INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO
INOCÊNCIO NANGA (ISPIN)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
SAÚDE MENTAL E PSIQUIATRIA
CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS MENTAIS
LUANDA
2016
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO
INOCÊNCIO NANGA (ISPIN)
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
LICENCIATURA EM ENFERMAGEM
SAÚDE MENTAL E PSIQUIATRIA
CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS MENTAIS
EDNA CORREIA FORTUNATO
ENGRÁCIA LANDO CANDA XONA
HENRIQUES PEDRO SERAFIM
JOÃO JOSÉ CASSULE
LUÍSA RODRIGUES SOUSA
MARIA FLAVIANA MAURÍCIO
REBECA MANUELA MARCOS PONTES
|
LUANDA
2016
SUMÁRIO
Poucas áreas do conhecimento têm fascinado
tanto a humanidade como aquela voltada para o estudo da mente humana: é a mente
buscando compreender a si própria. A questão se torna ainda mais fascinante ao
se estudarem os transtornos mentais, situações em que o funcionamento da mente
encontra-se alterado. A complexidade dessa área é tão grande que algumas
pessoas chegam mesmo a acreditar que o homem jamais conseguirá desvendar de
forma plena os mistérios que permeiam nossas funções mentais e as alterações
associadas a elas. Seria como tentar tirar os dois pés do chão puxando os
próprios suspensórios, ou seja, algo impossível. Os transtornos mentais fazem
parte de nossa experiência diária. Eles são muito mais comuns do que em geral
se imagina. Dados epidemiológicos estimam que entre 30 e 40% dos angolanos
apresentaram pelo menos uma vez na vida um transtorno mental (Mello; Mello;
Kohn, 2007). Dessa forma, inevitavelmente cada um de nós tem um vizinho, um
amigo ou mesmo um familiar que já sofreu ou está sofrendo desse problema.
1.1 OBJECTIVOS
1.1.1 Geral:
·
Definir o que são doenças mentais e
mostrar a classificação das mesmas.
1.1.2 Específicos:
·
Identificar os principais tipos de
doenças mentais;
·
Analisar a diferença entre Doenças
Mentais e Transtornos Mentais;
·
Definir o termo ‘anormalidade’;
·
Explicar a importância da CID.
Como qualquer outra enfermidade, as doenças
mentais representam alterações inerentes à própria condição humana. Assim, é
possível que alguma forma de adoecimento mental já estivesse presente nas
primeiras culturas humanas, que surgiram no leste africano entre 100 e 150 mil
anos atrás. A ausência de registros escritos impede uma determinação exata do
tipo de conhecimento que essas culturas detinham sobre as funções e disfunções
mentais. Entretanto, escavações arqueológicas revelaram a existência de crânios
perfurados cirurgicamente desde o período neolítico, 12 mil anos atrás.
Não estão claras as razões que motivaram o
homem pré-histórico a realizar essas cirurgias, denominadas trepanação. Uma
possível função religiosa estaria relacionada à necessidade de liberar demónios
que estariam atormentando o doente. No entanto, especula-se que haveria uma
função terapêutica: aliviar convulsões ou dores de cabeça. Independentemente da
razão pela qual a trepanação era realizada, o emprego dessa técnica indica a
importância que o homem pré-histórico atribuía ao cérebro ou, pelo menos, à
região da cabeça.
Na verdade, desde que as pessoas se
reconhecem enquanto pessoas, existe a percepção de comportamento normal, padrão
e comportamento desviante. Em diferentes momentos da história, esses
comportamentos desviantes receberam vários nomes e classificações. Para os
antigos, alguns desses comportamentos eram vistos como sinais de deuses, tanto positivos
quanto negativos. Alguns casos de esquizofrenia, por exemplo eram vistos como
sinais de profetas.
Com a influência do cristianismo na cultura
ocidental, esses mesmos comportamentos passaram a ser vistos como sendo
negativos e influenciados por demónios. A depressão, por exemplo, dizia-se que
era influenciada pelo demónio do meio-dia. Como a Igreja tinha bastante influência
na sociedade, essas pessoas eram ou abandonadas por estarem possuídas ou eram levadas
a igrejas para serem exorcizadas.
