INTRODUÇÃO
A globalização do mundo é um dos temas centrais das Ciências
Sociais da actualidade. Consequentemente, muitas são as obras que abordam a sua
origem, os seus contornos actuais e os seus desafios. O presente trabalho não
se afasta desta perspectiva de análise. Por isso, reflecte sobre o significado
deste acontecimento histórico, sobre suas causas e suas metáforas mais
importantes, sem esquecer de indagar se o fenómeno da globalização é um fato ou
uma construção ideológica dos grupos dominantes. Além disso, o trabalho reflecte
sobre o impacto da globalização em relação ao Estado-nação e ao processo de
desenvolvimento.
GLOBALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
GLOBALIZAÇÃO: GRANDE MUDANÇA HISTÓRICA
A configuração do mundo como um sistema global é um dos
mais significativos acontecimentos políticos, económicos e sociais das últimas
duas ou três décadas. Por isso, constitui-se, em si mesmo, um marco
simbólico-referencial indicativo da emergência de um novo século, o século XXI,
e também de uma nova e complexa fase da história humana. Além disso, o fenómeno
da globalização possui um alcance planetário e uma conformação abrangente, o
que exige a elaboração de “um novo paradigma para a compreensão dos diferentes
aspectos da realidade contemporânea” (Santos, 1997, p. 48).
Assim sendo, o fenómeno da globalização constitui um
momento de grande transformação do mundo actual, em que há a unificação do
planeta e a ampliação do “sistema-mundo” para todos os lugares e para todos os
indivíduos, embora com intensidade e em graus diversos. Com isso, “a Terra
torna-se um só e único “mundo” e assiste-se a uma refundição da
totalidadeterra” (p. 48). Desta forma, constata-se que o fenómeno da globalização
conduz ao delineamento de uma crescente complexidade das relações internacionais,
à configuração de uma polaridade incerta e ao estabelecimento de vínculos mais
estreitos entre os principais atores da sociedade internacional.
Pode-se dizer que o fenómeno da globalização do mundo
“caracteriza-se pelo aparecimento de um conjunto de novas possibilidades
concretas, que modificam equilíbrios preexistentes e procuram impor sua lei [e
suas determinações]” (p. 48). É possível perceber que os homens, após terem
construído sólidas identidades nacionais e projectos circunscritos por
fronteiras territoriais, passam agora a delinear uma aventura de dimensões
planetárias. Daí, portanto, a percepção de que o mundo se tornou um único lugar
para todos os seres humanos e que os principais problemas e alguns de seus
interesses mais relevantes adquiriram rapidamente o carácter de questões
mundiais ou globais.
Neste contexto, é importante apontar também que, tanto
quanto os últimos séculos foram dominados por problemas relacionados com o
surgimento, a construção e a supremacia dos Estados-nação, o século XXI começa
a estar envolvido, de forma singular, pelos problemas oriundos da emergência e
da estruturação do domínio da política e da economia mundiais. Em outras
palavras, o século XXI começa a ser dominado pelos problemas relacionados com o
surgimento e a consolidação de organizações políticas e económicas de alcance
mundial ou global.
Constata-se, também, que o fenómeno da globalização do
mundo não é algo, como normalmente se imagina, que vai acontecer apenas no
futuro – próximo ou não –, mas sim uma realidade já bastante efectiva,
presente, em muitos aspectos, em nosso quotidiano, no momento actual. Neste
sentido, afirma Anthony Giddens que “vivemos num mundo de grandes transformações,
que afectam tudo o que fazemos. Para melhor e para pior, estamos a ser
empurrados para uma ordem global que ainda não compreendemos na sua totalidade,
mas cujos efeitos já se fazem sentir em todos nós” (2000, p. 19).
