INTRODUÇÃO
Ao ouvirmos a palavra “filosofia” imaginamos, muitas
vezes, estar diante de um conjunto de teorias sem sentido, sem relação com o
quotidiano. Alguns dirão: “A filosofia é coisa de louco” ou “é coisa de gente
que não tem mais nada o que fazer”. Estaria mesmo a filosofia distante do
quotidiano? Seriam os filósofos seres lunáticos preocupados com coisas
absurdas? O que teríamos a ver com a filosofia?
Começaremos a examinar o quotidiano como nos propõe
Marilena Chauí, em seu livro “Convite à Filosofia”: Em nossa vida quotidiana,
afirmamos, negamos, aceitamos ou recusamos coisas, pessoas ou situações.
Fazemos perguntas como” que horas são ou que dia é hoje?
Esta pergunta sustenta uma crença: a crença que o tempo
existe e pode ser medido. Assim como afirmações do tipo “A professora foi
injusta” traz em si a crença em nossa idéia de justiça. No entanto, nunca
paramos para indagar o que entendemos por “tempo” ou “justiça”. Acostumados com
o quotidiano, deixamos nossas idéias e crenças sem fundamentação e vamos
aceitando o mundo como se ele fosse óbvio em si mesmo.
A FILOSOFIA É UMA REFLEXÃO SOBRE O REAL
A Filosofia começa quando nos propomos a investigar o
mundo, o homem e seus valores. Assim, afirma Marilena Chauí, a primeira
resposta à pergunta “O que é Filosofia?”, poderia ser: A decisão de não aceitar
como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os factos, os valores de nossa
existência quotidiana; jamais aceitá-las sem antes haver investigado.
A REFLEXÃO FILOSÓFICA
Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou
movimento de retorno a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o
pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo.
A reflexão filosófica é radical por que é um movimento de
volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar
como é possível o próprio pensamento.
Não somos SOMENTE seres pensantes. Somos seres que AGEM
no mundo, que se relacionam (outros humanos, animais, plantas, coisas, fatos e
acontecimentos); e exprimimos essas relações tanto pela linguagem como por
atitudes.
A reflexão filosófica também se volta para essas relações
que mantemos com a realidade que nos rodeia em nosso dia-a-dia em nossas falas
e acções que são realizadas através destas relações.
A reflexão filosófica busca responder a três grandes
grupos de perguntas:
1. Por
que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos? Isto é, quais os motivos,
as razões e as causas para pensarmos o que pensamos, dizemos o que dizemos,
fazemos o que fazemos?
2. O
que queremos pensar quando pensamos, que queremos dizer o que dizemos, o que
queremos fazer quando agimos? Isto é,
qual é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?
3. Para
que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Isto é, qual é a intenção ou a finalidade do
que pensamos, dizemos e fazemos?
Essas três questões podem ser resumidas em: O que é
pensar, falar e agir?
Estas três perguntas pressupõem a seguinte pergunta:
Nossas crenças quotidianas sou ou não um saber verdadeiro, um conhecimento?
A atitude filosófica inicia-se indagando: O que é? Como
é? Por que é? Estas perguntas se dirigem ao mundo que nos rodeia e aos seres
humanos que nele vive e com ele se relacionam. Estas perguntas refletem a
essemcoa, a significação ou a estrutura e a origem de todas as coisas.
Na Reflexão Filosófica se indaga: Por que? O que? Para
que? Dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São
perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir.
PARA QUE FILOSOFIA?
Essa é uma pergunta bastante comum quando a Filosofia
aparece na escola. Mas não vemos ninguém perguntar para que Matemática,
Biologia ou Educação Física! A não ser quando não atingimos o conceito desejado
nestas disciplinas. Mas todo mundo acha natural perguntar para que Filosofia!
Talvez porque achamos o Filósofo um ser estranho, com a
cabeça no mundo da lua, dizendo coisas que ninguém entende. “Papo cabeça”
demais que não serve para nada. “Não servir para nada” é uma afirmação que
merece ser analisada.