No final da idade média e início do
Renascimento, pessoas que apresentavam esses comportamentos eram deixados de
lado pela sociedade. Eles eram chamados de loucos e muitas vezes eram trancados
com criminosos para afastar suas influências das pessoas ditas normais.
Com o tempo e o avanço da medicina,
começou-se a perceber que esses “loucos” não possuíam só comportamento
desviante, mas apresentavam sintomas claros que se repetiam em várias pessoas.
Agora, ao invés de trancados em cadeias com criminosos comuns, eles eram trancados
em asilos e manicómios para serem estudados e tratados. Neste ponto, passou-se
a reconhecer a loucura como doença mental.
Surge então a psiquiatria moderna no final do
século XIX e várias tentativas de tratamento de doenças mentais. Sigmund Freud,
por exemplo, com ajuda de Jean-Martin Charcot, utilizou inicialmente a hipnose
para mostrar que a histeria, doença até então misteriosa que afectava principalmente
mulheres e causava paralisias entre outros sintomas, era uma doença psicogénica,
ou seja, de origem psicológica ou mental.
A doença
mental é um mau funcionamento das actividades psíquicas, sendo esta, portanto
própria ao indivíduo, porém que pode ser influenciada de alguma maneira pelo
meio em que este se insere, bem como pelas circunstâncias emocional ou social
as quais este se encontra submetido. “A psiquiatria clássica considera os
sintomas do distúrbio mental como sinal de um distúrbio orgânico. Isto é,
doença mental é igual à doença cerebral. Sua origem é endógena, dentro do
organismo, e refere-se a alguma lesão de natureza anatómica ou distúrbio
fisiológico cerebral” (livro Psicologias. ANA M. BAHIA BOCK. Pág. 464) sob as
perspectivas psicológicas e da psiquiatria social Bock destaca, que para a
primeira as doenças mentais definem-se a partir do grau de perturbação da
personalidade, isto é, do grau de desvio do que é considerada como comportamento
padrão ou como personalidade normal.
Neste
caso, as psicoses são consideradas como distúrbios da personalidade total,
envolvendo o aspecto afectivo, de pensamento, de percepção de si e do mundo.
Para a segunda, a doença mental é uma construção da sociedade, isto é, que a
doença mental não existe em si, mas é uma idéia construída, uma representação
para dar conta de diferenciar, isolar determinada ordem de fenómeno que
questiona a universalidade da razão. Nessa perspectiva “a doença só tem
realidade e valor de doença no interior de uma cultura que a reconhece como
tal” (Michel Foucault. Doença mental e Psicologia. p. 71).
Classificar consiste em agrupar elementos
particulares em classes ou categorias de acordo com determinados critérios. O
ato de classificar é inerente à cognição humana. Estamos constantemente agrupando
objectos que apresentam características em comum. Entretanto, algumas características
aparentes desses objectos podem induzir distorções em nossa actividade
cognitiva ou mesmo erros na formulação de sistemas de classificação. Por
exemplo, parece mais natural pensar que o golfinho é um peixe, quando na
verdade ele é um mamífero. Dessa forma, é importante desenvolver sistemas de
classificação que utilizem critérios adequados, os quais permitam, de fato,
compreender a realidade à nossa volta.
Sistemas de classificação são extremamente
úteis, pois permitem organizar e compreender uma grande quantidade de
informações acerca de um problema. A adopção de critérios claros e objectivos
facilita, também, a comunicação entre as pessoas que estudam um mesmo problema,
permitindo, assim, que se possam fazer levantamentos estatísticos, comparar resultados
e formular prognósticos adequados.
No
campo da medicina, a classificação das doenças encontra-se em constante alteração,
assim como o conhecimento das mesmas. De forma semelhante, na psiquiatria, o
conhecimento da função cerebral e de como ela é influenciada pelo ambiente e
outros factores está a tornar-se cada vez mais complexo. Apesar dos avanços, o
conhecimento dos mecanismos intrincados envolvidos no funcionamento cerebral
encontra-se ainda no seu início. No entanto, como muitos estudos de investigação
demonstraram que as doenças mentais se podem distinguir entre si com um elevado
grau de fiabilidade, estão a ser elaborados protocolos de diagnóstico cada vez
mais precisos.
