação, biopatográficos ou etiológicos, mentais e gerais, pode
ocorrer que o medicamento escolhido, não tenha presente na sua patogenesia os
sintomas locais. Caso isto suceda, não constitui um óbice à aplicação do
medicamento, visto que o remédio que cura o doente faculta o desaparecimento
dos sinais e sintomas particulares.
O organismo
funcionando como um todo, pela acção do simillimum, restabelece o seu próprio
equilíbrio, caminhando pela vereda da saúde.
A
infinitesimalidade é um corolário directo e imediato da similitude. Os
medicamentos homeopáticos são essencialmente utilizados em doses de altas
diluições, por duas razões fundamentais:
As substâncias
utilizadas em dose ponderal, podem nalguns casos apresentar um grau de
toxicidade capaz de maior ou menor agressão ao organismo do paciente, pelo que,
submetendo-as a diluições sucessivas anulamos os efeitos indesejáveis, enquanto
a acção terapêutica se mantém;
Quanto maior a
diluição mais profundo e duradouro é o efeito do medicamento, e isto, desde que
correctamente prescrito.
Hahnemann, para
além de submeter as substâncias medicamentosas a sucessivas diluições,
dinamizou-as por intermédio de uma agitação vigorosa e rítmica. As principais
doses altamente diluídas – hahnemannianas –, são as decimais e as centesimais.
Para a realização
das sucessivas dinamizações, o prático ou o farmacêutico deve dispor de frascos
novos, previamente lavados com água e secos posteriormente.
O remédio
homeopático é o resultado de um produto inicial submetido a diluições
sucessivas, acompanhadas simultaneamente de agitação e ritmo[8].
Madeleine Bastide e
Frederic Boudard, procuraram demonstrar num trabalho denominado “Investigação
Científica em Homeopatia”, que esta é uma verdadeira ciência face à eficácia
real das doses infinitesimais, mesmo quando já não contêm moléculas da
substância inicial. Os estudos tendentes a demonstrar que o medicamento
homeopático não é um placebo, têm vindo a multiplicar-se com conclusões
absolutamente favoráveis.
Não é por se
desconhecerem os reais mecanismos pelos quais é veiculada a informação contida
nos remédios homeopáticos, que vamos negar a sua eficácia[9]. O
conhecido é uma pequena embarcação no oceano do desconhecido e nenhuma mentira,
sujeita a constante comprovação, pode sobreviver 200 anos, muito especialmente
numa época em que tudo é posto em crise.
A homeopatia
consiste num sistema que, de certo modo, se assume como medicina preventiva, e
funcional, abrangendo o Homem de forma integral (mente e corpo). As raízes
deste domínio da medicina e da farmácia recuam à Antiguidade Clássica nas
figuras proeminentes de Hipócrates e Galeno e alguns outros que não estudamos e
no renascentista Paracelso. A obra destes foi lida, reconhecida e analisada por
S. Hahnemann.
Pode concluir-se
que, apesar da polémica em volta do funcionamento dos medicamentos homeopáticos,
importa referenciar que os fundamentos teóricos da homeopatia tendem a ser de
importância secundária para os utentes, que vêem os medicamentos apenas na perspectiva
do seu resultado, negligenciando o conhecimento dos seus princípios activos.
Para nós que somos
profissionais de Enfermagem esta é uma das questões essenciais na equação
doença-terapêutica e, especialmente, foi esse o principal motivo que nos impeliu
a conhecer aprofundadamente os fundamentos práticos e teóricos e a evolução recente
desta disciplina.
CHEMOUNY, B.. O
livro da Homeopatia - Um guia prático para o uso familiar,
Lisboa, Cetop, 2001.
J. BARBANCEY, Prática
Homeopática em Psicopatologia, 2 vols., Editora Andrei, São Paulo. 2000.
LOCKIE, A..
Enciclopedia de Homeopatia - Guia prático: de remédios homeopáticos, Porto,
Libraria Civilização Editora, 2000.
SILVA, F. R., CRUZ,
M. A., RIBEIRO, J. M. & OSSWALD, H. Estudos em Homenagem a Luís António de
Oliveira Ramos, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 2004.
SILVA, P.
Fitoterapia e Homeopatia: a via científica. Farmacia Distribuição. 97
ed. Lisboa:
Hollyfar – Marcas e Comunicação, Lda 1999.
TEIXEIRA, Marcus
Zulian, Semelhante Cura Semelhante: O princípio de cura homeopático fundamentado
pela racionalidade médica e científica – São Paulo: Editorial Petrus, 1998.
[1]
V.g.
Arsenicum Album, Belladona e Mercurius.
[2]
Trata-se
de uma diluição homeopática que retira a toxicidade ao medicamento, estimulando
concomitantemente as capacidades reaccionais de autocura do organismo.
[3]
Dose
forte, mas não letal. Verifica-se aqui um efeito de dupla face do medicamento. Como
já anotámos, o café que em doses ponderais provoca a insónia, vai curá-la
quando altamente diluído.
[4]
Conjunto
de efeitos desencadeados por um remédio.
[5]
Ou
o animal, já que existe uma Medicina Homeopática Veterinária.
[6]
O
equilíbrio do sistema orgânico integral resulta da interacção entre os vários
subsistemas.
[7]
Actualmente,
pelo menos em território Europeu, tende-se à utilização da homeopatia mediante
os princípios da Medicina Ortodoxa. É inelutável, que o contributo da prática médica
ortodoxa é de um valor inestimável para a homeopatia, embora não seja fundamental,
mas o transporte ou impregnação do corpo teórico da Homeopatia pelo da Medicina
Ortodoxa só faz com que se passe a ver a doença em detrimento do doente. O complexismo
é utilizado maioritariamente de acordo com as patologias tal como são conhecidas
na Medicina Ortodoxa. Tal facto, embora não possa permitir que a escolha do
medicamento, por muito criteriosa que seja, determine a perfeita cura do
paciente – só quando se escolhe o medicamento visando o doente e não a
doença é que se pode ter maior certeza de promover a cura e o restabelecimento
do enfermo –, permite uma rápida actuação no quadro sintomático imediato,
facultando alívios que propiciam no tempo, a ulterior pesquisa do simillimum.
Mas é de não esquecer, que embora a utilização dos complexos homeopáticos possa
ser aliciante pelo pragmatismo e rapidez de prescrição, o que se cura, ou tende
a curar, é o doente e não a doença.
[8]
Este
processo intitula-se de dinamização.
[9]
Para
Bastide e Boudard, tratar-se-á de sinais electromagnéticos de reduzida intensidade
– sinais não moleculares – veiculadores de informações sob a forma de imagens
de patologias – patogenesia do medicamento –, espelhos da sintomatologia apresentada
pelo paciente, inteligíveis para o organismo deste, que apresenta a peculiar característica
de negativizar o seu próprio quadro sintomático.
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