Assim, pode-se dizer que a globalização é um fenómeno que
já constitui a realidade e a percepção dos indivíduos dos cinco continentes,
desafiando um grande número de pessoas em todo o planeta com seus problemas e
com suas possibilidades (Ianni, 1996a). Com efeito, a despeito das vivências e
das opiniões de uns e outros, pode-se afirmar que a maioria das pessoas já
reconhece que as principais implicações da globalização estão “presentes na
forma pela qual se desenha o novo mapa do mundo [...]” (p. 11).
O planeta adquiriu, por isso, um novo status e
transformou-se num território de todo o mundo. Dessa forma, “trata-se de uma
revolução global na vida corrente, cujas consequências se estão a fazer sentir
em todo o mundo, em todos os domínios, do local de trabalho à política”
(Giddens, 2000, p. 24). Por conseguinte, a globalização do mundo “não é apenas
uma coisa nova, é também algo de revolucionário” (p. 22). Além do mais, “as
mudanças que nos afectam não estão confinadas a nenhuma zona do globo, se fazem
sentir um pouco em toda a parte” (p. 15).
Com o fenómeno da globalização do mundo tem-se, pois, a
conformação de um novo momento do desenvolvimento da humanidade, que produz uma
surpreendente redefinição das noções de tempo e, especialmente, de espaço,
conduzindo a uma diminuição das distâncias e tornando instantâneo qualquer
acontecimento seja qual for o lugar do planeta. A emergência do fenómeno da
globalização do mundo, portanto, configura-se como uma grande mudança
histórica, caracterizada por uma maior interdependência global, em que o centro
da articulação da sociedade internacional desloca-se, em grande medida, dos
Estados-nação soberanos para os novos atores internacionais, como as organizações
internacionais, as empresas transnacionais e as organizações
não-governamentais, e passa a se constituir a partir de novos canais de
comunicação e de novas referências significativas, não mais nacionais e sim
mundiais.
CAUSAS DO FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO
Apesar de a globalização representar esta grande mudança
histórica, é possível dizer que a tendência direccionada à ampliação dos
horizontes humanos é bastante antiga, existindo desde que o homem passou a se
deslocar para fora da região de seu nascimento, nos primórdios da humanidade. A
diferença, contudo, nos distintos períodos históricos, está na rapidez com que
o homem se move nesta direcção. Esta diferença baseia-se na evolução dos meios
de transporte e de comunicação construídos em cada tempo histórico.
Nos últimos anos esta evolução foi extraordinária, em
especial devido às transformações científico-informacionais ocorridas. Com este
fato, a informação passou a circular em tempo real, permitindo uma
participação, cada vez maior, dos diversos países nos principais acontecimentos
mundiais, desde que munidos das condições necessárias para tanto (formação,
conhecimento, acesso à informática, às redes de comunicação, domínio de idiomas
estrangeiros, etc.). Mesmo as pessoas que não possuem as condições materiais
referidas, entretanto, acabam sendo, indirectamente, envolvidas pelas mudanças
processadas, especialmente as decorrentes das alterações dos fluxos económicos.
Constatada esta mudança, é importante perguntar quais
foram as forças políticas, económicas e sociais que impulsionaram o mundo em direcção
à globalização nas últimas duas ou três décadas. A resposta, obviamente, não é
fácil de ser apontada. Olhando, contudo, para as publicações sobre o tema, dois
grupos de motivos, pelo menos, podem ser indicados. O primeiro (Thurow, 1997)
chama a atenção para as seguintes razões:
a) fim
do comunismo, o que deixou sem competidores o sistema capitalista e impulsionou
a formação de um sistema económico mundial e de uma economia de escala
planetária;
b) emergência
de uma era de indústrias de inteligência artificial criada pelo homem, o que
proporcionou a desterritorialização da produção e a anulação de qualquer
vantagem relativa;
c) grande
crescimento, deslocamento e envelhecimento da população mundial, o que conduziu
a profundas mudanças no sistema capitalista e configurou um novo perfil
populacional para o planeta;
d) emergência
de uma economia global desterritorializada, o que possibilitou que qualquer bem
possa ser produzido em qualquer parte do mundo e vendido em todo lugar do
planeta;
e) configuração
do mundo como um espaço político multipolar sem um poder hegemónico, o que
conduziu à descaracterização da divisão do mundo entre primeiro, segundo,
terceiro e quarto mundos e relativizou as relações centro-periferia e as relações
Norte-Sul.