Em
1952 foi publicado pela primeira vez o Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders (Manual Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais)
(DSM-I), da Associação Americana de Psiquiatria, cuja 4.ª edição, DSM-IV, foi
publicada em 1994. Este manual proporciona um sistema de classificação que
tenta separar as doenças mentais em categorias diagnósticas baseadas tanto nas
descrições dos sintomas (o que dizem e como actuam os pacientes em relação aos
seus pensamentos e sensações) como no curso da doença.
A
Classificação Internacional das Doenças, 9.ªRevisão, Modificação Clínica
(ICD-9-CM), um livro publicado pela Organização Mundial de Saúde, utiliza
categorias diagnósticas semelhantes às do DSM-IV. Esta semelhança sugere que o
diagnóstico das doenças mentais específicas está a ser feito de uma forma mais
consistente e normalizada em todo o mundo.
Houve
avanços nos métodos de diagnóstico e estão disponíveis novas técnicas de
neuroimagem, incluindo a tomografia axial computadorizada (TAC), a ressonância
magnética (RM) e a tomografia de emissão de positrões (TEP), um tipo de
gamagrafia que mede o fluxo sanguíneo em áreas específicas do cérebro.
Estas
técnicas de imagem estão a ser utilizadas para representar a estrutura e a função
cerebrais em pessoas com comportamentos normais e anormais, proporcionando
assim aos cientistas um maior conhecimento acerca de como funciona o cérebro
humano, com e sem doenças mentais. Estas investigações, que conseguiram diferenciar
uma perturbação psiquiátrica de outra, conduziram a uma maior precisão no diagnóstico.
Por muitos anos, os cientistas discutiram a
importância relativa dos factores genéticos versus factores ambientais no
desenvolvimento de Transtornos Mentais e de Comportamento. Hoje, entre as
causas, os determinantes e os agravantes da Doença Mental a separação
artificial dos factores biológicos, psicológicos e sociais tem constituído um
grande obstáculo ao estudo e compreensão. Na verdade, esses transtornos mentais
são semelhantes a muitas doenças físicas, pelo fato de resultarem de uma
complexa interacção de vários factores.
A evidência científica moderna indica que os
Transtornos Mentais e Comportamentais resultam de factores genéticos e
ambientais ou, em outras palavras, da interacção da biologia com factores
sócio-ambientais. O cérebro não reflecte simplesmente o desenrolar determinista
de complexos programas genéticos, nem é o comportamento humano mero resultado
do determinismo ambiental. Já desde antes do nascimento e por toda a vida, os
genes e o meio ambiente estão envolvidos numa série de complexas interacções.
Essas interacções são cruciais para o desenvolvimento e evolução dos
Transtornos Mentais e Comportamentais.
A ciência moderna está mostrando, por exemplo,
que a exposição a estressores durante o desenvolvimento inicial da
personalidade está associada com a hiperactividade cerebral persistente e o
aumento da probabilidade de depressão numa fase posterior da vida (Heim et al.
2000). É promissor o fato de se haver mostrado que a terapia comportamental
para transtornos obsessivo-compulsivo resulta em mudanças na função cerebral
que podem ser observadas usando técnicas de registo de imagens e que são iguais
aos que se podem obter mediante o uso de terapia medicamentosa (Baxter et al.
1992).
Não obstante, o descobrimento de genes
associados ao aumento do risco de transtornos emocionais continuará
proporcionando instrumentos de pesquisa importantes, os quais, juntamente com
uma compreensão maior dos circuitos neurais, virão trazer novos e importantes
vislumbres à fisiopatologia dos Transtornos Mentais e de Comportamento.
Ainda há muito que aprender sobre as causas e
agravantes dos Transtornos Mentais e Comportamentais, mas as contribuições da
neurociência, da genética, da psicologia e da sociologia, entre outras,
desempenham importante papel informativo da maneira da psiquiatria compreender
essas complexas relações. Uma apreciação cientificamente fundamentada das
interacções entre os diferentes factores contribuirá poderosamente para
erradicar a ignorância e pôr paradeiro aos maus-tratos infligidos pela própria
sociedade às pessoas com esses problemas.