O que serve em nossa sociedade é aquilo que tem uma
utilidade imediata, visível e muito prática. Quando nos pedem para ler ou
pesquisar, logo perguntamos: o que vamos ganhar com isso? Por isso ninguém
duvida da utilidade das Ciências, pois aí estão os computadores, os
medicamentos, etc.
O que nós não
sabemos é que as Ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, baseados em
procedimentos racionais e rigorosos. Verdade, pensamento, procedimentos
especiais para conhecer os fatos, relação entre teoria e prática: tudo isso não
é Ciência, são questões filosóficas.
O trabalho das Ciências pressupõe, como condição, o
trabalho com a Filosofia. Não é à toa que os grandes cientistas se debruçaram
sobre as questões filosóficas. Por exemplo, se você já ouviu falar em produto
cartesiano, conhece também a relação da Matemática Moderna com a Filosofia de
Descartes? Se já ouviu falar em Teorema de Pitágoras, sabe que para o Filósofo
grego o mundo é expressão dos números e que o triângulo representaria a
harmonia de todas as coisas?
Você estaria se perguntando: Que coisa doida é essa? Isso
significa que a culpa de eu ter que estudar o Teorema de Pitágoras é da tal
Filosofia? Calma aí... Você não é tão normal quanto parece...
Que tal viajar na aula de Filosofia e se imaginar diante
de uma bela cachoeira ou ainda estar sentado em seu sofá assistindo um desses
programas de ecologia. De repente, você se pergunta: como pode tudo estar tão
encaixado em seu devido lugar? Como tudo começou? O que mantém as coisas em
ordem e ao mesmo tempo em mudança?
Essa era a pergunta que Pitágoras e outros filósofos
fizeram e obtiveram diferentes respostas. Algumas inusitadas, como a de
Demócrito que supunha uma partícula indivisível como princípio de todas as
coisas. A afirmação de Demócrito provocou a curiosidade de muitas pessoas e
estimulou pesquisas. Embora saibamos, hoje, que o átomo é divisível, o que
seria da energia atómica sem Demócrito?
Algumas pessoas afirmam que a Filosofia é a Ciência com a
qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual. Bobagem! A Filosofia não é
Ciência, pelo menos não como entendemos a Ciência hoje. Mas, por exemplo, a
Química, essa coisa fabulosa que permitiu produzir sandalinhas de plástico e
outras coisas mais, surge da tentativa dos Filósofos Renascentistas de
relacionar as partes ao todo, utilizando-se da Astrologia e da Alquimia. E a
Física, responsável pelos motores potentes e pela aerodinâmica dos carros,
surge da busca de uma explicação para a phisis - palavra grega que compreende a
natureza em movimento e permanência.
As Ciências estão, de alguma forma, relacionadas à
Filosofia porque o objecto da Filosofia é a própria reflexão, o retorno do
pensamento a si mesmo para indagar o que são as coisas. O que é a Ciência, a
Arte, o mundo, o homem, enfim, o que somos nós, como pensamos? Mas... para quê
isso?
Observemos o que diz o Filósofo e Educador Matthew
Lipman:
“Para mim, a coisa
mais interessante do mundo é o pensamento. Eu sei que uma porção de coisas
também são muito importantes e maravilhosas, como a eletricidade, o magnetismo
e a força da gravidade. Mas, embora a gente compreenda essas coisas, elas não
podem nos compreender. Portanto, o pensamento deve ser uma coisa muito
especial. Se pensamos sobre a eletricidade, podemos compreendê-la melhor, mas
quando pensamos sobre o pensar, parece que compreendemos melhor a nós mesmos”.
Ora, você pode agora estar em um dilema pensando se quer
ficar na festa com o cara ou a garota mais bonita da escola ou com aquela que
nem é tão bonita, mas é uma óptima companhia. Você terá que voltar o pensamento
para si mesmo, perguntando o que significa mais para você: uma boa companhia ou
a beleza?