O segundo grupo relaciona os seguintes motivos para o
processo de globalização do mundo actual (Pacheco, 1997):
a) causas
demográficas: a explosão populacional da segunda metade do século XX, fruto dos
surpreendentes avanços da Medicina, ocasionou a ocupação de muitos vazios
demográficos do planeta, intensificando o intercâmbio comercial e migratório
entre povos antes restritos a territórios estanques;
b) causas
tecnológicas: a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria e as crises do petróleo
de 1973 e 1979 induziram os Estados nacionais dos países industrializados a
alocar consideráveis parcelas de suas vultosas receitas fiscais em pesquisa e
desenvolvimento tecnocientíficos. Como resultado houve o acúmulo, a difusão e a
compilação de conhecimento científico e de altas tecnologias de informação e de
telecomunicação;
c) causas
políticas: o fim da Guerra Fria, a queda do muro de Berlim e o fim do bloco
soviético, entre outros factores, contribuíram para a redução considerável dos
riscos de ordem geopolítica, o que abriu a possibilidade de se construir um
mundo mais integrado ou interdependente. Além disso, esse processo foi reforçado
pelos investimentos directos na constituição de plataformas globais de produção
e o estabelecimento de canais internacionais de comércio;
d) causas
institucionais: a criação de instituições governamentais multilaterais, que
começaram a dividir a tarefa de regular a ordem internacional, encorajando o Empreendedorismo
dos atores globais e auxiliando na complexificação das relações internacionais
e na criação de relações mais permanentes e estáveis. Neste sentido, “o Banco
Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização das Nações Unidas
(ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) encabeçam uma complexa
estrutura de inúmeras instituições supranacionais voltadas para o
estabelecimento e a renovação de acordos de cooperação internacional e
interregional” (p. 17).
Assim, pode-se observar que as causas do fenómeno da
globalização são múltiplas, envolvendo aspectos de origens diferentes, mas que,
em conjunto, convergem para impulsionar o mundo a uma nova direcção: não mais
nacional, e sim global. Por mais que se aponte uma linha de continuidade entre
a expansão económica ocorrida durante todo o período do mundo moderno e o fenómeno
da globalização, percebe-se que esse processo de transformação atingiu, no
início do século XXI, um ponto de inflexão e que
“estamos no limiar de uma nova era da história humana: a
Era da Globalização, caracterizada por uma hegemonia da economia global sobre a
economia dos estados nacionais, isto é, da supremacia dos atores globais sobre
os atores geopolíticos” (p. 16).
GLOBALIZAÇÃO: IDEOLOGIA E REALIDADE
É possível constatar que a globalização é um processo
real. Essa, contudo, não é uma constatação aceita por todos. Para alguns
autores o fenómeno da globalização é menos uma realidade e muito mais uma projecção
ideológica das grandes empresas transnacionais e dos grupos financeiros
internacionais interessados apenas em maximizar os seus lucros e em diminuir os
seus custos (Hirst; Thompson, 1998). Com isso, não aceitam a constatação de
que, nas últimas duas ou três décadas, ocorreu uma profunda ruptura na sociedade
internacional nascida da Paz de Vestfália e que direcionou o mundo para uma
nova era: a era da globalização.
Ao contrário, afirmam que o fenómeno da globalização do
mundo não passa de uma construção ideológica, uma espécie de marketing
internacional, sintetizado num conjunto de estratégias para realizar a
hegemonia de macroempresas industriais, corporações financeiras, empresas de
produção cinematográficas, a televisão, a música e a informática, para se
apropriar dos recursos naturais e culturais, do trabalho, do lazer e do
dinheiro dos países pobres, subordinando-os à exploração concentrada com que
esses atores reordenaram o mundo na segunda metade do século XX (Canclini,
2000, p. 31).