A idade e o sexo estão associados com
Transtornos Mentais e Comportamentais. Já foi demonstrada a associação dos
Transtornos Mentais e Comportamentais com perturbações da comunicação neural no
interior de circuitos específicos. Na esquizofrenia, anormalidades na maturação
dos circuitos neurais podem produzir alterações detectáveis na patologia no
nível das células e dos tecidos grossos, as quais resultam no processamento
incorrecto ou mal adaptativo de informações (Lewis e Lieberman 2000).
Na depressão, contudo, é possível que não
ocorram anormalidades anatómicas distintas e o risco da doença pode ser devido
antes a variações na responsividade dos circuitos neurais (Berke e Hyman 2000).
Estas, por sua vez, podem reflectir alterações quase imperceptíveis na
estrutura, na localização ou nos níveis de expressão de proteínas críticas para
a função normal.
Existem também factores psicológicos
individuais que se relacionam com a manifestação de Transtornos Mentais e
Comportamentais. Um importante achado ocorrido no século XX e que deu forma à
compreensão actual, é a importância decisiva do relacionamento Com os pais e
outros provedores de atenção durante a infância.
O cuidado afectuoso, atento e estável permite
ao lactente e à criança pequena desenvolver normalmente funções como a
linguagem, o intelecto e a regulação emocional. O malogro pode ser causado por
problemas de saúde mental, doença ou morte de um provedor de atenção.
A criança pode ficar separada do provedor
devido à pobreza, guerra ou deslocamento populacional. A criança pode carecer
de atenção por não haver serviços sociais disponíveis na comunidade maior. Seja
qual for a causa específica, a criança privada de afecto por parte de seus
cuidadores tem mais probabilidades de manifestar Transtornos Mentais e
Comportamentais, seja durante a infância ou numa fase posterior da vida.
Embora se tenha estabelecido a associação de
fatores sociais, como por exemplo a urbanização e a pobreza com o
desenvolvimento de Transtornos Mentais e Comportamentais, não há razão para
supor que as conseqüências das alterações sociais para a saúde mental sejam as
mesmas para todos os setores de determinado segmento social. As mudanças
geralmente exercem efeitos diferenciais baseados no status econômico, no sexo,
na raça e na etnia.
Entre 1950 e 2000, a proporção da população
urbana da Ásia, África, América Central e do Sul subiu de 16% para 50% dos
habitantes daquelas regiões (Harpham e Blue, 1995). Em 1950, as cidades do
México e de São Paulo tinham, respectivamente, 3,1 milhões e 2,8 milhões de
habitantes, mas em 2000 as populações estimadas de ambas eram de 10 milhões de
habitantes.
A natureza da urbanização moderna pode ter
conseqüências deletérias para a saúde mental, devido à influência de
estressores maiores e de eventos vitais adversos mais numerosos, como por
exemplo o congestionamento, a poluição do meio ambiente, a pobreza e a
dependência comum em uma economia baseada no dinheiro, com altos níveis de
violência ou reduzido apoio social (Desjarlais et al. 1995).
Aproximadamente a metade das populações
urbanas em países de renda média e baixa vive na pobreza, e há dezenas de
milhões de adultos e crianças sem teto. Em certas zonas, o desenvolvimento
econômico está forçando um número crescente de indígenas a migrar para áreas
urbanas em busca de uma forma mais viável de ganhar a vida.
Via de regra, a migração não produz melhoria
do bem-estar social; ao contrário, resulta freqüentemente em altos índices de
desemprego e condições miseráveis de vida, expondo milhares de migrantes ao
estresse social e a um risco maior de Transtornos Mentais devido à ausência de
redes de apoio social. Os conflitos, as guerras e a inquietação social estão
associados com elevação das taxas de problemas de saúde mental.
A vida real também é cheia de problemas para
muitas pessoas. São problemas comuns o isolamento, falta de transportes e
comunicações, e limitadas oportunidades educacionais e econômicas. Ademais, os
serviços mentais e sociais tendem a concentrar os recursos e a perícia clínica
nas grandes áreas metropolitanas, deixando poucas e limitadas opções para os
habitantes rurais que, porventura, necessitem de atenção em saúde mental.