Não importa qual a sua resposta. O que importa é o
processo de reflexão que o conduziu a esta pergunta. É provável que você nem
chegue a uma resposta e fique na festa com quem aparecer primeiro. Existe
também a possibilidade de você se lamentar por um bom tempinho pela sua
atitude. O desfecho desses dilemas é variado, mas o processo de reflexão é
bastante comum em várias situações.
Mas, cuidado! Não se julgue um Filósofo porque alguma vez
na vida, você já fez essas perguntas. A Reflexão Filosófica não é qualquer
reflexão, ela tem suas exigências. Dermeval
Saviani aponta três exigências para que possamos caracterizar uma reflexão
como filosófica.
A primeira é a
radicalidade. Já ouvimos falar em exportes radicais ou atitudes radicais.
Os exportes radicais são aqueles praticados por pessoas que gostam de superar
os limites e vão além dos outros. Por exemplo, várias pessoas dirigem, algumas
bem, outras nem tanto. Algumas correm com seus automóveis, mas o automobilismo
busca superar os limites do piloto e do automóvel, desafiando a velocidade. O
mesmo poderia ser dito sobre a radicalidade da reflexão filosófica. Voltemos ao
exemplo anterior: Ao se perguntar se fica com a garota mais bonita ou com a que
é boa companhia, você estende sua reflexão buscando seus fundamentos, buscando
superar os limites, buscando as raízes de sua forma de pensar e se pergunta: O
que é, afinal das contas, beleza? O que é uma boa companhia? O que é bom ou
mal?
A segunda
exigência de uma reflexão filosófica é a sistematização. Se nos perguntarmos
o que é sistema, veremos que se trata de um conjunto de dados coerentemente
organizados e relacionados de tal forma, que tudo parece estar ligado a tudo.
Isto pode ser mais facilmente compreendido se pensarmos, por exemplo, na
computação. O mesmo se pode afirmar sobre a reflexão filosófica, é preciso que
as idéias tenham relações umas com as outras, que não sejam contraditórias ou
incoerentes, que se mostrem bem fundamentadas. Isso significa que “a filosofia
trabalha com enunciados precisos e rigorosos, opera com idéias e conceitos
obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige fundamentação racional
do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer
com que nossa experiência quotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma
visão crítica de si mesma. Não se trata de dizer “eu acho que”, mas de poder
afirmar “eu penso que”.
E a terceira
exigência da reflexão filosófica é a abrangência. A reflexão filosófica,
como dizia Hegel, é como a coruja de Minerva que alça seu voo ao entardecer.
Alçar voo significa ver de uma forma mais ampla. Olhar aquilo que não foi
olhado no todo, mas só nas partes. A Filosofia alça voo ao entardecer, pois
sendo um procedimento de investigação sistemático e crítico, só pode analisar
os fatos quando estes já aconteceram.
Isso significa que o trabalho do Filósofo é sempre
atrasado? Não! Essa é a concepção de um Filósofo sobre a Filosofia. A busca da
radicalidade, da sistematicidade e da abrangência nos coloca diante de uma
multiplicidade de teorias e visões. Teorias que não são apenas opiniões que
aparecem em programas de auditório no estilo “você decide”, mas que podem nos
auxiliar a pensar na forma de como pensamos.
CONCLUSÃO
De acordo com a pesquisa feita e a matéria apresentada no
presente trabalho, concluo que A reflexão filosófica é o movimento pelo qual o
pensamento volta-se para si, é como se tivesse sendo reflectido, afinal cabe a
filosofia observar e questionar tudo ao redor dela, inclusive ela própria.
BIBLIOGRAFIA
Chaui M. Filosofia. 1.a Ed. 12.a impressão. Ed Atica. 2007.
232 p.
muito bom, mas vc usou em coisas sabe
ResponderExcluir