Essa constatação se confirmaria, segundo os que não
acreditam na existência dessa nova realidade, ao se olhar para a história da
expressão globalização. Para estes autores, a expressão globalização surge
menos da repercussão da metáfora utilizada por Marshall Mcluhan – aldeia global
–, e mais da proposta ideológica das Escolas de Administração dos Estados
Unidos. Assim sendo, acreditam que a expressão globalização, pelo menos no
sentido económico, “popularizou-se através das obras de notórios consultores de
estratégia e marketing internacional, e difundiu-se através da imprensa económica
e financeira especializada, [sendo,] rapidamente, [...] assimilada pelo
discurso hegemónico neoliberal” (Gomes, 2000, p. 19).
Além disso, não se pode esquecer, insistem seus
representantes, que é justamente a construção desse imaginário o que permite a
constituição de uma economia mundial sem fronteiras e o que torna possível a
obtenção pelas grandes empresas mais internacionalizadas de altas taxas de
lucro por meio da globalização dos mercados. Neste sentido, há também aqueles
que atribuem à própria noção de globalização um carácter puramente mítico, pois
consideram que a fase actual da internacionalização da economia, além de
responder a um processo plurissecular imanente ao capitalismo, não é inédita,
já que apresenta notáveis similitudes, em matéria de comércio, finanças, investimentos
directos, com a fase de internacionalização do início do século sob a Pax Britânica
(p. 27-28).
Ademais, afirmam também alguns autores que as economias
nacionais estão longe de se integrarem ou se fundirem completamente em um novo
sistema globalizado e poucas são as corporações multinacionais verdadeiramente
transnacionais; que a idéia de tecnoglobalismo não é mais de que um mito que
esconde a protecção e o acesso desigual dos países às inovações tecnológicas; e
que os Estados nacionais, pelo menos os mais poderosos, têm condições para
assegurar a governança da economia mundial [e retirar dela todos os
benefícios]” (p. 28).
Sem negar o mérito de algumas dessas críticas, não se
pode deixar de indicar, contudo, que as mesmas cometem um duplo equívoco:
confundem o fenómeno da globalização com o fenómeno do neoliberalismo e
subestimam o alcance das transformações ocorridas nas últimas duas ou três
décadas.
Ao confundir o fenómeno da globalização do mundo com o
fenómeno do neoliberalismo, não percebem a especificidade do primeiro fenómeno
e o reduzem a apenas uma estratégia política. Discorda-se dessa confusão, pois
o fenómeno da globalização é uma configuração mais ampla e complexa do mundo,
que possibilita a articulação de vários projectos ético-políticos. Daí,
portanto, o fenómeno da globalização não ser um estado e sim um processo
radicalmente incerto e ambivalente, que deixa inteiramente aberta a questão de
seu sentido.
DESENVOLVIMENTO
Compreendida esta grande transformação histórica, é fácil
perceber que a globalização, na medida em que estabelece novos canais de
comunicação e de intercâmbio, possibilita ou impulsiona uma maior abertura
comercial entre Estados-nação. A abertura comercial, com a eliminação das
barreiras antes existentes, pode ser vista como um fato positivo, pois permite
um ganho maior ao conjunto dos Estados, porque à medida que há negociações
multilaterais todos os Estados acabam ganhando. Estes ganhos são importantes
para impulsionar o desenvolvimento dos países. No entanto torna-se fundamental
entender, dentro dos pressupostos socioeconómicos do desenvolvimento, que
ganhos económicos, via aumento do comércio, tendem a aumentar o PIB dos países,
mas não necessariamente levam a um melhor nível de desenvolvimento.