Os Transtornos Mentais podem causar
incapacidade grave e definitiva, inclusive a incapacidade de trabalhar. Não
havendo apoio social disponível, como frequentemente ocorre nos países em desenvolvimento,
não havendo organismos de bem-estar social organizados, o empobrecimento se
verifica com bastante rapidez.
Há indicações também, de que a progressão dos
Transtornos Mentais e Comportamentais é determinada pelo status socioeconómico
do indivíduo. Isso pode ser devido à falta geral de serviços de saúde mental,
combinada com as barreiras enfrentadas por certos grupos socioeconómicos no
acesso à atenção. Os países pobres dispõem de poucos recursos para atenção em
saúde mental e, muitas vezes, tais recursos não estão disponíveis para os
sectores mais pobres da sociedade.
Mesmo nos países ricos, a pobreza, juntamente
com factores associados, tais como a falta de cobertura de seguros, nível mais
baixo de instrução, desemprego e situação minoritária, em termos de raça, etnia
e idioma, pode criar barreiras insuperáveis à atenção. O desnível de tratamento
para a maioria dos Transtornos Mentais, que já é alto, mostra-se efectivamente
enorme para a população pobre.
Entre os diferentes elementos económicos, os
múltiplos papéis desempenhados pela mulher na sociedade, colocam-na em maior
risco de Transtornos Mentais e Comportamentais. As mulheres continuam arcando
com o fardo da responsabilidade, associado com as condições de esposas, mães,
educadoras e provedoras de atenção para outros, ao mesmo tempo em que se estão
transformando numa parte cada vez mais essencial da mão-de-obra, constituindo,
em um quarto a um terço das famílias, a principal fonte de renda.
Além das pressões impostas às mulheres em
virtude da expansão de seus papéis, não raro em conflito, elas vivenciam
significativa discriminação sexual, concomitante à pobreza, à fome, à
desnutrição, ao excesso de trabalho, à violência doméstica e sexual.
Assim, pouco surpreende que as mulheres
tenham acusado maior probabilidade do que os homens em receber prescrição de
psicotrópicos. A violência contra a mulher constitui um significativo problema
social e de saúde pública que afecta mulheres de todas as idades, de todos
ambientes culturais e em todos os níveis de renda.
O racismo também levanta questões
importantes. Embora ainda haja relutância em debater o preconceito racial e
étnico no contexto da saúde mental em certos sectores sociais, pesquisas
psicológicas, sociológicas e antropológicas demonstraram que o racismo está
relacionado com perpetuação de problemas mentais. A julgar pelos indícios
disponíveis, as pessoas, alvo do racismo por muito tempo têm maior risco de
apresentar problemas mentais ou sofrer agravamento de problemas que já existem.
Psiquiatras que estudam a relação entre racismo e saúde mental nas sociedades
onde o racismo é prevalente, observaram que o racismo pode acentuar a
depressão, por exemplo.
Numa recente resenha de dez estudos de
diferentes grupos sociais na América do Norte, perfazendo um total de 15.000
respondentes, verificou-se uma associação positiva fortemente estabelecida
entre experiências de racismo e angústia psicológica (Williams e
Williams-Morris, 2000).
A influência do racismo pode ser considerada
também em nível da saúde mental coletiva, de grupos e sociedades. O racismo tem
fomentado muitos sistemas sociais opressores ao redor do mundo e através dos
tempos. Na história. recente, o racismo permitiu aos brancos africanos do sul,
definir os sul-africanos negros como "inimigos", e assim cometer
actos que, em outras circunstâncias, seriam considerados moralmente
repreensíveis.
As proporções e a rapidez extraordinárias da
mudança tecnológica nos fins do século XX é outro factor associado à
manifestação de Transtornos Mentais e Comportamentais. Essas mudanças
tecnológicas, especialmente a revolução nas comunicações, oferecem tremendas
oportunidades para um incremento da disseminação de informações e emancipação
de seus usuários. A telemedicina hoje possibilita proporcionar tratamento à
distância.
Esses avanços têm, contudo, seu lado
negativo. Há indícios sugerindo que a própria mídia pode ter influência sobre
os níveis de violência, sobre o comportamento sexual e sobre o interesse na
pornografia. A exposição à violência nos jogos de vídeo também aumenta o
comportamento agressivo e outras tendências agressivas (Dill e Dill, 1998).