A partir deste fato é possível perceber que crescimento
económico não é sinónimo de desenvolvimento. Na prática o sucesso da
globalização, na óptica de um melhor desenvolvimento mundial, estaria no fato
de que o aumento da geração de riqueza se transformasse igualmente em melhor
distribuição de renda, via avanços sociais ao conjunto da humanidade em geral e
aos países subdesenvolvidos em particular. Por enquanto ainda não se conseguiu
chegar a tal estágio, embora um grande número de países, em função deste maior
intercâmbio global, tenha se obrigado a adoptar políticas económicas que
privilegiassem a redução e o controle da inflação. Este fato, por si só, já se
constitui é uma forma de melhor distribuir a renda nacional ou, pelo menos, de
impedir os problemas decorrentes do imposto inflacionário. Tal medida, no
entanto, não é suficiente.
O que se percebe é que, sempre que uma parte da renda
gerada pelo aumento de produtividade provoque modificações na composição da
procura, cujos efeitos não são anulados em sua totalidade pelas importações,
ocorrerão as modificações estruturais que chamamos de desenvolvimento. Não há
dúvida que a globalização da economia permite alcançar tais resultados. Se é
verdade, contudo, que o desenvolvimento tem lugar mediante aumento de
produtividade do conjunto económico, igualmente é verdade que
esse aumento de produtividade (e da renda per capita) é
determinado por fenómenos de crescimento que têm lugar em subconjuntos, ou sectores,
particulares.
As modificações de estrutura são transformações nas
relações e proporções internas do sistema económico, as quais têm como causa
básica as modificações nas formas de produção, mas que não se poderiam
concretizar sem modificações na distribuição e utilização da renda (Furtado,
2000). É neste quadro que o desenvolvimento pode ser visto como uma expressão
de liberdade, a qual deve ser ampliada ao maior número de pessoas possível,
graças também às oportunidades geradas pelo processo de globalização. Assim,
num ambiente globalizado, para que o desenvolvimento de fato se consolide,
torna-se necessária a remoção das principais fontes de privação de liberdade:
pobreza e tirania; carência de oportunidades económicas e destituição social
sistemática; negligência dos serviços públicos e intolerância ou interferência
excessiva de estados repressivos e o desrespeito aos direitos humanos (Sen,
2000).
Isto não significa ser contra os mercados. Ao contrário,
ser genericamente contra os mercados é tão sem sentido quanto ser genericamente
contra a comunicação entre as pessoas. As trocas fazem parte do modo como os
seres humanos vivem e interagem na sociedade moderna. Desta forma, a
contribuição do mecanismo de mercado para o crescimento económico é,
obviamente, importante, mas vem após o reconhecimento da importância directa da
liberdade de troca. A liberdade de entrar em mercados pode ser, ela própria,
uma contribuição importante para o desenvolvimento, independentemente do que o
mecanismo de mercado possa fazer ou não para promover o crescimento económico
ou a industrialização (2000). Efectivamente, a globalização das economias tende
a favorecer a entrada dos Estado-nação no sistema comercial mundial e, em dele
participando, ampliar seus mercados.
Por outro lado, esta realidade não invalida o chamado
desenvolvimento endógeno. Pelo contrário, ela pode mesmo reforçá-lo, desde que
voltado ao processo de inserção dos Estados-nação nas regiões e no sistema económico
global. De fato, a globalização acelerou as transformações produtivas e os
processos de desenvolvimento associados a cidades e regiões, dando lugar a um
outro sistema regional em âmbito global ou a uma nova divisão espacial do
trabalho em escala internacional. Assim, a globalização abriu o leque das
possibilidades estratégicas independentemente dos recortes territoriais específicos.
Estes novos fluxos produtivos, mesmo que ainda distantes de um estágio mais
avançado de amadurecimento económico, são muito diversificados e complexos,
envolvendo, na maioria dos casos, cidades e regiões pertencentes a mais de um
Estado-nação.
Uma questão, contudo, está cada vez mais evidente: o
desenvolvimento económico de cidades e regiões depende das economias geradas em
razão do efeito de difusão das inovações, da flexibilidade da organização da
produção, da densidade e da qualidade das instituições e da aglomeração urbana.
Hoje isto ocorre igualmente por economias externas de escala, redução dos
custos de transacção e economias de diversidade e de especialização dos
territórios graças a um sistema sempre mais globalizado e interdependente.
Neste quadro o isolamento regional, especialmente muito evidente no meio rural,
não traz benefícios ao desenvolvimento, constituindo-se, em muitos casos, em
verdadeiras zonas de subdesenvolvimento económico e de exclusão social.
Na verdade as áreas integradas costumam ser regiões com
grande capacidade inovadora, nas quais se encontram muitas redes (produtivas,
comerciais e tecnológicas) articuladas e caracterizadas pela utilização de alta
tecnologia, de flexibilidade na organização da produção e da densidade das
instituições regulatórias. Nas regiões excluídas dos processos de globalização,
total ou parcialmente, o sistema institucional não está articulado e
suficientemente desenvolvido. Isto se constitui um grande problema, pois quando
a sociedade não está organizada e não possui as instituições que as forças económicas
e o mercado precisam para seu funcionamento adequado, a actividade produtiva tenderá
a se retrair e não se desenvolverá com a força necessária, impedindo que sejam
gerados processos de crescimento económico e social sustentado (Barquero,
2002).
Isto nos permite entender por que nenhum segmento social
deseja ficar de fora do processo de globalização da economia. Assim, os
movimentos sociais designados de antiglobalização devem ser vistos como, na
verdade, grupos em defesa de uma outra globalização, que inclua os excluídos do
actual processo de globalização. Neste contexto, não existe mais espaço para
uma região, um local, um país, uma nação, viver de forma isolada e autárquica,
esperando, desse modo, construir uma forma de desenvolvimento unicamente
voltada para si mesmo. Por isso o desenvolvimento está, na actualidade,
intimamente ligado à capacidade estratégica que os Estados-nação possuem de se
inserirem de forma específica no processo de globalização em geral e da
economia em particular.
CONCLUSÃO
Tomando-se por base os conceitos expostos, tornam-se
bastante evidentes os enormes desafios que Angola precisa enfrentar para
retomar o processo de desenvolvimento neste novo contexto mundial. Além disso,
é claramente perceptível que algumas iniciativas devem ser imediatamente adoptadas.
Em primeiro lugar deve-se estabelecer políticas públicas que levem à remoção
das principais fontes de privação da liberdade, seja a superação da pobreza e
do analfabetismo ou a falta de oportunidades e as práticas repressivas dos
órgãos de Estado.
Em segundo lugar, deve-se compreender que o fenómeno da
globalização é um processo real que torna muito mais difícil as acções do
Estado e estabelece uma maior autonomia do mercado. Por isso é possível
constatar a diminuição do poder de autodeterminação do Estado, de sua
capacidade regulatória e do espaço de autonomia na gestão das políticas económicas.
Em terceiro lugar, deve fomentar o apoio à pesquisa,
tornando possível o desenvolvimento de um ambiente de inovação tecnológica e de
competitividade económica. Por isso o fomento deve ser direccionado para a
pesquisa que esteja voltada à integração universidade-empresa, favorecendo, em consequência,
o avanço do saber científico nas áreas vinculadas aos sistemas locais de
produção e à criação de novas oportunidades.
Por fim deve-se buscar ainda mais a integração
internacional do país, ampliando sua participação efectiva nos órgãos
multilaterais (ONU, OEA, OMC, FMI, etc.) e o seu papel de grande potência
regional, sem se descuidar de suas relações económicas com os diversos países
do mundo. Neste último sentido, deve-se optimizar a possibilidade de
intercâmbio comercial e a ampliação dos mercados, evitando o isolamento económico
e, em consequência, a transformação do país numa região, cada vez mais,
condenada ao subdesenvolvimento.
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