Hoje em dia, os gastos com a publicidade em todo o mundo estão ultrapassando em
um terço o crescimento da economia mundial. A comercialização agressiva está
desempenhando papel substancial na globalização do uso de álcool e tabaco entre
os jovens, aumentando assim o risco de transtornos relacionados com o uso de
substâncias e condições físicas associadas (Klein, 1999).
As doenças mentais
variam de lugar para lugar e de cultura para cultura, mas, de maneira geral, os
transtornos de humor, como a depressão, os transtornos bipolares, os
transtornos da ansiedade e as dependências químicas, principalmente o alcoolismo,
em nosso meio são as patologias psiquiátricas mais comuns.
Os sintomas são
extremamente variáveis, mas a tristeza patológica, a ansiedade, as alucinações
e os delírios são bastante comuns e de importância extrema no diagnóstico
destas doenças. E esses são apenas os mais chamativos, mas existem muitos
outros.
Alguns deles:
Alcoolismo: sintomas de
abstinência quando o indivíduo fica sem bebida alcóolica, como alucinações e
agitação.
Depressão: apatia, pensamento
lento e desmotivação, isolamento e depreciação.
Transtornos de ansiedade:
palpitações, irritabilidade, falta de ar, suor, mãos frias e úmidas, boca seca,
náuseas e diarreia. O transtorno do pânico é uma crise de ansiedade, com medo
intenso e sensação de asfixia.
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC):
atitudes obsessivas e compulsões que consomem muito tempo e interferem na
rotina e nas actividades diárias do paciente.
Transtorno bipolar: alterações
de humor onde há um aumento da energia e, em outros momentos, uma baixa
patológica do humor e algo próximo de estados de depressão.
Os
termos transtorno, distúrbio e doença combinam-se aos termos mental, psíquico e
psiquiátrico para descrever qualquer anormalidade, sofrimento ou
comprometimento de ordem psicológica e/ou mental. Os transtornos mentais são um
campo de investigação interdisciplinar que envolvem áreas como a psicologia, a
psiquiatria e a neurologia. As classificações diagnósticas mais utilizadas como
referências no serviço de saúde e na pesquisa hoje em dia são o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais - DSM IV, e a Classificação
Internacional de Doenças - CID-10.
Em
psiquiatria e em psicologia prefere-se falar em transtornos, perturbações,
disfunções ou distúrbios psíquicos e não em doença; isso porque apenas poucos
quadros clínicos mentais apresentam todas as características de uma doença no
sentido tradicional do termo - isto é, o conhecimento exacto dos mecanismos
envolvidos e suas causas explícitas. O conceito de transtorno, ao contrário,
implica um comportamento diferente, desviante, "anormal".
Nas
ciências da saúde (medicina, psicologia, enfermagem, odontologia, por exemplo)
doença é uma alteração das funções do organismo como um todo ou de um órgão e
está associada a sintomas específicos (exemplos de doenças: pneumonia, dengue,
fibrose cística, hepatite C). Pode ser causada por factores externos, como
infecções (vírus) ou por malformações ou disfunção internas.
A
doença pode alterar a chamada omeostase (função que regula o ambiente interno
para manter uma condição estável dentro de limites toleráveis pelo corpo).
Já o
termo transtorno mental é usado para descrever qualquer anormalidade, sofrimento
ou comprometimento de ordem psicológica e/ou mental (por exemplo: transtorno de
humor, de ansiedade, alimentar, de impulso).
Na
psicologia ou psiquiatria preferimos falar em transtornos e nunca doença, isso
porque poucos quadros clínicos mentais apresentam todas as características de
uma doença no sentido tradicional do termo, ou seja, o conhecimento exacto dos
mecanismos envolvidos e suas causas explícitas.
A
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com
a Saúde, frequentemente designada pela sigla CID ou ICD (do inglês
International Statistical Classification of Diseases and Related Health
Problems) fornece códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande
variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias
sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado de saúde é
atribuída uma categoria única à qual corresponde um código, que contém até 6
caracteres. Tais categorias podem incluir um conjunto de doenças semelhantes.
A
CID é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e é usada globalmente
para estatísticas de morbilidade e de mortalidade, sistemas de reembolso e de
decisões automáticas de suporte em medicina. O sistema foi desenhado para
permitir e promover a comparação internacional da colecção, processamento,
classificação e apresentação do tipo de estatísticas supracitado. ICD A CID é
uma classificação base da Família Internacional de Classificações da OMS
(WHO-FIC).
A
CID é revista periodicamente e encontra-se, à data (Novembro de 2006), na sua
décima edição. A CID-10, como é conhecida, foi desenvolvida em 1992 para
registar as estatísticas de mortalidade. Actualizações anuais (menores) e trianuais
(maiores) são publicadas pela OMS.
O
CID é importante pois ele provê uma linguagem comum e padronizada para reportar
e monitorar doenças. Isto permite que todos possam comparar e compartilhar
dados de uma maneira consistente e padrão ao longo do tempo - hospitais,
regiões e países. Além disto, o CID facilita a colecta e armazenagem de dados
de maneira que seja possível fazer análises e cruzamentos gerando informações
que permitem entender as doenças que acometem a população mundial e a sua
evolução.
De
uma forma mais clara, podemos dizer que a Classificação Internacional das Doenças
facilitou a classificação usada para realização de diagnósticos psicológicos e
tem a sua importância ao permitir tratamentos estatísticos, epidemiológicos, na
medida em que busca estabelecer um acordo, uma convenção, que pode melhorar a
comunicação entre os profissionais. É instrumento para a imediata compreensão
dos quadros clínicos entre os profissionais de diferentes formações, áreas, e
mesmo de países e línguas diferentes. Mas o uso equivocado desse instrumento
pode gerar estigmas nos pacientes e tipificar problemas com terapêutica
formalista, desconsiderando as reais expressões das necessidades e demandas de
saúde do paciente.
Este trabalho mostrou que já houve
consideráveis avanços na compreensão da saúde mental e sua relação inevitável
com a saúde física. Esta nova concepção confere um cunho não somente desejável
mas exequível à abordagem da saúde mental pelo prisma da saúde pública.
Este trabalho descreveu também a magnitude e
a carga dos transtornos mentais, demonstrando que eles são comuns, afectam pelo
menos um quarto das pessoas em algum momento da vida, e ocorrem em todas as
sociedades. Demonstra também que os transtornos mentais são ainda mais comuns
entre os pobres, os idosos, as populações afectadas por conflitos e catástrofes
e os que estão fisicamente enfermos. A carga imposta a essas pessoas e a suas
famílias em termos de sofrimento humano, incapacidade e custos económicos é
tremenda.
Há soluções efectivas disponíveis para os
transtornos mentais. Graças a progressos registados no tratamento médico e
psicológico, a maioria dos indivíduos e das famílias pode receber ajuda. Certos
distúrbios mentais podem ser evitados, e a maioria pode ser tratada. Uma
política e uma legislação esclarecida sobre saúde mental, apoiada pela formação
de profissionais e financiamento suficiente e sustentável, podem contribuir
para uma prestação apropriada de serviços aos que deles necessitam em todos os
níveis da atenção de saúde.
Somente alguns países contam com suficientes
recursos para a saúde mental. Alguns quase não os possuem. As já grandes
desigualdades entre países e dentro deles no que se refere à atenção de saúde
em geral são ainda maiores para a atenção em saúde mental. As populações
urbanas, e particularmente os ricos, gozam de melhores condições de acesso, ficando
os serviços essenciais fora do alcance de grandes populações. E para os doentes
mentais, as violações dos direitos humanos são ocorrências corriqueiras. Existe
visível necessidade de iniciativas globais e nacionais para fazer face a esses problemas.
É preciso que pessoas com transtornos mentais
sejam reconhecidos como seres integrais, dignos, com direito à liberdade, à
integridade física e moral, à reabilitação para o trabalho e à qualidade de
vida. Para alcançar esses objectivos, devemos trabalhar em conjunto e diminuir
o preconceito por parte dos profissionais de saúde, das famílias e das
comunidades. Afinal, aceitar e tratar com respeito e afecto o portador de
transtorno mental é o melhor caminho para a sua reabilitação e para o fortalecimento
de sua cidadania.
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